2.5 onde há uma casa amarela tem de haver um girassól
Duas paragens.
Jungkook tinha parados duas vezes no percurso desde o conservatório de música até a casa amarela de Park Jimin. Agora o facto de a moradia ser amarela parecia um detalhe importante, desde o dia que Jungkook a vira, logo pela manhã, que sabia que não queria tirar os olhos dela e, agora, ali parado, sabia que, se tivesse sorte, podia vê-la muitas mais vezes, as vezes que quisesse.
A primeira vez que parara fora na loja de conveniência porque tinha um plano. Comprara uma garrafa de vinho, porque enquanto pensava no que podia dizer a Jimin, ao que podia apelar para que aceitasse aquele idiotazinho que só queria ficar consigo, lembrou-se que eles podiam, talvez, ter aquela conversa enquanto partilhavam uma garrafa de vinho.
Depois parou em casa, entrou apressado e agarrou no girassól da janela da cozinha. Parou em frente da mesa, segurando o vaso entre as mãos e encarando a planta. Era romântico, não? Era como um símbolo deles.
Então bateria na porta de Jimin com um girassól na mão, aquele girassól que ainda vivia, e uma garrafa de vinho na outra e diria algo como "eu pensei que nós podíamos beber vinho enquanto discutimos o que eu preciso de fazer para te ter" ou ainda, então, algo como "onde há uma casa amarela tem de haver um girassól''.
Embora todos os planos que tinham estivessem na sua mente, ao olhar o lugar do pendura, onde a garrafa de vinho estava e o girassól de companhia, Jungkook não tinha vontade nenhuma de dizer aquilo. Meu Deus, ele não podia usar uma frase feita, porque isso não era o que ele sentia! Estava tão nervoso que não sabia se chegaria até a porta sem desmaiar, quanto mais esperar que Jimin o convidasse para entrar, eles se sentarem, esperar pelas taças de vinho, abrir o mesmo e finalmente deitar tudo para fora.
Apesar de tudo isso, Jungkook sabia que nunca ninguém o aconselharia a ir bater naquela porta, daquela casa amarela, e desbrotar ali, dizer tudo o que queria, contar todo o processo, porque isso faria dele um fraco, um bobo, um vulnerável e uma criança.
Como faria Jimin ver que eles pertenciam juntos? Como justificaria aquela demora toda?
Jungkook já tinha ultrapassado a mágoa toda, já não estava danado ou sofrido pelo dia chuvoso que caminhara desde a estação de comboio até casa. A memória das ruas tristes de Busan já não lhe atormentava e a falta de Park Jimin nelas muito menos. Já não era sobre o porquê de não terem lutado mais, mas sim o porquê de não estarem a lutar agora.
Jungkook queria lutar, queria parecer forte e seguro, mas...
E se Jimin não estivesse em casa? Jungkook devia simplesmente sair do seu carro e fazer-se homem, deixar de agir como aquele adolescente que era louco por Park Jimin e sim como o homem que ainda é louco por Park Jimin da mesma forma.
Devia simplesmente-
– Jun? – os nós dos dedos de Jimin bateram contra a janela do lado do condutor e Jungkook o viu, arregalando o olhar.
Park Jimin estava curvado, uma mão no bolso da calça social e a ponta dos dedos da outra no vidro, os cabelos da testa afastados da mesma.
O moreno engoliu em seco. Era agora, precisava de dizer alguma coisa. Será que Jimin tinha visto o girassól? Ou o vinho? Ou como Jungkook estava a um segundo de hiperventilar?
Saiu do carro, fechou a porta mas fechou-a mal, sem força nas mãos e de repente parecia uma estátua.
– Está tudo bem?
Jungkook acenou, não sabia o que fazer com as mãos, não sabia como ficar de pé.
– Eu ia.... bater. – disse ele, apontando para trás de si com o polegar. – Na porta. Ia bater na porta e ver se você estava.
Jimin sorriu de canto, afastando os cabelos para o lado.
– Então eu devo te esperar lá dentro? – retrucou ele, risonho e brincalhão, no entanto, Jungkook o viu subir até a calçada e depois caminhar até a porta da sua própria casa, embora de frente para si. – Bata com força, ok? Porque eu posso estar na cozinha!
Jungkook encarou o chão, se assustando quando um carro passou pela rua e buzinou por ele estar no meio. Quando voltou para olhar Jimin viu a porta da casa, sem ele e fechada. Voltou a abrir a do carro, se abaixando para agarrar o girassól e a garrafa de vinho, mas decidido que não iria usar nenhuma daquelas falas idiotas deixou o vinho no carro, segurando o girassól como se dependesse dele.
Não podia demorar porque agora Jimin sabia que ele estava ali. Qual era a dificuldade, afinal? O que era difícil em caminhar até a porta e bater? Do que tinha medo, Jungkook?
Foi por isso que com a maior pressa existente no universo Jungkook puxou o celular do bolso, os dedos trémulos deslizando pela tela até encontrar o contacto do melhor amigo e ligar.
– Joon! Joon, me ajuda. – disse o mais novo, completamente aflito, de costas para a casa mas o olhar sempre por cima do ombro.
– O que foi? O que foi?! – o mais velho, assustado, se exaltou do outro lado. – Aconteceu alguma coisa com Yang? Algum acidente?
– O que foi, Nam? – Jungkook pôde ouvir a voz de Seokjin se aproximando gradualmente.
Jungkook suspirou, como se pudesse ter um ataque de pânico ali mesmo.
– Preciso de Jimin. – disse aos amigos entredentes, tendo a certeza que a partir daquele momento estava em viva-voz.
– Cara, ligou para o Namjoon. – o próprio disse, como se a voz não fosse suficiente para reconhê-lo.
– Eu sei! – o mais novo barafustou. – Por favor, me ajudem! O que eu digo a ele? Eu estou na porta dele e ele sabe que eu estou aqui e não posso demorar. Mas não sei... não sei o que dizer. O que posso dizer? Por favor, é comigo que você devia estar? Devia ter casado comigo e-
– O que você disse?! – Seokjin gritou do outro lado, arrancando o celular da mão do marido.
– Seok, por favor.
– Garoto, eu não posso te dizer o que falar para Jimin. Ninguém pode. – de forma séria passou a responder. – Mas eu super aceitaria se Namjoon batesse na minha porta falando que devíamos casar.
Com um revirar de olhos Jungkook pressionou o circulo vermelho no ecrã, atirando o celular para dentro do carro e esfregando a mão livre nas calças de ganga.
Em um impulso fez todo o caminho da calçada até o alpendre da casa, batucando com as juntas da mão e esperando.
– Oh, Jungkook! – Jimin exclamou, abrindo a porta com um sorriso, completamente surpreso. – Que surpresa te ver aqui!
Jungkook não disse nada, era agora um idiota estatuado na frente do que sabia ser o amor da sua vida com a porra de um girassól em mãos.
– Ei.
– Quer entrar? – o loiro abriu mais a porta, quase desmanchando em uma risada.
– Não! – respondeu de repente, fazendo o outro juntar as sobrancelhas, pasmo. – Eu quero... Quero dizer uma coisa.
Jimin esperou por longos segundos pelo que quer que fosse que Jungkook tinha para dizer ou queria dizer. Mas ele não disse nada então o loiro decidiu intervir:
– É sobre o seu girassól? – questionou. – Precisa de ajuda com ele?
– É para você. – esticou o braço, esperando que Jimin ficasse com ele.
– A sério? – o pegou da mão do moreno, erguendo-o entre os dois e tentando perceber se tinha algum problema. – Obrigado. Agora já quer entrar?
– Não. – voltou a negar, dessa vez com a cabeça também.
Jimin sorriu, compreensivo e pousando o girassól na mesa que tinha ali do lado, normalmente para deixar as chaves e a carteira.
– Jun. – o loiro esticou o braço, pousando a mão no braço do Jeon e esfregando o bicep lentamente. – Seja o que for pode me dizer.
Não, não podia. Jimin só dizia aquilo porque tinha uma grande esperança de que Jungkook não estava ali para lhe dizer que tinham de deixar de se ver ou de ser amigos, porque caso ele estivesse então não estava tudo bem e ele não podia dizer, não podia porque Park Jimin certamente não estava preparado.
– Quero te dizer muitas coisas, só não sei... por onde começar.
Aparentemente era uma conversa longa, mas Jungkook não queria entrar. Jungkook só queria entrar quando tivesse a certeza de que Jimin sentia as mesmas coisas por si, pois assim, quando entrasse, não seria ruim sair.
– Comece pelo principio.
– Quando nos conhecemos, eu e você-
– Ok, Jun! – Jimin gargalhou, sem perceber que o outro não estava brincando. – Talvez não pelo inicio inicio, ok?
– Oh, ok. – ele respirou fundo, as mãos em pequenos punhos fechados quase dentro das mangas da jaqueta de couro. – Eu quero ficar com você.
– O quê? – Jimin deu uma breve tossidela, sem esperar que as coisas fossem tão diretas assim depois de tudo, depois de ver Jungkook andar de um lado para o outro ao lado do carro enquanto falava ao telemóvel. – Eu também quero que- – Jimin tentou puxá-lo para dentro, mas Jungkook juntou os braços num x e o impediu, fazendo aquele gesto rápido.
– Espere. – pediu com calma. – Eu estou dizendo que quero... Quero ficar com você. Não importa mais se não resultamos dez anos antes de agora, porque não foi isso que aconteceu. Nós não resultamos, nós só... Não importa, ok? Porque é aqui que estamos agora e não lá.
Jimin acenou levemente, um sorriso contido nos lábios e Jungkook continuou com todas as coisas que tinha para dizer.
– Eu quero te dizer que isso pode parecer obsceno, mas eu nunca te esqueci e hoje eu percebi que eu nunca esqueci de você, eu nunca segui em frente, porque eu nunca tentei. – admitiu finalmente. – Eu menti para tanta gente, hyung, eu lhes disse que com o tempo eu ficaria bem, eu ficaria curado da febre Park Jimin, mas eu não fiquei. Eu não esqueci você. Quando eu estava com outras pessoas eu queria você. Se eu estava com alguém em uma coisa mais séria eu me pegava questionando se isso alguma vez seria tão bom quanto a gente foi. E isso é tão ruim, foi tão... Essa é a verdadeira história pela qual Yang precisa agora de viver com pais separados. Eu e Baejin nunca resultaríamos, assim como eu e ninguém que não fosse você resultaríamos.
Jimin passou os dedos pelas sobrancelhas, encostando a lateral do corpo ao batente da porta e percebendo a forma como Jungkook precisava de ar com urgência. Segurou-lhe a mão, porque pelo menos isso ele deixou e depois ouviu o resto.
– Você sabe que eu acredito no destino, hyung. – continuou, pousando a mão em cima do peito. – Eu acredito mesmo. E eu acredito que eu não te conheci por um acaso. Por tantas vezes eu tive medo de isso ser sério, porque quando é sério eu tenho medo de perder, eu tenho medo de me agarrar demais e não saber largar se as coisas acabarem por não ser como eu as vi. Mas não com você, Jimin. Sim, eu tinha medo de te perder, mas eu sabia que isso não iria acontecer, porque não íamos fugir um do outro. Você pode me dizer que fizemos isso, mas fizemos? Quer dizer... estamos aqui agora, ou não?
– Sim, Jun, estamos. – a voz saiu seca, mas Jungkook ainda tinha tanto para dizer que não reparou em mais nada a não ser as suas mãos juntas lhe dando força para continuar.
– Eu acho que precisamos de passar por tudo isso para estarmos aqui agora. Para darmos valor ao que temos e ao que somos, hyung. – ele declarou e parecia estar perto do fim. – Eu quero fazer isso agora. Estou preparado para isto agora. E desde que eu te vi... Merda, eu nunca mais dormi igual. Como fizemos isso, hyung? Como é que temos aquela sensação entre nós de dez anos atrás e não conseguimos deixá-la longe?
– Jun... – ele chegou a fungar, dando um passo em frente e subindo uma mão para a nuca do moreno, as suas testas tão próximas que quase podiam se tocar e a outra mão no zíper da jaqueta, os nós dos dedos dobrados ali para o manter para si. – Não vamos deixar essa sensação ir embora.
Jungkook o puxou, os braços rodeando a sua cintura toda e os deixando juntos.
Quando Park Jimin não estava, era como se doesse. Felizmente a memória de uma casa amarela, que era uma coisa tão feliz, uma coisa tão Park Jimin, nunca se tornaria uma má memória.
]n/a[
Falta 1 cap para o final!!
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