Capítulo 10 - Os Mestres
– Nada de trabalho neste final de semana! – Disse Olívia.
No meio da sala, com roupa de banho e roupão branco, ela estava pronta para deitar-se ao sol e parar de pensar tanto em seus problemas. Os outros ainda acabavam o café da manhã.
– Mas, Liv, e a pesquisa das vacas? – Perguntou Aurosa preocupada.
– Vocês já conseguiram alguma coisa? – Interferiu Renus
– Sim, Conselheiro! – respondeu Noro.
Olívia voltou para a mesa a contragosto para ouvir o que eles tinham a dizer. Ela ainda pensou em sair e deixar Renus cuidando disso, porém, depois da nota de Sheda V. colocando-a como parceira de Renus, ela não queria deixá-lo tomar a liderança de nada. O sol chamava por ela lá fora, mas a rivalidade, mais do que a responsabilidade ou o juízo, dizia para ela ficar e escutar.
Noro começou a explicação:
– Já temos o diagnóstico e a causa da doença. O terreno em que as vacas da fazenda de Jorge estão pastando está poluído. Eles usaram um tipo de fertilizante com um químico que mesmo na Terra já é proibido usar. Achamos que eles não sabem disso. Jorge havia me dito que eles iriam usar esta parte do terreno para plantação, mas mudaram de ideia e resolveram deixar as vacas por ali este ano. Mas o fertilizante presente no solo atuou de forma bem estranha no pasto que as vacas estão comendo atualmente: aumentando a toxina de uma planta local, que em taxas normais da planta não causariam danos aos animais.
– Mas as taxas não estão normais. O uso do fertilizante aumentou muito a toxina. Os animais estão com problemas no processo digestivo e na eliminação destas toxinas, que acabaram causando lesões na pele e deixando os animais sem apetite. Além disso, esta época do ano, de sol mais forte, acabou piorando a situação, pois notamos que não há muita sombra naquela área da fazenda. – Completou Aurosa.
– Então, o que vocês estão esperando para avisar ele? – Disse Olívia pensando nas vacas ao sol e ela tendo que esperar na sombra.
– Estamos esperando uma solução de remédio, Liv! – Disse Aurosa. – Em Tangen, nós temos este remédio para desintoxicação e temos também métodos de descontaminação do solo. Mas usamos produtos que nem estão perto de serem descobertos na Terra.
– Então não! – Simplificou Olívia. – Eu ligo para Jorge hoje e digo para ele mudar as vacas de pasto e mantê-las na sombra. E é o que podemos fazer...
– Faça isto, Liv! – Disse Noro. – Só que talvez ele já esteja com todo o gado afetado e existe uma chance grande de que ele perca muitas de suas vacas. Nós queríamos tentar procurar um antídoto.
– Sim, mas eu queria tanto um dia de descanso e não um dia procurando antídotos para vacas envenenadas... – Falou Olívia, sem nem perceber que estava sendo egoísta.
Olívia realmente queria e merecia um final de semana sem preocupações, mas percebeu pela cara de todos: eles esperavam que ela fosse mais solidária aos animais e se esforçasse para mantê-los vivos. Nem que isto lhe custasse o dia ao sol. Ela suspirou desapontada. Turio foi o único que deu um sorriso discreto percebendo o dilema da professora. Renus falou:
– Se você não está muito preocupada em achar uma solução para o caso, eu posso assumir com os pirralhos.
Nem uma tempestade súbita teria surtido melhor efeito para que ela mudasse de ideia do que aquela oferta de Renus. Ela estava decidida a curtir o dia, mas não ao preço da bondade repentina dele.
– Esta não é sua função, Conselheiro! É minha. Pode deixar comigo. – Disse ela, largando na mesa, o protetor solar que estava em sua mão.
– O que é preciso fazer? – Perguntou ela à Noro e Aurosa.
– Avisar Jorge, como você falou e depois tentar contatar alguém que saiba mais do assunto. – Disse Aurosa.
Para grande surpresa de Olívia, o próximo passo não a desagradou. Aurosa continuou:
– Eu tenho uma professora que poderia nos ajudar muito... Mas ela mora em em Tangen, em Campos Belos. Nós teríamos que ir até lá.
– Campos Belos! – Falou Olívia entusiasmada. – Por que vocês não falaram antes? Eu quero muito conhecer o Mestre da Natureza!
Todos se olharam pensando a mesma coisa: quem e como Olívia imaginava o Mestre?
Após Olívia ligar para Jorge, e Renus mandar uma mensagem para o Mestre, todos foram para Campos Belos.
O pórtico de entrada da Escola do Mestre da Natureza era tão belo que Olívia sentiu que este seria um dia muito melhor do que ela havia planejado ao sol no sítio. Ninguém que não tivesse prévia autorização entrava em Campos Belos. Poucos tinham permissão para teleporte lá de dentro, fazendo com que os visitantes passassem por esta entrada, já que o entorno era protegido por uma enorme cerca a fim de evitar a fuga de animais e a entrada de visitantes indesejados. O pórtico tinha por base duas colunas de barro preto que davam sustentação para duas grandes árvores cujos troncos enroscavam-se nas colunas e se ramificavam formando um arco por cima das colunas. Destes ramos saíam flores de todas as cores que soltavam ao vento suas pétalas, como flocos de neve. O chão dava início a uma estrada de tijolos azulados e esta estrada era ladeada por todos os tipos de plantas, numa composição de causar inveja a qualquer paisagista terrestre.
Eles foram entrando um a um, lentamente como se o acesso através do pórtico exigisse deles um ritual de passagem. Olívia e Naitan, os únicos que nunca haviam estado em Campos Belos, ficaram por último e entraram juntos.
Após a passagem do pórtico, a impressão que tinham era de estar no maior e mais belo jardim botânico de todos os tempos, de todos os mundos. De quinze em quinze metros, havia um túnel de plantas e em cada túnel, um aroma diferente. No primeiro, o cheiro que as flores exalavam era de baunilha; no segundo, alfazema. Ao longe havia construções espalhadas que serviam de escolas, laboratórios, estufas e centros de pesquisa botânica e veterinária, pois Campos Belos era uma escola de estudos da flora e da fauna.
Olívia reparou na quantidade de pássaros que sobrevoavam o local e que enchiam o local com sons de gritos e de cantos. Além disso, ela viu no caminho alguns gansos, galinhas, cachorros e gatos e um filhote de raposa. O filhote se aproximou do grupo, e Olívia não resistiu em dar-lhe carinho, o que fez com que o animal seguisse com eles até perto de uma das pequenas vilas do local. Na vila, as casas eram distribuídas aleatoriamente em um grande terreno, cercado por muitas árvores. A estrada continuava e levava a outras vilas, outros prédios e outros redutos da natureza.
– Aquela é a casa do Mestre Ravenkar! – Disse Aurosa apontando para um chalé bastante simples.
Assim que se aproximaram da casa, um senhor tangen que passava por eles, disse:
– Ravenkar não está aí! Acho que desceu para a floresta por ali. – Disse ele, mostrando uma parte de floresta densa.
O grupo se dividiu, pois Aurosa e Noro precisavam procurar pela professora que os ajudaria na pesquisa. Os outros entraram por entre as árvores. Havia uma trilha que mostrava o caminho usual daqueles que entravam ali. O ambiente mudará completamente, pois, fora a trilha, não havia outro vestígio da intervenção de qualquer ser na organização das plantas. Eles estavam numa floresta que cresceu desordenada naturalmente.
A certa altura da trilha, eles viram alguém saindo da mata densa. Ele entrou na trilha, bem a frente do grupo e, sem os ver, ia começar a andar avançando na floresta.
– Mestre! – Gritou Renus.
Ele virou para o grupo e esboçou um grande sorriso ao reconhecer Renus; e Renus por sua vez, sorriu também. Ao lado dele, Lália e Turio; atrás deles, Olívia continuava junto de Naitan.
Foi então que Olívia viu pela primeira vez o Mestre da Natureza, o Mestre Ravenkar. Ele era um tangen de no máximo um metro e setenta, tinha setenta e dois anos, mas aparentava muito menos, por ter o corpo bastante musculoso – com músculos bem marcados. Era muito mais magro do que os outros tangens que Olívia conhecia. Os cabelos eram longos e quase todo grisalho, e neste dia estavam enrolados e presos em forma de coque no alto da cabeça.
Ele se aproximou do grupo, carregando um pato nos braços. Quando chegou bem perto, Olívia notou que ele estava completamente nu. Ela ficou bastante sem jeito e todos repararam. Ravenkar estava feliz em ver o grupo e disse:
– Sejam bem vindos!
Renus chegou para o lado, abrindo espaço para o Mestre ver a todos e ia começar as apresentações, mas Ravenkar se adiantou dizendo:
– Ouvi falar muito de vocês... A menina que sabe tudo de números...
– Lália! – falou Lália muito sorridente, pelo Mestre saber de sua existência.
– O que tudo vê e, se não vê, descobre... – Disse ele olhando para Turio, que respondeu apenas com aceno da cabeça.
– O rebelde romântico dos livros... – Falou se referindo à Naitan, que gostou da descrição e sorriu.
Então ele olhou bem nos olhos de Olívia, que se preparou curiosa para saber o que o Mestre diria dela. Diante da expectativa, Ravenkar mudou a expressão de simpatia pelos outros e fechou a cara sombriamente para dizer apenas:
– E a humana!
Ele virou de costas para Olívia e Naitan e dirigindo-se à Renus disse:
– Vamos lá para casa. Quero saber melhor o motivo desta visita.
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