4 ⋆ O espetáculo da aurora
Eu e Zavian nos abraçamos forte e nos despedimos demoradamente de tudo aquilo, gravando cada pedaço da Nascente dos Mundos em nossas mentes. Jamais esqueceríamos o que havíamos visto, mas não seríamos como os outros; nós voltaríamos para casa.
— A água nos trouxe — Zavian sopesou, observando o curso d'água. A correnteza ali seguia o caminho inverso ao do outro lado, fazendo a rota de volta.
— Então a água vai nos levar de volta — deduzi, segurando sua mão e dando apenas uma última olhada no mundo dentro do mundo antes que entrássemos no riacho novamente.
Eu não sentia mais medo e a correnteza nos levou rapidamente por um túnel semelhante ao que nos trouxe. Não havia agitação ou redemoinhos d'água dessa vez, e eu mal percebi quando o céu surgiu acima de nós de novo, agora com as poucas estrelas do mundo comum. Do nosso lado não havia Limbo ou constelações ao alcance das mãos, mas eu estava agradecida por ver o horizonte gelado e infinito outra vez.
Quando saímos da água, tivemos força somente para sentar na neve. Imediatamente, o frio nos atingiu como uma flecha afiada. Zavian me abraçou e caímos deitados no chão gélido, ambos exaustos, mas com a alma flutuando. Eu o fitei e sem pensar muito, o beijei, tremendo de frio. Seus lábios eram macios e eu me perguntei o porquê de não tê-lo beijado antes. Seu cheiro, sua mão na minha e seu braço ao meu redor — naquele momento, ele era o melhor lugar do mundo.
Paramos para respirar e Zavian afastou-se um pouco, sussurrando para mim:
— Veja. — E apontou para o céu, fascinado.
Eu me mexi, virando de costas na neve apenas para que meus olhos contemplassem outra maravilha. Acima de nós, a aurora boreal brilhava no céu, ondulando em espectros e tons de verde como se fossemos sua plateia particular. Suspirei, tomada pelo fenômeno. Não era como a Nascente dos Mundos, mas, ainda assim, era incrível. Eu e Zavian nos entreolhamos, deslumbrados e ajoelhados pelo sentimento que havíamos reprimido por tempo demais e por ver aquelas luzes. Então, ele me beijou novamente, dessa vez numa urgência apaixonada que fez todos os meus ossos chacoalharem.
De todas as coisas que eu poderia ver no mundo, aquela seria para sempre a mais arrebatadora. Não havia nenhuma palavra que descrevesse a sensação. Meus olhos marejaram de lágrimas, porque a imensidão era esmagadora. O universo era esmagador. A nossa pequenez era esmagadora. E ainda assim, o amor esmagava a todos.
Eu acreditava que o medo assustador da morte e da perda que sentira seria o ápice da minha vida, mas não. Mesmo a morte era nada quando eu e Zavian suspiramos e paramos para admirar a aurora. A morte não existia onde aquelas luzes se formavam no céu, dançando como a água agitada que havíamos enfrentado. Nunca havia me sentido tão viva e tão em paz.
Por um momento, pensei que fosse levitar para fora do meu corpo, mas os braços de Zavian me mantinham firme naquele plano. Em meio à imensidão, havia aquele homem ao meu lado, e após fenômenos capazes de arrebatar o mais duro dos corações e a mais cética pessoa do mundo, éramos nada para o universo e tudo um para o outro. Eu jamais seria a mesma após estar encharcada com Zavian naquele chão gelado e imaculado, sem o peso de qualquer culpa ou dor. Lys estaria no céu para mim pela eternidade. Talvez ela tivesse se tornado um sol ou mesmo uma galáxia inteira; sempre fora tão grandiosa.
Ao meu lado, eu não tinha o céu, mas um paraíso particular. Zavian me encarava, sorrindo, como se fotografasse aquele momento mentalmente. Somente despertou quando percebeu nossos corpos tremendo de frio.
— Precisamos voltar. — Ele disse, afastando o cabelo molhado do meu rosto. — Não podemos morrer congelados aqui.
— Não vamos — garanti, sentindo todo meu corpo cortado pelo frio. — Vamos, nossas mochilas estão ali, eu trouxe algumas coisas — falei, apontando para as bagagens.
Zavian analisou as mochilas e riu. Era uma risada divertida, um som jovial e contagiante.
— Do que está rindo? — perguntei, confusa.
— A dona da estalagem — começou. — Como será quando ela nos ver de volta? — E riu novamente, puxando o cabelo para longe do rosto.
A senhora da estalagem com certeza achava que não voltaríamos. Desmanchando no riso com Zavian, eu mal podia acreditar que ele havia pensado naquilo.
— Eu te amo — disse baixinho entre as risadas.
Zavian parou de rir, parecendo surpreso. Após alguns segundos de silêncio e uma longa respiração, ele sorriu de novo, genuinamente feliz.
— Posso dizer "finalmente"? — Ele indagou, tomando de mim um tapinha no ombro enquanto caíamos numa gargalhada sincera. — Eu sempre te amei — sussurrou de volta num tom carregado de ternura.
Nossas mãos se encontraram novamente, não se soltando mais até que apanhamos nossas mochilas, encarando o riacho e toda a grandeza dos Montes Kijet uma última vez. Então, demos as costas e começamos a retornar. Eu podia sentir Lys me observando do lugar ao qual sempre pertencera — o céu — e a grande estrela vermelha nos assistindo partir.
Por fim, as luzes boreais foram o último e magnífico espetáculo a que assistimos naquela terra gelada e quase desértica.
Fim.
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Olá, docinho! 💙
Esse conto foi escrito exclusivamente para o Desafio 20 do @WattpadRomanceLP e fico muito feliz em compartilhá-lo com você! Espero que, apesar das poucas palavras, você tenha gostado da breve aventura de Selene e Zavian. Não esqueça também de deixar aqui seu voto e seu comentário, eu adoraria saber sua opinião! 🌠
Muito obrigada pela leitura e espero te ver de novo em outras histórias! ⭐
{Total de palavras do conto: 4.815}
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