1.6 onde há um aluado

A lua é uma coisa tão inacreditável que não faz jus a, pelo menos, uma das palavras derivadas ou que ela transporta.

"Aluado" era como Kim Namjoon e Kim Seokjin definiriam o amigo naquele momento.

Faziam alguns minutos desde que Jungkook e Namjoon tinham chegado a casa deste último. O moreno estava ali a convite do marido do melhor amigo para que jantasse junto com eles, no entanto, enquanto Seokjin viajava entre a cozinha e a sala de estar, querendo conversar e ao mesmo tempo não deixar a comida queimar, ele sentia que Jungkook realmente não estava ali. Quer dizer, claro que estava ali, sentado no centro do sofá, as pernas abertas e recostado, nos pés só as meias e no olhar um sonho. Estava ali, mas era como se não estivesse pois Seokjin falava e falava e Jungkook murmurava coisas que nem perto de serem palavras estavam.

Quando Namjoon voltou, pois a primeira coisa que fazia ao chegar a casa era trocar as roupas formais por outras mais confortáveis, largas e casuais, percebeu no semblante do companheiro de vida a descrença.

– Esse pirralho está me desrespeitando. – ele disse logo, voltando a entrar na cozinha de uma vez e sendo seguido por aquele que não estava fingindo ser um zumbie no sofá.

– Hum... cheira bem aqui. – murmurou o loiro ao entrar no cómodo, sem deixar passar aquilo de lado, assim como fazia todos os dias desde que haviam se mudado e Seokjin cozinhava. – Eu não sei o que ele tem, se for me perguntar.

– Como assim não sabe? – o mais velho, que estava junto do balcão, olhando as panelas de longe, virou-se, uma colher de pau na mão e as sobrancelhas unidas. – É o melhor amigo dele!

Namjoon riu, deixando aquilo de lado e voltando para a sala, onde acabou por se sentar do lado do amigo e dar-lhe um tapa leve na coxa para que tivesse a sua atenção.

– Vai preocupar Seokjin. – advertiu ele, brincalhão. – Você quer mesmo isso?

– O quê? – o moreno olhou o amigo, confuso, sem ter ouvido nada recente do que Seokjin dissera e receoso se era sobre isso que o amigo estava falando.

– Amigo, vamos lá.

Jungkook nada tinha partilhado com os amigos sobre o assunto que envolvia Park Jimin, embora já tivessem passado três dias e ele sentisse que devia. Ali, bem ali, do lado do melhor amigo dele no mundo todo, Jungkook tão pouco teve coragem. Estava aterrorizado em duas partes. Das duas uma, ou Namjoon lhe dizia que não devia ter acontecido e ele devia esquecer ou então, pior ainda, dizia-lhe para ir e correr por Park Jimin.

Engolindo em seco, Jungkook esfregou as mãos na calça social, levantando-se depois e virando-se de forma reta para o amigo.

– Vou no banheiro.

Ele foi, caminhou pelo corredor dentro como se fosse Atlas carregando nas costas o peso do mundo inteiro. Não era como se sentisse vontade de chorar, gritar ou bater em alguma coisa. Às vezes, quando estava cheio, sentia isso e se aliviar era mais fácil do que daquela vez. Mas, daquela exata vez, Jungkook não tinha a cabeça cheia, pelo menos não só, mas sim o peito se aliando a ela e o deixando perdido entre meros mortais.

Lavou o rosto com água gelada, porque se sentia dormindo pelos cantos quando só queria acordar e seguir com a vida. Era humanamente possível pensar tanto em alguém? Era possível que no meio de uma vida agitada Jungkook se visse completamente tomado por algo que não estava remotamente do seu lado? Naquela vida?

Tinha as mãos pousadas nas margens do lavatório de mármore e o olhar no espelho, em si, focado, quando bateram na porta de forma tão leve que quase não pode escutar.

– Jungkook? – Seokjin o chamou e Jungkook olhou a porta ainda fechada. Se afastou dali, segurou uma toalha pequena entre os dedos e começou a secar as mãos.

– Pode entrar. – disse-lhe e a porta foi aberta de imediato, mas não o assustou.

Seokjin o viu ali, o corpo meio encolhido, o rosto húmido e algumas pontas do cabelo de igual forma. Não soube o que dizer, porque não tinha pensado na imagem que teria do mais novo ali dentro, apenas com a certeza de que ele poderia estar fazendo tudo menos necessidades fisiológicas.

– Tudo bem, hyung? – parecendo recomposto, Jungkook perguntou enquanto devolvia a toalha à pequena ranhura na parede onde a mesma se encaixava.

– Preciso de te contar uma coisa.

A mente de Jungkook quase brilhou ao ouvir aquelas palavras mais uma vez, as sobrancelhas se erguendo, sem acreditar que fizera uma coisa daquelas ao seu amigo.

– Pois, me desculpe! – ele abraçou o maior pelos ombros largos, como se isso garantisse seu perdão. – Sim, me conte... Você já queria me dizer antes, não foi? Quando jantamos fora pela última vez.

Fazia algum tempo... Será que era o mesmo?

– Sim, Jungkook. – Seokjin gargalhou, entusiasta daquela atitude do mais novo, que parecia arrependido por ter deixado escapado aquilo.

– Passou tanto tempo, eu... – o mais novo coçou os cabelos, levemente envergonhado por aquela noite em que quis tanto ir até Jimin que deixara escapar uma coisa daquelas, que no fim devia ser importante afinal Seokjin tinha o seguido até o banheiro e tudo.

– Foi Jimin. – ele disse de uma vez e ao ouvir o nome do loiro Jungkook sentiu o abdómen enrijecer.

– Sim... eu encontrei Jimin e acabei me esquecendo, hyung.

– Não... Não é isso. – ele voltou a rir, puxando Jungkook para fora do banheiro, porque aquilo estava soando estranho. – Vem.

Jungkook foi levado até o sofá onde, com um aperto no ombro, Seokjin o incitou a sentar. Namjoon estava ali, com a TV ligada e o olhar atento com a chegada dos dois.

Seokjin e Namjoon tem um sofá adjacente, mais pequeno mas confortável, e Seokjin se sentou no braço do mesmo, as pernas esticadas e o olhar ressentido.

– Foi Jimin. – repetiu e Namjoon se ajeitou, sem saber do que ele falava. – Foi ele quem quis... jantar.

Jungkook não soube lidar com aquela informação, não soube acreditar e por isso, sem notar, acabou ofendendo Seokjin com o que disse em seguida.

– Porque está mentindo?

– Ei, Jungkook... – Namjoon rapidamente se intrometeu, olhando o marido com calma mas confuso na mesma medida. – Do que você está falando, Jin? Foi você quem fez os convites e... aquela história dos correios.

– Ele me ligou. Ele queria ver Jungkook.

– Cala a boca. – o mandou sem pensar, deixando os mais velhos extremamente chocados. Talvez se Seokjin tivesse lhe dito antes, talvez se ele tivesse conseguido contar quando tentara, Jungkook levaria aquilo de uma outra forma. Talvez ele ficasse extasiado de felicidade, finalmente entendendo que Jimin o queria ver também, mas ali, agora, sabendo agora e com a cabeça cheia, Jungkook não queria acreditar porque isso significava problemas que ele não estava pronto para lidar. – Se Jimin quisesse me ver ele me ligaria.

– Mesmo? – Seokjin o questionou, tentando entender o seu lado e as ações do mesmo perante si. – Jimin te ligaria e diria para se encontrarem, porque isso é mesmo típico de vocês, não é?

– Eu achei que você fosse ficar feliz com uma coisa dessas, Jungkook... – Namjoon acabou comentando, porque afinal ele não sabia, não sabia que os amigos tinham se beijado e não sabia o que isso vinha fazendo com Jungkook desde então. – Jimin é... Jimin. Seu Jimin e ele sentiu saudade. Isso não te deixa...

– Feliz? Me deixar feliz, hyung? – ele se levantou aos prantos, afastando os cabelos para trás e aproximando-se da janela do apartamento, espreitando para o lado de fora. – Que porra, Jimin e eu... – ele tentava se acalmar, caminhando de um lado para o outro quando parou perto do centro, os olhares dos amigos em si. – Ele queria ver todos nós. Eu também, só não me lembrei de...

– Ele queria ver você, Jungkook. – Seokjin o interrompeu. – Porque isso é tão difícil para você de acreditar?

– Porque você não sabe sobre isso, hyung.

– Se eu não soubesse eu não estaria te dizendo. – Seokjin cruzou os braços na frente do peito, o semblante sério. – Então não volte a me mandar calar a boca.

Namjoon não sabia que a linha entre uma boa conversa e uma discussão podia ser tão ténue e sublime.

O mais novo estava parado no centro da sala, atrás do sofá. Namjoon estava o espreitando por cima do ombro e Seokjin o via bem.

No fundo, Jungkook sabia que aquilo só vinha corroborar tudo o que Jimin havia lhe dito sobre estar o olhando com outros olhos desde o ínicio, então ele não devia estar tão surpreso, no entanto temia ir ainda mais fundo e descobrir coisas as quais ambicionava mas tinha medo.

Beijar Jimin na última vez o levou a lugares que tanto podiam para a mente ser tenebrosos ou ideais. Um beijo não podia significar tanta coisa, mas para Jungkook acabou significando mais do que isso e doía. Ele não podia continuar imaginando a sua vida do lado de alguém com quem não resultara da primeira vez, mas quando parava para pensar isso dava-se conta de que não era uma questão desse tipo e doía ainda mais. Jungkook não era fraco, mas a dor faz todos cair, independentemente da intensidade.

Ele finalmente se sentou, voltando ao sofá, mas a pose descontraída de antes foi arduamente substituída pela pose cansada, as pernas abertas e a coluna quase dobrada sobre elas, esfregando as bochechas com rispidez. Não podia arrancar aquilo de si mesmo, tentasse o que tentasse.

– Jimin-hyung e eu nos beijámos. – ele revelou, passando as costas da mão pela testa, como se suasse. – E nós não... Nós não podemos...

Era um tudo, engolia em seco, sentia-se quente e frio, trémulo, a voz falha. Ele podia chorar? Podia chorar junto de seus amigos?

Quando procurou o olhar de seus amigos, Jungkook os viu olharem não a si mas um ao outro, Seokjin tinha os lábios comprimidos e Namjoon perdera, pela primeira vez, a expressão.

– Jesus, finalmente.

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