𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚇𝚇𝙸𝙸
𝓐𝓷𝓭𝓻𝓮𝔀 𝓙𝓸𝓱𝓪𝓷𝓷 𝓢𝓾𝓶𝓶𝓮𝓻𝓼
MINHA MÃO lhe afaga os cabelos, pode ser idiotice pensar dessa forma — afinal nada dura para sempre e nós ainda estamos no ensino médio — mas eu me sinto o cara mais feliz do mundo, ao menos no presente momento.
Não pelo fato de termos transado, mas sim pelo fato de que ela não deixou de me amar, mesmo sabendo o quão quebrado eu estou, ela decidiu ficar e; por hora, isso é o suficiente para mim.
Percebo que ela está a encarar meu antebraço e fecho meus olhos com força ao constatar o motivo pelo o qual a emoção presente em olhar passou repentinamente para a assustada. As queimaduras ainda estão bem evidentes.
Merda! — Me amaldiçoo mentalmente, é nisso que dá abaixar tanto a guarda
— O que houve? — As pontas de seus dedos passam com delicadeza sobre as queimaduras, sinto uma leve dor, contudo, não reclamo
Penso um pouco antes de falar, não sei, ao certo, se este é um bom tópico para uma conversa pós foda, mas, de alguma forma, sinto que lhe devo uma explicação.
— Às vezes — começo, escolhendo muito bem as palavras que vou usar — a dor interior é tão forte, mas tão forte, que o único jeito de ameniza-la é fazendo com que o exterior doa mais. — Falo baixinho
Um sentimento de vergonha toma conta de mim, não é certo ela me ver assim. Não é certo eu me tratar desta forma.
Um silêncio constrangedor toma conta do ambiente, talvez o constrangimento esteja em mim, não no silêncio em si, talvez seja eu quem estou constrangido com toda a situação.
— Desculpa. — Peço baixinho, quebrando, desta forma, o silêncio — Eu sei como isso pode ser assustador e eu juro que eu estou tentando melhorar... mas tem dias que não dá, Viv. Tem dias que eu simplesmente desejo que um buraco enorme se abra sob meus pés... quer saber; não é o momento certo para falar disso. — Ela me olha meio frustrada — Prometo que te conto tudo o que se passa aqui dentro — aponto para minha cabeça — quando for o momento. Tudo bem? — Ela assente e eu volto a acariciar seus cabelos
O clima entre nós volta a ficar amigável e eu faço questão de puxar o seu corpo para mais perto do meu, faço isso com delicadeza, afinal, parece que ela vai quebrar à qualquer instante, me parece que um mísero movimento em falso de minha parte a deixará em frangalhos.
Tento não pensar muito sobre isso, sobre o quão mal ela aparenta estar. Sei que ela falará comigo sobre isso quando ela estiver pronta, contudo não deixa de ser frustrante o fato de eu ter me aberto para ela, de ter deixado ela ver minhas nuances enquanto ela permanece um mistério para mim.
Talvez seja isso que deixe nosso lance tão interessante; eu sou como um livro aberto — sempre fui assim, até mesmo quando estava a esconder a bagunça de meu interior, eu sempre fui facilmente decifrável — enquanto ela é como um diário que está trancado à sete chaves. Admito que há uma grande probabilidade de este ser o motivo pelo o qual a quero por perto tão intensamente.
— Uma moeda por seus pensamentos. — Sua voz me retira de meus devaneios e eu a olho
Seus olhos azuis são tão profundos e cristalinos que eu poderia — facilmente — enxergar minha alma refletida neles. Meu polegar contorna seus lábios e ela sorri; definitivamente, Genevieve não parece saber o efeito que seu sorriso tem sobre mim... na verdade; ela não parece entender o efeito que ele causa em qualquer pessoa que a rodeie.
— Olha, acho que teria um jeito bem melhor de descobrir meus pensamentos. — Digo em tom ameno e ela ri, dando um leve tapa em meu ombro
— É sério; você estava no mundo da lua, Johann, seria interessante saber o que se passava por sua cabeça. — Viv diz enquanto traça círculos imaginários em meu peito
Seria muito clichê e démodé se eu dissesse que quero que esse momento congele no tempo? Eu certamente não me importaria em viver em um looping temporal no qual estivéssemos assim: deitados e simplesmente curtindo a presença um do outro.
— Nada demais. — Digo enquanto bagunço um pouco seus cabelos — Apenas deixando a ficha cair, sabe, me permitindo entender o quão sortudo eu sou de te ter por perto. — Digo calmo
Eu nunca fui um cara romântico, estaria mentindo descaradamente se dissesse o contrário, mas há algo em Viv que desperta o melhor em mim; que me faz querer ser um cara romântico em demasia e, consequentemente, démodé, que me faz querer virar mais um clichê ambulante.
— Okay... admito que não estava esperando por isso. — Ela diz, sua voz soa brincalhona
Tenho plena ciência de que Genevieve apenas brincou com a situação pois não sabe, ao certo, como reagir à ela. Chega a ser fofa a forma como ela se perde em meio às palavras quando a deixo tímida ou, como agora, sem saber o que deve ser respondido.
Não é como se eu estivesse à espera de que ela desse uma resposta correspondente à minha declaração, eu nem ao menos me magoaria caso a resposta fosse contrária, porém Viv sempre buscou ser educada e isso é uma das coisas que mais me chama a atenção nela: embora ela faça piadas e brincadeiras com algumas coisas sérias, ela tem um enorme coração e sempre vai acabar sendo educada com você; seja lá quem você for. E é exatamente por isso que até hoje eu não entendi muito bem a razão pela qual ela pega tanto no pé da Beverly; tendo em vista que a pobre garota não parece ter feito nada contra ela.
— Tá tudo bem, Viv, eu não preciso de uma resposta para a minha afirmação. Nós podemos simplesmente deixar a resposta em aberto, tal como fizemos com nosso "lance" — Gesticulo aspas com os dedos e volto a lhe afagar os cabelos
Ela ri, um daqueles risos contagiantes que apenas ela é capaz de dar; o que me faz rir junto. É uma pena saber que assim que eu botar meus pés em casa amanhã de manhã eu voltarei a estar tão fodido quanto estava hoje mais cedo.
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