1.2 onde há um segredo
A possibilidade de haver segredos os quais nunca foram secretamente escondidos é algo capaz de assustar o ser-humano. Às vezes temos a ideia de que algo é só nosso para no fim descobrirmos que por todo esse tempo que achávamos ter um segredo ele não era realmente nosso e para começar nunca foi secreto.
Jungkook temia isso, porque ele tinha um segredo. Escondia-o bem, achava que apenas Kim Seokjin e Kim Namjoon tinham conhecimento dele, porque seria impossível esconder tal coisa deles. Nos últimos tempos, pelo menos, o que mais temia era que Park Jimin descobrisse o seu segredo.
Quando Jungkook entrou na casa de Jung Hoseok no dia vinte e seis de Março ele sabia que ficaria ali pelo resto do dia, nem que fosse para no mínimo passar algum tempo com os amigos. Também soube que veria Park Jimin naquele dia, afinal o mesmo tinha assegurado que compareceria à festa de aniversário da sua afilhada, Sun-Hee.
– Jungguk! – a pequena de Hoseok correu pelo corredor da entrada, se jogando contra as pernas do maior até ser pegada no colo e passar a abraçá-lo pelo pescoço.
– Parabéns, princesinha. – desejou ele, fazendo-lhe carinho na bochecha e sorrindo ao receber um beijo na sua.
– Onde está Yang?
Jungkook engoliu em seco, porque precisava de mentir. Hoseok e Sun-Hee também sabiam sobre o seu segredo e o que Jungkook mais temia era que um dos dois o revelasse a Park Jimin.
– Ela não pôde vir hoje, mas ela te mandou um presente. – Jungkook rapidamente ergueu uma das duas sacolas que trazia penduradas no pulso, enfeitadas com laços e cartões de aniversário.
Sun-Hee tomou as duas para ela, entusiasmada com os presentes, mas o pai da mesma se apressou a puxá-las para si, criando um bico nos lábios da pequena enquanto pousava as duas sacolas junto de um outro monte de presentes.
– Os hyungs já chegaram? – perguntou o moreno ao mais velho, esperando a resposta que queria e Hoseok chegou a acenar.
– Nam e Jin sim, eles estão lá fora. – explicou Jung, depois contorcendo os lábios para baixo. – Taehyung não vêm, ele disse que estava com a mãe hoje. Mas Jimin deve estar chegando e Yoon também.
Jungkook ficou satisfeito com aquilo. Sabia que não teria todos os amigos ali, embora todos tivessem praticamente garantido que sim. Sabia que ainda muito tempo tinha que se passar para que algo como os sete reunidos voltasse a acontecer, mas seis não era mau, era muito bom. Seis. Um bom número, não o perfeito, mas bom.
Sabendo que o amigo estava ocupado por ali, arrumando os últimos preparativos para a festa de sua filha, Jungkook se apressou até às traseiras da casa, no pequeno jardim que Hoseok tinha, todo enfeitado por balões e faixas festivas e com os desenhos que Sun-Hee dizia. Assim que passou pelas porta de vidro, esticou os braços para o alto, saltando para o outro lado de pernas abertas e gritou:
– A alma da festa chegou!
Claro que seus hyungs riram de si, Seokjin com um copinho de refrigerante na mão e Namjoon negando com a cabeça, sem acreditar que Jungkook continuaria fazendo aquelas coisas. No entanto, sem fazer a mínima ideia de como aquilo podia estar acontecendo consigo, Jungkook virou o rosto num ápice para o outro lado do jardim quando ouviu outra risada. Achou estar a alucinar, mas depois de um mês já se tinha deixado disso.
– Oh, hyung. – daquela vez Jungkook realmente sentiu as bochechas calorosas se avermelhando, o olhar arregalado em cima do de cabelos escuros. – Eu não sabia que estava aí...
A vergonha estava tomando conta de si, afinal apenas fora brincalhão e infantil daquele modo porque achava estar na presença única de seus dois melhores amigos, mas afinal... Park Jimin estava ali.
– Ainda bem que chegou, isto aqui estava se tornando aborrecido. – Jimin disse com um sorriso, espalhando copos pela mesa redonda na frente dele.
Hoseok tinha lhe mentido? Porquê?
Jungkook procurou por Namjoon, mas apanhou primeiro no campo de visão Kim Seokjin, que tinha as mãos perto uma da outra, mexendo os dedos com pressa, enrolados um no outro, dando pequenos pulinhos no chão, o corpo quase coberto pelo do marido, que sorria bobo.
O moreno limpou as mãos quentes na traseira das calças, aproximando-se de Jimin com calma, a medo, espreitando o que ele fazia.
– Precisa de ajuda?
Jimin sorriu, negando com a cabeça, acabando de separar os últimos três copos e depois virando-se para Jungkook, abraçando-o pelos ombros de repente, em algo curto mas de certa forma o mais longo nos últimos tempos.
– Senti a sua falta. – admitiu ele, segurando-lhe na lateral dos ombros e depois passou por si, voltando a entrar na casa.
Jungkook sabia que Jimin podia ter dito aquilo a qualquer amigo, fosse ele ou Kim Seokjin, Namjoon e até Hoseok, no entanto o que sabia não foi o que quase o fez explodir. Ficou encarando a mesa de comida por alguns segundos, as mãos ainda nos bolsos traseiros da calça, porque mal tivera tempo para raciocinar quanto mais mexê-las.
Foi capaz de piscar lentamente uma vez antes de girar o corpo, os olhares dos amigos em si, esperando alguma coisa, mas Jungkook nada disse, nada tinha que dizer.
Jungkook não queria ser sofrido, não queria se prender naquela declaração, não queria se agarrar a uma coisa que podia ter sido dita da boca para fora. Jungkook estava ali para uma coisa e essa coisa era ajudar seu amigo.
Todos os anos, Hoseok convidava os amiguinhos da escola de Sun-Hee, o que se resumia a uma turma inteira e sabendo que não podia lidar com todos sozinho sempre chamava os seus amigos. Kim Seokjin e Kim Namjoon sempre estavam lá, levando aquilo como um treino. Jungkook tinha esperança em reencontrar os amigos, o que era também um dos motivos pelo qual Hoseok chamava todos, e por isso raramente faltava ao pequeno evento. Estava ali para ajudar com as crianças, não podia distanciar-se do foco.
Apenas meia hora depois Jungkook já tinha em volta crianças por todos os lados, jogando bolas contra si por acidente, o pedindo para colocar refrigerante, para tirar os sapatos ou simplesmente ir no banheiro. Ocupado com aquilo, Jungkook sentia no peito a sensação de realizado, afinal aquelas crianças precisavam de si, ele sentia-se importante.
– Meninos! Meninas! – Hoseok assustou todos os presentes no jardim, falando no microfone ligado à aparelhagem de música. – Quem sabe dançar a macarena?
Os ouvidos dos mais velhos foram invadidos por uma gritaria consistente, os braços dos mais novos no ar e a música começando, Hoseok guiando os que ainda não conheciam. Antes que percebesse, Jungkook estava os imitando de forma divertida, o maior entre as crianças, gargalhando de si mesmo, coisa que os amigos já faziam.
Yoongi nunca tinha chegado até ali e Jungkook sabia que no final ele não apareceria. Cinco também não era um número mau, mas claro que não era tão bom.
Ele ainda sorriu a Jimin que, do outro lado do jardim, estava encostado na cerca com um copinho de refrigerante em mãos, bebendo com calma. Jungkook nunca deixaria de o achar bonito, passassem os anos que passassem, mudasse as cores de cabelo que mudasse, ele sempre seria da mesma opinião. Jimin era lindo, era beleza. Incomparável.
O moreno se afastou dos mais novos quando Hoseok colocou uma música da Bela e o Monstro, pedindo às meninas que encontrassem o seu monstrinho, no entanto, quando viu Sun-Hee segurar um menino mais baixo do que ela o Jung separou os lábios em uma feição chocada.
– Não vai lá? – Seokjin acabou assustando o mais novo, o fazendo entornar um pouco do suco que acabara de colocar no copinho de plástico.
– Cacete! – sem poder amaldiçoar ninguém Jungkook se virou para o amigo, o olhar sério e momentaneamente chateado por ter entornado a bebida no relvado do lugar. – Não vou onde?
– Dançar com Jimin. – ele dizia aquilo como se fosse natural Jungkook realmente ir até Jimin e pedi-lo para dançar.
– Claro que não... – ele balbuciou, bebericando com calma antes de sentir o líquido contra as narinas, pois Kim Seokjin tinha o empurrado mais uma vez. – Jin! – praguejou então, se virando para mesa e limpando a boca em um guardanapo de papel cor-de-rosa.
– Lá se foi sua chance. – ele murmurou, triste, e Jungkook ergueu o olhar a tempo de ver Park Jimin se esgueirar entre as crianças para alcançar o interior da casa.
Jungkook não gostava de perder nada, muito menos chances, e não sabe o que foi, se fora Seokjin o provocando ou o coração palpitando como nunca antes que o fizeram pousar o copinho com refrigerante e caminhar para a parte de dentro também. Jimin ainda estava passando pela sala quando Jungkook entrou, o chamando.
– Ei. – ele deu um passo em frente, sem querer ficar na corda bamba e Jimin se virou, sorrindo de primeira ao ver o moreno ali. – Quer dançar? – perguntou antes que se arrependesse, se aproximando mais, sem nem pensar que Jimin podia realmente não querer.
– Essa é a sua maneira de me chamar de monstrinho? – brincou ele, se aproximando também e ficando na frente do moreno.
Como Jungkook faria? Não era íntimo demais pegar-lhe a mão e segurar-lhe a cintura? Realmente dançariam ao som da Bela e o Monstro?
– Você daria uma boa Bela. – acrescentou Jimin, uma mão segurando a de Jungkook e levando-a pelo ar até o lado dos seus corpos, a outra afastando os cabelos compridos para trás da orelha do mesmo, depois a pousando no seu ombro.
Jungkook quase deixou escapar uma risada quando Jimin levou os seus corpos juntos para o lado, a sua mão subindo para a cintura dele com um impulso e a outra na dele tão pegadas que parecia impossível. Eles trocaram as mãos quando Jimin insistiu para que girassem os corpos, o mais novo segurando-lhe o ombro, o apertando entre o nervosismo disfarçado, e Jimin segurou-lhe a cintura delineada escondida pela camisa larga. A mão dele subiu mais, o braço envolvendo-lhe as costas antes de sorrir bobo e levar Jungkook para trás, levando o seu corpo junto e rindo.
– Bela. – Jimin sussurrou, os deixando daquele modo por um tempo, sozinhos na sala de estar.
Jungkook engoliu em seco, as orbes inquietas, perdidas no olhar do menor, mesmo com o corpo perdendo a força.
– Jimin. – ele chamou também, incapaz de o chamar de monstro, quando Jimin o puxou para cima, com medo que deixasse ambos cair no chão.
As mãos trocaram mais uma vez, mas não estavam mais dançando. A mão do mais velho outrora no ombro subia pelo pescoço, afegando a bochecha do Jeon com calma e a mão de Jungkook estava segurando o tecido da camisa do outro em um punho, o mantendo ali, intacto e na sua frente, os peitos juntos.
Jungkook o viu engolir em seco enquanto tocava os seus narizes, ainda mais próximos daquela vez e daquela vez o maior não queria fugir, não queria gritar e surtar. Queria que Jimin o beijasse, inerte naquela sensação que se buscasse fundo ainda tinha memória. Queria. Queria mesmo que se beijassem ali, naquele momento.
Queria tanto.
Meigo, Jimin se afastou com um sorriso nos lábios e disse:
– A Bela só recebe o beijo no final, Jun.
Jimin estava errado. A Bela e o Monstro só se beijaram quando o amor era mútuo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top