Por que você ainda está com ele?

HAVIAM certos momentos da vida dela em que ela simplesmente não estava lá. Era como se ela se assistisse em terceira pessoa, indagando quando tudo passara a dar tão errado. Aquele era um desses momentos.

Cercada numa roda de amigos, ela tinha o braço do seu namorado, envolto no seu pescoço. Ele era um rapaz alto e forte de pele negra e sorriso brilhante, e, por muito tempo, ela acreditava que estar em seus braços era suficiente para se sentir segura, acolhida e amada. Mas não era.

Às vezes era difícil ignorar a sensação. De como o braço do seu namorado pesando sobre seu ombro se tornou seu fardo. Sua prisão. Ele a exibia pelos lugares, fazia questão que ela conversasse com seus amigos e risse das suas piadas, mas ele realmente se importava se ela estava verdadeiramente ali?

Alguém na rodinha contara alguma história engraçada. A mente de Addison vagava em qualquer lugar menos ali, porém, ela riu. Riu sem nem saber do que se tratava. Apenas para se encaixar. Quase que um movimento involuntário. O que ela queria era ir para casa, botar uma roupa confortável e passar a noite assistindo à séries com o garoto que Jake era no início do namoro, o garoto que a elogiava todos os dias e a fazia se sentir como a garota mais sortuda do mundo.

Addison, no entanto, reparou quando Jake, ainda a prendendo nos seus braços, se inclinou para sussurrar algo no ouvido da ex-namorada, Eleonor Kane, e os dois riram baixinho. Ela tinha olhos bem redondos carregados de maquiagem preta. As partes da frente do seu cabelo levavam tons de roxo que combinavam com suas roupas escuras e joias pesadas. Em geral, Eleonor parecia muito intimidadora. Addison não tinha nada contra ela e até tinham se tornado de certa forma amigas, a pedido de Jake.

Contudo, Addison não podia deixar de se sentir insegura quando estavam com Eleonor.

— Eu vou pegar algumas bebidas. — murmurou ela, fazendo de tudo para sair dali. Jake, porém, não a livraria tão fácil.

— Vamos juntos! — exclamou ele, rindo e a aproximando ainda mais perto dele.

— Está bem...

Na mesa das bebidas, Addison avistou o solitário Milo McKanzie, um rapaz de cabelos escuros e olhos azuis. Ele trajava consigo uma jaqueta de couro e o seu típico sorriso que dizia "eu sou melhor que todos vocês". Addison e Milo costumavam ser mais próximos antes do ensino médio e todo o drama adolescente chegar, afastando-os.

— E aí, McKanzie? — Jake o cumprimentou batendo tão forte no ombro do rapaz que quase o fez derramar a bebida. — Curtindo a festa?

— Até agora. — resmungou ele, olhando-o com desprezo. Em seguida, seu olhar azul oceânico desceu para encarar dentro dos olhos castanhos de Addison, como se tentasse lê-la.

— Vira o copo! — gritou alguém, anunciando o início daquele jogo. Sem mais delongas, Jake se desvencilhou de Addison para ir jogar, fazendo com que ela soltasse um suspiro aliviado agora que não estava mais sentido o peso do seu braço prendendo-a.

Addison, assim, voltou-se para Milo e esboçou um sorriso triste.

— Eu sinto muito, ele... — ela deu de ombros, respirando fundo.

— Sou eu quem sinto muito... — Milo bebeu um gole da sua bebida e sorriu pretensiosamente. — Por você.

— Espera. — Addison franziu a testa. — O que?

Milo não respondeu, apenas se afastou. Alguns minutos depois, Addison cansou-se de assistir à partida de virar o copo e aproveitou a distração de Jake durante o jogo para se afastar dali, caminhando até a varanda.

Para sua surpresa, lá estava Milo. Sentado num balanço de madeira, observando as estrelas.

— É uma noite muito bonita, não é? — disse ela, meio envergonhada, tentando puxar assunto enquanto se aproximava devagar.

— É exatamente igual a de ontem. — afirmou Milo, sem tirar os olhos do céu. Addison soltou uma risada fraca, lembrando-se de o quão negativo ele podia ser.

— Então, o que você está olhando?

— O passado. — respondeu. — Qual a diferença dessa noite para todas as noites em que nos sentamos no telhado da sua casa e conversamos até o amanhecer? A noite não mudou, James. Nós mudamos.

— Você acha que eu mudei para pior? Por que você sente muito por mim? — indagou ela. Milo sorriu e a olhou. Ele a lançou aquele olhar, que parecia penetrar em sua alma e, não importava quanto tempo passasse, sempre a faria sentir arrepios em sua espinha.

— Por que você está com ele? — rebateu.

Era uma boa pergunta. Pensativa, Addison sentou-se ao lado do rapaz de olhos azuis e ponderou.

— Eu acho... Ele... Ele é divertido e...

— Se você precisa tanto achar motivos para estar com alguém... — Milo suspirou, a interrompendo. — É porque talvez você não devesse estar com essa pessoa.

Addison engoliu seco, incapaz de achar palavras que pudessem responder a sentença de Milo. Por mais que ela quisesse não acreditar, nunca tantas palavras fizeram tanto sentido. Milo estava certo.

— Te vejo por aí, James. — Milo completou, lançando-lhe uma piscadela.

Então, ele se levantou para sair, deixando Addison James mais uma vez sozinha e sem respostas à sua confusão.

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