𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝙸𝚇
𝓖 𝓮 𝓷 𝓮 𝓿 𝓲 𝓮 𝓿 𝓮 𝓓 𝓪 𝓿 𝓲 𝓼
SÃO SETE horas da noite e eu estou sentada à mesa de jantar, observando o meu pai e a Vivian cozinhando. A Emily também está à mesa, porém está lendo Razão e Sensibilidade. Internamente reviro os olhos e busco pelo
meu celular no bolso da calça. Têm algumas mensagens no grupo do Grêmio.
Abro um chat com o Johann.
Oi? envio. Eu sinto muito por hoje de manhã... digito, mas antes de mandar o meu pai me interrompe.
— Vocês sabem as regras para os jantares — ele diz, se aproximando da mesa com uma panela enorme de macarrão à carbonara. Ele coloca a panela em cima da mesa, se aproxima de mim e deposita um beijo na minha testa.
— Eu não posso mexer no celular mas a Emily pode ler? — questiono.
— Eu não estou mergulhada nas redes sociais — Emily debocha.
— Sem brigas. Emily, por favor, guarde o livro — Vivian pede, a garota morena guarda o mesmo na cadeira ao lado.
— Quer que eu te sirva? — o meu pai pede.
— Na verdade, pai, eu não estou com fome, tivemos reunião depois da aula sobre as coisas do Grêmio e acabamos comendo na hora mesmo... — minto.
— Come um pouco de salada, pelo menos — Viviam incentiva.
— Obrigada. — Assinto, pegando o grande pote de vidro cheio de folhas de alface e rodelas de tomate.
Pego três folhas de alface e coloco elas no meu prato. Mentalizo as 12 calorias dentro do meu prato e engulo em seco. Eu não deveria comer nem uma folha de alface.
— Eu sempre falo para não comer antes do jantar — o meu pai diz. — A Priah tinha essa mania.
É totalmente desnecessário ele mencionar a minha mãe durante esses momentos. A Vivian dá um sorriso gentil e serve uma colher enorme de macarrão no prato dela. São quase 600 calorias em apenas um prato. Eu precisaria comer 150 folhas de alface para suprir a quantidade de macarrão que há no prato dela.
A Emily serve a mesma quantidade de macarrão e mais cinco folhas de alface e algumas rodelas de tomate; também servindo um copo de refrigerante de cola. Só a refeição dela tem quase 800 calorias. O meu pai nem fala, ele tira um prato que é o dobro do delas e come o resto da salada, provavelmente ele vai repetir o macarrão mais uma vez, pelo menos.
Eu não me sinto bem contando as calorias que os outros comem, mas passei boa parte da minha infância e o começo da pré-adolescência, convivendo com uma mãe Nutróloga. Ela contada cada caloria que entrava e saia de dentro da nossa casa. Sinto que desde que ela morreu, o meu pai perdeu isso e foi tudo para mim.
— Está tudo bem, Viv? — o meu pai me chama.
— Sim! — minto, piscando os olhos e voltando para a realidade.
— Você não mexer nem nas suas folhas de alface — ele confirma.
— Me desculpa, estou de TPM, está me deixando sem fome.
— Você precisa se esforçar, come só essas e eu deixo você ir para o quarto... — ele pede, tem compaixão na voz, de certa forma ele vê muito da mamãe em mim.
Como as 12 calorias e ele sorri para mim.
— Posso subir? — pergunto.
— Eu fiz a sua sobremesa favorita — Vivian chama a minha atenção.
Sem que ela me fala, a imagem da cheesecake de morango vem à minha mente. Sinto saliva se formando na minha boca.
Para com isso, Genevieve! São 321 calorias a mais para o seu corpo! A minha mente grita para mim.
— Eu estou bem, obrigada.
— Viv... — o meu pai me chama, novamente.
— Isso tudo é para entrar no vestido do baile de boas-vindas? — Emily indaga, ignoro ela.
— Tá bom, eu aceito um pedacinho! — digo, demonstrando empolgação.
Meu pai sorri gentilmente para mim, a Vivian se levanta e anda até à geladeira. Ela volta com uma forma enorme com uma cheesecake das mais lindas que eu vi na vida.
São 321 calorias! A minha mente me alerta de novo.
Tento ignorar ela agora. Eu posso fazer isso, só agora, ingerir uma pequena fatia. Não vai me matar.
Mas também não vai te deixar com o corpo da sua mãe! Mais uma vez a minha mente se intromete.
Pego uma fatia generosa, contra a minha própria vontade. Engulo cada pedaço com muito arrependimento. Eu quero entrar naquela merda de vestido; eu quero transar com o Johann e ver satisfação nos olhos dele quando eu tirar a roupa; eu quero que a minha mãe — de seja lá onde ela estiver — olhe para mim e sinta orgulho do meu corpo; quero continuar sendo a rainha do baile; e também quero continuar sendo chefe das líderes de torcida.
Eu quero sentir que o meu corpo me faz bem, pelo menos uma vez na vida e, por fim, me sentir feliz por poucos segundos.
— Eu ja vou para o meu quarto, estava uma delícia, Vivian. Boa noite... — digo, me retirando da mesa.
— Boa noite, princesa — o meu pai diz, passo perto dele e deposito um beijo em sua bochecha.
Subo as escadas e vou em direção ao meu quarto, tranco a porta do mesmo. Observo o visor do meu celular, Johann ainda não respondeu ao meu oi. Eu não deveria me importar, certo? Temos o nosso sexo casual e é legal, não temos nenhum tipo de afeto. Durante o segundo ano do Ensino Médio nós éramos bastante inseparáveis e eu era completamente apaixonada por ele, mas ele se envolveu com coisas demais do time, se distanciou de mim.
Eu precisava focar nos ensaios das líderes e nas minhas dietas. Não era o momento. Superei o meu grande amor durante o terceiro ano, indo à muitas festas regadas a álcool e muito sexo. No começo era fácil, e agora eu não sinto mais aquela paixão de garotinha de dezesseis anos. Em alguns meses eu faço dezoito e não estou mais apaixonada por ele desde então.
Porém, o sexo é incrível, parece que é o único que funciona, é o único que faz eu querer ir para qualquer sala não usada, qualquer buraco na biblioteca ou banheiro da quadra de esportes.
— Você está se entregando demais, Vivie! — digo alto, para eu mesma.
Entro no banheiro e me olho no espelho, eu estou pálida, sumindo como um fantasma. Tiro o meu vestido de malha rosa, observo a minha clavícula sobressaindo, mesmo assim tendo que perder várias camadas de gorduras; as minhas bochechas marcadas e o meu rosto morto. Observo a minha barriga de lado, tem uma dobra horrenda em cima da minha calcinha.
O movi rápido de tirar o sutiã me deixa tonta, me apoio no mármore da pia, mas em segundos corro para o vaso sanitário, o vômito não vem, então enfio o dedo na garganta e vomito tudo o que eu acabei de comer, nem ficou direito no estômago.
Dou descarga, fico em pé novamente, coloco o meu pijama que estava preso em um cabide perto da porta. Coloco o mesmo e escovo os dentes para tirar o gosto ruim da boca.
Saio do banheiro e vou em direção à minha cama, estou tremendo de feio, fecho bem as cortinas e o meu celular vibra em cima da minha cabeceira.
Oi, desculpa a demora. O que foi?
É uma mensagem do Johann, não consigo responder agora, ativo o alarme e bloqueio a tela, me viro para a parede e tento ignorar a dor no estômago para tentar dormir.
Olá gente, primeiramente, queria deixar claro que essa é uma obra em conjunto com a babyluxifer e que este capítulo foi escrito por ela.
Deixem suas opiniões e críticas construtivas.
Tia Bia ama o cês!
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