Padrinhos
No outro dia, Olívia, Aurosa, Noro e Turio voltaram à fazenda. E desta vez, foi Olívia que deu um grande abraço em Jorge depois de um bom dia. Julia lamentou que Mirus não havia ido. O veterinário Pedro não estava ali, mas pediu para Sofia explicar tudo para Aurosa.
As vacas que estavam doentes haviam sido colocadas separadas das outras. Uma delas, não parecia nada bem: estava bem mais magra, fraca e com os olhos vermelhos. Todas haviam perdido muitos pelos, deixando espaços em que se podiam ver o couro liso e manchas escuras. Aurosa e Noro coletaram material dos animais e Turio fotografou o máximo que pode, desde a pele e olhos dos animais, como também o espaço em que estavam. Noro pediu a Jorge para darem uma volta pela fazenda:
– Seria bom vermos as outras vacas, em seu ambiente do dia a dia. – Disse ele.
Caminhando pela fazenda, Olívia acabou ficando para trás e sentou em uma cerca de madeira, deixando que os outros seguissem com seus trabalhos. A fazenda era muito grande, mas por ser em um terreno plano com poucas elevações, ela conseguia ver uma boa parte do espaço: desde a casa, o estábulo e o gado no pasto. Além disso, via galinhas e cavalos e um grande milharal com os milhos quase no ponto de serem colhidos.
O grupo de pesquisadores chegou próximo às vacas e começou os mesmos procedimentos feitos anteriormente. Noro quis também amostras do solo e do pasto. Turio havia comprado um super equipamento fotográfico e aproveitava para tirar outras fotos do campo. Aurosa pedia informações mais detalhadas para Sofia, que demonstrava conhecer muito bem seu trabalho. Eles voltaram conversando, querendo saber mais sobre a moça:
– Mas você estudou medicina veterinária? – perguntou Noro.
– Estou estudando... Estou no último ano da faculdade. Meus padrinhos me convidaram para fazer o estágio aqui na fazenda. – Disse isto olhando e sorrindo agradecida para os padrinhos.
Sem perceber, Noro deixou escapar uma dúvida que poderia vir a comprometer a conversa:
– Eu não entendo bem esta relação familiar de padrinhos e madrinhas... – disse causando certa surpresa em Jorge e Julia. Como se não bastasse, ele acrescentou: – eu conheço só fadas madrinhas...
Aurosa não entendeu o perigo de uma dúvida tão simples, mas Turio percebeu, pela expressão dos donos da fazenda que a dúvida poderia ser grave, e disse:
– Desculpe a ignorância do meu amigo. Ele é muito bom em química, mas horrível em religião. Nós somos educados em outras religiões que não têm apadrinhamentos.
Jorge, Julia e Sofia quiseram saber mais e Turio desconversou, pois pouco sabia sobre o assunto, além deles nunca terem combinado as falas sobre crenças religiosas humanas.
Já na caminhonete de volta para o sítio vieram conversando sobre isto. Olívia, depois de ter visto aquela imensidão do campo, parecia distante e sentindo-se pequena diante de tantas coisas no mundo. Ela acabou por demonstrar que além da fragilidade física, ela também temia pela fragilidade de competência. Eles percebiam o quanto era difícil para Olívia conseguir abranger tantos temas e dar conta de tantos assuntos para tornar completa as suas formações.
– Você não é perfeita, Liv! Mas nós sabemos que você está fazendo o seu melhor. – Disse Noro compreensivo.
A segunda-feira chegou com mudança de clima no sítio. O dia amanheceu nublado e com uma chuva fina. Todos levantaram mais tarde e mais preguiçosos, mas com o passar das horas foram saindo do marasmo e retomando suas atividades.
Mirus chegou um pouco antes da hora que sempre chegava e anunciou que não havia necessidade de acompanhar o grupo todos os dias naquela semana, já que o Conselheiro Renus ficaria com eles.
– Mas ele vem morar conosco? – perguntou Turio preocupado.
– Sim. – respondeu Mirus. – Nós achamos melhor ele ficar aqui a maior parte do tempo; mas irá manter seus compromissos no Conselho.
Olívia viu o descontentamento do grupo e não soube o que dizer para consolar.
– Vamos dar um voto de confiança, ao Conselheiro. Eu criei uma situação bastante complicada para ele. Cometi um erro...
Naquele momento, Renus apareceu no meio da sala, saído do nada, com duas malas nas mãos, causando um susto em todos. O silêncio da surpresa foi quebrado por Noro, que pensou em ajudá-lo com as malas, mas viu um problema:
– Ninguém pensou onde ele vai dormir...
Todos olharam para Olívia, que suspirou ao perceber o estorvo que a vinda de Renus seria; inclusive para ela. Ela teria que relocar o grupo. Então ela disse sem pensar muito:
– Coloque suas coisas em meu quarto, Conselheiro! – causando um mal-estar em todos, inclusive em Renus.
Ele não se mexeu e ela percebeu o que todos haviam pensado e ficou bastante irritada, sentido a cobrança e a desaprovação de todos, explodiu:
– Coloque suas coisas em meu quarto, até que eu lhe arranje OUTRO quarto!
Assim que Renus sumiu pelo corredor com as suas malas, ela virou para o grupo e disse:
– Arrumem uma solução para isto, senão ele dorme no estábulo! – e deixou o grupo pensando o que quisessem.
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