𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚅𝙸𝙸𝙸
𝓑𝓮𝓿𝓮𝓻𝓵𝔂 𝓗𝓲𝓵𝓵𝓼
ACABO TENDO de ir de ônibus, afinal, o suposto namorado de Tim ligou para ele. Eu ainda acho que isso não passou de uma desculpa esfarrapada para que ele não tivesse de chegar com a irmã "gorda e estranha" no colégio.
Mas meu irmão não faria isso... faria? Não, não faria, ele sempre deixou claro que não se envergonha de mim; tampouco de meu corpo, da mesma forma que sempre fez questão de frisar o quão linda ele acha que eu sou.
Nego com a cabeça afastando os pensamentos idiotas de minha mente e adentro o ônibus. Provavelmente meu irmão realmente tenha um namorado mas não almeja expô-lo à nós ainda.
Já no ônibus tenho de aguentar os olhares maldosos de Genevieve e sua trupe que, em minha humilde opinião, não passam de garotas tristes e insatisfeitas com o seu próprio corpo a ponto de terem de diminuir outras garotas para se sentirem bem consigo mesmas, com suas aparências. E isso é bem triste, não tenho raiva, apenas pena.
Por sorte a pequena viagem não dura muito e logo o ônibus para em frente ao colégio, já não aguentava mais ouvir todos os adolescentes idiotas murmurando sobre mim, tal como se eu não estivesse ali ou como se fosse incapaz de os ouvir.
Após descer do ônibus finjo ignorar seus comentários maldosos e rumo à diretoria; realmente preciso saber o que a diretora precisa comigo.
Bato na porta duas vezes e ela me atende com um enorme sorriso estampado no rosto. Ela nunca foi de sorrir em demasia, assim sendo; essa felicidade excessiva me causa um certo desconforto, de fato, o desconforto está sendo tamanho que — até mesmo — é capaz de me fazer sentir um certo temor.
— Bom dia senhora Cooper. — A cumprimento com formalidade, estendendo-lhe minha mão que é prontamente apertada
Senhora cooper sempre foi uma mulher elegante, ela deve ter seus quarenta e cinco anos, é alta, tem longos cabelos negros e profundos olhos âmbares e sempre; sempre mesmo, está a trajar um de seus terninhos chiques que — muito provavelmente — deve custar bem mais do que o salário que mamãe ganha sendo corretora de imóveis.
— Bom dia senhorita Hills, estava lhe esperando. Entre. — Ela me dá as costas enquanto caminha de volta para a sua mesa
É ridículo o modo com o qual ela faz andar de salto alto parecer ser a coisa mais fácil do mundo.
Adentro a sala; um tanto quanto relutante, afinal ainda não sei do que se trata a minha visita. Fecho a porta atrás de mim e caminho até sua mesa, me sentando na cadeira em frente a sua.
— Bem... não sei como começar a lhe contar isso Beverly. — Ela diz colocando as mãos sobre a mesa de madeira muito bem polida e meu coração falha algumas batidas — Sua mãe me pediu para que lhe desse mais responsabilidades dentro do colégio, ela disse que você não tem amigos, que aparenta estar triste e solitária ultimamente... — A corto
— Pelo amor de Deus! Eu sou uma adolescente; a maioria dos adolescentes aparentam estar tristes e solitários, até mesmo aqueles que são cercados de amizades. — Retruco entediada — Eu estou ótima do jeito que estou, senhora Cooper. — Não menti, realmente estou ótima assim
— Beverly — ela começa, sua paciência parece ser de outro mundo, outra dimensão — o ponto não é esse. Você não tem uma atividade extracurricular em todo seu histórico escolar, nunca participou de algum clube, nem mesmo do clube da xadrez. Deve haver algo que você realmente gosta de fazer.
Torcida. — Penso
Mas também não é como se uma garota acima do peso conseguisse a façanha de ser líder de torcida... não estou exagerando ao dizer que essa, provavelmente, é a coisa mais impossível do mundo. Não é improvável, é impossível mesmo. Líderes de torcida sempre foram, são e sempre serão obcecadas com suas aparências e o peso ideal; que normalmente não passa dos cinquenta quilos e do manequim trinta e quatro, qualquer coisa acima disso seria a morte para elas... e seria um inferno para mim ter de conviver em um ambiente assim.
— Eu gosto de ler. — Respondo, por fim
— Ótimo! Temos o clube de leituras, seus membros se juntam todas as quintas e sextas para lerem para órfãos e idosos... você seria uma aquisição maravilhosa para eles, recentemente um de seus membros mudou de cidade.
O que? Não mesmo!
Eu nunca fui boa lidando com crianças, tampouco com idosos — afinal estes são crianças crescidas e com experiências acumuladas. Ambos falam em demasia e eu sou o tipo de pessoa que aprecia o silêncio; sou o tipo de pessoa que aprecia a solidão. Por que isso é tão difícil de ser compreendido? Não é porque não tenho amigos que eu me tornarei uma pessoa triste e amargurada. Não sei de onde os adultos tiram essas asneiras.
— Sinto muito, não gosto de ler em meio à terceiros ou barulho. O clube de leituras certamente não é para mim.
Ela suspira cansada e enrola os caracóis de seus cabelos com os dedos.
— Senhorita Hills, você entende que precisa — ela faz questão de frisar a palavra — de atividades extracurriculares para conseguir créditos estudantis para as universidades, não é? — Ela indaga — Universidades valorizam a proatividade e, infelizmente, você não tem sido nossa aluna mais proativa. Faz um esforço e... já sei! — Sou capaz de visualizar uma lâmpada acesa sobre sua cabeça, tal como acontece nos desenhos animados quando um personagem tem uma ideia extraordinária — O Grêmio Estudantil está precisando de ajuda para a decoração do salão de festas! O que você me diz?
— Está falando sério? — Pergunto incrédula — você sabe muito bem que Genevieve e sua trupe fazem da minha vida um inferno, por que, cargas d'água, eu abriria mão de meus planos e usaria meu tempo para as ajudar? — Pergunto a olhando nos olhos
— Por que se não fizer isso serei obrigada a indicar à sua mãe sessões de terapias conjuntas; pois ela acha que é a culpada por você não possuir amigos.
Mas ela é. — Penso e nego com a cabeça
Mamãe foi a primeira pessoa a me dizer que sou gorda demais e que nenhum garoto me amaria enquanto eu não emagrecesse, ela é a grande responsável pelos três anos de terapia que tive de fazer antes de realmente me aceitar como sou. Ela é a culpada de toda a minha insegurança.
— Tudo bem, senhora Cooper. — Digo, por fim — Mas é a senhora quem contará à Genevieve e na primeira piadinha de mal gosto dela ou de qualquer outra pessoa do Grêmio, eu caio fora. — Digo convicta
Me levanto e saio da sala, antes mesmo que ela seja capaz de contestar minha posição.
Olá gente, primeiramente, queria deixar claro que essa é uma obra em conjunto com a babyluxifer.
O capitulo de hoje foi escrito por mim. Espero que tenham gostado.
Deixem suas opiniões e críticas construtivas.
Tia Bia ama o cês!
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