2.4 onde há remorso

Há detalhes dentro dos grandes momentos os quais não conseguimos tirar da cabeça. Normalmente as coisas aconteciam assim para Jungkook: Revia um momento por tantas vezes na sua cabeça que quando percebia um detalhe não conseguia livrar-se dele e o plano maior desaparecia. Era assim há anos, longos anos, podia jurar desde pequeno se se fosse lembrar. 

E havia um pequeno detalhe em Kim Taehyung que ele não conseguia esquecer. 

Quando encontrara Jimin naquele dia mais tarde as coisas pareciam mais claras. Era como se de repente os sentimentos que tinha por Jimin e Jimin por ele estivessem estampados em cada lado das suas faces. Eram eles, eram eles novamente. Claro que nesse dia Jungkook não pensou muito na conversa que tivera com Kim Taehyung e muito menos em detalhes, afinal mal sabia pensar em geral quando estava perto de Jimin. 

Junto com ele e Yang, os três comeram sorvete pelo caminho do parque da cidade e quando Yang implorou para brincar no espaço infantil, Jungkook não soube negar quando, junto com ela, Jimin fez seu olhar mais encantador. Jungkook não sabia dizer não a um bebê, quanto mais a dois. 

Embora não estivesse com a cabeça no detalhe de Kim Taehyung, Jungkook ainda se sentia curioso e se havia alguém a quem podia perguntar, esse alguém era Park Jimin. No entanto, ao contrário do que esperava, Jimin não foi uma grande ajuda. O loiro também sabia que ele e Kim Taehyung partilhavam isso de que o ruivo apelidava de erro, mas não sabia a quem ele se referia, apenas que era uma coisa pela qual nunca lutaria. 

Jungkook era contra desistentes e sim, isso incluía ser contra ele mesmo. 

Naquele final de tarde Jimin disse-lhe: 

– Taehyung diz que eu e ele cometemos o pior erro das nossa vidas. – no topo do banco, a sua mão se juntou com a do loiro. – Mas eu estou tentando mudar isso. 

Taehyung não estava. Taehyung não pensava em mudar isso e isso deixou o moreno pensando. Taehyung não queria ser feliz? Como podia ele impingir a felicidade no amigo e não lutar pela sua? 

Na altura, no momento, Jungkook não pensou nisso. Queria ter pensado, ter sido altruísta, queria até ter se imaginado do lado de Park Jimin, mas não pôde, porque uma coisa realmente tinha mudado nos últimos anos. Jungkook já não podia dizer que Park Jimin era a pessoa que mais amava no mundo, que daria a sua alma por ele e se venderia ao diabo. Não, agora não, agora esse posto estava ocupado. 

– Quer brincar comigo? 

Jungkook e Jimin se entreolharam ali, vendo a pequena perguntar aquilo não para o pai, mas para o loiro, que deixou os lábios se entreabrirem, as mãos seguras pelas da mais pequena. 

– Sim! Sim, claro! 

Naquele banco, não foi onde Jungkook percebeu que não podia perder aquilo, porque isso ele já sabia, mas foi exatamente ali que percebeu que o que quer que fosse que Taehyung tivesse parecido com aquilo ele não podia perder também. 

Com isso em mente Jungkook tomou atitudes de que não se orgulhou, pois não era de se meter na vida dos outros ou mesmo de bisbilhotar. 

Estranhamente, depois de três dias muito pensativos, Jungkook não estava nervoso por estar ali. Viu todos os alunos saírem e se curvou para eles até que pudesse entrar, batucando os dedos na porta. 

Ah, que saudades do seu hyung...

– Pirralho? – surpreso por o ver ali, Yoongi se aproximou, puxando Jungkook para dentro da sala e se esticando para abraçá-lo pelos ombros.  – Você aqui? Que surpresa! 

– Olá, hyung... – ele murmurou, sentindo-se esmagado contra o corpo pequeno e depois sendo largado de rompante, o mais velho o encarando de forma suspeita. 

– Hum... O que te trás aqui? 

Jungkook brincou com os lábios, passando por ele e passando a ponta dos dedos por alguns dos instrumentos musicais dali, deixados pelos alunos de antes. 

– Não posso visitar o meu amigo porque estava com saudade? – ele brincou, se virando para o mais velho e o vendo prender uma risada. 

Como era ruim mentindo, meu deus... 

– Vamos lá, Jungkook... – cantarolou ele, encostando a porta do lugar e começando a caminhar entre as duas fileiras de mesas, recolhendo os materiais mais pequenos. Jungkook se encostou ao pequeno quadro branco, os braços caídos para baixo. 

– Eu quero te perguntar uma coisa. 

– Começo a acreditar que estava com saudade... – brincou ele. – Eu teria atendido se tivesse me ligado. 

– É uma coisa importante. – explicou então e embora tarde o nervosismo o apanhou. 

– Tudo bem. O que se passa? 

Jungkook engoliu em seco, desviou o olhar do amigo para os sapatos, dos sapatos para a janela e quando voltou a olhar Yoongi o mesmo estava esperando, em pé, no meio das fileiras com uma pandeireta na mão e um olhar estranho. 

O que sabia Jungkook? 

Antes de perguntar, teve de suspirar e dizer a si mesmo que não podia ser assim tão mau perguntar uma coisa daquelas. 

– O que separou você e Taehyung quando éramos mais novos? 

Yoongi se mexeu, mais descontraído, guardando a pandeireta no armário e olhando Jungkook, sacudindo os ombros. 

– O mesmo que separou o resto de nós? – supôs ele, sem perceber. – Precisámos crescer, garoto. 

– Não, hyung. – ele se aproximou, as mãos pousando em cima de uma das mesas. – Sei que é você. Sei que é de você que Taehyung está falando quando ele diz que errou, hyung. 

– Ele te disse isso? – Yoongi não o olhava mais, a mão escorregando gradualmente pela porta do armário e o olhar em algum dos instrumentos que o mesmo tinha dentro. 

– Sim, ele disse. 

Ah! E se aquilo era um segredo? 

Min Yoongi ficou calado por longos segundos e Jungkook não se atreveu a dizer mais nada. 

– Bom, não deve ser difícil para você adivinhar. 

– É um pouco... 

– Jure, Jungkook? – um olhar, de esguelha. – Você e Jimin se separaram por uma viagem de três horas de comboio e eu e Taehyung deveríamos superar fronteiras? 

Jungkook recuou um passo, tocado por aquilo. Parecia tudo tão fácil na boca dos outros que doía. Ele só tinha de ir e correr por Park Jimin. Ele só tinha de ter insistido? Era isso? 

– Me desculpe, Jungkook. – o mais velho repôs, descendo até o menor e o encarando. – Taehyung e eu somos um assunto passado e eu não devia... Me desculpe. 

– Talvez seja verdade. – o mais novo sacudiu os ombros, girando o corpo e se encostando ali. – Talvez fosse simples e nós não víssemos. Mas eu e Jimin éramos crianças. Não éramos metade do homem que você é, hyung, então eu julguei que se havia alguém que pudesse superar fronteiras esse alguém seria você. 

– Como eu disse, isso é um assunto antigo e eu-

– Não estou vendo fronteiras agora. – Jungkook o interrompeu, não sabendo o que estava tomando conta de si agora. Não estava chateado, não estava bravo mas estava... incomodado. Seriamente incomodado. – Taehyung está aqui, em Busan, onde você está. Então? 

– Você tem razão, Jungkook. – com mágoa disse. – Você e Jimin eram crianças, não sabiam superar um amor como o vosso. As coisas não são assim para mim, eu não podia esperar Taehyung este tempo todo. 

– Porque está me mentindo, hyung? – ele se mexeu, nervoso, com medo de não dizer tudo o que queria e como queria. – Porquê que não foi à festa de Sun-Hee? Todos estávamos lá, menos você e Taehyung. Jimin convidou todos nós para um dos momentos mais importantes da vida dele, mas você? Você não foi. O que é que te assusta tanto em nos ver, hyung? – caminhava de um lado para o outro, finalmente ligando todos os pontos. – Você não superou Taehyung, você não conseguiu. Foi por isso que, naquela noite, você veio até mim e me disse para não voltar para Jimin. Porque você não queria que eu sentisse o que você sentiu, não é? 

– Você está cruzando um limite, Jungkook. – avisou o menor. – Podemos parar com isto? 

– Não estamos cruzando o suficiente. 

Jungkook não cruzava limites, nem os seus nem o dos outros. Mas como podia não fazê-lo? Na frente dos seus olhos tinha dois dos seus amigos lutando contra uma coisa que ele achava ser inevitável e, aparentemente, eles estavam sofrendo por isso. Embora tudo parecesse mais óbvio com Taehyung, Jungkook podia ver a mágoa em Min Yoongi à medida que falava, principalmente quando chutou para o ar todas aquelas suposições e percebeu que eram verdadeiras. 

– Jungkook, se você... – o mais velho suspirou pesado, elevando o corpo para cima de uma das mesas. – Se você espera que todo este discurso vá me fazer correr para os braços de Taehyung... Bom, as coisas não funcionam assim. 

Se um diamante tivesse sete pedaços, Jungkook acabara de ver um deles ser completamente destruído. Nunca mais veria o diamante completo e, consequentemente, ele nunca mais seria o mesmo. 

– Você realmente se vê por todos os anos que tem pela frente vivendo consumido por mágoas? 

Yoongi o olhou, porque aquele pirralho parecia ter crescido trinta anos em termos de sabedoria. Não era difícil de acreditar, porque aquele era o golden maknae, ele conseguia e podia tudo, mas Yoongi nunca esteve preparado para isso. 

– A mágoa passa, Jungkook, eventualmente. 

– Não! Não passa. – convicto ele afirmou e para provar o seu ponto seguiu em frente: – Quantos anos passaram entre vocês? Eu posso ver mágoa aqui, agora. 

– O problema é continuar agarrado a ela, não é? – refletiu ele, negando levemente com a cabeça, as juntas das mãos se tornando brancas na beira da mesa. – Isso é uma coisa que eu posso mudar. 

O mais novo arregalou o olhar, tão assustado com as possibilidade que Min Yoongi pudesse estar criando como soluções em sua cabeça e claro que o mais velho percebeu isso, no entanto, como não era um problema para ele também se riu. 

– Ter nós os sete juntos é legal, Jungkook, mas há demasiadas bagagens entre nós. 

– Bagagens? – incrédulo, Jungkook ficou na frente dele, as sobrancelhas quase sobrepostas. – Eu e Jimin temos uma bagagem. Nós temos e não deixamos que isso interfira no que quer que seja. Você e Taehyung? Vocês são um caso totalmente separado de nós os sete. Nós os sete somos alguma coisa e você não pode estar realmente me dizendo que você e Taehyung vão separar isso. 

Oh, talvez aquilo não fosse muito justo... 

Min Yoongi não levou aquilo a peito, sorrindo de canto, segurando o ombro do mais alto e dizendo: 

– Você e Jimin nunca tentaram se esquecer um do outro. 

Aquilo parecia a chave de toda aquela coisa, que de algum modo sempre retornava para Jimin e Jungkook, no entanto, no fundo daquilo Jungkook viu a ponta de esperança que precisava para não desistir. 

Com um sorriso, disse: 

– Então você ainda não esqueceu Taehyung. 

Jungkook tinha-o apanhado em flagrante, mas Min Yoongi não estava reagindo como se isso tivesse acontecido. Sentado no tampo da mesa, o menor passou os braços pelos ombros do Jeon, o abraçando com calma. 

Jungkook não podia ganhar aquela batalha, podia? Felizmente uma guerra só termina quando um dos jogadores levanta a bandeira branca e entre aqueles dois? Que venha ela, se for capaz. 

– Nós somos mesmo sete, mas não seria estranho haver três casais entre nós? – eles se afastaram, se encarando, um de sorriso bobo e o outro confuso. – Me parece o tipo de salada que Hoseok não apreciaria. 

– Só há um casal entre nós, hyung. – Jungkook o corrigiu. 

– Não acredito! – de repente saltou para o chão, empurrando o mais novo para trás e o mesmo cambaleou, embora risonho. – Jimin e você ainda andam nessa merda?  

– O quê?! – Jungkook quase ergueu as mãos em rendição, sem saber quando tinha perdido o fio à meada e de como o deixava fugir com tanta facilidade. – O que você quer dizer com isso?

– Quero dizer que você vem brincando com o fogo. – retrucou ele, quase ofendido por tudo aquilo e talvez ele estivesse. – Está esperando o quê? Que Jimin canse? Porque ele não vai embora, Jungkook. Ele já planeou todo esse jantar, ele já te mostrou que quer algo com você e não está ligando se você tem um rebento! Você é tão burro, Jungkook! Você não gosta dele, é isso? É isso?! 

Jungkook recuou tanto os pés para trás que acabou a bater as costas no quadro branco da parede. Assustado, talvez porque nunca vira Min Yoongi com uma posição tão forte, Jungkook se viu sem nenhuma resposta. Quer dizer, claro que gostava de Park Jimin, claro que agora sabia de todas aquelas coisas que seu hyung estava lhe dizendo, então... era mesmo burro? 

– Como... Como sabe de tudo isso? 

– As nossas mães falam, isso não é importante. – revirou o olhar e pareceu cansaço. 

Estavam todos cansados daquela história entre Jimin e Jungkook? Desta história? 

– Eu... Eu devia ir? 

Sim, ainda estava encostado no quadro e as veias de Yoongi já não pareciam saltar para fora do pescoço quando ele decidiu acenar. 

– Sim, você devia. – se aproximou com cautela. – Você devia deixar Jimin saber que nunca desistiu dele. Deixe ele saber que por todos estes anos você nunca se agarrou a ninguém porque... ele. Ele existe e não está só na sua cabeça.

– Eu devia ir! – voltou ele a dizer, saindo da frente do amigo e afastando-se do quadro. – Devia ir! – os pés em tropeços, como se não conhecesse o piso e o pescoço virado para cima do ombro, onde ainda olhava o amigo mas caminhava para longe dele. – Tchau, hyung, obrigado. 

– Ei, pirralho. – o mais velho chamou, os braços cruzados na frente do peito e um sorriso nos lábios. Jungkook o olhou da porta, inquieto. – Estou orgulhoso, você vai se dar bem.   

E ele ia.  

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FALTAM DOIS CAPS, ALERTA

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