CAPÍTULO IX | PERFEIÇÃO DANOSA
Ela tinha um plano perfeito de vida: seguir com a pura linhagem alpha que a família carregava por gerações.
Ela teve o filho perfeito.
Christopher além de ser um filho lindo desde bebê. Sempre se destacava e era talentoso.
Era obediente.
Não questionava.
Não levantava a voz.
Não sujava os joelhos.
Tinha modos à mesa.
E tudo isso era resultado de anos e anos o aprimorando.
Seu marido podia traí-la quantas vezes ele quisesse, isso não a incomodava. E mesmo que ele viesse a ter filhos de alguma vadia, seriam apenas bastardos.
Nunca teriam o sangue dos Bang.
Nunca teriam um filho perfeito como o seu.
Mas ela deveria ter desconfiado de que algo estava começando a dar errado...
Chris antes contava tudo pra ela, mas quando mais o menino crescia, mais parou de contar o que pensava...
Isso não era bom.
— Você é um bom menino, não é, Christopher? – ela perguntou lhe penteando os cabelos. Era a sua forma de escovar as ideias da cabeça do menor.
— Sim, mamãe.
— Você nunca faria nada de errado, não é Christopher?
— Sim, mamãe.
Ela mandou alguém vigiar o menino.
Algum tempo depois ela descobriu que ele saía mais cedo das aulas de piano para brincar em um esconderijo que encontrou: uma casa na árvore abandonada. Lá, o menino brincava de pirata e astronauta sempre que podia, até a hora do motorista chegar para busca-lo.
Chris terminou sua aula de piano na quarta-feira e saiu correndo escondido para chegar a seu esconderijo. Estranhou ao sentir o cheiro de fumaça.
Seu queixo caiu quando viu a árvore em chamas.
— Você é um bom menino, não é, Christopher? – ela lhe penteava os cabelos antes de dormir.
O menino tinha um olhar ao longe. Apático.
— Sim, mamãe.
— Você nunca faria nada de errado, não é Christopher?
— Sim, mamãe.
Chris, aos 13 anos, acabou dando seu primeiro beijo com um beta da sua turma da escola. Eles deram apenas um selinho na praça perto da escola, e ficaram bem vermelhinhos com a experiência nova.
O beta foi transferido de escola no dia seguinte.
— Você é um bom menino, não é, Christopher? – a mulher lhe penteava os cabelos antes de dormir.
O filho tinha um olhar ao longe. Sem expressão.
— Sim, mamãe.
— Você nunca faria nada de errado, não é Christopher?
— Sim, mamãe.
— Coisas ruins acontecem a meninos maus.
— Sim, mamãe.
A mulher não se deixava abater. Seu filho cometeu deslizes na vida, mas é algo normal com crianças. Afinal, é assim que se deve ensiná-las como a vida funciona.
— Você é um bom menino, não é, Christopher? – ela lhe penteava os cabelos.
— Sim, mamãe.
— Você nunca faria nada de errado, não é Christopher?
— Sim, mamãe.
Chris agora era um adolescente.
Época perigosa.
Época de cios e de imprudência, por isso ela mandou vigiarem o rapaz sempre.
Mas Chris se comportou muito bem na adolescência. Passava o cio com algumas pessoas mas nunca se apegou.
Ótimo.
Era assim que deveria ser.
Era o filho perfeito.
E a mãe estava orgulhosa.
Era uma pena que não podia mais lhe pentear os cabelos, já que ele estava grandinho demais para isso. Agora, ela sempre lhe perguntava no café da manhã da grande mesa.
— Você é um bom menino, não é, Christopher? – sorria ao bebericar a xícara de café.
— Sim, mãe.
Ela estava extremamente orgulhosa.
Sua função de vida era ter o filho perfeito e conseguiu.
O rapaz começou a ter ideias estúpidas sobre querer fazer um curso de fotografia.
É claro que ela não o proibiu. Mas por mais que ele tentasse em vários lugares diferentes, não foi aceito em nenhum por algum “motivo misterioso”.
Ela bebericava seu café em paz.
Sem sucesso em realizar seu sonho de fazer curso de fotografia, Chris entrou em uma faculdade e lá tirou notas excelentes.
Tudo estava de acordo com os planos.
Mas a mãe foi descuidada...
— Mãe, pai, quero apresentar vocês a Seungmin. – apresentou o ômega que o acompanhava.
Pelo cheiro, o ômega era marcado.
Chritopher fez um laço com um ômega.
Ela suspirou, pensando em como isso afetaria seus planos.
Chris ainda poderia se casar com um alfa, mas teria que pra sempre ter o ômega amante por perto.
Mas que droga...
Isso ia dificultar pra arranjar um noivo...
— Eu e Seungmin vamos ter um bebê. - Chan terminou de contar.
— Nós custearemos o aborto – A mulher disse pegando a taça de vinho.
— Não vou abortar o bebê – o ômega falou.
A mulher baixou a taça e encarou o outro da mesa.
Um ser inferior como um ômega falando na presença de alphas?
Mas que ousadia.
Ela ofereceu dinheiro para que Seungmin criasse o bebê longe de Chan, e o ômega, ultrajado pela oferta, a negou imediatamente.
— Então o quer? – disse ríspida, não entendendo o que mais alguém que deu o golpe da barriga poderia querer.
— Eu quero ficar com o Chris. – disse determinado.
A mulher quebrou a taça de vinho com a força da mão.
Um ômega... queria roubar o filho dela?
Depois de tudo que ela fez para esculpir o filho perfeito? Que ideia ridícula.
— Mãe, pai. – Chris os chamou a atenção – Eu amo Seungmin e quero ficar com ele e o bebê.
A mãe ficou estupefata.
Nunca imaginou que Christopher fosse tão fraco de corpo a ponto de largar tudo por sexo com ômega.
Afinal, era só pra isso que ômegas serviam... para chorarem carentes que nem cadelas no cio implorando para que os fodam.
Ela achou melhor encerrar aquela conversa naquele mesmo instante. Se retirou para o quarto para pensar melhor no que fazer.
Pobre Christopher... estava iludido...
Mas nada que não possa ser consertado.
Na manhã seguinte, no café ela perguntou para o filho:
— Se alguma coisa acontecer a aquele ômega, você se compromete com alguém que eu e seu pai indicarmos?
Chris a olhou pálido.
— Isso não tem graça mãe.
— Nunca se sabe. – foi o que ela disse antes de bebericar a xícara de café.
O ômega morreria, Chris ficaria triste pelo luto e aprenderia mais uma vez a ser um bom menino.
Mas infelizmente, o ômega sobreviveu ao acidente de carro.
Não apenas isso, mas Chris também foi embora de casa.
O que estava acontecendo?
Porque seus planos de repente estavam saindo dos trilhos?
Ficou vigiando o filho e o ômega, mas estes raramente se separavam. Teria de pensar em algo rápido...
Até que soube que eles estavam planejando fugir de navio.
Em fúria, ela destruiu os quadros da sala, quebrou os vasos e virou os sofás.
Seu sangue alpha ardia incontrolavelmente.
Christopher pensava que podia simplesmente assim fugir?
Jogar fora tudo que ela fez?
Todos os anos que se esforçou para criá-lo?
Todos os seus planos para ter o filho perfeito?
Ele achou que seria assim fácil?
Que ela ia deixa-lo fugir e ser feliz?
Nunca.
Ela se lembra calmamente da tarde que estava na sala assistindo TV em que passava a notícia do navio de refugiados que afundou.
Ela bebericou o chá de ervas.
Assim se encerraria o assunto.
Era melhor um filho perfeito morto que um vivo a atormentando em seus sonhos.
Ela pagou o homem que plantou a bomba do navio com uma boa quantidade.
E agora morto, Chris seria pra sempre um bom menino.
Assim ela poderia voltar a dormir em paz.
Mas um ano depois acabou descobrindo que tanto ele quanto o ômega sobreviveram.
Ficou os vigiando por um tempo planejando o que fazer.
Em uma tarde que Chan estava trabalhando e o ômega saiu sozinho, ela invadiu o apartamento deles com mais dois ajudantes alphas. Homens fortes que estavam acostumados com trabalho sujo.
Ela foi até a cerquinha da sala, e lá os viu pela primeira vez.
Gêmeos.
Os bebês a encaravam sem entender o que estava acontecendo. Os olhinhos redondinhos deles eram iguais aos de Chris, e pelo cheiro, mesmo que discretamente, revelava que eram...
— Dois alphas... – ela murmurou.
Pessoas normais só descobrem sua classificação quando tem o seu primeiro cio, na faixa dos 16 a 18 anos, mas quando se tem o sangue nobre de gerações perfeitas de alphas, suas identidades são reveladas desde bebês.
Mesmo com sangue ômega, aqueles bebês ainda eram alphas puros.
Aqueles alphinhas...
Eram seus netos.
A mulher se emocionou com a descoberta.
A linhagem dos Bang não acabou.
Ela pegou um deles no colo.
— Meus alphinhas. – ela sorriu.
Ela teria outra chance...
Pode não ter conseguido ter o filho perfeito... então...
Teria os netos perfeitos....
Dessa vez ela não cometeria o mesmo erro que cometeu com Christopher.
Iria cria-los devidamente. Ia criá-los sem cometer erro algum.
Os alphas robustos que acompanhavam seguiram suas ordens de pegar as coisas das crianças e coloca-las em uma bolsa grande.
Escutou a porta da frente ser fechada e ouviu a voz familiar do ômega:
— TIRE SUAS MÃOS DELES! – gritou correndo em sua direção.
A alpha fez sua presença de sangue puro preencher o cômodo e Seungmin caiu no chão sem forças perante a pressão esmagadora. A mulher deu um sorrisinho observando-o se contorcer ao chão.
— Ômegas são tão inferiores. – Ela deixou o bebê de volta no cercadinho – Mal se aguentam em pé diante de um alpha de verdade...
Os gêmeos observavam o pai deles no chão, e ficaram chorosos sentindo que havia algo errado e erguiam as mãozinhas em direção a ele o chamando.
— Desgraçada... – Seungmin murmurou para a mulher, ainda sem conseguir se levantar. Estava difícil respirar... Ele nunca achou que ela continuaria a infernizar a vida deles depois de tudo que eles passaram.
— Você – ela apontou para um dos grandalhões – corte os pulsos dele. E você – apontou para o outro alpha – deixe o bilhete de suicídio.
O homem tirou o pen drive do bolso, que continha o bilhete de suicídio pronto. E o outro tirou o canivete do cinto.
— Não! – Seungmin entrou em pânico vendo o alpha ficar sobre si e apontar o canivete para seu pulso. Antes de conseguir dizer mais nada, sentiu a pele começar a ser cortada. O alpha lhe segurou a boca para tampar seus gritos enquanto seu sangue se derramava no chão da sala.
A dor era horrível, e o sangue quente lhe manchou as roupas. Antes que o alpha lhe cortasse o outro pulso, Seungmin conseguiu libertar a boca para gritar:
— A CAIXA!!!
A mulher o olhou sem entender.
— Por favor! – implorou chorando – A caixa.
A alpha caminhou até ele.
Que patético.
No fundo não esperava que ele fosse do tipo de implorar pela própria vida.
— Que caixa? – ela perguntou.
— Em cima – chorou – da mesa da cozinha.
— Segure-o – mandou ao alpha, e ela foi até a cozinha, onde sobre a mesa encontrou uma caixinha retangular.
Abriu-a.
E dentro havia um teste positivo de gravidez.
— Por favor.... – Seungmin implorou. – Por favor não me mate... – chorou.
Então era isso...
Ele não estava preocupado consigo mesmo.
Ele estava grávido.
Isso mudava os planos.
Três netos.
— Mudança de planos. – ela falou para o alpha que estava mexendo no notebook. – Plano B.
O plano A era o bilhete de suicídio, o B era um que o ômega fugia com as crianças por causa dos maus-tratos do alpha.
Ela ordenou que limpassem o sangue na sala e que batessem no rosto do ômega. Depois ela pegou a câmera que tinha certeza que era de Chris e tirou uma foto de Seungmin.
A polícia encontraria os rastros de sangue, a foto do ômega machucado e o bilhete de adeus. Isso deixaria Christopher ocupado por um tempo sendo o principal suspeito do desaparecimento dos três.
Seungmin sentia o pulso estancado com a atadura doer fortemente, enquanto segurava Jake no colo. Os alphas grandões levavam suas coisas e a mãe de Chris levava Won. O ômega a seguiu obediente, com medo do que pudessem fazer com ele e os bebês. Para a sua segurança colaborava sem questionar.
Mas seu coração doía ao imaginar como Chris se sentira ao chegar na casa vazia e com o bilhete de “Não nos procure” que foi obrigado a deixar.
Ele abraçou Jake, que o olhava preocupado lhe tocando a bochecha machucada.
— Vamos dar um jeito – murmurou para o bebê como um gesto para acalmá-lo.
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