Capítulo 12 - O Pântano

Pela manhã do outro dia, Olívia levantou tarde e preferiu ficar no dormitório lendo, até que uma voz anunciou Renus na porta do seu dormitório. Ela mandou abrir e ele entrou:

– O Comandante de Operações no Fogo veio me chamar... Tuolock ainda não voltou da missão que ele foi ontem. Ele e os outros estão preocupados, pois ele não tentou nenhum tipo de comunicação até agora.

– Você acha que aconteceu algo com ele? – Disse ela também preocupada.

– Acho que sim! Ele não teria passado a noite fora sem avisar e com mais três do grupo de resgate. Incluindo o Comandante de Salvamentos. Nenhum deles enviou qualquer sinal. – Explicou ele. – Eu vim te falar, pois eles acham que seria melhor eu ir atrás do Mestre.

Olívia parou para pensar o porquê Renus estava dizendo aquilo para ela. Será que ele acreditava que ela era sua superior e precisava pedir permissão ou ele estava apenas comunicando que iria se ausentar. Entre dar uma liberação e parecer ridícula e apenas dar força para a tarefa, ela escolheu a segunda opção.

– Também acho que você deve ir! Mas você acha que pode ser perigoso? O que era a missão?

Renus não viu problemas em contar:

– Era algo simples, mas em um lugar complicado. Num pântano; um lugar em Tangen que é abandonado há anos. Um sensor que eles têm aqui captou um sinal de comunicação por lá, e isto é quase impossível. O Mestre achou que pudesse ser só alguém perdido e foi verificar se precisavam de resgate. Mas se não chegou aqui até agora é porque talvez tenha tido problemas para voltar. Não acredito que seja nada sério. Talvez estejam machucados ou incapacitados de teleporte...

– Eu posso ir junto? – Perguntou Olívia com certeza na resposta negativa.

– Não. – Disse ele bem sério. – Eu só vim aqui avisar, pois não quero que vocês se metam em confusão enquanto eu estiver fora. Fui claro?

Ela nem respondeu. Antes dele virar as costas e ir embora, ela ainda disse:

– Toma cuidado!

Embora tenha gostado, ele fez que não ouviu.

Olívia e os alunos ficaram sabendo que Renus e mais oito tangens saíram da escola depois do almoço rumo ao pântano. Depois de quatro horas, Turio foi incumbido de procurar notícias deles.

– Não voltaram ainda e nem deram sinal também. – Disse ele ao grupo no galpão.

– Eles estão preocupados? – Perguntou Olívia.

– Um pouco... – Respondeu Turio.

– Eu também. – Disse ela. – Se ao menos nós soubéssemos onde eles estão...

Olívia falou, pensando em algo. Os alunos olharam uns aos outros e Turio ia falar algo quando Naitan disse rapidamente:

– Não! Não diz!

Ela compreendeu que Turio sabia e que todos pensaram a mesma coisa "ela vai querer ir atrás deles". E não aconteceu diferente. Para convencê-los, Olívia tentou uma chantagem emocional simples: de que ela estava sentindo-se culpada em não ter conversado com Tuolock sobre não guardar mágoa do treino, que apenas funcionou com Noro; – depois partiu para a competência deles com algo "do que vocês estão com medo... Não são os melhores...", que convenceu Lália. Aurosa era implacável nas regras:

– Não temos permissão para nos meter nesta missão!

E a professora respondeu:

– Não sou eu a responsável por vocês? Eu dou a permissão!

Porém mesmo todos sabendo que a permissão estava dada, ninguém acreditava nela. Naitan tentou argumentar que eles não estavam preparados. E Turio compreendeu que ela já havia decidido e não iria desistir quando ela falou:

– Eu vou! Quem me leva?

E Lália levantou o braço.

– Quem mais quer ir junto?

Desta vez Noro levantou a mão.

Turio e Naitan acabaram concordando para não deixá-los ir sozinhos. A única que não queria ir era Aurosa. Olívia então pediu para que um deles ficasse com Aurosa. Noro foi o voluntário. Decidiram então que iriam ela, Turio, Naitan e Lália. Aurosa ajudou montando uma bolsa básica de primeiros socorros e dando milhões de explicações sobre os perigos de um pântano. Turio e Naitan equiparam-se com comunicadores e outros aparelhos leves que eles julgaram necessário para comunicação entre eles. Também pensaram em vários problemas que os dois grupos podiam estar enfrentando e deixaram uma linha direta de comunicação entre eles e Deserto Plano, em que Noro ficaria no plantão. Olívia só pensou no jantar e encheu a sua pequena bolsa com barras de alimentos, em especial algo semelhante ao chocolate, mas muito mais energético. Noro sugeriu que eles levassem facas para defesa e roupas escuras para a camuflagem. Para Olívia, ele a equipou com uma pequena adaga presa na perna e orientou que ela colocasse botas próprias para o pântano e para firmar melhor o tornozelo que ainda não estava totalmente curado.

Ainda estava dia em Deserto Plano quando saíram, mas havia diferença de horário para onde iam e quando chegaram, estavam em um lugar tão escuro que não se via um palmo a frente.

Aos poucos eles foram se acostumando com a luz da noite e Turio ligou um dos aparelhos para poder ver direito as coordenadas.

– Fiquem segurando uns nos outros, qualquer coisa eu levo vocês embora. – Disse Naitan sussurrando e segurando o braço de Olívia bem firme.

Depois de um tempo, Turio conseguiu o que queria.

– É o seguinte: estou captando vários sinais de vida aqui. Programei o aparelho para rastrear Renus e o Mestre. Renus está acima de nós. Num morro aqui atrás. Ele e mais oito. O Mestre está a nossa frente e parece que com muitos outros. Eu preciso chegar mais perto para saber mais detalhes.

O grupo foi caminhando lentamente no meio de um terreno embarrado, entre folhagens e árvores que tinham seus troncos submersos no barro, até verem luzes e uma construção aparentemente de madeira. Na frente da construção havia doze tangens. Dois destes tangens estavam armados com armas que pareciam rifles da Terra. Eles sabiam que as armas de fogo haviam sido banidas de Tangen há muitos séculos, então aquele grupo, sem dúvida, estava cometendo algum crime. Eles só tiveram certeza quando Turio falou:

– Tem doze tangens fora e dois dentro da casa. – Disse ele, e completou: – Mais o Mestre e um dos seus.

– Eles estão presos? – Perguntou Lália.

– Acho que sim. – Respondeu Turio. – Preciso chegar mais perto para saber.

Os tangens estavam todos na frente da casa. Eles foram pela mata até os fundos da construção. Assim que chegaram, Turio completou a informação:

– Estes dois pontos bem próximos são o Mestre e um outro de Deserto Plano. Pela posição, eles estão amarrados numa cadeira. E tem dois capangas fazendo guarda deles mais a frente. Também sentados. Os dois estão armados.

Turio fez uma pausa e disse:

– Captei mais dois sinais. Em outra construção ali atrás. Acho que são os outros dois alunos da equipe de salvamentos.

– Vamos até Renus. – Sugeriu Naitan.

– Não! – Disse Olívia. – É melhor que ele não nos veja aqui.

– O que vamos fazer? Não temos a menor condição de enfrentar tantos. – Falou Lália.

– Talvez nós pudéssemos soltar o Mestre e os alunos. – Disse Olívia.

– Os dois na outra construção estão sozinhos. Mas o Mestre está sendo vigiado... – Falou Naitan.

– Nos teleportamos para dentro da cabana e tentamos ... – Olívia nem completou a frase e Turio falou:

– Nada de teleporte na casa. Por isto, o Mestre ainda não se mandou... Além disso, Liv, você realmente acha que nós temos condições de enfrentar dois tangens armados?

Foi uma ideia idiota, mas Olívia não desistia. Ela olhou em volta da casa e viu uma pequena grade de ventilação a dez centímetros do chão, muito perto deles.

– Será que conseguimos entrar por ali?

– Acho que eu e você passamos. Eles não. – Disse Lália.

– Ela não passa também... Vai trancar na bunda. – Disse Turio.

Olívia olhou para ele com raiva pela observação. Ele tentou desviar o assunto e disse:

– Olha aqui! – falou apontando para a telinha. – Se você conseguir passar, o Mestre está sentado muito perto desta ventilação. Há uma grande chance dele estar tapando totalmente a visão atrás dele. Você só teria que sair da ventilação e se arrastar até ele e soltá-lo. O outro está bem ao lado. Acho que pode dar certo, pois eles estão acordados. Veja as pulsações...

Eles se aproximaram da grade de ventilação e viram que ela estava trancada com um cadeado bastante diferente das trancas terrestres. Eles se olharam e Lália fez sinal para eles de que ela precisava de algo fino para tentar abrir. Olívia enfiou a mão em sua bolsa e tirou de lá o canivete suíço. Abriu a ferramenta em duas possibilidades, que Lália sinalizou que não davam. Na terceira, no palito de dentes, ela fez sinal de positivo e em segundos destravou o cadeado. Todos ficaram surpresos com a destreza dela, mas não podiam falar nada naquele momento.

Naitan retirou a grade com muito cuidado e Olívia se preparou para entrar. Com o canivete na mão, agora com a maior faca aberta, ela escorregou bem lentamente por entre o buraco de uma parede fina. Conseguiu passar com facilidade, ajustando o quadril na diagonal da abertura. Saiu do outro lado, exatamente onde Turio havia dito: sem contato visual com os guardas. O Mestre estava sentado muito próximo da ventilação, ao fundo da casa e em um lugar com a luz muito fraca. Ela precisou se arrastar em um metro e meio e já alcançou a cadeira. 

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