1.9 onde há Chin-Sun

Jungkook sempre teve medo do seu reflexo. Olhar-se no espelho não era doloroso, não era esse tipo de coisa, excepto se estivesse olhando no fundo de suas orbes como se não fosse ele. Por vezes, depois de lavar o rosto pela manhã, Jungkook ficava tão próximo do próprio reflexo que ao encarar seus próprios olhos sentia que não estava olhando para si mesmo e sim outro corpo igual ao seu. Era assustador, ele tinha medo, mas não pensava muito nisso.

Naquele momento estava se encarando, mas era de longe, vendo todo o seu corpo em frente do espelho longo que tinha na parede do quarto. Viu Yang espreitar na porta, o sorriso entre os dentes, que foi o suficiente para se virar para ela e se agachar no chão, permitindo a sua entrada e logo a seguir tendo-a nos braços.

– Estou bonito? – ele perguntou, risonho, fixando os cabelos da menor atrás da orelha da mesma.

Ela acenou, mas ela queria algo, balançando-se nos pés da forma que o pai conhecia bem.

– Eu posso ir?

– Hoje não, princesinha, me desculpe. – ele pediu, a puxando pela coluna pequena e deixando-a entre as suas pernas. – Vovó está vindo para ficar com você, você vai se divertir. – prometia, confiando nos dotes da mãe.

– Onde está indo?

Jungkook sorriu curto, erguendo o corpo e virando-se para o espelho mais uma vez, ajeitando uma última vez o colarinho da camisa justa.

– Promete não dizer a vovó? – testou ele, olhando-o através do reflexo e vendo-a acenar. – Eu vou encontrar meus amigos.

– Vovó não pode saber proquê?

Jungkook soltou uma gargalhada, olhando-a de frente agora, baixando-se mais uma vez e segurando-lhe ambas as mãos.

– É um segredo meu e seu, agora.

Ela concordou com aquilo, mesmo entendendo pouco e quando o pai já estava de pé, viu-o verificar o relógio que trazia no pulso, para depois o soltar dali e deixá-lo pelo móvel que o quarto tinha.

O som da porta da entrada se abrindo chamou a atenção dos dois Jeon, levando os olhares de ambos até a entrada do quarto, sabendo embora que nada veriam ali de imediato. Jungkook segurou a mão da pequena, a levando até a sala, os sapatos batendo contra o piso de madeira anunciando a chegada dos dois à mulher que acabara de entrar pela casa dos dois.

– Porque estão os dois parados me olhando? – perguntou a avó, encarando o filho e a neta na sua frente, as mãos dadas e os rostos nada surpresos por vê-la ali.

– Dá um beijo na vovó. – Jungkook mandou, soltando-lhe a mão e incentivando-a a ir, vendo a mais velha dos três unir as sobrancelhas, sem atender aquela atitude.

– Não quero. – disse a mais pequena, sem se mexer.

Jungkook quase quis deixar sair um pulmão pela grande risada que quis soltar, mas manteve a pose e nada disse.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou a Jeon mais velha, extremamente chocada por ser recebida daquela forma. – Tem alguma coisa no meu rosto?

Jungkook cometeu o primeiro deslize na sua atuação junto da filha, deixando uma risada silenciosa escapar pelos lábios, no entanto a mãe, atenta e astuta, apanhara aquilo.

– Mãe, se Yang não quer eu não posso realmente... – ele voltou a rir, tentando disfarçar com a mão. – Não tem nada no seu rosto.

– Garoto, se você e sua filha não vierem agora me cumprimentar vocês podem esquecer suas prendas de Natal.

– Yang, não! – Jungkook barafustou assim que Yang acabou com tudo aquilo e correu para os braços da avó, abraçando-a e beijando-lhe a face.

Embora fosse engraçado para Jungkook, a senhora Jeon estava negando com a cabeça enquanto abraçava a pequena, depois lançando um olhar mortal ao filho.

– Onde você está indo todo arranjadinho? ‐ ela comentou assim que o filho se chegou perto, abraçando-a brevemente e a beijando na bochecha, parte do corpo a qual o mais novo teve apertada logo de seguida.

– Sair. – sem querer se prolongar naquela questão, ele saiu de perto da mãe, se aproximando do sofá da sala e pegando o casaco de fazenda pousado ali, passando-o pelos braços e deixando-o cair até os seus joelhos.

– Onde ele está indo, Yang?

Jungkook sorriu de fininho, de costas para as duas, quando ouviu a mais nova responder:

– Não posso dizer.

– As prendas de Natal. – ameaçou a mais velha mais uma vez.

– Não posso dizer. – ela repetiu roboticamente.

– Não é possível. – retrucou a mais velha, estreitando as sobrancelhas para a menor e depois para o filho, que se virara agora para olhá-las. – Me ouça, garotinha, se você não me disser eu vou te obrigar a ver a novela da 'vó pela noite toda. Nada de desenho.

Sem pensar muito, Yang Mi limitou-se a negar com a cabeça, leal ao progenitor, o que fez o mesmo esboçar um sorriso e se aproximar da mãe, pousando uma mão no ombro dela.

– Boa tentativa. – ele troçou, confiante e contente. – Mas quem sai aos seus não degenera.

A mulher finalmente desistiu, tirando o casaco quente pelos braços e pendurando-o no cabide da entrada, depois olhando a mais nova, que estava agora às suas ordens.

Jungkook não gostava muito daquilo, não gostava de ter que pedir à sua mãe para ficar com a sua filha, mas acima de tudo não gostava de abdicar de um dos dias da semana que tinha com a sua filha para sair e deixá-la com a avó, embora a mesma fosse louca por ela e ela por si.

Quando Yang Mi estava no quarto pegando as roupas que o pai tinha deixado prontas para ela vestir quando fosse dormir, foi quando Jungkook se aproximou da mãe na cozinha, que já fervia água na cafeteira e preparava duas canecas com açúcar e chá, uma amarela e simples e a outra vermelha com desenhos de carros.

– Não vou chegar tarde. – disse ele, segurando-lhe os ombros por trás e espreitando o que ela fazia.

Talvez sentisse saudade de fazer aquilo com a mãe, tomar um bom chá depois de um banho quente em uma noite de inverno para depois se aconchegar no sofá e ver a novela da noite. Jungkook era chegado aos pais, no entanto, a pergunta que a mãe lhe fez apanhou-o de surpresa.

– Jimin vai estar lá?

Jungkook travou, soltando-a de repente e permitindo que a mesma se virasse e o olhasse, sorrindo de canto a canto das bochechas.

– Por isso é que se pôs todo bonito, não foi?

– Ji-Jimin?

Jungkook poucas vezes perdia a fala perante os pais, perante a mãe eram ainda mais raras as vezes porque sentia que podia falar com ela sobre tudo, principalmente numa etapa da vida em que Yang Mi acabara de nascer e ele precisara de aprender tanta coisa de uma verdadeira mãe.

– Estou tão feliz por vocês, Jungguk. – ela sorriu terna, afegando a bochecha do filho.

– M-mãe, o que te disseram? – atrapalhado, perguntou.

Ela sacudiu os ombros, como se não fosse nada e Jungkook se virou, virando-lhe as costas e levando as mãos ao rosto. Será que as coisas tinham acabado de ficar mais complicadas?

– Ele sabe sobre Yang? – quis ela saber, ocupando um lugar na mesa da cozinha.

– Yang? Yang eu? – a mais nova da família entrou pela cozinha, nas mãos um pijama quente e nos pés chinelos verdes. – Ou outra Yang?

Jungkook se virou, vendo a pequena confusa e curiosa e depois a sua mãe, que riu baixinho pela pergunta e depois, propositadamente o encarando, perguntou:

– Você conhece Jimin, Yang?

Sabendo que a filha não mentiria, Jungkook bufou baixinho, segurando a beira do balcão atrás de si com os dedos ao vê-la acenar afirmativamente.

– Ele é muito legal. – começou ela e Jungkook deu um passo em frente, esperando que isso chamasse a sua atenção e a fizesse não tagarelar. – Tem um cabelo muito bonito! E ele faz o papai sorrir.

Jungkook arregalou o olhar, afastando os cabelos para trás e se aproximando da filha, momentaneamente sem fala.

– Yah, Yang, isso também era um segredo. – disse ele baixinho, sem que a mãe ouvisse. – Eu estou indo agora, ok? Se porte bem e eu te vejo amanhã.

Ele se apressou a sair depois de abraçar a menor, apressado pela sala, mas mais uma vez o piso denunciou a mãe o seguindo.

– Quando eu posso ver ele de novo? – perguntava, seguindo o filho pelo cómodo enquanto o mesmo recolhia os pertences essenciais antes de deixar a casa. – Tenho tantas saudades dele!

– Mãe, por favor. – pediu ele já na porta, virando-se para a mulher, as mãos ocupadas com chaves, a carteira e o celular na frente do peito, pedindo por misericórdia. – As coisas não são assim e por favor não faça Yang pensar que são.

Aquilo não chateava o moreno, mas pela forma como saiu pela porta, fechando-a, deixou a mãe a pensar que sim. Saber que a sua mãe sentia saudades de Park Jimin não o deixava chateado, mas causava um sentimento nele que doía e Jungkook estava cansado de ser um doído. Se até a sua mãe sentia saudades dele, imagine ele, imagine saber que havia alguém a mais do que ele a querê-lo por perto.

Quando Jungkook alcançou o carro estacionado na frente da casa, ele parou na calçada, sentindo raiva de si mesmo e como aquilo o afetara de modo a falar com a própria mãe daquele modo, a ponto de acusar a mulher de uma coisa que ela não havia feito. Estava atrasado, mas decidido virou nos calcanhares. Não esperava que a sua mãe estivesse no alpendre, o olhando, mas quando a viu correu para os seus braços.

Jungkook tinha uma relação chegada com os pais, mas o amor de mãe soava-lhe diferente. Não era o tipo de miúdo que sabia dizer de qual pai gostava mais, pois sabia que os dois eram esforçados por si, mas sabia que era com a sua mãe que podia chorar caso precisasse e era essa a vontade que tinha, embora se sentisse infantil e de volta na sua adolescência.

Foram precisos três meses para os pais de Jungkook descobrirem que ele e Park Jimin não estavam mais juntos como um casal, isso porque três era o número de meses que Jungkook demorara a ter uma conversa com os pais. Naquela altura, meio destruído, meio lutador, quis emancipar-se, quis concretizar sonhos que tinha antes, mas estava esperando por Jimin. Deixou a casa dois meses depois do término, com a ajuda dos pais, embora os mesmos não estivessem de acordo, e quando Jungkook reuniu os pais e os amigos para apresentar a mesma, foi quando Chin-Sun percebeu que Jungkook não estava se mudando com Jimin, ele estava se mudando sozinho. Viu a tristeza no olhar do filho, viu como estava desolado e percebeu o seu erro. Jungkook não tinha lhe dito aquilo porque Chin-Sun era demasiado ligada a Park Jimin, desde que o conhecera e eles passavam tempo juntos, afinal quando Jimin vinha de Seul para visitar Jungkook ele ficava na casa onde ele morava, que era no caso a casa dos pais. Chin-Sun o tratava como um filho e Jimin agia como um.

– Me desculpe, mãe. – pediu ele, afoito, fungando baixinho e fechando os olhos, o queixo contra o ombro dela, se sentindo pequeno. – Não queria dizer aquelas coisas.

Chin-Sun se sentia errando mais uma vez, porque estava dizendo que tinha saudades de Jimin, pois tinha... mas e para Jungkook? Depois de tantos anos?

– Jungkook. – ela o afastou pelos ombros e segurou-lhe as bochechas entra as mãos finas e compridas. – Por favor, não o deixe fugir novamente.

O mais novo sentiu os olhos encherem, a visão de repente desfocada até que ele piscasse várias vezes e mandasse as lágrimas embora. Não caiu nenhuma, mas uma mãe não precisa disso para saber.

– Não sei... Não sei das coisas agora. – aquilo não pareceu fazer muito sentido para nenhum dos dois, mas a mulher acenou, como se compreendesse e aceitasse.

– Meu amor, desde quando você precisa de saber das coisas com Jimin? – perguntou ela, sorridente e puxando o filho para mais um abraço antes de ele ir. – Vocês não precisam de saber mais nada, só precisam se lembrar do que já sabem e você nunca se esqueceu.

Não, Jungkook realmente nunca se esqueceu.

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