0. onde há presságio
Na primeira manhã do mês de Maio o dia parecia não dar conta do sol, que se escondia tão bem atrás das suas amigas nuvens e, mesmo assim, quando se mostrava enchia todos os peitos dos cidadãos da cidade de Busan. No entanto, nada disso foi notado aos olhos do homem que, pelas sete e trinta e quatro da manhã, estava literalmente correndo pela sala de estar da sua casa, correndo as mãos pela gravata em volta de seu pescoço e o olhos procurando pela chave do carro.
A sala de estar estava uma confusão, a qual o homem preferiu ignorar naquele momento, jurando arrumá-la mais tarde, quando voltasse do trabalho pelo final da tarde.
Depois de encontrar a chave do carro, reunida com a da casa, procurou o relógio de pulso que não largava o dito durante todo o dia, o utensílio que nunca prescindia durante o horário de trabalho, lhe dando o controle de que ele precisava de ter.
Ao sair de casa, abrindo a porta com brusquidão para sair, deu de caras com alguém o qual conhecia o rosto, mas demorou a associar. Estava realmente atrasado naquele dia e teve noção disso ao ver aquele homem na sua frente, afinal nunca saía de casa depois de chegar o correio.
– A sua correspondência, senhor. – declarou o homem fardado, o símbolo do estado ao peito e a pequena mala cruzando a fita no seu peito, cheia de cartas, e as daquele inquilino na mão.
– Obrigado. – com a gravata mal posta, ele se curvou levemente, segurando os três envelopes, sem lhes dar atenção, batendo a porta da casa e caminhando apressado, destrancando o carro de longe, estacionado na lateral da casa, na entrada para a garagem.
Ao entrar no Renout Captur cinzento e preto a primeira coisa que fez foi deixar o correio de lado, depois baixando o tapa-sol, mirando a sua aparência no pequeno espelho ali, passando as mãos pelo rosto sonolento e depois ajeitando a gravata junto do colarinho da camisa azul escura.
Jeon Jungkook odiava dias como aquele. Jeon Jungkook odiava chegar atrasado.
Não era costume do de cabelos castanhos chegar atrasado aos lugares desde que decidira, aos vinte e quatro anos, cinco anos antes daquele, realmente tornar-se uma pessoa responsável, ganhando rumo na vida, que fora no mesmo momento que encontrara o emprego que ainda mantêm, primeiro como ajudante e estagiário, a cunha de um amigo no meio, e agora como gerente de uma equipa de marketing.
Nunca tivera muitos sonhos, por isso, quando Kim Namjoon, o amigo de infância, lhe oferecera a oportunidade, ele não viu pelo que negar, afinal precisava de dinheiro e precisava dele rápido, naquele momento da sua vida.
Envolvido naquele ritmo apressado, o homem não pensou que estava cometendo um crime quando atendeu a ligação do amigo, segurando o aparelho contra a orelha e conduzindo com a outra mão, com segurança porque afinal não era a primeira vez que fazia aquilo.
– Bom dia! Eu vou chegar atrasado. – ele explicou logo, porque embora ainda não tivesse passado o horário de chegada, pouco faltava e com o trânsito matinal da cidade ele sabia que nunca chegaria a tempo.
–Yang não te acordou hoje? – perguntou o Kim, brincalhão, e o moreno revirou o olhar para si mesmo, olhando impaciente o semáforo na sua frente, o mesmo ficando vermelho no momento que ele quase passava.
– Ela não ficou hoje. – ele disse, no entanto pareceu desapontado.
Kim Namjoon gargalhou do outro lado da linha, sabendo que o amigo gostava daquela garota e qualquer segundo que pudesse passar com ela era como ouro em seus dedos.
–Eu te liguei porque Seokjin me fez prometer não comentar nada com você até que você recebesse o convite. Então... Você vai?
– Qual convite? – Jungkook nem pensou sobre o assunto, limitando-se a questionar.
Kim Seokjin era um dos outros amigos que Jungkook conhecia há anos e que, por um feliz acaso da vida, acabara se casando com Kim Namjoon, o seu melhor amigo desde sempre.
–Você olhou o correio hoje?
Perante aquilo, Jungkook nem pensou em explicar ao amigo que iria pousar o telemóvel, segurando-o com a mão que conduzia e olhando os três envelopes, recebidos antes, perdidos no banco do pendura. O primeiro era uma conta da água, o segundo era do banco e depois, notavelmente, percebeu que o terceiro não era nenhuma carta desse tipo.
Sem tempo para abrir aquilo agora, o moreno voltou a segurar o celular perto da orelha e suspirou, sem suspeitas do que aquilo seria.
– O que é isso?
–Como eu disse: um convite. - Namjoon se repetiu, sem dar mais detalhes, mas ao perceber como Jungkook podia ficar ansioso com o assunto, já entendido que ele estava conduzindo, acrescentou: – Para um jantar.
– O que aconteceu aos invites no Facebook? – questionou ele, finalmente arrancando com o carro, acelerando mais do que devia, mas sem se arrepender, afinal estava completamente atrasado e assim que entrasse na autoestrada daria de caras com tráfego.
–Seokjin definiu a ocasião como algo extremamente importante e por isso enviou todos os convites pelo correio. – com a fala na ponta da língua, Namjoon ditou.
– O seu marido é velho e desconfia da própria internet. – o Jeon acusou, certo sobre aquilo, porque Seokjin era assim, ele realmente desconfiava de coisas como aquela. – Todos? – repetiu então, por algum motivo a palavra se repetindo na mente e a ideia vaga lhe dando calafrios.
– Vamos reunir a turma!
Jungkook arregalou o olhar, de repente contente com aquilo e esquecendo a frustração de estar atrasado para o trabalho.
– Cara, eu não vejo o Taehyung faz anos! Ele vem? – quis logo saber, com a memória quase riscada da face do amigo.
–Ele está na cidade, por isso é que queremos combinar para esta semana.
Kim Taehyung era alguém que podia ser descrito como o único a atingir os calcanhares de Kim Namjoon, no entanto, o ruivo, de como Jungkook se lembrava que ele era antes, não conseguia ficar quieto em um lugar por muito tempo, e, por isso, a distância entre eles foi se tornando cada vez mais, primeiro por estados, depois por terras, até que foram oceanos. A início Jungkook e Taehyung não perderam muito contacto, mas com os aconteceres da vida as ligações foram acabando e os postais de cidades deixando de chegar.
– É um restaurante, aquele que gostamos. – Namjoon continuou a dizer, explicando tudo ao amigo, entendendo que naquele momento ele realmente não podia abrir o convite. – Na quinta feira.
– E já confirmamos todos?
- Sim! Você foi o último porque... Não sei, talvez Jin te odeie secretamente.
Jungkook sorriu aquilo, sabendo que era impossível o mais velho realmente o odiar.
Naquele momento, o homem foi invadido por saudade, o fazendo recostar a nuca no encosto do banco de motorista, fechando os olhos, parado em outra luz vermelha, lembrado de como costumava ficar feliz rodeado de todos os amigos. Os tempos eram tão diferentes, eles costumavam ser tão... inseparáveis. E agora, quase dez anos depois, apenas Seokjin e Namjoon tinham contacto com Jungkook.
–Você também está se sentindo nostálgico? – Namjoon o perguntou, um suspiro escapando, e Jungkook se deu conta de que ainda segurava o celular contra o ouvido e ainda estava em ligação com o amigo.
Ali, se dando conta de que, provavelmente, os dois conversariam até o Jeon alcançar o local de emprego, no centro da cidade, ele finalmente conectou o aparelho ao veículo, fazendo com que a voz dele saísse agora pelo auto-falantes.
–Consegue ir sozinho?
– Sim, eu vou dar um jeito! – aprontou-se a responder, checando o relógio, aliviado por não ver muito trânsito em sua frente.
– Eu estou levando Seokjin e Seokjin está me levando, mas apenas porque ele faz parte da gangue e eu faço parte da gangue, então não tem mal, mas ninguém leva encontro! - exclamou ele, todo atrapalhado, do jeito que era, e Jungkook ia rindo, sabendo onde aquilo ia dar.
– Descansa, acho que ninguém vai ousar ir contra as ordens explicitas de vocês.
–Huh, Jungkook... – Namjoon então murmurou, sabendo que aquela não era a sua posição, mas que precisava confrontar o amigo com aquilo. – Jimin também vai, você entende, não é?
– Ele não vive em Seul? – perguntou o moreno, sem raciocinar ainda, quando se viu levado pela visão do antigo loiro, sabendo que agora os cabelos do ex-namorado da faculdade se encontravam negros, através das fotos de Facebook que ele colocava poucas vezes.
Aquele era um segredo mal contado.
–Não sei, ele disse que estava aqui, mas não sei se ele está aqui vivendo ou de visita. – Namjoon o explicou, mas não era daquilo que queria falar e por isso seguiu a conversa antes que o outro tentasse mudar de assunto. – Não vai ser estranho, pois não?
– Claro que não, Joon! - exclamou ele, seguro daquilo. – Nós ficamos amigos, você sabe.
–Isso só resultou porque ele mudou de cidade e você sabe. – contradisse ele, achando saber mais do que o próprio amigo daquela relação, e dadas as contas feitas, talvez ele soubesse. – Ou se preferir, me diga uma coisa que vocês façam que os torne amigos.
– Ele curte as coisas que eu posto. – foi a primeira coisa que disse, sem se dar pelo ridículo.
–E em contrapartida, você olha as dele por horas.
– Que exagero.
Desmentir não lhe passou pela cabeça, mas considerava aquilo um interesse amigável, afinal também via as postagens dos outros amigos, às vezes, quando calhava, no feed, de vez em quando. Amigável. Era isso.
– Eu estou chegando. – ele observou, vendo o edifício de longe, espreitando pelo vidro da frente o céu, percebendo finalmente como se encontrava o tempo naquele dia. – Acha que vai chover, hoje?
–Eu espero que não, isso seria um presságio horrível.
Jungkook olhou as nuvens mais uma vez, o sol escondido entre elas, e depois mordeu o lábio inferior, suspirando.
– Eu... Eu também espero que não.
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