CAPÍTULO XV | BARRIGA

Chris estava ajudando com a edição de fotos no seu trabalho quando alguém o chamou dizendo que ele tinha uma visita. Ele virou-se esperando encontrar Seungmin ou um dos seus amigos, mas era na verdade a última pessoa que esperava ver.

Seu pai.

O homem com sua postura séria costumeira apenas indicou a saída para que pudessem conversar a sós.

Encostados contra o parapeito do prédio comercial, o homem o ofereceu um cigarro.

— Eu não fumo – Christopher disse.

O pai acendeu o próprio cigarro, soltou a fumaça, e fez algo que Bang Chan sempre o respeitou: ir direto ao assunto.

— Agora sem a influência da sua mãe, você pode fazer o que quiser. Mas você sabe que não é fácil sustentar uma família com dois pequenos e um ômega grávido.

— Se está me convidando pra trabalhar com você, eu me recuso. – apesar das palavras sérias, seu tom não era acusatório. Desde pequeno esse foi o destino dele: trabalhar junto com o pai. Mas agora as coisas eram diferentes. Ninguém mais escrevia seu destino por ele.

O homem o encarou, botou a mão no paletó, e retirou dali um envelope.

— Vim entregar um presente para os meus netos. – foi o que disse entregando o papel e tragando o cigarro mais uma vez.

Chan arregalou os olhos ao ver o cheque com tantos zeros.

— Eu não posso aceitar... – disse atônito. Um lado seu realmente não queria aceitar aquele dinheiro pois sentia que se fizesse isso, seu orgulho seria ferido. Mas ao mesmo tempo, seu trabalho não pagava bem no momento e tinha uma família para sustentar... Sem falar que com aquele dinheiro não levaria anos até poderem comprar um carro, o que facilitaria muito o transporte da família toda e também carregar as compras mensais do supermercado…

— Não é pra você. Então vai ter que aceitar - soltou mais fumaça. — Troque de carro, compre fraldas... o que precisar... - voltou a tragar.
— Eu não conhecia esse lado seu - o filho disse sincero.

— É apenas um presente – disse como se aquilo não lhe fosse nada demais.

Christopher aprendeu a ler o pai. Era um homem orgulhoso demais, e jamais ia admitir que quer se redimir.

— Obrigado – Chris disse guardando o cheque.

Chris ia oferecer para o outro alfa uma visita à sua casa para ver os pequenos, mas sabia que ainda era cedo pra isso. Aquele homem não se sentia no direito de estar na presença das crianças depois de tudo o que aconteceu, mas quem sabe no futuro isso ia mudar?

__________

Seungmin ajeitou os gêmeos nas cadeirinhas no banco traseiro do carro novo e prendeu-os no cinto.

— Bora fazer compras? – perguntou para eles. Os pequenos sempre ficavam animados quando era hora de passear. Wonpil estava de chupeta abraçando seu cachorrinho de pelúcia e Jake mordia seu patinho de borracha.

Min conseguia dirigir, mas fazia isso com muita cautela. Olhava para os espelhos repetidas vezes, e ficava sempre atento. Sabia que tinha que superar seus traumas uma hora ou outra, então fazia isso devagar. Antigamente ele preferia fazer compras sozinho, mas como na última vez que deixou os gêmeos sozinhos em casa, a casa foi invadida por uma megera... não sentia mais segurança em deixa-los a sós. Pelo menos não por enquanto.

Ele ligou o som que tocava músicas aleatórias, porém acabou por colocar uma música infantil para seus pequenos até chegarem ao mercado. Aquela música, em específico, uma que Kim não gostava muito tocava no momento, ficava na cabeça por um tempão, mas ele não resistia de colocar, já que assim ouvia os gritinhos de felicidade vindos do banco de trás. Os gêmeos sempre riam como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo.

— Você também vai ser doido por essa música? – perguntou com carinho para sua barriga.

__________

Seungmin colocava os gêmeos sentados no carrinho de compras, pois assim era mais fácil de ficar de olho neles enquanto passava pelos corredores. Ele não podia mais usar o acessório canguru por causa da gravidez. Um momento ele pegou a caixa de latinhas de leite pros bebês, quando sentiu uma vertigem. Se segurou no carrinho e respirou fundo. Não foi nada sério, mas achou melhor terminar logo as compras.
O caminho de volta foi tranquilo, Seung levou as crianças até o apartamento, depois as compras, depois deitou-se um pouco no sofá.

Talvez seja por causa da vertigem, mas começou a ter pensamentos ruins. Uma sensação ruim. Sua mente o lembrou de que era assim que se sentia quando os gêmeos nasceram e não havia Chris para ajudá-lo.

— Seja forte, seja forte... – era o mantra que ele sempre repetiu pelos últimos anos. – Você se virava sozinho antes de Channie, e pode se virar sozinho agora. Seja forte, seja forte…

A sensação foi piorando e se transformando em enjoo. Correu até o banheiro e vomitou na pia pois não deu tempo de chegar à privada. Depois das golfadas, ligou a torneira para fazer o conteúdo ir pro ralo, limpou o rosto e disse:

— Que nojo…

Se sentou no chão gelado sentindo a vertigem voltar. Essa em sua opinião era a maior desvantagem da gravidez.

Os malditos enjoos.

Vomitou mais um pouco na privada, e ouvia o choro dos gêmeos.

Ele se abraçou na privada suando frio, mas finalmente a vertigem estava passando depois do vômito. Ouvia as crianças chorarem e tinha que dar atenção a eles, mas não conseguia se desgrudar dali pois estava preocupado que a tontura voltasse.

Sentiu os olhos encherem-se e chorou ali mesmo.

Tinha que ser forte.

Tinha que fazer aquilo sozinho... Christopher já estava ajudando mantendo a família, e não queria atrapalhá-lo. Seungmin já devia ter superado isso. Conseguiu se virar sozinho quando seu alfa desapareceu, então não deveria ser diferente agora... Tanta coisa mudou com essa nova gravidez... Sentia falta de pintar, mas não podia mais porque o cheiro da tinta incomodava…

— Channie... – disse lacrimejando, ainda ouvindo o choro dos bebês.

Se sentia tão sozinho…

Tão, tão sozinho…

Essa solidão o lembrou muito a época ruim em que achou que Chris estava morto.

Era bem assim...

Os enjoos e abraçando-se à privada…

Sozinho…

Como em um passe de mágica, a porta da frente se abriu e o alpha logo apareceu.

— Minnie? – se agachou ao seu lado, e o massageou as costas – Mais um dos enjoos?

— O que você está fazendo aqui? – perguntou estranhando. Ainda faltavam horas para ele sair do trabalho.

— Eu senti que você precisava de mim.

Seungmin lacrimejou ainda mais.

— Quer dizer que... a marca--

— Sim. – acariciou-o os cabelos. – Pera, vou buscar um copo d’água pra você.

Ali sentado ao lado da privada, Minnie escutou Chris acalmar os gêmeos dando-lhes as chupetas e ligando a televisão. O alpha sem demora apareceu com o seu copo d’água se sentando ao seu lado. Apesar do enjoo, Seung estava muito contente que a marca provou que ainda funcionava e que a conexão deles continuava forte.

— Bebe – pediu com carinho e Seung bebeu – Assim o estômago não fica tão vazio e limpa a garganta.

— Desculpa, amor... – chorou ali secando as lágrimas.

— Não peça desculpas – o puxou com calma para seus braços e o envolveu ali – Você não precisa mais fazer tudo sozinho.

— Mas... você e o trabalho... – fungou sentindo o cheiro de seu alpha.

— Conversei com a sua mãe ontem. Ela se ofereceu para ajudar e semana que vem ela já está aqui com a gente.

Min arregalou os olhos.

— É sério?

— Uhum. Ela estava muito triste por não poder ter ajudado na gravidez dos gêmeos, mas agora nada a impede de vir ajudar a gente.

Kim o abraçou mais uma vez. Estava tão acostumado a ser forte, sozinho e independente, ainda mais depois de tudo que passou, que se esqueceu do quão importante é pedir ajuda.

— Não se preocupa – Chan disse lhe acariciando os cabelos no abraço – Eu pedi uma licença no trabalho hoje pra sair mais cedo já que senti que você não estava bem. Minha família sempre será minha prioridade.

Kim concordou com a cabeça, chorando por ser confortado pelo seu alpha em um momento difícil, e não pelo cheiro em um casaco como era no passado.

— Seu danado – Chris disse para a barriga de Seung – chega de fazer o papai ter enjoos.

Seungmin riu, depois foi levado no colo até a cama.

— Hoje eu cuido de tudo – Bang disse com um sorriso e o acariciando o rosto.

Seungmin gostou da sensação de dormir de tarde sem se preocupar com as crianças ou de ter que fazer a janta. Acordou horas depois, sem despertador ou coisa alguma, e seguiu até a cozinha com o cheiro da janta. Foi uma janta bem verde, cheia de legumes e vegetais, já que Min não queria comer nada pesado. Aquela noite Chan é quem estava responsável pra dar papinha pros gêmeos, então o alpha amarrou o cabelo pra trás em um rabinho curto de cavalo e arregaçou as mangas mostrando os braços tatuados.

— Desculpe o choro de antes – Seung disse jantando. – Estou um pouco sensível.

Christopher deu para os gêmeos mais uma colherada da papinha. Estava difícil pois quando dava colher para um, o outro deixava a comida escorrer pelo queixo.

— Você está sensível. É normal. – Chan disse limpando a baba de Minho.

— E não te incomoda minha mãe vir morar com a gente?

— Vamos ter que ir até a praça se quisermos trocar alguns beijos. – disse sorrindo e Kim riu massageando a nuca.

— Não somos adolescentes. – disse rindo – Podemos namorar no nosso quarto.

— Nem pensar. Sua mãe tem olhos tão afiados que aposto que enxerga entre as paredes.

Seungmin gargalhou e os gêmeos riram também, segurando o babador.

— Vocês nem sabem o que é tão engraçado – Chris disse os cutucando e eles riram mais ainda.

_________

Além da mãe, os seus amigos também ajudaram Seungmin em tudo o que fosse preciso, o que o aqueceu muito o coração. Estaria mentindo se dissesse que não está gostando de ser mimado por todos quando estava precisando muito. Bang também não perdia uma oportunidade de ajudar, o que resultava em um alpha bem cansado no final do dia, mas o ômega o dava massagens e o mimava como podia. Toda vez que cozinhavam a janta, e a sogra estava distraída ou em um dos quartos, Chris puxava Min pra lhe dar um selinho e o ômega ria. A mãe fazia o almoço, mas o casal é que fazia a janta já que era a hora que Christopher estava em casa. Às vezes algum dos amigos também aparecia de surpresa e ajudava a cozinhar ou a recolher os brinquedos espalhados.

Os enjoos também passaram, o que fez Seungmin se sentir ainda melhor. Com tanta ajuda e também a presença do seu alpha, aquela gravidez estava sendo maravilhosa. Em um final de tarde, o ômega estava deitado no sofá com Jake e Wonpil perto dele. O pai explicou para os pequenos que tinha um bebê na barriga.

— Bebê? – Jake perguntou cutucando a superfície redonda.

— Uhum – sorriu – Bebê.

Wonpil encostou o ouvido na barriga e chamou:

— Bebê!

Seungmin riu os abraçando e enchendo de beijo. O alpha da família estava sentado no chão gravando a cena com a câmera e com um sorrisão no rosto.

— Psiu – Chan chamou os dois – façam carinho na barriga. – Bang se aproximou e mostrou como faz – Assim, carinho. Devagar.

Os dois fizeram carinho na barriga ao mesmo tempo.

— Agora dão beijinho no bebê. – o pai alpha pediu e eles deram beijinhos estalados na barriga, o que fez Kim rir com as cosquinhas.

Os gêmeos se aninharam ali com o papai ômega e não demoraram a tirar uma soneca. Os pais ficaram olhando para aqueles pequenos que chupavam os dedos enquanto dormiam abraçadinhos com o ômega.

Christopher já ia fazer o gesto para tirá-los dali.

— Só mais um pouquinho – Min pediu sussurrando. Ele acariciava as franjinhas finas dos filhotes lindos.

Bang logo voltou a pegar a câmera para tirar mais uma foto daquele momento tão feliz.

Mal sabiam eles que os bebês agora iriam querer todo dia dar beijinho na barriga de Seungmin. Eles chegavam em algum momento do dia para o pai ômega, esticavam as mãozinhas pra ele e diziam “bebê!”, que era quando queriam fazer carinho ou dar beijinho na barriga.

— Vocês vão mimar muito o caçula. – a mãe de Kim falou depois de ter notado aquele hábito.

_________

Depois do banho e sentados na cama, Chris sempre massageava as costas de Kim para mimá-lo ainda mais.

— Você me mima muito, sabia? - Seungmin disse saboreando.

— Te mimar é o meu privilégio. Não pude fazer isso na outra gravidez, mas nessa, quero que se sinta no paraíso. -  pegou a escova de cabelo e começou a pentear os fios castanhos que desciam pela nuca. — Seu cabelo cresceu muito.

— Queria te imitar - sorriu sentindo os dedos do outro o acariciar os cabelos — Quando o bebê nascer vou cortar de novo. - iria fazer isso pois o alpha adorava morder sua nuca.

Chris foi até a cabeceira da cama e tirou dali um de seus amarradores finos de cabelo. Prendeu o cabelo de Kim em um rabinho de cavalo, depois o beijou a nuca livre.

— Sabe... - abraçou o seu ômega pelas costas e ficou bem juntinho - O Jinnie hyung falou que está preocupado que a gente vire hippie por causa dos cabelos.

Seung gargalhou e Bang o imitou.

Se deitaram por causa do horário e Chris dormiu como todas as noites: com a mão sobre a barriga do ômega.

Seung sorria antes de dormir pois o cheiro de Chris acalmava o bebê e também a si.

Ter uma família grande não é fácil, mas com amor, tudo se resolve.

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