Capítulo Final
Um mês havia se passado; as marcas do inverno ficaram para trás. A fortaleza em que Noran comandara estava sem mestre, desde a sua partida, o que não duraria para sempre.
– Mestre! Estou feliz com a sua volta! – disse Fernon, ajoelhando-se.
– Estás? – indagou Arávner, num tom ameaçador.
Ele era um homem imponente, de ombros largos e altura incomum. Vestia-se como um rei ou até melhor; tinha a majestade no olhar. Seus cabelos eram perfeitamente brancos e desciam pelas laterais do rosto, em anéis. Sua face pálida, sem rugas, e seu corpo vigoroso não expressavam o que indicavam seus cabelos.
Fernon percebeu o que estava acontecendo, tremeu e disse, ofegante:
– Não, mestre. Na verdade, estou com medo, muito medo. Temo por minha vida. Ainda assim, fiquei, para cumprir meu destino. Minha vida é sua.
Enquanto Fernon falava, seu mestre o observava, lamentando a falta de cuidado e higiene que seu servo tinha com o próprio corpo. Disse:
– Assim é melhor. Eu sinto o seu medo. Controle-se e fique de pé.
Fernon obedeceu, limpando as gotas de suor que lhe escorriam pelo rosto.
– Vejo que Noran nos deixou. – constatou Arávner.
– Sim...
Foram interrompidos pelos gritos insanos de Kurzeki.
– Mestre! Mestre, você voltou! – gritou, eufórico. Ele pulava, levantando o manto com as mãos, deixando à mostra as pernas cheias de feridas e os pés descalços e imundos. Seus olhos giravam, num ritmo frenético.
– Kurzeki, aberração ambulante, retire-se! Pare com essa gritaria e saia! – comandou Arávner.
O servo louco parou e obedeceu.
– Sei que tu gostas de ser repreendido. Considera isso minhas boas-vindas.
– Obrigado, mestre, obrigado por brigar comigo.
Com a saída de Kurzeki, Fernon indagou:
– O senhor realmente precisa dessa coisa?
– Ele é inútil, mas, às vezes, me diverte. Tu és igualmente inútil e não me distrais... Que tal me dares uma boa razão para a continuidade da tua existência?
– Por favor, mestre, deixe-me vingar a traição de Noran.
– Como?
– Ele foi visto, juntamente com Kyle Blackwing, Kiorina, aquela silfa e outros mais, próximo de Lacoresh. Imagino que tenham tomado um navio para fugir. Deixe-me persegui-los e trazer-lhe suas cabeças.
– Acho que não. Sabe, Fernon, meu humor está muito bom, excelente! Na viagem, vislumbrei um tremendo futuro. Tenho que preparar uma reunião dos Sete para o mais breve possível.
– O senhor esteve no império Keldor?
– Sim e em outros lugares.
– São verdadeiros os rumores sobre sua expansão?
– Por que converso contigo, Fernon?
– Eu sou seu servo, faça comigo o que desejar.
– Claro, claro...
– E então, mestre?
– O quê?
– Conceda-me a chance de ir em busca de Noran e seus comparsas, por favor.
– Por quê?
– Eles são perigosos, eu sei! No meio deles, havia um silfo poderosíssimo, responsável pela perda da mina número um.
Arávner buscou a imagem do silfo na mente de Fernon.
– Hmm, esse eu não conhecia. Quem será?
– Eles o chamam Alunil. Ele é muito poderoso.
– Interessante. Fernon, eu não ligo a mínima. Já previ tudo. A atuação de Noran e seu bando é insignificante diante do inevitável. Eles não têm importância alguma, assim como tu. O grande plano não os inclui. Por isso, a existência de todos vós é inútil. O inevitável acontecerá, independentemente de qualquer um.
– Pois bem, mestre. Conceda-me uma recompensa por minha lealdade e submissão. Deixe que eu vá, os localize e nos vingue.
– Certo. Imagino que vais formar um grupo. Pede minha aprovação para as pessoas que quiseres levar. Quero ter certeza de que são inúteis como tu.
– Obrigado, mestre, obrigado! Tenho certeza que o senhor não vai se arrepender.
– Eu também tenho. Não costumo me arrepender de nada!
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Este livro continua em Maré Vermelha e conclui em O Oráculo Esquecido. Veja o link para o próximo livro nos comentários.
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