𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝙸𝚅
𝓐𝓷𝓭𝓻𝓮𝔀 𝓙𝓸𝓱𝓪𝓷𝓷 𝓢𝓾𝓶𝓶𝓮𝓻𝓼
OLHO INDIGNADO para meu pai, o que porra ele pensa que está fazendo?
Tá, eu sei que eu errei ao fazer o que fiz ano passado; mas me botar de burro de carga para o Grêmio Estudantil não é uma opção viável para que eu melhore de comportamento. Vou ser sincero e dizer: nem fodendo que isso vai acontecer.
Meu pai tagarela algo do tipo "isso te ajudará a ter responsabilidade", meus ovos; claramente nada do que ele fez no colégio e na universidade o ajudaram a ter responsabilidade; ao menos não para com seus filhos.
Escolho, por bem, apenas ignora-lo enquanto pego um dos waffles que a empregada preparou e deixo a casa o ouvindo a gritar, dizendo que eu não deveria dar as costas à ele.
Amado?
Rolo os olhos. Tenho feito muito isso ultimamente, de fato, tenho feito com tanta frequência que sou capaz de jurar que — mais cedo ou mais tarde — meus globos oculares acabarão por sair de sua órbita.
Não apanho meu carro, tampouco um ônibus, opto por ir a pé, quanto mais eu demorar em meu percurso; menos terei de ajudar aqueles babacas. Eu salguei a santa ceia ou qualquer coisa do tipo, porque não é possível alguém ser tão azarado quanto eu.
Veja bem, minha família tinha tudo para dar certo, meus pais nunca brigaram entre si, nunca traíram um ao outro, têm um relacionamento perfeitamente estável e dois filhos saudáveis; sendo que a mais velha cursa direito em Harvard.
Mas o que poderia ser perfeito se tornou a porra de um pesadelo. Papai e mamãe são extremamente ocupados em seus respectivos empregos, vivem a viajar, raramente possuem tempo para mim ou para minha irmã. Todas as merdas que eu já fiz na vida foi para chamar a atenção de meus progenitores, afinal, este parece ser o único jeito de ser notado por eles.
Sempre foi assim, meus aniversários sempre passaram em branco, o presente sempre foi comprado pela governanta da casa, assim como sempre foi ela quem me desejou feliz aniversário e cantou parabéns. Dói saber que Anne não está mais entre nós, ela se tornou a mãe que eu nunca tive e isso não pode ser apagado.
Suspiro derrotado, minhas pernas doem, minha cabeça gira e toda a raiva que tenho suprimido nos últimos meses parece tomar conta de mim. Meu pai teve a coragem de ameaçar me por em um colégio militar caso não me comportasse devidamente, mas o que fazer quando o seu mau comportamento é a única coisa que faz com que seus pais te notem? É demasiadamente difícil deixar isso de lado e seguir com sua vida, sabendo que seus pais não tornarão a notar seus feitos.
Sento-me em um banco qualquer de uma praça qualquer, a essa altura do campeonato estou zonzo e perdi completamente minha noção de espaço e tempo. Não faço ideia do quanto eu andei, tampouco se falta muito para que eu chegue ao meu destino final: o colégio, vulgo, inferno.
Às vezes coisas assim acontecem: eu fico zonzo do nada, minha cabeça gira, meus olhos ardem, meu coração acelera e minhas mãos soam frio. Não faço ideia do que pode ser; do que está acontecendo comigo, com meu corpo... com meu psicológico. Tudo o que sei é que estes ataques estão cada vez mais frequentes.
Nego com a cabeça, quanto mais penso neles, mais eles pioram. Apanho minha garrafa de água e a tomo com vontade, tal como se fizessem dias que nem ao menos uma gota de água tivesse adentrado em meu organismo.
Como aparentar ter a vida perfeita quando, na verdade, ela está completamente despedaçada?
O colégio todo comprou a mentira bem estruturada do "garoto problema" o riquinho mimado que tem dinheiro em demasia para gastar e que; ainda assim, é um puta ingrato com o seu pai.
Porra! Eles não sabem da missa um terço! Eu sei que fui eu quem optou por esconder a verdade, assim como sei que qualquer um em meu lugar teria feito o mesmo. Estamos no ensino médio, afinal e ensino médio se trata de lobos comendo lobos... no primeiro sinal de fraqueza um lobo mais forte irá te devorar sem nem ao menos pestanejar.
Ao menos sendo o garoto problema, consegui respeito o suficiente para que ninguém ouse mexer comigo; conseguindo, desta maneira, sobreviver à selva de desgosto, ansiedade e hormônios a flor da pele — também conhecido como ensino médio.
Levanto-me novamente, não mentirei dizendo que estou cem por cento novamente, pois não estou; contudo estou bem melhor do que estava instantes atrás, ao menos o mundo não aparenta estar cedendo sob meus pés.
Olho ao redor tentando identificar aonde, caralhos, me meti. Encontro a padaria ao lado direito e o parque nacional ao lado esquerdo. Estou há, exatamente, duas quadras do colégio e tal constatação faz com que eu solte o ar que nem ao menos sabia que estava prendendo.
Porra!
Ajeito a mochila em meus ombros e apresso meus passos, certamente já estou bem mais atrasado do que gostaria de estar. Em minha defesa, a crise de sabe-se-lá-Deus-o-quê não é minha culpa. Não é como se eu tivesse escolhido tê-la; afinal.
Coloco meus fones e a música Nobody's hero da banda black veil brides soa em meus ouvidos. Essa música me representa tanto, mas tanto, que chego a me assustar.
Eu não sou, não fui e jamais serei herói de alguém. Sou apenas mais um adolescente fodido dentre milhares de adolescentes fodidos, não posso ajudar a mim mesmo; quem dirá aos outros. Mas também não é como se eu fizesse questão de ajudar ou ser ajudado.
Cada um lida com seus demônios do jeito mais lhe convém e eu tenho meu próprio jeito de lidar com os meus. Talvez não seja o jeito certo, eu admito, mas o que importa é a eficiência e não a legalidade do método. Não foi Machiavellis que disse, certa vez, que os fins justificam os meios?
Não sei se Niccolò estava certo ao fazer tal afirmação, mas possuo a mais convicta das certezas de que os fins justificam os meios quando estes tem a ver com meus métodos para lidar com toda a merda que me acontece.
Olá gente, primeiramente, queria deixar claro que essa é uma obra em conjunto com a babyluxifer.
O capitulo de hoje foi escrito por mim. Espero que tenham gostado.
Deixem suas opiniões e críticas construtivas.
Tia Bia ama o cês!
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