𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚅𝙸

𝓐𝓷𝓭𝓻𝓮𝔀 𝓙𝓸𝓱𝓪𝓷𝓷 𝓢𝓾𝓶𝓶𝓮𝓻𝓼

DEPOIS DA breve discussão, se é que eu posso chamar isso de discussão, com Viv passei a me sentir uma merda, admito que talvez — muito provavelmente — ela era a única pessoa capaz de me fazer esquecer de toda a merda que acontece em casa; é isso que a garota nem ao menos sabe de algo. Mas hoje as palavras dela foram tão incisivas quanto as de meu pai costumam ser.

Ao sair da biblioteca corri até o banheiro e tranquei sua porta a me certificar de que não havia ninguém lá.

Minha cabeça está girando novamente, meu peito está pesado e tudo o que eu mais desejo é que a porra de um buraco se abra sob meus pés. Definitivamente não era para eu estar me sentindo assim.

Não era!

Jogo água no rosto mais vezes do que o necessário, no intuito de fazer com que esse sentimento de merda passe. Mas, adivinha? Ele não passa, de fato, a água a molhar meu rosto parece surtir o efeito contrário ao que eu almejava: ela me deixa ainda mais minúsculo, aumentando o meu sentimento de inutilidade.

Mal reconheço o garoto do reflexo que o enorme espelho está a me entregar. Eu não era assim e é deveras triste ver o quão na merda estou.

Me livro de minha blusa de moletom e apanho um cigarro e um isqueiro em seu bolso. Não, eu não vou fumar na porra de um banheiro escolar, estou — muito — mais fodido do que isso.

Acendo o cigarro e o aperto contra meu antebraço, sentindo a pele arder. Faço isso mais algumas vezes, até que eu esteja realmente calmo. Coloco meu antebraço sob a água corrente da torneira da pia e sinto as feridas recentes arderem muito mais, tal como se estivessem a protestar.

O seco com algumas toalhas de papel e visto o moletom novamente. Ninguém pode ver isso, ninguém pode sonhar com isso; a minha vida perfeita tem de se manter perfeita... eu tenho de me manter perfeito.

Merda!

Apago o cigarro e o jogo na lixeira; enquanto meu cérebro se atem em repetir, diversas vezes, a frase dita por meu pai: você é um ninguém, sempre será um ninguém, sempre viverá à sombra de minha grandeza.

Para com isso! Cérebro idiota. — Bato algumas vezes em minhas têmporas

É uma merda quando o seu cérebro se torna o seu pior inimigo, não há muito o que fazer quando o seu inimigo está dentro de você, quando o seu inimigo é você mesmo.

Esquece, eu não estou nem aí para quem você vai contar sobre a gente. — A voz de Viv ecoa pelo meu cérebro

Aperto meus olhos com força e meu estômago embrulha uma vez mais. Autocontrole costumava ser tudo para mim, costumava ser meu jeito de lidar com minha dor, com minhas feridas... acho que engoli tanto meus sentimentos que agora eles não passam de um emaranhado de mágoa que está a me corroer de dentro para fora.

Eu deveria gritar a plenos pulmões, socar paredes, arrumar um hobbie capaz de distrair minha mente; ir a um psicólogo ou qualquer coisa do tipo, contudo não tenho mais forças, tampouco ânimo, para fazer isso. Perdi todas as oportunidades que a vida me deu de ir atrás de ajuda... então, que se foda.

Que se foda!

Sento-me no chão do banheiro, encostando minhas costas na porta; abraço minhas pernas e repouso minha cabeça entre meus braços. Sinto as lágrimas rolarem por meu rosto, elas nem ao menos pediram permissão para sair, apenas rolam descontroladas por minha pele.

Homens não choram! — É o que meu pai dizia todas as vezes nas quais ele estava a me bater

Se homens não choram e eu estou a chorar; o que caralhos eu sou? Sinto meu peito apertar novamente, desta vez a calmaria proporcionada pelas feridas se foi mais rápido do que as das vezes anteriores.

Merda!

Me encolho ainda mais enquanto tento puxar alguma lembrança feliz, isso costuma ser eficaz as vezes, porém não sou possuidor de lembranças felizes e, as poucas que tenho, são de quando eu e a garota alourada ficávamos... não acho que seja viável fazer uso dessas lembranças agora, acho que elas apenas acabariam por piorar minha situação.

Inferno!

Fiquei tão imerso em meu inferno particular que nem ao menos percebi o tempo passar; quando dei por mim já estava no intervalo.

Levantei-me do chão e lavei meu rosto, pedindo aos céus que ninguém reparasse no quão quebrado eu estou. Destranquei a porta, respirei fundo algumas vezes e a abri; deixando o banheiro logo em seguida.

Caminho lentamente até o refeitório e me junto à mesa do Grêmio; sentando-me ao lado de Viv.

Por favor, não perceba o quão quebrado estou. — É tudo o que consigo pensar enquanto mexo nas mangas de meu moletom, claramente desconfortável de estar ali, junto deles

Eu não pertenço a esse mundo, não sou um dos descolados, dos populares, ao menos, não sou mais. Sou apenas um cara que não quer mais ser visto, que não almeja ser notado... um cara que deseja desaparecer.

Sou tirado de meus devaneios quando a voz de Viv se faz presente.

— Sei que vocês já conhecem, mas esse é o Andrew, o nosso novo integrante do Grêmio Estudantil — Ela diz

— Oi. — Digo calmo e sem vontade alguma, todos sorriem para mim e eu me sinto mal por não conseguir corresponder aos seus sorrisos de forma verdadeira

Me tornei uma pessoa amarga, e a culpa não é de ninguém senão minha.

Passamos o almoço conversando sobre coisas nada a ver, até que finalmente um assunto da Homecoming Week surge.

— Amanhã precisamos nos reunir para terminar as decorações do salão e da pista de dança — A garota da qual eu nunca me lembro o nome se pronuncia

— Também temos que entregar o pen drive para o Diretor aprovar as músicas. — Evan lembra

— Que merda! — Me pronuncio por fim — Não podemos simplesmente contratar uma banda?

— Você tem dinheiro? — A garota com nome de desenho animado indaga. — Esquece... — Ela muda de assunto

Se eu tenho dinheiro?

Tenho, mas não me serve de porra nenhuma, tudo o que eu queria era um pouco de atenção de meus pais. Mas pelo visto, isso é pedir muito.

Meu mundo gira novamente, em uma velocidade mais rápida do que aquela que estou acostumado. Sinto tudo ficar distante e me forço a continuar na mesa; me forço a parecer bem. Ninguém pode saber.

Ninguém!

E então todos ficam em silêncio, apenas concordamos com as datas e logo o sinal toca novamente.

Todos saem em disparada para as suas próximas aulas, ainda temos três antes de dar o horário. E eu não quero que essas aulas acabem, não quero ter de voltar para uma casa vazia e sem vida.

Não quero.

Olá gente, primeiramente, queria deixar claro que essa é uma obra em conjunto com a babyluxifer.

O capitulo de hoje foi escrito por mim. Espero que tenham gostado.

Deixem suas opiniões e críticas construtivas.

Tia Bia ama o cês!

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