Capítulo 68
CAPÍTULO 68
– Será que foi uma atitude prudente parar exatamente em frente à taverna do nosso contato? – indagou Kyle.
– Penso que foi o melhor, assim não saímos andando por aí, chamando a atenção de todos. – explicou Archibald.
Eles se sentaram separadamente, em mesas próximas. Era quase hora do almoço, o que deixava a taverna cheia. Kyle e Archibald sentaram-se numa mesa perto do balcão e pediram bebidas, segundo a orientação do imediato: duas taças de vinho da região montanhosa de Fannel e uma jarra de água, para acompanhar o prato do dia.
Enquanto isso, Gorum, Noran e Mishtra sentaram-se numa mesa mais afastada, pediram suas refeições e tentaram não chamar a atenção.
Saiu de trás do balcão um homem de meia idade, muito branco, com cabelos castanhos curtos e espetados e a barba mal cuidada. Trazia uma garrafa de vinho na mão esquerda e copos empilhados na direita. Tinha uma ar superior, o que ficava evidente na sua maneira de andar. Colocou-os sobre a mesa de Kyle e Archibald e serviu o vinho. Archibald agradeceu:
– Obrigado pelo vinho, que seja bom para saúde e para o reino.
Ouvindo isso, o homem sentou-se num lugar vago e disse, discretamente:
– Bem-vindos à nossa taverna. Meu nome é Klereon Nasbit.
O almoço começou a ser servido; muitos marinheiros faziam suas refeições e conversavam alto. Assim, a conversa do grupo não poderia ser ouvida, perdendo-se entre vozes e ruídos de talheres.
– Podem chamar-me Nasbit. – estendeu a mão e cumprimentou Kyle. – É um prazer recebê-lo, Blackwing.
– Como sabe quem sou?
– Sua fama o precede. Você também, prezado Archibald.
Nasbit tinha um jeito calmo e sincero, mas um sotaque estranho. Seu comportamento não inspirava confiança em Archibald.
– Sabe também quem eu sou? Não me fale de fama, pois é algo que não tenho. – disse Archibald, surpreso e desconfiado.
– Acalmem-se. Digamos que temos um amigo em comum, que os identificou.
– Quem? – quis saber Kyle.
– Kandel. Ele está conosco.
– Então, é verdade, a rebelião existe. – constatou Kyle.
– Não repita essa palavra, não podemos abusar da sorte, certo?
– Nasbit... – disse Archibald para si mesmo, pensativo.
– Pois não?
– Nada, só estava pensando em seu nome. Lembrei! É o mesmo nome do governador do reino vizinho, Homenase, Lorde Nasbit.
– Bem lembrado. Infelizmente, não temos boas notícias de Homenase. Fui deposto por meu irmão, Alnair, que compactua com os objetivos do rei Maurícius. – disse Nasbit, encarando Archibald.
– Então a influência dos necromantes já chegou a outros reinos? – disse Kyle, surpreso.
– Cuidado, Kyle, está aí outra palavra que devemos evitar usar. Bom, prossigamos. O que os trouxe aqui e quem são os outros dois que acompanham o cavaleiro Gorum?
– Viemos salvar uma amiga nossa, Kiorina De Lars, capturada ontem pela manhã em Kamanesh; segundo informações, ela está prestes a chegar na cidade, pela estrada norte. Quanto aos outros dois, são Noran, de Tisamir, e Mishtra, de Shind. – disse Archibald.
– Vocês vieram atrás de ajuda, estou certo?
– Sim, mas é possível que haja uma armadilha. – respondeu Kyle.
– É muito arriscado. Temo que talvez não possamos ajudá-los.
"Kyle." – a voz de Noran surgiu em sua mente. "Conte para ele sobre Modevarsh e nossa missão."
Kyle percebeu que Noran estava acompanhando toda a conversa e resmungou, olhando para o lado:
– Não sei por que isso seria importante.
– O que seria importante? – estranhou Nasbit.
– Estamos numa importante missão, conferida pelo silfo Modevarsh.
– Silfo Modevarsh? Duas vezes, na mesma semana?
– Como assim?
– Acredito que Kandel poderá esclarecer isso. Enquanto preparo nosso encontro, aproveitem o almoço. – finalizou Nasbit, retirando-se da mesa.
Mais tarde, depois do almoço, que não foi dos piores, subiram ao segundo andar da taverna, onde Kandel os esperava. Kyle, Archibald e Gorum surpreenderam-se ao vê-lo. Kandel era forte, esbelto e tinha longos cabelos louros. À frente deles, no entanto, estava um homem magro, quase careca, com profundas olheiras e uma cicatriz vertical que atravessava a testa por cima do olho esquerdo, até a metade da bochecha. Entraram numa sala grande, com um tapete keldoriano cobrindo o chão e uma mesa de madeira vermelha e lustrosa com lugar para oito pessoas.
– Bem-vindos. – disse Kandel e sua voz continuava a mesma. – Sentem-se, Nasbit contou-me o que está havendo, mas precisou sair para resolver outros assuntos.
– Olá, Kandel, parece que a guerra foi difícil para você também. – disse Gorum.
– Até que não. O pior foi ser preso depois dela e torturado nas masmorras do antigo castelo real. – disse Kandel, sorrindo, algo espantoso.
– Antigo castelo real? – indagou Kyle.
– Até ser resgatado, há poucos dias, eu também não sabia, mas, ao que parece, o rei Maurícius está construindo um novo castelo, bem estranho, pelo que dizem.
Mishtra percebeu que Noran estava emocionalmente abalado. Uma conversa, paralela a de Kandel e dos outros, começou apenas entre suas mentes. "O que houve, Noran?"
"É terrível, Mishtra, o sofrimento que causei é terrível!"
"Você se encontrou com Kandel?"
"Sim. Ele foi preso e torturado, após eu ler em sua mente que sabia sobre os necromantes e pretendia tentar impedi-los." – confessou, penosamente.
"Ele sabe quem você é?"
"Não. Se já me viu, estava usando uma daquelas máscaras."
Enquanto isso, Kandel dizia:
– Eu sei que vocês precisam socorrer sua amiga, Nasbit até concordou em ceder alguma ajuda, mas precisam entender que não podemos arriscar nossa causa por uma pessoa.
– Você acabou de dizer que foi resgatado. Como se deu isso? – inquiriu Archibald.
– Fui resgatado, mas não pelos rebeldes. Fui salvo por jovens guerreiros, enviados por Modevarsh. Eles precisavam deixar Lacoresh e foram contatados por Nasbit. Um informante nosso sabia a respeito de uma transferência de prisioneiros. Nasbit ofereceu-lhes passagem para Dacs, em troca da liberdade desses prisioneiros.
– Entendo. Então não foram pessoas da rebelião que arriscaram o pescoço nem foi por causa de uma única pessoa. – disse Archibald.
– Eu sei que é um pouco frio, mas basicamente a idéia é essa. Não estamos em condição de assumir grandes riscos, pois, só pelo fato de existirmos como oposição aos necromantes, nossas vidas correm perigo e é menor qualquer esperança de trazer a antiga ordem de volta.
– Muito bem, Kandel, então, como podem nos ajudar?
– Sei que estão praticamente desarmados. Num de nossos depósitos, há um grande arsenal, com armas e armaduras. Além disso, temos alguns homens que sentem que podem lutar, independentemente dos riscos, apenas pela chance de enfrentar os necromantes.
– Acho que isso será o suficiente. Quem são esses homens?
– Um deles sou eu; quanto aos outros, ainda não sei.
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