Capítulo 7 - Na Terra

[Nota da autora: Começa agora a segunda parte do livro - que terá mais duas: os Mestres e os Anjos. Esta será na Terra!!! Imaginem um grupo de seres de outro mundo vivendo aqui no Brasil... Agora eles irão viver juntos e vamos conhecer melhor cada um deles. Quais os desafios que eles irão encontrar? Muitas aventuras estão por vir... Espero que vocês gostem.] 

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O grupo surgiu do nada, no meio de uma estrada de chão batido, completamente vazia. A poucos passos deles, uma caminhonete de nove lugares aguardava no acostamento.

– Aluguei hoje cedo! – Disse Mirus. – Quer dirigir, Liv? – tirando do bolso as chaves.

Lália e Noro sentaram ao lado da motorista, excitados com a possibilidade de um dia aprenderem a dirigir também.

Turio, no banco de trás, levou menos de um minuto para conectar o celular e o mapa da região e começou a dar as coordenadas. Três quilômetros depois, a caminhonete cruzava a porteira de um grande sítio muito bem cuidado. Cada um, a seu tempo, via algo de seu interesse e gritava: um cavalo, uma vaca, um lago, frutas... a casa. A casa ficava no lugar mais alto do terreno. Era grande e, mesmo dando ares de casa de fazenda, era nova e tinha a área de lazer com uma pequena piscina. O resto em volta era tudo rústico: celeiro, cercas, caminhos e canteiros de pedras. Quando desceram do carro e olharam da varanda, todos tiveram a certeza de ter escolhido o melhor lugar do mundo.

– É o paraíso dos humanos! – Disse Noro, o mais entusiasmado da turma, mostrando que havia feito a lição sobre religião.

Olívia e Mirus ficaram felizes em ver que todos gostaram, pois estavam com dúvidas sobre a escolha de um lugar tão rural.

– Vem vindo alguém ali. – Lália interrompeu, apontando para outra caminhonete que cruzava a porteira.

– Devem ser os proprietários que nos alugaram. – Disse Olívia. – Agora se acalmem e sigam o combinado.

Um casal desceu do carro, simpáticos, sorridentes e dizendo: "sejam bem vindos". Olívia tomou a dianteira, e Mirus veio em seguida, parando ao seu lado.

– Acabamos de chegar! – Disse Olívia. – Vocês devem ser os donos! Eu sou Olívia! – disse ela com a mão esticada para um aperto.

O homem educadamente a cumprimentou, e a mulher puxou a sua mão e lhe deu um abraço natural para os humanos, mas causando mal estar entre os tangens.

– Nós somos Jorge e Julia. Somos irmãos. Este sítio é de um outro irmão, João, que mudou para longe. – Disse Julia, olhando muito interessada em Mirus e fazendo com que Olívia o apresentasse.

– Este é Mirus, nosso tutor. – Disse Olívia.

Foi somente dizer isto, e Jorge puxou a mão de Mirus para o aperto de mão, balançando fortemente o seu braço.

– Prazer, Miro! – Disse o homem, quase quebrando a mão de Mirus.

Logo após, foi a vez de Julia atacar Mirus com um abraço apertado. Os outros tangens, muito discretamente, recuaram alguns passos tentando evitar os cumprimentos acalorados.

Percebendo a reação dos alunos, Olívia tentou desviar a atenção e evitar as saudações.

– Estes são os estudantes do nosso Programa de Pesquisa. – Disse ela apresentando o conjunto. – Se vocês quiserem ir explorar o sítio, podem ir! – Assim todos saíram rápido da varanda e foram tomando distância da casa. Ela concluiu: – eles estão ansiosos para sair por aí. São todos da cidade, não estão acostumados ao campo.

– Ah, que tristeza! – Disse Jorge, lamentando pelos urbanos.

– Vamos entrar! – Disse Olívia pegando o molho de chaves e testando algumas, até Julia indicar uma que coube na fechadura.

A sala principal era bem grande, com dois ambientes: sala de estar e sala de jantar, sem muito mistério arquitetônico, por ser uma construção de fazenda. Um corredor levava para a parte interna dos quartos: três deles variavam de tamanho e tinham um banheiro compartilhado, e havia mais três suítes. Os quartos eram bem aconchegantes e simples no mobiliário. Todos eles tinham janelas amplas que garantiam uma excelente ventilação. Além disso, havia outra sala grande, também com banheiro, que servia de escritório, com mesa, sofá e estantes. E outra ainda, com apenas duas mesas, um grande sofá e algumas cadeiras, que os antigos moradores transformaram numa sala de jogos, visto que uma das mesas era coberta com um feltro verde. A casa era baixa, sem sótão nem porão. Toda mobiliada, era perfeita para comportar todos aqueles jovens.

Julia disse que poderia providenciar outros móveis, caso necessário, pois na fazenda onde ela e Jorge moravam, antiga casa de seus pais, havia muita "tralha inútil".

Olívia percebeu que enquanto Julia mostrava detalhes da casa e das mobílias, Jorge tentava puxar conversa com Mirus. Ele tentava responder, mas estava bastante apreensivo com o risco de falar alguma coisa errada. Assim que pode, Olívia o chamou para perto e assim evitou que Jorge tentasse conversas paralelas.

Ao final do passeio pela casa, Olívia sentou-se no sofá, já um pouco cansada. Eles sentaram juntos, ainda querendo saber mais sobre os novos inquilinos. Ela previu a curiosidade e já havia ensaiado muito com Mirus. Desta vez, foi Mirus quem desenvolveu o assunto:

– Nós não lhe traremos problemas e cuidaremos muito bem da propriedade.

Olívia completou:

– Os alunos são bastante organizados. Eu ficarei responsável por eles. Tudo o que precisamos é de um lugar confortável, quieto para os estudos, e perto da cidade, onde pretendo procurar algumas atividades para eles conhecerem a cultura local. – Falou querendo parecer que era muito mais velha que os alunos.

– Você é de onde, Olívia? Pois fala tão bem a nossa língua... – Perguntou Jorge.

– Nós todos somos de países do norte europeu. Eu falo melhor a língua, pois minha mãe morou algum tempo aqui. Os outros alunos estudaram muito a língua antes de virem, mas ainda cometem erros e não compreendem certas coisas. – Explicou ela. – Eles todos tinham um sonho de conhecer este país; todos os trabalhos que eles desenvolvem são ligados a ecologia; cada um pesquisa uma certa área, e um deles é excelente em computação. Ele faz as tabelas, os dados das pesquisas... – e falou mais alguma coisa técnica, pois, tinha certeza, isto seria a deixa para eles olharem o relógio e dizer que já estava tarde.

Eles se levantaram, enquanto o grupo voltava da pequena excursão.

– Tem um vaca. – Disse Lália erroneamente, para confirmar o que Olívia acabara de falar sobre não conhecerem bem a língua.

Eles riram discretamente do erro e Julia falou:

– Não se preocupe com os animais. Há um empregado que virá aqui todas as manhãs para alimentá-los. Ele é bem discreto, o Seu Luiz...

O Seu Luiz não havia sido previsto e poderia ser um problema. Mas Olívia não quis dispensá-lo, pois seria bem difícil cuidar dos animais. E estavam todos tão entusiasmados com eles. Depois pensaria sobre como mantê-lo longe dos tangens.

Correra tudo certo naquele primeiro contato com os humanos, embora não tenha sido assim um grande contato. Mas, ao menos, eles passaram pelo teste de contato visual.

O grupo conseguiu rapidamente definir onde cada um iria dormir, e respeitando a hierarquia, deixaram uma das suítes para Olívia. Turio achou que a sala de jogos seria mais adequada para guardar materiais e equipamentos que não deveriam, em hipótese alguma, ser vistos por algum humano que entrasse lá. Ficaria sempre trancada. O escritório, contíguo à sala grande, ficaria com computadores, livros e outros objetos humanos, e poderia ficar mais aberto. Estes poderiam vir a ser os ambientes onde eles passariam mais tempo, lendo no sofá ou nas poltronas, ou trabalhando nos computadores. A sala de estar tinha também uma grande estante com televisão e, bem no canto, um piano bastante desafinado, o que Naitan disse ser fácil de consertar. Na sala de jantar, unida à de estar, havia apenas uma grande mesa de dez lugares, próxima à grande porta de correr que dava para a cozinha. Assim, se as portas ficassem abertas em todos estes ambientes da frente da casa, da cozinha era possível ver quem estava no outro extremo. A privacidade de todos seria restrita aos quartos.

– Precisamos ir a cidade buscar mantimentos. – Lembrou Lália, que já tinha uma lista enorme de coisas para providenciar, como comidas, roupas de cama e outras de utilidade doméstica.

– Desta primeira vez iremos eu, Lália e Naitan. – Disse Olívia, vendo a decepção dos que ficariam; incluindo Mirus que gostava muito de ir às compras com ela. Contudo ela pensou em Lália para lembrar o que precisava ser comprado e de Naitan para ajudar a carregar. – Amanhã vou com outros... Mas antes de sair, eu quero falar algo – disse ela apontando para a mesa, esperando que todos sentassem.

– A partir do momento que Mirus for embora, nós estaremos por nossa conta. Eu digo nossa e não cada um por si. Eu quero que todos liguem seus celulares e os mantenham sempre no bolso. Turio irá ajudar vocês... Depois ele irá instalar a nossa linha de comunicação com Tangen – que só deve ser usada com permissão. Mais tarde, quando Mirus estiver em Tangen, eles irão testar. Caso algo dê errado, Mirus volta. Eu não quero ficar aqui, sem comunicação. – Mirus confirmou com a cabeça. – E eu não quero nenhum de vocês andando sozinho, em momento algum, nem no sítio, nestes primeiros dias. Sempre que forem sair, chamem um colega.

Todos concordaram. Olívia saiu rumo à cidade com Lália e Naitan.

A cidade era pequena, mas tinha várias lojas e um supermercado maior, onde eles conseguiram comprar quase tudo. A escolha por Naitan e Lália foi acertada, pois os dois pareciam já conhecer boa parte dos produtos. Lália dizia o que queria e Naitan reconhecia o pedido e optava caso tivesse mais de duas escolhas, quase sempre de maneira que Olívia concordava. Apenas em alguns itens de comida, isto não funcionava. Lália estava tão empolgada, corria apontando as coisas que reconhecia, dava saltinhos de felicidade dizendo "olha! olha!" para certos produtos que gostava, como nos esmaltes para unhas. Olívia já havia reparado que em Tangen as unhas eram pintadas com pretos, brancos, metálicos ou de cores bem neutras; embora o produto que eles passavam nos cabelos para colori-los fossem muito mais rico em cores e tonalidades diferentes do que na Terra. Lália escolheu três vidrinhos de esmaltes e disse como uma criança "posso levar? Posso?". Olívia deixou e ela saiu correndo já vendo outra coisa. Naitan, mais adulto, sorria vendo a empolgação da amiga e mantinha-se ao lado de Olívia, que algumas vezes teve a impressão de estar fazendo compras em família.

Neste primeiro dia, Olívia teve que optar por produtos quase prontos. Naitan parou diante de caixas de pizza e, com os olhos brilhando, disse:

– Eu sempre tive vontade de provar isto!

Saíram de lá cada um com um carrinho de compras lotado. E com pizzas para a janta.

Mirus ficou até a hora da janta; comeu com eles e depois se despediu dizendo que na manhã seguinte iria dar as notícias ao Conselho e assim que pudesse, voltaria para ver como estavam eles.

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