A primeira missão

No outro dia, o assunto da bebedeira de Noro foi esquecido, pois Mirus chegou com uma novidade: um pedido especial do Conselho à Olívia. Ainda estava cedo da manhã e o sítio neste horário parecia muito mais agradável: as flores exalavam mais perfumes, os pássaros pareciam mais afinados, a brisa da manhã esquentava quem estava com frio e resfriava quem estava com calor. Enquanto os dois caminhavam sozinhos pelo sítio, ele explicou:

– Você sabe que alguns tangens estiveram aqui na Terra... E você sabe que eles fizeram algumas besteiras... Bem, um deles trouxe equipamentos: ferramentas para trabalhar colhendo coisas em uma floresta. Quando voltou, ele deu por falta de uma delas. Voltou para pegar, mas a ferramenta não estava mais onde havia deixado. Ele registrou o fato e não tinha mais o que fazer. Isto já faz alguns anos. Nesta semana, chegou até nós a informação de que o objeto está em exposição em um antiquário em um lugar chamado Londres. Um dos nossos agentes foi até lá e tentou comprar a ferramenta, porém o dono do antiquário foi irredutível e não quis negociar. O agente ainda contou que um dos motivos era justamente o homem não saber do que se tratava e, por não ter identificado de que material era feito e nem para quê servia, não queria vender. Ele disse que não saberia colocar um preço no objeto.

– Vocês querem que eu vá lá e tente negociar? Acham que terei mais sorte? – Perguntou Olívia.

– Exatamente. – Disse Mirus.

– E por que não roubam? – Perguntou Olívia, buscando um jeito bem mais prático de resolver o problema.

– Não. Não! Isto nós não fazemos! – Disse Mirus querendo parecer o mais correto dos tangens. – Só em último caso... – completou ainda: – Este objeto já foi visto e fotografado também. A imagem já está circulando no meio de alguns humanos, para ver se alguém consegue identificar... Foi assim que nós ficamos sabendo que ele estava lá... Bisbilhotando a internet da Terra.

– Compreendo! – Disse Olívia. – Eu posso tentar... Poderia inventar que sei do que se trata e que é um objeto de pouco valor... que era do meu pai, por exemplo...

– O que é mais importante você saber é que não é só o formato e a utilidade dele que intrigou os poucos que estiveram com o objeto na mão, mas o material. Ele é feito de um metal que vocês não tem aqui...

– Sei... E onde está? – Perguntou ela.

– Numa rua chamada Portobello... – Nem precisou completar, para ela sair pulando e gritando:

– Portobello Road! Eu não acredito... Eu vou para Portobello Road!

Mirus ficou alegre junto, sem nem saber o porquê. Mas só de ver Olívia feliz, ficou também.

– Bem, Mirus. Eu preciso pensar em um plano rápido para que menos pessoas peguem este objeto. Você poderia me passar todas as informações...

Turio recebeu várias imagens e todas as informações que Mirus conseguiu. Sentados na varanda, Olívia e Turio pensavam no plano, enquanto viam Naitan ensinando Lália e Aurosa a subir no cavalo e dar uma volta. Noro, que ainda estava envergonhado pela bebedeira do dia anterior, preferiu ficar dentro de casa.

– Você sabe andar a cavalo, Liv? – Perguntou Turio.

– Sei! – disse ela. – Não muito bem, mas sei.

Ela nem precisava devolver a pergunta, pois Turio aparentava em todas as atitudes que aquela vida rural não condizia com ele e que talvez nem houvesse chegado perto de um cavalo a sua vida inteira.

– Em outra hora, eu te ensino! – Disse ela. – Agora temos que pensar nisto aqui... – falou apontando para a imagem da ferramenta que estava na tela de um notebook, – para irmos para Portobello Road! – Vibrou ela.

Noro abriu a porta e foi juntar-se aos dois. Olívia acabara de ter uma ideia e a chegada de Noro foi essencial para que ela soubesse sobre o material que era feito a ferramenta.

Menos de uma hora depois, eles estavam com o plano quase todo pensado.

A ferramenta parecia um pincel de rolo. O cabo era retangular e o rolo cilíndrico com inscrições de várias formas geométricas sem sentido para os humanos, mas que para os tangens eram bem conhecidas, pois representavam alguns elementos químicos. O objeto todo era menor do que um livro de bolso. Era leve e de um material de cor cobre. O cabo era preto e coberto com um material mais leve, parecendo uma madeira muito fina. Ele era uma espécie de escâner para leitura de solo, pedras etc. Noro conhecia bem, pois usava bastante em suas pesquisas. No momento em que alguém pegava o seu cabo, o rolo era conectado ao comunicador de quem o segurava; ao passar o rolo no solo, ele fazia toda a leitura, de todos os componentes e substâncias do solo, minerais, vegetais e tudo mais que encontrasse; dava detalhes e transcrevia para o comunicador em que havia sido conectado. Os humanos ainda não haviam aberto o cabo, pois ele era hermeticamente fechado e parecia uma peça só, porém dentro dele estava todo o mecanismo do aparelho.

– Vai ser preciso uma cópia dele em um material que exista na Terra! – falaram os três quase ao mesmo tempo, depois de já terem pensado melhor no plano.

Quando Mirus chegou, na outra manhã, com a cópia do aparelho, ele repetiu várias vezes: "é um bom plano! Vai dar certo! E não será roubo!". Os outros tinham esperança, mas não certeza de que daria certo. No dia anterior, Olívia havia exposto o plano para todos e explicado o que cada um deveria fazer. Ela não iria sozinha. Iriam com ela: Turio, Lália e Noro, sendo todos transportados por Mirus, que se manteria distante do antiquário. Aurosa e Naitan ficariam no sítio. Os dois demonstraram-se contrariados por ficarem fora de uma missão, ainda mais vendo a felicidade nos olhos de Olívia quando falava eufórica que iria para Portobello Road. Aurosa não demorou a se conformar, principalmente por não gostar muito de antiquários. Porém, Naitan estudava história e chegou até a argumentar que poderia ser útil para as pesquisas dele. Mas Olívia já havia decidido: não o queria por perto, já que desde o episódio na delegacia, ele parecia querer distância dela – ao ponto de Olívia tentar agradecer pela ajuda e ele ter sido rude com ela. Naitan parecia acusar a professora de despreparo, pois teve que lidar com um policial e, segundo ele, muito provavelmente ela teria sido detida junto com Noro e talvez posto tudo a perder. Ele a culpou, mais do que a Noro.

– Você acha que é uma boa ideia deixá-los sozinhos? – Disse Turio para ela, quando teve oportunidade.

– Que curtam o dia! – Respondeu Olívia, nitidamente magoada.

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