11 - Van Gogh cortou a orelha
— Como eu estou? — Rosana sai detrás do provador que foi posto na nossa sala de estar.
Pelo reflexo do enorme espelho na minha frente, posso vê-la usando um vestido alaranjado com algumas listras e detalhes em preto.
Com os braços abertos e sem me mover muito para não cair do banquinho de madeira, inclino um pouco o corpo e a cabeça para conseguir olhá-la.
— Está parecendo um cone de trânsito. — Respondo, enquanto a Madame Grifine passa a fita métrica pela minha cintura, por cima da blusa de gola alta que estou usando.
Não sou capaz de mentir nesse momento, não quero.
— Foi o que eu pensei. — Ela resmunga, vislumbrando o seu reflexo e volta para trás do provador.
— A Harper tem desenhado alguns vestidos e eles são lindos. Por que não se inspira em um? — Sugiro tornando a olhar para frente.
— Tá falando sério? — Ouço a voz da Harper, que está com a vovó Ophelia, em um dos sofás.
— É muito doce da sua parte apoiar a sua amiga. — Rosana se intromete com sarcasmo. — Mas quem sabe no próximo? Nesse baile você vai usar um modelo exclusivo da Madame Grifine.
— Eu entendo que como amiga, queira agradar a Srta. Piper, mas não vai querer que a inexperiência dela atrapalhe seu grande dia. — A madame diz como se falasse do meu casamento. — Afinal, é a Isla Grant.
E, alguém que se preze minimamente jamais deveria agir dessa forma com a minha melhor amiga.
— A inexperiência se resolve. — Rebato num tom amorfo. — E, para alguém inexperiente, Harper tem criações que na minha opinião são melhores que muitas por aí. — Desço do banquinho em que estava de pé. — Acabamos por aqui. — Falo para a estilista e ando na direção da minha amiga e da vovó.
— Volte amanhã. — Rosana pede à Grifine ao mesmo tempo que me fuzila com o olhar. — O humor da Isla é instável, amanhã ela estará mais contente. Não é mesmo, Isla?
— Claro, madrasta. — Presenteio a paciência da Rosana com um sorriso.
Me sirvo com um pouco de chá, entre as xícaras e o bule na bandeja deixada na mesinha de centro há alguns minutos.
— Com quiser, Lady Rosana. — Madame abre um sorriso tão falso quanto o meu e o da ruiva juntos.
Grifine bateu três palmas e os seus empregados no fundo da sala foram pegando os espelhos espalhados, o provador do lado da lareira e recolhendo tudo o que fosse dela.
Em poucos minutos ela saiu da minha casa, sem abrir a boca para dizer mais nada.
Contudo, Rosana ainda está com os braços cruzados, me olhando como quem está a um passo de cometer homicídio.
— Vá se arrumar, iremos sair. — Ela solta os braços e olha para a mãe.
— Iremos? — Não escondo o meu estranhamento.
Olho para o relógio marcando mais de quatro e meia da tarde.
— Bom saber que reconhece o plural, querida. — Diz se afastando devagar, em direção a escada.
— Onde?
— Num orfanato. — Conta por cima dos ombros.
Olho para a vovó que desvia sua atenção para o carpete.
— Orfanato?
— Estamos apoiando uma boa causa. — Sobe alguns degraus. — A reforma do lar de alguns órfãos. Vai ser bom para melhorar a sua imagem.
Rosana, você é uma sociopata calculista.
— Usar crianças órfãs? Acha que a mídia vai acreditar nisso? — Cruzo os braços e uma risada irônica me escapa.
— A mídia quer lucro e daremos a ela com notícias boas sobre você. — É tudo o que ela diz antes de fazer a curva da escadaria e sumir entre os ornamentos.
Giro o meu corpo na direção da Harper que está boquiaberta, encarando o bule de chá. Já a vovó, ela se levanta e caminha até mim.
— Ela não colocou isso na agenda. Pensou que você iria inventar algo para não ir ou aprontar. — Comenta — Sinto muito pela minha filha, mas sei que ela está preocupada com você... — Eu duvido, com todo o ouro e bens do "império" da minha família. — Só tem um jeito diferente de demonstrar.
Coloca diferente nisso.
Eu não posso entrar nessa jogada de marketing barata da marmota da minha madrasta. Não posso. Especialmente agora que o tio Albert pediu para os jornalistas se policiarem quando forem falar sobre mim.
Acho que ela está conseguindo o que quer. Está se esforçando para arrumar a imagem da futura princesa que ela precisa que eu seja.
— E se não adiantar? — Questiono em um sussurro, me referindo a ideia da Rosana de corrigir a minha imagem perante a imprensa.
— Sabemos a verdade sobre quem você é, e é tudo o que importa. — As mãos macias da vovó Ophelia tocam o meu rosto.
Assinto, apenas.
Harper não move um músculo, mas seu olhar diz "vamos dar um jeito nisso" e caramba, espero que sim.
O orfanato Willow fica um pouco distante de onde nós moramos, quase no início da cidade. É um enorme casarão antigo.
Não sei exatamente as razões da Rosana ter escolhido um orfanato para visitar, tampouco as razões de ser especificamente esse, mas algo me diz que não é uma escolha avulsa.
Rosana é cautelosa e manipuladora. Ela não está me levando até esse lugar sem interesses grandes por trás. Até porque, se a questão é "melhorar a minha reputação", ela poderia ter me levado para dar comida aos pombos da praça mais próxima, me fazer doar roupas ou até mesmo visitar hospitais que fossem perto da nossa casa.
O Willow está organizando um evento beneficente para esse sábado, com o intuito de arrecadar fundos para continuar funcionando e cobrir as despesas de uma reforma.
Conhecendo bem a Rosana do jeito que conheço, ela supôs que me levar em um orfanato para ser fotografada ao lado de alguns órfãos, me associando a um evento que tem o objetivo de arrecadar dinheiro para o instituto, fará com que as pessoas falem de mim, como alguém apropriada a se tornar uma princesa.
Quando o Harry passou pelo portão preto, coberto de folhagens murchas e secas na entrada da propriedade, estacionou em frente ao casarão.
O lugar se assemelha muito as grandes mansões mal-assombradas dos filmes, onde fantasmas vagam pelos corredores e aparecem de relance nas janelas.
Janelas. Tem várias janelas, tanto no primeiro andar quanto no segundo.
As crianças que vivem aqui devem estar tão imersas e aclimatadas a paisagem que nem devem reclamar de dormir no escuro.
Durante o percurso eu li em um site do google que a propriedade pertencia a Baronesa Cordélia Theodisia Willow.
Parece que depois que o seu marido faleceu de gripe espanhola, ela foi abarcada pela solidão da viuvez e sem herdeiros, resolveu abrigar crianças de rua e usar a sua fortuna para os cuidados.
A construção e os galhos contorcidos das árvores em volta dela, molda um caráter macabro e costuma provocar calafrios nas pessoas; alguns comentários dizem que a alma da baronesa vaga pelos corredores da mansão.
Não acredito nesse monte de crendice. Sob a luz amena do sol se pondo, nem aparenta ser tão medonho ou possuído.
Saímos do carro, todos nós, incluindo Harry e Simon. Logo após, caminhamos em direção à uma mulher nos aguardando na varanda.
Ela está com a postura ereta e contida, o vestido dela é de um azul marinho quase preto. Seus fios dourados estão presos em um coque muito bem-comportado. Deve ser apenas alguns anos mais velha que a minha madrasta.
— Lady Rosana! — Cumprimenta a ruiva muito antes de subirmos os quatro degraus da entrada. — É uma honra ter a família Grant por aqui.
— Estamos honrados em estar aqui, Sra. Misty. — Rosana não poderia ter sido mais fajuta.
Estou de braço dado com o Fred, quem me olha e quase ri, mas não o faz.
— Isla Grant! — Sra. Misty dispara na minha direção assim que põe os olhos em mim. — É uma honra receber nossa futura princesa e rainha. — Até faz uma reverência bem maluca.
— Por favor, isso não é necessário. — Tento conter as acrobacias da mulher.
— Ela está sendo modesta. — Rosana me esgana em pensamento.
— Ah, eu não estou não. — Alargo o meu sorriso.
Leva alguns minutos para a Sra. Misty parar de agir como se eu fosse a rainha de Verena.
— Eu sou a diretora e tutora do orfanato, e suponho que tenha alguns admiradores. — Ela comenta. — Por gentileza, entrem. Estão esperando por vocês.
Misty abre a grande porta da entrada, pintada de um azul tão escuro quando o do vestido dela.
É como se ela fizesse parte da construção de tão parecidas que eram.
A pele empalidecida seria os tons de branco das paredes, os fios dourados semelhantes a algumas cores em pontos específicos, como nas maçanetas da portas, ou no corrimão da extensa escada no qual nos deparamos assim que colocamos os pés dentro da casa, onde as crianças estavam numa fileira única. Postos um do lado do outro.
— Crianças, essa é a família Grant e eles vieram nos fazer uma visita. — A Sra. Misty nos anuncia, provocando sussurros misturados da criançada. — Quietos! — Exclama estridente, fazendo um breve silêncio se instalar.
Uma barulheira repentina vinda do topo da escada rompe a quietude no local, chamando a nossa atenção para uma garota que quase derrubou um vaso cheio de camélias.
A menina tem cabelos longos, e estão uma baderna, tanto que ela sopra a própria franja na altura das sobrancelhas e com um certo esforço coloca o vaso no lugar.
— Louisa! — A tutora a repreende e menina estremece, por pouco não caindo da escada.
Desamarrota o vestido de botões laranjas e encara as suas botas marrons, como essas de jardinagem, antes de criar coragem para descer as escadas com pressa e se enfiar na fila.
— Aonde estão seus modos, menina?! — A mulher para na frente na menina. — Suja de tinta de novo? Eu não mandei se limpar? Olhe seu rosto!
Não é para tanto, a pequena órfã apenas tem uma pequena mancha de tinta lilás abaixo dos olhos em uma das bochechas. A Sra. Misty está agindo como uma verdadeira general, como a Rosana tem o costume de fazer.
— Bom... — Falando no diabo, ela coça a garganta, chamando a atenção da tutora. — Estão todos prontos? O Sr. Morris, chegará dentro de alguns minutos.
As fotos. Matérias sobre mim. Eu não quero isso.
Preciso dar um jeito de sair daqui ou só de despistar a Rosana.
Megan e Maya tiveram sorte, elas estão no shopping com a vovó, algo que eu não poderei fazer sem recear apanhar de um dos lojistas.
No momento eu sou um alvo fácil demais, para tudo, e eu acho que essa é a pior parte.
Caindo como uma luva, Rosana é entretida pela bajulação da Sra. Misty e pelas perguntas das crianças em volta dela.
Uns órfãos me olharam e cochicharam algumas coisas, aposto que sobre eu ser uma devoradora de almas.
Só que não tenho tempo para me importar com isso; ganho a brecha que eu preciso para sumir antes do Sr. Morris chegar. Preciso de tempo, até saber o que fazer para driblar essa situação.
Torcendo para não ser notada, subo a escada principal o mais rápido que posso, e viro à direita no corredor, numa escolha aleatória, e o chão range a medida que eu avanço.
Cheira a mofo aqui; posso ver infiltrações nas paredes e a pintura gasta do teto. Não parece um bom lugar para viver tantas crianças, ou qualquer pessoa. Está caindo aos pedaços.
Há algumas portas, não sei onde elas irão dar, mas abro uma e entro num cômodo.
Nele há um beliche, cada cama com um travesseiro fino em cima. Tem paredes coloridas, arsenais de pinceis e quadros no canto do quarto, perto da única janela.
Um dos quadros parece inacabado, a tinta está fresca. São flores roxas, violetas para ser mais específica. Os traços são precisos e delicados, em tons de roxo e lilás, com pontos de verde vibrante, chamativo, radioativo.
O quarto é pequeno, simples, mas bem organizado, quero dizer, seria mais organizado se não fosse pelos jornais espalhados no chão, com manchetes sobre mim, sobre o rei, sobre a política.
"Rei Albert irá quebrar o tratado de paz com Rei Aldrich de Analea? "
"Isla Grant sofre rejeição do povo após ser acusada de praticar bullying"
"Isla Grant se pronuncia publicamente após acusações de bullying"
"Vossa majestade real, o rei Albert não se posiciona sobre Isla e deixa a população revoltada".
É, tio Albert, parece que você está com tantos problemas quanto eu.
Por puro desleixo, manobrando a minha cabeça para conseguir ler as matérias espalhadas pelo chão, esbarro em uma escrivaninha e deixo cair um candelabro de metal que faz um tremendo estrondo ao tocar na madeira velha.
Cacetada, Isla.
Eu o recolho no mesmo minuto. O candelabro é antigo, oxidado, e suja um pouco as minhas mãos sem muito esforço.
Tomara que ninguém tenha reparado.
De repente, alguém abre a porta de forma brusca e eu inclino o rosto para olhar aquela mesma garota de franjinha, que arregala as íris similares a um par de safiras, e fica estática, com as mãos na maçaneta.
— O-O que a senhorita faz aqui? — Gagueja, sem nem piscar direito.
Olho em volta e bufo dando de ombros.
— Estou me escondendo. — Não é como se eu precisasse mentir agora.
Ela junta as sobrancelhas claras, comprimindo os lábios e assente como se entendesse.
Desvia o olhar para as próprias botas por meros átimos, depois me encara novamente.
— Por quê?
— É difícil explicar. — Não estou mentindo mesmo.
Maneia seus olhos para o candelabro nas minhas mãos.
— Parece bem antigo. — Comento sem saber onde vou limpar os dedos encardidos de ferrugem.
— Ele é maravilhoso, não é? — Esboça um sorriso largo.
— É só um... Candelabro. — O devolvo para a escrivaninha, batendo as minhas mãos uma na outra. — Não parece ser nada demais.
— Como não? — Parece não me entender. — Não vê as ferrugens? O metal desse candelabro já reluziu mais do que aço. Foi muito brilhante um dia, pessoas o utilizaram, pessoas que já não estão mais no nosso mundo. — Ela fecha a porta atrás dela e se aproxima em poucos passos. — O tempo deixou ele assim. — Para na minha frente. — Acho bonito e poético.
— Você acha poético na deterioração do tempo? Em pensar que ele te desgasta?
— Que ele te modifica. — Explica sem deixar de sorrir e sem se esforçar para isso. — Acho que os adjetivos podem variar.
Ela passa os olhos pelos jornais espalhados, com as manchetes sobre mim.
— São verdade? Essas coisas?
Faço que sim.
— Até a parte que colocou a cabeça de um garoto na privada?
— Na verdade, eu não faria isso, é nojento. Pedi pro Dylan fazer.
— Por quê?
— O menino fez uma coisa e na época eu fiquei com raiva.
— A Sra. Misty diz que devemos perdoar 70x7. Está até na bíblia.
— É, eu não tenho lido muito esse livro, ou qualquer outro.
Bato as mãos uma nas outras e depois as esfrego na saia verde escura do meu vestido.
— Por quê?
— Palavras demais. — Pode ser útil mudar de assunto. — Quantos anos você tem?
Preciso perguntar, ela é nova demais e parece ser tão esperta.
A menina abre a boca para responder, mas é interrompida por uma faladeira no corredor.
— Onde será que Lady Isla se meteu? — Alguém diz.
Merda.
Levo o indicador até os lábios, pedindo para ela ficar quieta.
Me aproximo sem demora da porta e giro a chave para trancá-la.
— É bom que ela apareça. — Rosana. É a voz da Rosana.
Eu não vou descer e fazer o que ela quer para limpar a droga da minha imagem. Eu não preciso disso. Não quero isso. Talvez eu salte pela janela e fuja agora mesmo.
A minha madrasta tenta abrir a porta girando a maçaneta algumas vezes e insiste nisso.
— Quem está aí? — Ela dá dois toques.
— E, agora? — A garota sussurra sacudindo as mãos no ar.
— Eu vou me esconder. — Corro para trás do amontoado de quadros.
— O-o que eu falo?
— Fala... — Pensa, Isla, Pensa. — Fala qualquer coisa. — Peço num tom mais baixo que consigo. — Só não diz que eu estou aqui.
A órfã assente várias vezes, muitas vezes e leva alguns segundos até abrir a porta.
— Sou eu. — Diz para a Rosana que invade o quarto sem agir com cortesia.
— O que faz aqui? — Inquire, autoritária para variar.
— A Sra. Misty me pediu para trocar de roupa, por causa das tintas. — Boa! Se bem que, ela não deve ter mentido.
— Viu a minha enteada? — Rosana parece olhar os quatro cantos do cômodo. De onde estou posso ver o topo da sua cabeça e do seu coque mexer.
— Lady Isla? Não. — A garota parece ser bem convincente.
— Tem certeza?
— Eu saberia se tivesse visto Isla Grant no meu quarto. — Se eu sair dessa, preciso me lembrar de pagar o cache pela tremenda atuação.
Rosana continua analisando cada mísero cantinho do quarto. E, ele é pequeno, não há muito para analisar aqui.
Passos, escuto o barulho de passos que se intensificam.
— Tem muitos quadros...
— Eu gosto de pintar... — Louisa tenta conversar, mas a ruiva está chegando perto demais. — Sabia que Van Gogh cortou a orelha?
E então ela para, gira e devolve toda a sua atenção para a garota.
— Como é?
— O pintor. Ele teve uma crise de abstinência e cortou a orelha. — Certo, por essa nem eu esperava. — Álcool. Foi a abstinência de álcool. Ele também sofria de depressão e tirou a própria vida quase dois anos depois!
Rosana fica muda. E, verdade seja dita, no lugar dela eu ficaria sem saber o que dizer também.
— Quantos anos você tem? — Pergunta, após um tempo.
Eu sei, madrasta, assustador, né?
— Onze... — Louisa responde com incerteza. — Talvez doze.
— Mesmo?
— Aham.
— É muito esperta para uma criança da sua idade. — Ela está se distanciando. Posso ouvir. Ufa. — Ela não é, Isla?
— Meleca. — A órfã resmoneia para si mesma.
Rosana, sua tremenda bruxa.
Bufo em frustração e em desistência me levantando atrás dos quadros.
— Deixa eu adivinhar, você tem visão de raio X? — Meus braços batem nas laterais do meu corpo.
— Não, é só o seu perfume impregnado nesse quarto mesmo. — Diz olhando em volta e depois para mim. Eu devia saber que isso não ia dar certo. — Pare de joguinhos e desça. Esperam por você.
— Eu vou ajudar ela primeiro. — Aponto para o vestido da garota com tinta.
Preciso de tempo.
— Isla...
— Não estou aqui para ser caridosa com as crianças? — A interrompo e argumento. — Pois bem, simpatizei com a Srta. Louisa e irei ajudá-la, querida madrasta.
Rosana parece querer morder as próprias bochechas enquanto está com os olhos cravados nos meus. Se ela não precisasse de mim viva, aposto que ela mesma me arremessaria pela janela.
— Se apressem! — É tudo o que diz antes de passar pela porta e quase ruir o resto do teto ao batê-la.
Retorno a minha atenção para a menina, meio assustada, quem sabe.
— É Louisa, certo?
Ela assente.
— É, eu sou a Louisa... — Sacode a cabeça. — Mas pode me chamar de Lou... Ou do que você quiser... Você é a Isla Grant, pode me chamar de pipoca se você quiser. — E não para de falar por aí. — Eu acho você muito linda e... Adoro as suas botas! Eu gosto de botas no geral... Mas você tem as melhores combinações. Eu nem acredito que é você em carne e osso! Você é ainda mais bonita pessoalmente!
Estreito os olhos e levanto o canto dos meus lábios.
— E, você é uma criaturinha intrigante.
— Posso dizer o mesmo da senhorita, Milady. — Seus olhos brilham mais do que as lamparinas por aqui.
— Pode me chamar de Isla.
— Isso não seria inapropriado?
Assinto, mas faço que "mais ou menos" com as mãos.
— Tecnicamente sim, mas eu gosto do inapropriado.
— A mamãe pediu para eu apressar você. — Fred surge sem nem bater na porta. Deve ser algo de família. — Caralho, quantos quadros!
— Ele falou... — O queixo da garota não caí por pouco.
— É falou. — Reviro os olhos. — Louisa, eu te apresento o Fred, meu irmão boca suja.
— Oi. — Ela acena sem jeito, passando as mãos nos seus fios de cabelo.
— Era aqui que você estava antes de descer? — Ele pergunta direto, até direto demais.
— Está tão na cara? — Ela pergunta em um sorriso crescente.
— Na cara e no seu vestido. — Fred aponta para o rosto da menina e depois para a saia do vestido, que também estava suja com a tinta de mesma cor.
Ele mantém uma pose tão arrogante quanto a da mãe dele. O que me faz pensar que ele ser amigo da órfã possa fazem bem. Ela me parece ser uma ótima companhia.
— É, eu estava aqui sim. — Louisa conta um pouco acanhada.
— Estava pintando esse? — Pergunto, parando em frente aquele quadro de flores roxas.
Ela balança a cabeça outra vez, em confirmação.
— Quando a madame Misty disse que vocês viriam eu não consegui me conter. — Se aproxima de mim e do quadro. — Uma vez você disse em uma entrevista que a sua é roxo... Acho que já tem um tempão e você pode ter mudado de ideia, mas é engraçado, porque eu adoro cores e adoro estudar as cores. — Molha os lábios. — Acredito que se você fosse uma cor... Ou tons de cores... Acredito que seria uma cartela com esses tons. Violeta ou lilás.
Fred e eu nos entreolhamos. Ele não diz nada, só cruza os braços e dá de ombros. Deve estar tão espantado quanto eu.
— Coloquei um pouco de verde em alguns pontos, como a cor dos seus olhos. — Ela continua. — Sei que é um verde intenso, meio florescente, mas acho que combinou bem. Você parece ser alguém... — Louisa coça a testa. — Bom é meio autoexplicativo.
Eu não sei se entendi bem. Ela fez um quadro sobre mim, para mim, ou ambos? De qualquer forma, é tenebroso.
Quando eu ganho um presente ou recebo um elogio, tenho frases prontas como "Muito obrigada, é muita gentileza da sua parte", porque quase nunca sei reagir e a Rosana disse que é o educado a se fazer.
No entanto, por alguma razão — super estranha — Louisa olhou para mim, pensou em uma cor e dedicou parte do tempo dela para pintar o quadro, além de levar uma bronca da diretora por isso.
Não consigo pensar em algo para dizer agora, o que também é super estranho porque eu costumo ter muitas coisas em mente para sair falando por ai.
— Eu-eu não estou acostumada com fotos. — Ela pergunta depois de coçar a garganta. — Qual é a indumentária?
— Indument... Isla, por que ela fala desse jeito? — Fred sussurra, me tirando do meu estado hipnótico.
— Eu não sei, mas gostei dela. — Falo, espanando o meu irmão para fora do quarto, para que a garota possa se trocar de uma vez.
Oioi, cabritos. Aqui estou!
O quê acharam desse capítulo?
Da Rosana levando a Isla no willow?
Do willow?
Da Louisa?
A interação dela com a Isla?
Gostaram?
Gente, eu sempre tenho um problema pra imaginar atores para os meus personagens, porque se eu tento eles ficam meio se modificando no meu cérebro que nem a Mistica do X-men. MAS curiosamente a Louisa eu imagino certinho a Malina weissman
O Fred quase consigo. Eu imagino ele como o ator que faz o Gilbert em Anne, misturado com o Edmund de Nárnia, sabe?
Agora, agora:
Perguntinhas importantes:
Esse capitulo quase ficou com 5300 palavras, mas eu fiquei com medo dele ficar enorme e cansativo e tirei a ultima cena pra postar no próximo.
Então me digam, vocês preferem capítulos curtos, médios ou logos?
Se incomodam com capítulos compridos?
Por que a Nay aqui, aparentemente não sabe não escrever calhamaço. Esse livro vai terminar com uns 35 capítulos mas, capítulos grandes, enormes. Se for o caso, eu reduzo e "separo" mais. Conta aí pra Nay.
Nay ama oceis.
Beijos e queijos.
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