A queda da professora
A queda da professora
Caminhando rumo a sua casa, com estes pensamentos sobre afetividade, ela sentiu uma tontura momentânea. Apressou o passo para chegar em casa, pois a tontura vinha da fome. Além disso, a cidade estava com um clima quente desde que ela chegou, e o calor e o peso do material a estavam cansando. Tirou a echarpe do pescoço e secou o suor da testa, percebendo que não conseguiria chegar em casa. Precisou parar e, já sem enxergar muito bem, apoiou o corpo em uma árvore e escorregou devagar. Não chegou a desmaiar, porém soltou a bolsa por fraqueza e a viu arrebentar no chão espalhando todos os livros, ao mesmo tempo em que uma brisa fria soprou em sua nuca, revigorando seus sentidos. No chão, em meio aos livros, começou a melhorar da tontura. Neste momento, ela viu surgir aqueles dois pés enormes e ouviu uma voz feminina, que não condizia com eles:
– Não é a nova professora humana?
O Conselheiro Renus, acompanhado por uma tangen, estava parado diante dela. Ele emitiu um som sem abrir a boca, confirmando a constatação da companheira.
– O que foi que aconteceu? – Ela perguntou para Olívia, que permanecia sentada no chão.
– Eu fiquei fraca, tonta e perdi os sentidos. – Respondeu Olívia
– É este calor horrível que está fazendo... – Justificou a estranha.
Olívia não quis entrar em detalhes sobre estar com fome, com peso demasiado e com raiva dos alunos. O calor era o menor dos problemas. Simplesmente concordou. O Conselheiro então falou:
– Quem estava aqui com você?
Olívia não entendeu a pergunta. A sua acompanhante explicou:
– Nós estávamos do outro lado da rua, ouvimos o barulho dos livros caindo e alguém saindo muito rapidamente do seu lado. Era algum aluno?
– Não. Não havia ninguém comigo. Eu caminhava sozinha, senti tontura, apoiei o corpo nesta árvore... – Ao falar isto, os três olharam para o lado e não viram árvore alguma.
– Tinha uma árvore aqui! – Disse Olívia com toda a certeza.
– Não era uma árvore, querida! Você deve ter apoiado em alguém que passava. – Disse ela confortando Olívia, enquanto virava para Renus para dizer: – Estranho foi ele não prestar socorro... Bem, pelo menos não a deixou cair direto no chão.
O Conselheiro havia se abaixado e começava a recolher os livros. Sua companheira fez a mesma coisa. Ele pegou a echarpe de Olívia para embrulhar os livros, já que a bolsa havia rasgado, e, demonstrando bastante destreza, com dois nós ele improvisou um saco para os livros.
– Você estava indo para a escola? – Perguntou a tangen.
Olívia lembrou de tudo o que estava acontecendo, porém ficou muito constrangida de contar que estava fazendo o caminho contrário, fugindo de suas obrigações, então confirmou positivamente a pergunta.
– Renus está indo para aquele lado também e te acompanha. Eu irei para o outro lado. – Ela não deu muita opção para nenhum dos dois dizer que preferiam seguir sozinhos e voltou a atravessar a rua. Olívia nem chegou a ver direito o seu rosto, mas pareceu alguém bastante delicada para andar com aquele tangen desagradável. A caminho da escola, ele falou:
– Você entrou no Templo, não é mesmo? – Ele disse isto com uma certeza estranha.
– Não, senhor! De verdade!
O Conselheiro não era velho, porém ela costumava usar o tratamento mais formal com pessoas de quem sentia ser melhor manter distância.
– Com quase certeza, aquela "árvore" era um anjo. Minha amiga não reparou, mas eu tenho quase certeza... Pela rapidez com que sumiu, provavelmente quando nos viu do outro lado da rua.
– Eu não consegui ver no que me apoiava... Parecia uma árvore... Só retomei os sentidos quando senti um frio no pescoço...
Ele deu uma rosnada curta, algo entre um "ah, eu sabia!" e uma reprovação que Olívia não entendeu a quê.
– O senhor acha que eu corri algum perigo?
– Besteira! – Disse ele, fazendo Olívia lembrar o que Mirus havia falado sobre a falta de delicadeza de quem vinha de Deserto Plano. – Se você melhorou com um sopro gelado de anjo no pescoço, acha que ele queria o seu mal?
– Eu não sei nada sobre anjos! – Ela tentou explicar e recebeu como conselho ou ordem:
– Sobre o que não se sabe, não se deve falar! E enquanto você não souber sobre os anjos, fique longe deles.
Realmente, Olívia havia feito uma pergunta idiota. Ficou quieta a partir dali. Ao chegarem perto da escola, ele falou:
– Coma algo antes de entrar na aula! Isto se você não quiser fugir novamente... Eu tinha certeza que você desistiria em um mês... Mas parece que vai ser antes...
Olívia entendeu que apesar da brutalidade, o Conselheiro Renus era inteligente e bom observador. Porém, ele não sabia que ela era teimosa e bastava provocá-la com uma certeza maldosa, como ele acabara de fazer, para ela fazer o contrário. Ela chegou na sala de aula quase meia hora atrasada, estimulada a nunca mais desistir.
Os alunos estavam todos sentados e falando muito – já estranhavam o atraso. Quando ela chegou, eles voltaram ao silêncio da manhã. Ela entrou completamente desarrumada, descabelada, pálida e como se não bastasse, jogou a trouxa de livros na mesa, com o propósito de mostrar a todos que tivera problemas e não estava de bom humor. Antes que ela falasse qualquer coisa, Naitan falou:
– Nós gostaríamos de pedir desculpas por nosso comportamento pela manhã...
Eles haviam conversado e perceberam o quanto foram ingratos, rudes etc. Queriam participar do Programa e compreenderam que não haveria melhor professora humana do que ela. E a partir dali, formariam a equipe, que seria a melhor.
Olívia fez um esforço enorme para conter as lágrimas. Todos eles ali eram alunos muito inteligentes, porém não tinham entendido muito bem o que significava este trabalho para ela. Foi somente depois da reação afetuosa deles, que ela conseguiu se abrir e falar que não estava sendo fácil para ela conhecer todo um mundo novo e já começar com tamanha responsabilidade de formar aquela turma.
– Alguns tangens assumem responsabilidades muito cedo, Liv! – Disse Noro. – Talvez o conselho tenha pensado que seria fácil pra você também.
– Mas é bem diferente de, por exemplo, algum tangen aceitar ir para o Mundo dos Anjos dar aulas pra eles... – Criticou Naitan. – Eu não iria... E aposto que Olívia nem sabia direito o que encontraria aqui.
– Se fosse para ir ao Mundo dos Anjos, eu não aceitaria nunca! – Gritou Aurosa horrorizada com a ideia.
– Felizmente, eu soube que as vagas de professores por lá já foram preenchidas há alguns milênios... – Falou Turio, de um canto da sala, sem olhar para os colegas.
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