CAPÍTULO II | OS QUATRO MILAGRES, PARTE I
Um ano antes do naufrágio.
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Seungmin estava incomodado.
Tinha um alpha que não parava de olhá-lo pelos corredores da faculdade e também pela biblioteca. Já tinha ouvido falar dele, era um rapaz bom e muito bonito, mas seu olhar ao longe o estava incomodando. O alpha tentava disfarçar, mas era horrível nisso. Kim tinha muitos amigos por ser legal e simpático, então alphas vindo atrás de si não era novidade.
No bar em uma festa com a turma da faculdade, o alpha estava lá, a algumas pessoas de distância. A cada gole de cerveja, ele lançava um olhar para Seungmin. Nossa, como ele era horrível em disfarçar. Min se levantou para ir ao banheiro, entrou em uma das cabines e ouviu com atenção. Alguns segundos depois alguém entrou no banheiro.
Estava na hora de acabar com isso.
Saiu da cabine e viu o alpha lavando as mãos na pia, e este levou um grande susto ao o olhar pelo reflexo do espelho.
— “Bang Chan”, estou certo?. – Kim disse cruzando os braços. Chan se virou em sua direção - Que tal contar de uma vez o que quer comigo?
O alpha ficou vermelho como um tomate e baixou os olhos. Que reação curiosa, não era uma que esperava de um alpha.
Bang Chan disse:
— S-Se não for indelicadeza minha, - ele mexia nos dedos, nervoso - v-você aceita.. sair um dia desses para tomar um c-café? – gaguejou tímido.
Seungmin sentiu a flecha do cupido o acertar em cheio no peito. Geralmente os alphas, por sua natureza, eram confiantes e iam direto ao ponto.
Perdeu a conta do número de vezes que ouviu um “Ei, eu quero te comer” sem rodeios, mas ver aquele alpha tímido, nervoso e sincero, pedindo por uma tarde de café ao seu lado, foi de derreter o coração. E aquela voz doce? Socorro. Ele era muito gracinha.
Seungmin lhe respondeu:
— Eu não tomo café, pode ser um capuccino?
Chris levantou a cabeça e não conseguiu esconder a animação ao sorrir largamente.
— Claro!
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Não demorou nada até os dois começarem a namorar. Eles tinham gostos parecidos e se divertiam muito juntos.
Chris era um alpha maravilhoso, era carinhoso, fofo, divertido, tímido, e muito protetor. Era simplesmente impossível não se apaixonar.
Passaram alguns cios juntos e sentiam um amor tão forte que não demorou até Seungmin ser marcado. Quando transavam no cio sempre tiveram cuidado de usar proteção, então levaram um susto grande quando descobriram da gravidez.
— Alguns ômegas ficam férteis alguns dias antes do cio, então não é impossível engravidar – foi o que o médico explicou.
Apesar da notícia os ter acertado de surpresa, os dois começaram a chorar de felicidade como dois futuros papais babões que iam se tornar e se abraçaram apertado. Alphas raramente choram, por se mostrarem fortes e impenetráveis, mas Chan chorava, e chorava com um orgulho imenso, afinal, era a pessoa mais sortuda do mundo.
Aquela gravidez foi o primeiro milagre.
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Os pais de Christopher vinham de uma linhagem de alphas, sendo conservadores, ricos e orgulhosos, então não foi surpresa quando se posicionaram contra Seungmin e a gravidez.
Nunca proibiram o filho de namorar o outro, mas isso porque julgavam este de ser apenas uma “diversão”, algo apenas temporário, pelo menos até Chris se casar com alguém de linhagem pura. Uma linhagem sem betas e de raríssimos ômegas. Ficaram mais chocados ainda ao descobrirem que ele tinha marcado Seungmin.
Um dia no café da manhã a mãe de Chan perguntou a ele:
— Se alguma coisa acontecer a aquele ômega, você se compromete com alguém que eu e seu pai indicarmos?
Chris a olhou pálido.
— Isso não tem graça, mãe.
— Nunca se sabe. – foi o que ela disse antes de bebericar a xícara de café.
Naquela noite Seungmin sofreu um acidente de carro.
O carro desviou de outro que avançou em direção, depois capotou e girou por dezenas de metros. Os cacos voavam para tudo que é direção.
Mas Seung sobreviveu graças ao cinto de segurança. Tanto ele, quanto os bebês.
Aquele foi o segundo milagre.
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A noite era de lua nova, então estava tudo mergulhado em completa escuridão. Chris e Seung andavam de mãos dadas segurando suas malas pelo porto até encontrarem o caminho que indicava o navio clandestino pelo qual pretendiam fugir juntos. Se pegassem avião ou qualquer outro meio de transporte, deixariam rastros e os pais de Bang poderiam encontra-los. Era o único jeito.
Seungmin tinha uma tia que os receberia em outra cidade, e lá ela daria suporte para ajuda-los a começar uma nova vida. Estavam abandonando tudo, todos que conheciam, a família, a faculdade, mas era um preço pequeno a se pagar para estarem juntos e com seus filhos.
Com exceção dos enjoos, a viagem estava boa. O quarto que estavam era pequeno, mas a presença um do outro fazia tudo ser confortável e valer a pena. O quartinho tinha apenas um beliche, mas os dois se ajeitavam para dormir abraçadinhos na cama estreita. Chan gostava de dormir de conchinha pois assim podia dormir com a mão sobre a barriga do outro.
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Faltava menos de um dia para chegarem a cidade onde começaria suas novas vidas.
Seungmin acordou assustado com um barulho alto seguido de sirenes e movimentos bruscos do navio. Estava sozinho no quartinho e ao se levantar da cama levou outro susto ao ver que tinha água a seus pés.
Ai meu Deus. O navio estava afundando?
Min se levantou apressado e o movimento repentino fez uma cólica fortíssima o acertar. A dor o fez cair de quatro no chão, molhando os braços e as pernas. Gemeu alto colocando a mão na barriga.
— Calma. – disse para os bebês – Vai ficar tudo bem.
Argh, tantos momentos para sentir cólica, e tinha que ser logo agora? Precisava sair dali rápido.
— SEUNGMIN! – ouviu a voz de Christopher ecoar pelos corredores.
Seu alpha apareceu e o ajudou a se levantar. Foram até o corredor e um barulho estridente os acertou e o navio moveu-se de um jeito que os fez ser projetados contra a parede com força.
Ao caírem no chão, encharcaram-se por completo com água salgada e gelada que preenchia o ambiente na altura de seus joelhos. Luzes vermelhas começaram a piscar em sincronia com um alarme alto e o chão balançava.
— Seungmin?! – Chris o chama, limpando a água salgada dos olhos e tentando ficar de pé naquele chão instável.
— Aqui! – Seungmin vem em sua direção e estica a mão.
De mãos dadas os dois andam rápido até o final do corredor, que tinha a porta de metal aberta para eles. O fato de só poderem enxergar quando as luzes vermelhas piscavam, de terem água até os joelhos, e também de se mexerem em um chão que parecia balançar como ondas, não facilitava nada as coisas. Outro movimento brusco os fez cair em um quase-mergulho, mas dessa vez não soltaram as mãos.
A água estava subindo.
O mais novo o puxou e apressaram os passos por aquele corredor, chutando a água aos seus pés. As luzes vermelhas piscavam e a água subia. Avançar de mãos dadas dificultava a trajetória, mas o alpha sentia medo de soltar a mão do outro, como se assim o fizesse, eles, de alguma forma, se separariam.
Depois do que pareceu uma eternidade, estavam chegando perto da porta no fim do corredor. Estavam quase lá. Soltaram as mãos quando o mais velho foi com a sua mão em direção à porta, tateando a procura do mecanismo, mas a porta não abria.
A água já alcançava seus queixos.
— Channie! – Seungmin pediu em súplica para que se apressasse.
— Não está abrindo! Deve estar cheio de água do outro lado!
— Ali! — O ômega apontava para o teto acima deles, onde havia uma escotilha.
— Eu vou te erguer. – Chris disse e mergulhou antes que o mais novo protestasse a ideia. Ele segurou as pernas de Min, elevando-o. Esperou até sentir seu amado começar a subir mais, como se estivesse sendo puxado para fora d’água.
Emergiu, cuspiu a água salgada e viu Kim, agora no andar de cima, esticando lhe a mão. Segurou-a firme e foi aos poucos puxado para fora d’água. Juntos, fecharam a escotilha rapidamente.
No convés do navio tudo estava um caos. A tempestade era violenta e o mar tinha ondas enormes. Ouviam-se gritos de instruções e também de pavor. O céu se iluminava de vermelho pelos sinalizadores.
Bang guiou seu ômega até umas vigas de metal onde poderiam se segurar. Chris removeu o casaco enxarcado e o usou para amarrar o braço de Seungmin no metal e assim ajudá-lo a se segurar. Min se lembraria para sempre do exato momento em uma onda grande varreu o convés do navio levando consigo quem não estava se segurando. Chris um segundo estava a sua frente, e no seguinte não estava mais.
Seungmin chorava seu nome o procurando com os olhos apesar da chuva intensa.
Algumas horas depois, com os braços já fracos de se segurar, barcos resgate apareceram para salvar os sobreviventes.
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Um mês já havia se passado desde que tudo aconteceu, e nenhuma notícia de Chris.
Estava claro que ele não sobreviveu.
Por mais que quisesse ficar de luto por seu alpha, Seungmin tentava manter os ânimos. Sentia que seu humor afetava os bebês, então sempre tentava relaxar, fazer caminhadas, e cantar baixinho enquanto massageava a barriga sentado na sacada com o vento fresco.
Viver na fazenda da tia o ajudou muito naquele momento difícil. Mas apesar de seus esforços, às vezes era inevitável. Começava a chorar descontroladamente ao pensar em seu alpha.
— Eu sinto falta do papai de vocês – Kim conversava com os gêmeos. — Ele era um homem muito incrível e corajoso. Ele fez de tudo para que nós três ficássemos bem. Vocês tem muita sorte de ter tido um papai assim.
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Seungmin comeu muitos morangos na gravidez, e podia apostar que isso era influências dos dois pequetuchos no seu útero. Melancias também. Sempre que podia, comia um monte. Seus amigo Jisung, era a vítima que tinha que sempre buscar tudo que ele sentisse desejo de comer.
Apesar de tranquila, sem a presença do alpha a gravidez foi muito difícil. Os médicos alertaram que, sem o alpha, Seungmin tinha pouca chance de sobreviver, ainda mais com uma gravidez de gêmeos. Min passou muitos dias de cama, sentindo febres e dores pelos corpo, mas isso não o desanimava.
O que mais queria é que seus bebês ficassem bem.
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