𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚇𝙸𝙸
𝓑𝓮𝓿𝓮𝓻𝓵𝔂 𝓗𝓲𝓵𝓵𝓼
SÃO SETE e meia e o jantar está servido, é praticamente uma ceia, tem de tudo sobre a mesa, desde o arroz temperado incrível que mamãe faz ao feijão mexicano que ela aprendeu a fazer com uma senhorinha mexicana quando estava modelando no país — ao menos é esta a história que ela insiste em nos contar, se é verdade ou não; jamais saberemos.
Há, também, muita salada.
Meu irmão se serve, colocando um pouquinho de tudo, Timothée sempre comeu como um passarinho, qualquer coisinha é capaz de encher seu estômago e suprir sua fome por horas a fio, já eu, eu tenho de comer muito; caso contrário me pego assaltando a geladeira em plena madrugada. Sempre fui assim e, certamente, este é o maior desgosto de minha mãe.
Mamãe também come pouco, apenas algumas colheradas de salada e meia colher de arroz; seu namorado, incrivelmente, não se encontra junto de nós, provavelmente o namoro já acabou. As vezes sinto falta de papai, apenas escolhi ficar aqui por meu irmão. Não o faria por minha mãe.
Olho com incerteza para os recipientes repletos de comida dispostos em minha frente, meu estômago me diz para aproveitar; são raras as vezes que temos uma ceia como essas em casa, na grande maioria das vezes mamãe está de dieta e nos obriga a ficar de dieta junto dela... pois é. Em contrapartida, meu cérebro suprime meu desejo, dizendo-me que o melhor a se fazer é comer pouco, caso contrário ouvirei minha mãe a reclamar de meu peso e do fato de eu não conseguir emagrecer por horas a fio.
Solto o ar de meus pulmões e me levanto, levando o prato para o armário e o guardando. Mamãe e Tim me olham com curiosidade; não os culpo, nunca fiz algo do tipo, é normal estarem curiosos acerca do motivo que me levou a fazê-lo.
— Estou sem fome. — Minto
Não dou tempo para que eles me contestem, vou apressada para meu quarto e tranco sua porta, deitando-me na cama. Meu estômago reclama de fome, mas opto por ignora-lo, pois sei que acabarei assaltando a geladeira durante a madrugada; assim como sei que será bem melhor dessa maneira; afinal, poderei comer o tanto que quiser sem minha mãe a me observar e a contar as calorias que coloco em meu prato.
Isso é tão irritante!
Eu entendo que ela queira manter a forma, que não queira engordar, que queira continuar no padrão que lhe foi imposto pela indústria da moda; mas é extremamente cruel ela querer impor esses padrões à mim e à Timmy. As coisas, definitivamente, não deveriam ser assim.
Lembro-me de que, quando papai estava conosco, tínhamos a noite da pizza e do sorvete e éramos livres para comermos o quanto desejássemos, sem julgamentos, sem mamãe a pegar em nossos pés. Sinto falta de como as coisas eram quando ele estava por aqui; algo nele era capaz de fazer com que mamãe deixasse de ser uma megera sem coração, era capaz de fazer com que ela deixasse o lance de aparência perfeita de lado.
Depois do divórcio ela pareceu enlouquecer, eu sei que o rompimento foi escolha dela, afinal ela queria apoiar meu irmão, mas, ainda assim, escolhi acreditar que a assinatura das papeladas do divórcio foram o estopim para toda a sua loucura; pois foram necessárias apenas algumas semanas após papai sair de casa para que ela voltasse a cismar com o corpo perfeito.
E não, não estou jogando a culpa de tudo isso em meu irmão, Timothée não pode — tampouco deve — ser culpado pela falta de bom senso de nosso pai, não custava nada ele ter apoiado a orientação sexual do filho; talvez papai seja o único verdadeiramente errado nesta história, no final das contas.
Sinto sua falta. — Digito a mensagem endereçada ao meu pai, contudo não a envio
Lembro-me das palavras duras que ele disse para Ti antes de deixar nossa casa, lembro de que ele disse que meu irmão havia estragado seu casamento... que a culpa do divórcio era única e exclusivamente dele. Timothée não superou isso, embora já façam dois anos, meu irmão continua chorando todas as noites por de culpar por algo do qual não tem culpa.
Não envio a mensagem pois uma pessoa assim não é digna de receber minha atenção. Posso sentir falta dele, mas; que filho não sentiria a falta do pai? O fato de eu sentir falta não quer dizer que eu deva procurá-lo, ele nunca fez questão de me procurar, afinal.
Apanho minha mochila e procuro pela barra de chocolate que comprei enquanto voltava para casa. Ela me ajudará a suprir minha fome por enquanto e me fará deixar de lado todas essas lembranças nostálgicas e a vontade de discar seu número.
Abro a embalagem e levo o doce até meus lábios, dando uma mordida generosa. Lembro-me vividamente de quando mamãe encontrou um bombom em meu quarto enquanto ela estava imersa em mais uma de suas inúmeras dietas sem pé nem cabeça, ela simplesmente surtou comigo, me disse que eu continuaria gorda e feia para o resto da vida caso não tomasse uma atitude sobre meus hábitos alimentares.
Ela me disse, literalmente, que ninguém teria coragem de foder com uma garota imperfeita. Que eu morreria virgem e sozinha, porque homens gostam de corpos esbeltos, não de um monte de banha. Eu tinha quinze anos, tudo o que menos me preocupava eram garotos e transa, mas essas palavras me afetaram de tal maneira que até hoje, dois anos depois do ocorrido, não consigo me aproximar de um garoto e ter uma conversa normal com ele sem me sentir horrível. E isso que eu já aprendi a me aceitar.
Olho para o enorme espelho fixado na porta de meu guarda-roupas. Eu sou feliz com o que vejo... certo?
Errado!
O fato de eu ter conseguido me aceitar não minimiza todos os xingamentos que recebo no colégio e de minha própria mãe, não minimiza o fato de que, muito provavelmente, minha autoestima continua lá embaixo.
Sei que não deveria permitir que as palavras ditas por mamãe me afetassem tanto, ela só é uma pessoa infeliz consigo mesma no final do dia, contudo ela é minha mãe e se ela não me ama como sou; quem irá me amar?
Olá gente, primeiramente, queria deixar claro que essa é uma obra em conjunto com a babyluxifer.
O capitulo de hoje foi escrito por mim. Espero que tenham gostado.
Deixem suas opiniões e críticas construtivas.
Tia Bia ama o cês!
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