10 - Beisebol e rebatidas

Harper tirou a habilitação no ano passado. Conheço a Emma há uma semana e já sei que ela está terminando as aulas de direção; Até mesmo as gêmeas sabem dirigir.

Tenho adiado tirar minha carteira de motorista, e não somente porque a Rosana vive dizendo que eu terei motoristas a vida inteira para me levar aonde eu precisar ir; Percepção de espaço não é bem o meu forte.

Deve ser por isso que eu não sou muito fã das aulas de educação física, apesar da professora, a Sra.June, ser bem legal.
Levando em consideração a minha inaptidão para esportes que envolvam tacos, luvas e bolas, como o beisebol, ela tem sido paciente.

Não tenho muito para onde correr. Enfiaram aulas extras na minha grade curricular as quartas-feiras de manhã.
Insistem em me forçar a aprender, porque beisebol é um dos esportes mais praticados em Verena, estando atrás do cricket e do lacrosse.

Aposto que é coisa da Rosana.

"Você precisa pelo menos rebater a bola para que eu não reprove você". Disse a professora anotando alguma coisa na caderneta dela.

Imagine eu, precisando rebater uma bola do tamanho de uma laranja com um taco maior do que meus dois braços juntos. Onde há justiça nesse esporte?

Não que eu não estivesse me esforçando, eu estava, só não sabia se estava fazendo do jeito certo.

Encerramos a aula desastrosa com a professora me avisando que iria pedir para o Dylan me ajudar e me dar algumas dicas no fim do dia.

E eu não estou nada nem um pouco afim.
Não dormi muito bem na noite passada e acabei cochilando na aula de história.

A parte boa foi evitar o meu parceiro, aquela ratazana intrometida, e a parte ruim foi que eu tirei noventa e sete no teste individual.

Se eu mostrar para a minha querida madrasta ela vai chiar o dia inteiro que eu deveria ter alcançado os cem.

— Talvez devesse ficar mais atenta da próxima vez, Srta. Grant — A voz do Sr. Carson sai como um sussurro de uma assombração. — Seu parceiro alcançou a nota máxima...— Parabéns, Sr.Ahren.

O professor entrega a folha para o garoto irritante sentado do meu lado.

Eu mantenho os olhos fixos no fiasco do meu teste sobre a mesa e não o encaro, embora possa sentir seus olhos sobre mim.
Aposto que ele deve estar adorando ser o centro das atenções.

Afrouxo um pouco a gravata do uniforme e levo os meus dedos até as têmporas, as massageando.
Minha cabeça está doendo um pouco, deve ser fome. Não consegui comer nada no café da manhã, não estava com vontade.

Levei em consideração me trancar em algumas das salas para dormir, no segundo em que o sinal anunciou o nosso almoço. Não é como dormir na minha cama, mas meu corpo implora por vinte minutos de sono profundo, além de comida.

— Isla! — Escuto a voz de Jack Ahren, quem parece me seguir entre os corredores do colégio depois que eu saí da sala de aula.

Posso vir o som dos seus passos e senti-lo se aproximando rápido, até que ele entra na minha frente me fazendo parar de andar.

— Se veio se gabar eu...

— O que? — Me barra antes que eu termine de falar. — Acha mesmo que eu faria isso? — Questiona e eu cruzo os braços mantendo o olhar fixo no rapaz. — É claro que acha. — Responde para si mesmo erguendo uma das mãos na altura dos olhos e deslizá-la sobre o seu rosto. — Não podemos simplesmente parar de brigar?

— Resolveu mesmo que quer seu meu amigo? — Inquiro mantendo os braços cruzados.

A minha reputação no Salgueiro e no reino inteiro não está a das melhores, qualquer um com neurônios funcionando se manteria longe de mim por enquanto. Harper e até mesmo a Emma agora, são birutas.

— Não ser seu inimigo já é um começo. — Reluta.

— Por que está insistindo?

— Digamos que fui incentivado a ser tão teimoso quanto você. — Um sorriso leve se forma em seus lábios.

— E, se fingir que eu não existo e eu fingir que o senhor não existe? — Proponho me escorando nos armários, mal aguentando o meu próprio peso.

— Pouco provável. Você é a minha parceira na aula de história. — Seu argumento saiu rápido. — E o Dylan pediu pra eu te ajudar com as rebatidas.

— Ele o quê!? — Eu vou esganar o Dylan. Ou a Sra. June. — Não pode ser ele? Ou qualquer outro jogador?

— Sim, com certeza... Se eles não tivessem uma prova de biologia hoje no fim do dia. — Esclarece ajeitando a alça da mochila em seu ombro.

— Então entrou para o time de beisebol? — Arqueio as sobrancelhas.

— Ontem. — Ele completa. — Por isso sou o único disponível.

— Que conveniente. — Resmungo para mim mesma olhando para os cadarços das minhas botas. — A última coisa de que eu preciso no momento, é do senhor ou da sua ajuda. — Preciso de café.

— Ai! Você não tem medo de usar as palavras. — Jack finge se magoar as levando umas das suas mãos até o peito.

— Se eu aceitar a sua ajuda, quais são as chances do senhor ficar mais... — Aperto os olhos para pensar bem na palavra. Babaca, imbecil, idiota, estúpido... — "Petulante"?

— "Petulante". — Ele junta as sobrancelhas e ri negando com a cabeça — Nem todo mundo é como você, Isla. Vai arriscar reprovar em educação física por causa de implicância?

Ótimos argumentos, péssimas colocações.

— Tá bom! — Exclamo afastando as minhas costas dos armários ao dar dois passos na direção dele. Jack abaixa o olhar para permanecer olhando para mim. — Me encontre às duas na arquibancada. — Ordeno.

Assisto um sorriso de lado se formar no rosto dele.

— Como quiser, Isla Grant.

Meus olhos rolam e eu trato de voltar a andar em direção ao refeitório.

Continuo morrendo de sono, e louca pelas batatas do almoço.
Harper me mandou umas dez mensagens, avisando que ela estava me esperando para almoçar.

— Finalmente! — Ela parece aliviada me vendo caminhar em direção a mesa do refeitório.

Tem menos pessoas aqui do que costuma ter.

— Cadê a Emma? — Indago me sentando de frente para a loirinha, quem já pegou a minha bandeja.

Batata-frita. Abençoada seja Harp.

— Megan e Maya chamaram ela para ver o Dylan jogar e... Você sabe, tirar a camiseta do time depois disso. — Conta.

Arregalo os olhos colocando um pedaço de batata na boca.

— Aí. — Meu rosto se contrai.

Dylan tem um tórax bonito, tem mesmo. Ele é um rapaz atlético, adora natação e malhar. E, é lógico que o seu corpo e quem pode olhar para ele durante o treino foram presenteados com isso.

Só que, querer ver ele sem camisa é quase como querer ver o Fred sem camisa e eu não tenho interesse nenhum nisso.

— Por que não vamos no shopping com a Emma no fim de semana? Pode chamar até a Megan e a Maya. — Harper sugere após tomar um bom gole do seu suco de caixinha.

— Podemos marcar outro dia? Nesse fim de semana a Rosana lotou a minha agenda com só Deus sabe o quê!

— Sendo a Rosana de sempre?

— Sendo a Rosana de sempre. — Resmungo, tirando a atenção do meu prato e olhando para a Harper e o seu semblante de "sinto muito".

— Jack Ahren vai me ajudar com o Beisebol. — Jogo essa informação no ar, fazendo as sobrancelhas douradas da garota arquearem.

— Ele... — Leva uns segundos para entender. — Sério? — Os dentes branquinhos dela foram evidenciados depois que ela começou a rir da situação. — Pensei que o Dylan fosse fazer isso.

— É, eu também. — Forço o ar entrar e sair dos meus pulmões.

Ainda tenho uma lista longa de coisas para fazer hoje. Uma lista longa e fora de ordem:

1 - Ajudar a Harper com literatura verenense.

2 - Fazer uma prova de física do professor Roger, que não sabe falar sem cuspir saliva o bastante para encher um tanque.

5 - Fazer uma redação sobre o teste em animais na fabricação de cosméticos.

8 - Ir ao dentista. Nada demais, apenas consulta de rotina.

9 - Tirar as medidas para o vestido do baile.

E, por último, mas não menos importante:

10 - Aprender beisebol com Jack Ahren e de maneira nenhuma bater nele com um dos tacos de beisebol.

Jack está atrasado.

Eu ajudei a Harper com literatura verenense, fiz a prova de física, além de driblar diversas perguntas dos alunos e dos professores em relação aos mexericos, ao príncipe e a droga do baile da vossa alteza desaparecida. Tudo isso em duas míseras horas e Jack Ahren conseguiu se atrasar.

Às catorze horas em ponto eu estava uniformizada e nas arquibancadas do estádio. Rosana me ensinou bem a arte da pontualidade, não posso negar.

Nesse instante, sinto que além de querer bater no Jack com o taco de beisebol, eu quero bater no Dylan por ter feito isso comigo, talvez na Sra.June que deu toda essa ideia absurda e por fim, em mim mesma por ter ficado meia hora esperando, enquanto sentia a grama causar coceira as minhas pernas.

Não, não. Eu não posso fazer isso. Por que ser presa por agressão não está nos meus planos!

Contudo, posso dizer que o Jack não compareceu e eu sim. E, pronto. A Sra. June não terá como me reprovar por um erro que eu não cometi, Jack vai levar uma tremenda bronca e todos viveriam felizes para sempre.

Pensando bem, não é tão ruim assim.

Só que, para variar, o meu inimigo declarado, o destino, simplesmente resolveu que meu dia de glória não será hoje.
Jack Ahren aparece, depois de trinta e dois minutos de espera, usando um boné do time de beisebol na cabeça, caminhando rápido entre os assentos da arquibancada.

— Isla, Oi... Eu...

— Você se perdeu no colégio? — Questiono. — Se precisar de um mapa me avisa, eu peço um para a Diretora Piper. — O interrompo arrastando o taco pela grama, indo em direção ao meio do campo. — Está atrasado!

— Eu sei e desculpe por te fazer esperar... — Diz andando atrás de mim, se equipando com uma luva de beisebol. — Estava ajudando o Sr. Gadner.

Aposto com toda a certeza do mundo de que ele fez de propósito.

— Não sabe avisar?

— Por incrível que pareça, você é a pessoa de quem se mais ouve falar nesse colégio... E a mais difícil de encontrar. — Sorri de maneira gentil.

Justamente por querer me esconder de tudo mundo o tempo todo.

— Vamos logo com isso, não temos muito tempo já que você fez questão de desperdiçar o meu. — Falo arrumando a minha postura.

Jack Ahren faz que sim.

— Certo. — Seus olhos passeiam pelo meu rosto. — Eu vou jogar a bola na sua direção e você tenta rebater pra eu entender qual é o problema.

Você é um deles. Penso.

Ele arremessa a bola na minha direção e assim que ela se aproxima o bastante, tento rebatê-la, no entanto, o meu campo de visão é muito limitado por causa do tamanho do taco. Sem visão, sem rebatida. Além de que eu acabei fechando os olhos, por pura agonia do impacto.

Com toda certeza a ratazana irritante se divertiu com aquilo, eu pude ver bem seus lábios curvarem para aumentar o sorrisinho irritante e patético.
As suas próximas palavras serão algum comentário idiota ao caçoar de mim.

— Você é canhota? — Ele pergunta.

Por essa eu não esperava e como ele... Sim eu sou canhota! Que burrice! Porque eu não pensei nisso antes? Ou a própria Sra. June?

Quem pode julgá-la, a pobre mulher precisa ficar correndo atrás das alunas e dos alunos que fogem das suas aulas, como o diabo foge da cruz e como eu fujo da Rosana.
Mas, Jack que percebeu isso em questão de milésimos de segundos.

— Como... — Abaixo as mãos, encostando o taco no chão.

— Acho que esse é o problema. — Aponta para a minha mão direita que segurava o taco.

— Eu ser canhota é o problema? — Minhas sobrancelhas se franzem e o meu tom sai acusatório.

— Não foi isso o que eu quis dizer. — Jack tira a luva que tinha praticamente acabado de colocar e anda na minha direção.

Ele se aproxima em sete passos rápidos e largos, e não basta para ele, pois se aproxima um pouco mais. Passos curtos dessa vez.
Ergo o meu rosto para olhá-lo e a minha respiração resolve estagnar no segundo em que sinto a sua mão tocar a minha de forma leve.

Minha boca se entreabre, eu estou pronta para berrar com ele e dizer: "O que diabos você pensa que está fazendo?"

Acontece que ele é mais rápido do que eu:

— O problema é que você está tentando rebater como um destro faria. É óbvio que isso vai atrapalhar. — Tira o taco da minha mão direita e passa para a minha mão esquerda.

Jack muda para o outro lado e sussurra um "Posso?", antes de passar os braços ao meu redor e colocar a sua mão em cima da minha, só que dessa vez, com mais firmeza.

Repito, minha aproximação com os garotos foi extremamente limitada durante toda a minha vida por causa da Lady Rosana. Isso é diferente.

— Você não precisa de muito para rebater. — Explica, posso sentir a sua respiração quente bater contra a minha bochecha.

Ele levanta meu braço esquerdo, que segura o taco e em seguida, coloca minha mão direita um pouco acima da esquerda.

— Afasta um pouco as mãos... — Pede.

Procuro canalizar a minha atenção nas minhas unhas pintadas de cinza escuro.
"Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto". Acho que isso não serve para o sentido literal da frase.

É só manter os pés bem fixos no chão e ser firme na hora de rebater. — Conclui se afastando de mim aos poucos.

Ouço os passos dele na grama, retornando para onde estava a princípio. O vi pôr a luva outra vez e sinalizar com a cabeça que iria jogar a bola na minha direção.

— Agora pense que a bola é a cabeça de alguém que você detesta. — Ele ri da própria sugestão.

Eu posso fazer isso, posso sim. Eu posso imaginar que é a cabeça dele, entretanto, a Rosana é a minha prioridade.

Jack arremessa e diferente das outras vezes, o taco foi de encontro a bola e a bola de encontro certeiro com o rosto do Jack.

Puta merda!

Corro na direção do rapaz que tira o boné da cabeça e eleva as mãos até onde havia sido acertado.

— Merda! Eu... Isso foi incrível e... Foi péssimo... — Tento dialogar com ele que ainda cobre a cabeça com as mãos. — Está doendo? Eu... Não foi por mal... Eu só fiz o que você disse pra eu fazer... Deixa eu ver isso? — Peço meio eufórica. — Dessa vez foi sem querer e...JACK, FALA ALGUMA COISA! — Berro.

— Se você deixar, eu falo. — Ele distancia uma das mãos, deixando apenas a outra cobrindo o lado direito da testa.

Eu começo a rir de puro nervosismo.

Dou um tapa em sua mão, fazendo ele afastá-la, me possibilitando ver a grande marca vermelha que ficou.

— Melhor colocar gelo nisso aí se não quiser que fique roxo. — Levanto meu braço e a ponta dos meus dedos tocaram o rosto do rapaz que coloca os olhos em mim.

— Tudo bem. Acho que o boné amorteceu golpe. — Ele ri e faz uma careta. Deve estar doendo para um cacete.

Continuo rindo, rindo porque aprendi a rebater, rindo porque descontei um pouco da raiva que eu sentia da minha madrasta numa bola de beisebol e rindo porque consegui manter o item da lista de que eu não bateria em Jack Ahren com o taco de beisebol, já que eu não mencionei nada de bolas de beisebol.

— Deveria ter saído da frente, seu idiota. — Minha risada só aumenta ao me lembrar da prova de física sobre atritos.

Atritos.

Tenho um péssimo senso de humor, eu sei. Extremamente questionável.

— Está se divertindo com isso? — Jack põe a mão por cima da minha, que ainda está sobre o hematoma se formando na testa dele, provavelmente se esquecendo do quão invasivo alguns gestos poderiam ser.

— É. — Eu não vou mentir agora. — Eu estou sim.

— Olha só... — Aponta para mim. — Você sabe sorrir de verdade. — Acho que posso ver a minha imagem refletida nas pupilas deles, em contraste com as irias azuis. — E, pela primeira usou o "você" para se referir a mim.

Usei?

— Não usei não. — Meu sorriso vai se desmanchando.

— Usou. — O dele aumenta.

— Por que... Por que ainda está sendo legal comigo? — Procuro recuperar o ar. — Não lê os jornais? Por minha causa está neles também.

— Aquela não é você. — Diz brando.

Como ele pode dizer uma coisa dessas? Eu fiz aquelas coisas e não é como se eu realmente me importasse, ou tivesse tempo para parar e pensar em me importar.

— Melhor ir procurar por uma bolsa de gelo. — Separo a mão dele da minha e dou um passo para trás, me distanciando.

— Isla! — Harp grita do outro lado do campo, acenando para mim.

Sinalizo que já estou indo enquanto ela para ao lado do meu guarda na arquibancada, em seguida, torno a olhar para Jack Ahren para me certificar de que a pancada não afetou as suas funções vitais.

— Então, estamos numa boa? — Ele pergunta.

— Eu e o senhor? — Rio. — Eu acho difícil. — Dou um leve soco bem próximo à um dos ombros dele e ando em direção à Harper sem mais delongas que sorri e sorri como se fosse me fazer mil e uma perguntas de uma vez só.


OEKEOSEKEOEKEIE

Desculpa qualquer erro. Não parei pra arrumar esse capítulo como queria ter feito.

Beijo.

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