Capítulo 52
CAPÍTULO 52
O vento frio assobiava, e os galhos árvores rangiam, com ira. Era o período mais frio do dia: o fim da madrugada. Já havia, no firmamento, sinais de mais um dia se aproximando. O céu, de um azul escuro, transformava-se em cinza azulado, evidenciando os galhos secos das árvores, aparentemente negros, devido ao efeito da luz de fundo, em tramas infinitas. Aos poucos, as últimas estrelas se iam. Havia neve por toda parte. O descanso que tiveram no chalé do Sr. Alunil parecia um sonho distante.
– Como será que Vekkardi se saiu? – disse Gorum para seus companheiros.
Radishi respirava com a boca entreaberta, exalando uma grossa névoa, que era carregada e desfeita pelo vento. Olhou para cima e encarou Gorum, com um olhar de cansaço. Finalmente disse:
– Espero que esteja bem.
Gorum observou os olhos de Radishi, tomados por inúmeros filamentos vermelhos, como rachaduras. Pensou se os seus também estariam assim. Virou-se para o lado e viu que Archibald parecia não ligar para o que falavam, pois continuava olhando para o céu fixamente, o que não lhe trazia preocupação; na realidade, estava habituado aos longos períodos de ausência do garoto. Radishi olhou para baixo, como que para seu próprio interior, e declarou:
– O Sr. Alunil está chegando.
– É... eu já sabia. – respondeu Archibald.
– Como? – quis saber Gorum.
– Ali. – Archibald indicou com um gesto.
Gorum e Radishi olharam e avistaram um ponto distante que se movia na neve. Pouco depois, reencontravam o misterioso silfo, após tantos meses. Ele vestia um grosso casaco felpudo, com capuz, feito com a lã dos cabritos das montanhas. Sua face estava rosada, mas tinha uma expressão grave; parecia trazer más notícias. Seu olhar anunciava a morte.
– O que há com o senhor? – indagou Radishi, preocupado, após um calafrio.
– Não se preocupe, rapaz, o que você sente em mim é apenas o reflexo de minha preparação para o que está por vir. – respondeu Alunil, solenemente.
Gorum não se arrepiou, mas percebeu claramente o que se passava. O olhar de Alunil era o mesmo que tantas vezes havia visto nos campos de batalha.
– Foi difícil para mim essa preparação. Não acreditava que teria de passar por isso na minha idade...
Sua fala provocou estranhamento nos três, pois Alunil aparentava ter algo em torno de trinta anos. Gorum, resgatando um pouco do seu senso de humor, comentou:
– E eu acreditando ser o velho aqui...
– Talvez depois eu explique. – respondeu Alunil.
– Segundo suas instruções, Vekkardi foi ao encontro de Noran. – reportou Radishi.
– Ótimo, chegou então nossa vez de agir.
– Certo, mas antes precisamos elaborar um plano para entrar nas minas. – propôs Gorum.
– Isso não será necessário. – disse Alunil e apontou para o chão, logo à frente deles, coberto de neve, que começou a se mover, afundando lentamente, até que um buraco foi revelado.
Ficaram os três a observar a neve se afunilando para dentro da montanha, enquanto o buraco crescia sem parar. Após alguns momentos, já era grande o bastante para uma pessoa entrar. Foi então que perceberam o que estava acontecendo: as rochas estavam se movendo e, a cada instante, o buraco ficava mais fundo diante de seus olhos.
Archibald percebeu que, se se tratava de um comando mágico por parte do Sr. Alunil, uma quantidade enorme de energia estava sendo utilizada. A surpresa foi maior quando viu o que realmente estava acontecendo: não era uma passagem que se abria para algum túnel que existia previamente no local; na realidade, se formava ali, diante de seus olhos, um túnel que nunca existira, cuja profundidade aumentava a cada momento. Nesse movimento, as rochas pareciam fazer música, sons que jamais havia escutado.
– Pronto! Esse túnel irá nos conduzir até as minas. – disse Alunil, sem demonstrar sinais de fadiga.
Entraram no túnel e desceram cautelosamente, surpresos com o seu comprimento. Escutaram sons ao longe. Dentro do túnel estava escuro, mas não ousaram acender fogo, apesar de Alunil dizer que, como ele fora recém-cavado, não haveria perigo. Logo puderam ver uma luz.
O caminho terminava acima de uma câmara de uma das minas, maior que a altura de dez homens. Observaram o trabalho que era feito: dezenas de homens e alguns anões carregavam sacos de pedras, despejando-as em pequenos vagões que ficavam sobre trilhos de metal, que, quando cheios, eram puxados com cordas por homens amarrados a eles.
Havia tochas no local, mas a iluminação mal chegava próximo de onde estavam. Alguns capatazes, ao lado de horríveis estátuas de pedra que ficavam imóveis, forçavam os escravos a trabalhar.
– Vejam, são poucos guardas, podemos dominá-los facilmente. – sussurrou Gorum.
– É verdade, são poucos guardas; o maior problema, porém, são os gárgulas. – disse Alunil.
– Gárgulas? – perguntou Radishi.
– Sim, observe. Aquelas estátuas são animadas magicamente e cada uma delas é um oponente magnífico. – disse Alunil, indicando as estátuas de pedra com forma de homens grotescos, dotadas de chifres e diversos apêndices.
– O que faremos? Como podemos descer até lá? – indagou Archibald.
– Além dessa câmara, está a forja onde os líderes dos anões trabalham. Precisamos chegar até lá e libertá-los, pois assim terão condição de nos auxiliar.
– Como o senhor sabe disso? Já esteve aqui antes? – perguntou Radishi.
– Não. É a primeira vez que venho. No entanto, tenho outros meios de me informar, como vocês sabem... – tirou seu grosso casaco e o pôs no chão. – Precisamos descobrir quem comanda os gárgulas e neutralizá-lo.
– Como vamos fazer isso? – insistiu Archibald.
– Se dispuséssemos de mais tempo, poderíamos elaborar um plano melhor. Se Vekkardi falhou em sua missão, os necromantes podem já saber de nossa existência. Demorar muito pode fazer com que percamos a vantagem da surpresa.
– Então, por que o senhor pediu que ele fosse na frente?
– Porque confio em sua capacidade e, também, porque precisaremos do auxílio de Noran para traçar uma rota de fuga, assim que terminarmos nosso serviço aqui.
– E qual é o plano? – quis saber Archibald, ansioso.
– Eu vou lá embaixo e chamo a atenção dos guardas. Enquanto isso, meus amigos ajudam vocês a descer. Seguiremos então para a forja, correto?
– Que amigos? – perguntou Gorum.
– Confiem em mim. – disse Alunil, sorrindo. Em seguida, tomou impulso e saltou, fechando seu corpo com os braços em volta dos joelhos.
– Por Forlon! Enlouqueceu! – sussurrou Archibald, sentindo a barriga gelar.
Alunil deu um triplo mortal, antes colidir com os pés contra o chão. Um grande estrondo ecoou pela mina, assustando todos que estavam ali, inclusive Archibald, Radishi e Gorum. Ao redor dos pés de Alunil, produziu-se uma rachadura no solo, em forma de raiz, em todas as direções. No centro, o silfo parecia estar agachado, com as pernas enterradas. Todos o imaginaram morto e ficaram boquiabertos ao ver que ele se levantou lentamente. Notaram que algo muito estranho havia acontecido com sua pele: estava escura, com pequenos pontos brilhantes. Seu corpo se transformara em pedra!
Enquanto todos olhavam atônitos a figura de Alunil se erguer, Archibald, Gorum e Radishi sentiram a rocha sobre seus pés se mover. Quando perceberam, estavam sobre uma espécie de plataforma, que se movia para baixo, grudada às paredes da mina, que se remodelavam a cada instante, para levá-los até o chão. Enquanto isso, Alunil se preparava para o confronto com dois gárgulas que vinham em sua direção. Lutava com a mesma técnica usada por seu discípulo, Vekkardi, mas parecia ter um domínio infinitamente superior dos movimentos. Investiu com um violento golpe contra o abdome de pedra da criatura, trincando-o e provocando rachaduras que subiram até seu tórax. Ela era mais forte que o imaginado e revidou com um soco. Alunil se esquivou e investiu novamente contra o gárgula, acertando-o por duas vezes, o que aumentou as rachaduras. A seqüência de golpes foi interrompida, o silfo foi atingido e projetado violentamente para trás, colidindo contra a parede.
Archibald, Gorum e Radishi já estavam no chão e corriam para ajudar o Sr. Alunil. Junto com eles, ondas de rochas subiram. O gárgula que atingiu Alunil, ao tentar andar, terminou de rachar seu abdome, desmanchando-se. Outro gárgula avançou contra ele, que, tonto, não conseguia se levantar, mas foi impedido por mãos rochosas que saíram do chão, agarrando suas pernas. Ao mesmo tempo, do chão à frente e na retaguarda da criatura, projetaram-se duas mãos feitas de pedra, com os punhos cerrados, que a esmagaram.
Os amigos de quem o Sr. Alunil falara eram, na realidade, criaturas do elemento terra, conhecidos como elementais da terra. Quatro deles envolveram o gárgula e, com incrível força, o despedaçaram. Alunil conseguiu levantar-se e se dirigiu aos companheiros, dizendo:
– Depressa, não temos muito tempo! Meus amigos são fortes, mas não posso mais mantê-los por perto, pelo menos não sem oferecer risco aos mineiros e a nós mesmos...
Enquanto dizia isso, os capatazes, os mineiros, Gorum, Radishi e Archibald olharam para ele e duvidaram do que viam: estava ali, diante de todos, um homem de rocha polida e brilhante, a andar e a falar. Os capatazes, assustados, correram para outras câmaras.
– É o cavaleiro Gorum! Ele veio nos libertar! – disse um dos mineiros.
– É verdade, mas precisaremos do apoio de todos! – respondeu Gorum, aproveitando a oportunidade.
Havia algumas dezenas de mineiros ali, muitos dos quais lutaram na guerra. As palavras de Gorum foram bem aceitas, principalmente por esses, que viam nelas um sinal de esperança.
– Ótimo, fique aqui e convença-os a nos ajudar, enquanto eu e os outros vamos para a forja. – disse Alunil a Gorum.
Logo, os anões se manifestaram: era a oportunidade por que esperavam há tanto tempo. Um deles, com longas barbas ruivas, falou em nome de todos:
– Lutaremos com vocês!
Enquanto isso, Radishi se informou com um dos prisioneiros sobre a localização da forja e indicou o caminho. Avançaram para outra câmara, acompanhados das quatro criaturas de pedra, que se moviam como extensões do solo, fazendo barulho de cascalho rolando. Enquanto corriam, Alunil alertou:
– Precisamos ser cautelosos, pois, certamente, quando chegarmos na forja, estarão nos esperando!
Sentindo a batalha que se aproximava, Archibald decidiu preparar-se. Segurou o poderoso cristal que havia obtido na batalha de Grey, meses atrás. Apesar de, na ocasião, ter praticamente esgotado sua energia, ao longo do tempo ela foi recuperada. Evocou a bênção dos deuses, pois, mesmo estando com a fé abalada, não havia perdido a confiança neles; perdera o laço com a Real Santa Igreja e com a ordem dos monges Naomir, mas sabia que os favores divinos não eram exclusividade do clero, especialmente de um clero corrompido. Com isso, experimentava, pela segunda vez, a sensação de força e agilidade muito superiores às suas. Ficou à vontade para empunhar o grande martelo de guerra que usara na batalha de Grey. Retirou-o das costas, segurando-o com ambas as mãos.
Encontraram o que esperavam: uma extensa escadaria de pedra, com cerca de trezentos degraus, que levava até a forja. Acompanhando-a, uma ladeira com trilhos, pelos quais vagões podiam subir e descer. Viram que seis enormes e terríveis gárgulas desciam, seguidos por cerca de uma dezena dos guardas da mina.
Alunil, percebendo a força superior de seus inimigos, emitiu alguns sons incompreensíveis, dirigidos a seus amigos elementais. Sob seu comando, dois deles afundaram no chão e, após poucos momentos, romperam o solo da escadaria atrás dos gárgulas, surpreendendo os guardas. A escadaria rompeu-se violentamente, arremessando dois guardas que passavam no local, os quais rolaram escada abaixo, ficando feridos e fora de combate.
Archibald, vendo aquilo, pisou nos primeiros degraus da escadaria, mas seu avanço foi detido por Alunil, que disse alto:
– Archibald, não suba! Vamos aguardar as criaturas aqui embaixo. Lutar nas escadas seria assumir riscos desnecessários. Paciência!
Archibald procurou controlar sua ansiedade e aguardar as criaturas, observando sua forma grotesca e seu avanço rápido. Enquanto isso, os dois elementais que estavam no meio da escadaria derrubaram guardas, um atrás do outro, sem grandes problemas. Alunil deu novo comando vocal aos dois elementais restantes, que se misturaram ao solo, como os outros haviam feito. Os gárgulas já estavam a poucos degraus de Archibald e Alunil, quando mãos feitas por pedaços de pedra da escadaria se formaram abaixo dos primeiros deles, agarrando os pés de duas das criaturas, que desciam velozmente, e fazendo-as cair, pesadamente. Uma delas rolou e atingiu uma rocha pontuda no chão, ao lado de Archibald, produzindo um ruído de pedra que se estilhaça. Pedaços desse gárgula se espalharam sobre o chão. Outro teve o reflexo de apoiar-se com as mãos, o que trincou seus braços, fazendo-o rolar até próximo a Alunil.
Quatro outros monstros de pedra vinham logo atrás e se confrontaram com os dois elementais que ainda estavam expostos, um perto de Archibald, outro, de Alunil, que se precipitou sobre o gárgula caído, golpeando seu dorso e terminando o trabalho que a queda iniciara. O gárgula que vinha na direção de Archibald parecia possuir uma inteligência mais aguçada que os outros e comportou-se diferentemente, diminuindo sua velocidade. De perto, Archibald pôde observar os traços demoníacos de sua face, o que o fez pensar no tipo de pessoa que concebera tal monstro. Ele, que contava com as faculdades conferidas pela energia do cristal, era mais ágil e investiu contra a cabeça da criatura com o martelo que segurava com ambas as mãos, atingindo-lhe um dos chifres e lascando parte do seu rosto. O gárgula revidou imediatamente, com um soco que o rapaz mal pôde evitar, sendo, no entanto, atingido, ainda agachado, no ombro direito, golpe que o projetou para trás, fazendo-o rolar sobre si e largar a arma. Sentindo muita dor, Archibald apoiou-se sobre seus braços, preparando-se para se levantar. Nesse momento, viu que a criatura sem um dos chifres e com o rosto lascado avançava para ele. Mudou o foco de sua visão e enxergou, além dos ombros do gárgula, no topo da escadaria, um homem vestido com uma túnica negra. Este, concentrava um estranho olhar sobre o gárgula com o qual lutava. Concluiu que ele era capaz de controlar as criaturas à distância, o que explicava a forma peculiar daquele gárgula lutar.
Os quatro elementais lutavam continuamente. Alunil sabia que, se se cansassem demais, poderiam tornar-se perigosos e incontroláveis. Por isso, com uma espécie de assobio, libertou-os de sua obrigação. As quatro criaturas da terra voltaram a se fundir com seu elemento, deixando de vez o local.
A essa altura, a maioria dos guardas estava desmaiada ou sem condições de lutar. Quantos aos gárgulas, um deles havia perdido um braço, outro tinha as pernas e o tórax bastante danificados, mas ainda era capaz de combater. Alunil, procurando manter distância, dava repetidos pontapés em outro, provocando nele muitas rachaduras. Ele, assim como Archibald, percebera que esses gárgulas eram diferentes, mas ainda não havia visto o homem de túnica negra. O silfo teve um de seus chutes aparados pelos fortes braços da criatura, que agarrou sua perna no ar e começou a girá-lo, arremessando-o com extrema força contra a escadaria, próximo aos outros dois gárgulas. O silfo rolou escada abaixo; quando parou, havia-se transformado em carne e osso novamente e sangrava.
Archibald, já de pé, sentia menos dor e tentava imaginar uma maneira de pegar seu martelo novamente, o que seria muito difícil, pois o gárgula estava pisando nele.
Ao mesmo tempo, no topo da escadaria, um novo confronto se iniciava. O homem vestido de negro, magro, com cabelos rentes à cabeça, observava a luta que acontecia na base da escadaria com um olhar insano e sorria sadicamente. De repente, franziu a testa, seu rosto se contorceu em diversos espasmos, seu olhar foi imediatamente desviado da luta para sua lateral direita, fixando-se sobre um estranho que atacava sua mente. Era a primeira vez que Radishi usava suas faculdades para ferir a mente de alguém. Imaginou que seu oponente não seria capaz de resistir ao ataque, sobretudo por ter sido surpreendido. Sabia também que ele não possuía as suas faculdades, já que conseguira ludibriá-lo com a técnica de camuflagem. No entanto, o homem mostrou-se, sim, resistente ao ataque, e Radishi não podia compreender como. Talvez tivesse subestimado os efeitos do cansaço em seus poderes; talvez se tratasse de magia. Decidiu buscar informações sobre seu adversário, a fim de melhor poder combatê-lo. Tocando a superfície de sua mente, captou seu nome, Fernon, e sua função, administração da forja. Além disso, percebeu que um contra-ataque, através da magia, estava sendo preparado. Repentinamente, perdeu o contato com a mente de Fernon; em seguida, foi acometido por um forte enjôo, suas pernas enfraqueceram, fazendo-o cair sobre os joelhos, suas entranhas se contraíram e escapou-lhe pela boca uma bile esverdeada. Olhou seu adversário; as palavras que ele pronunciava pareciam demorar a fazer sentido; sua voz não combinava com o movimento de seus lábios; pensou ter entendido algo como "Sucumba! Sucumba, verme!". Fernon gargalhava, apontando sua mão direita, tensionada, na direção do estômago de Radishi. Girava a mão lentamente e esmagava o ar, como se ele oferecesse resistência. Gargalhava como louco, com o gosto da vitória nos lábios agitados. Radishi sabia que seria derrotado, se não fizesse algo imediatamente. Procurou relaxar todo o seu corpo, esparramando-se sobre o chão como uma geléia, a fim de se livrar da intensa dor que sentia, para poder atacar Fernon novamente. Outra vez mergulhou em sua mente, vendo imagens terríveis: caos, sangue, morte. Ela estava tomada pelo mal e pela ambição. Sua sede de poder chegava ao ponto de o fazer sentir prazer com o sofrimento de quem subjugava. Era um louco! Por isso seu ataque não havia funcionado, pois fora planejado para uma mente sã. Como dominar a mente de um louco? Assustou-se e hesitou, sem saber o que fazer. Escutou os pensamentos de Fernon: "Muito bem! Agora que me livrei desse verme, preciso esmagar outros dois, com meus lindos gárgulas." Radishi percebeu então que ele, além de achar que o havia derrotado, não o sentira em sua mente. Precisava aproveitar a ocasião para ajudar seus companheiros. Escutou novamente os pensamentos de Fernon: "Ah! Peguei você! Agora, mais um arremesso! Levante-o sobre a cabeça! Isso! Arremesse-o com força! Ha, ha, ha!" De dentro da mente dele, Radishi não podia ver o que acontecia no exterior e pensou que Archibald estava sendo arremessado. Ele se encontrava atolado em um lodo escuro e viscoso, do qual ondas atingiam-lhe ora as costas, ora o peito; via luzes estranhas e ouvia gritos à distância. "Maldito silfo, seus truques não vão salvar a pele desse fedelho novamente!" – ressoou o pensamento irado de Fernon. "Peguem-no! Isso! Agora, você não me escapa!"
– Não! – gritou Radishi.
– O quê? Será aquele verme? Mas onde? disse Fernon para si, surpreso.
Alunil, aproveitando da distração de Fernon, foi capaz de se libertar das garras dos gárgulas.
– Estou dentro de você, na sua mente! – declarou Radishi.
– Impossível! Eu destruí você!
– Então, quem está falando? Sua imaginação?
– Não importa! Vou matar você e seus amigos!
– Não, você fará o que eu disser, senão...
– O quê?
Radishi concentrou-se bastante e fez aparecer em suas mãos uma lança de luz, que iluminou o estranho pântano da mente de Fernon, fazendo-o murmurar:
– O que é isso? Sinto-me estranho...
Radishi então apontou a ponta da lança para baixo e a fez crescer lentamente, penetrando no lodo cada vez mais. Fernon gritou de dor.
– Argh! O que é isso?
– Faça o que eu mandar, senão atingirei camadas mais profundas, causando danos reais.
– Muito bem... Pare, maldito! Pare com isso!
– Faça com que seus monstros parem de atacar meus amigos!
Fernon estendeu seu domínio na direção das criaturas, enviando a elas a ordem para ficarem paradas. Depois, começou a rir e disse, sarcasticamente:
– Muito bem, joguemos seu joguinho...
– Do que você está rindo, seu louco?
– Nada... Pode até ser que vocês tenham a sorte de escapar hoje, mas...
– Mas o quê?
– Nada... apenas... ha, ha, ha... ha, ha, ha... ha, ha, ha... – e as gargalhadas de Fernon ecoaram pela alta câmara da mina.
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