Capítulo 45
CAPÍTULO 45
Após os incidentes que trouxeram à tona memórias perdidas do seu passado, Archibald ficou muito perturbado. Queria descobrir mais sobre o assunto e chegar à verdade sobre Weiss. Estudou o máximo que pôde e fez duas visitas ao mosteiro dos Naomir para tentar descobrir algo, sem muito sucesso.
Passaram-se meses de tormento interno, durante os quais assistiu doentes e refugiados da guerra. Seu sofrimento aumentava com a falta de notícias dos amigos e com as incertezas sobre as próprias convicções. Tinha a sensação de que o irmão Weiss o observava o tempo todo e sabia exatamente o que se passava em sua cabeça. Chegou a detestar o seu superior, convicto de que ele sempre atrapalhava as investigações que fazia. Sentia extrema má-vontade com as tarefas oferecidas por Weiss, mas procurava esconder seus sentimentos ao máximo.
Certa vez, escutou na enfermaria uma história absurda sobre bruxos que auxiliavam os bestiais em sua campanha, contada por um camponês muito velho e doente. Pensou ser superstição. Voltou e escutá-la mais vezes, com detalhes que se diferenciavam. Discutiu o assunto com seus colegas e superiores, mas a opinião geral era de que tudo não passava de crendices populares, o que foi reforçado com a chegada de notícias sobre a queda de Amin. Nessa batalha, veio ao conhecimento das forças de Lacoresh a existência dos bruxos-bestiais, aos quais passaram a ser atribuídos fatos estranhos, como mortos que andavam e o aparecimento de demônios e fantasmas.
Archibald, uma vez, discutiu o assunto com Weiss, e suas atitudes o deixaram extremamente confuso e desconfiado. Não sabia se era paranóia sua ou se houve de fato sarcasmo de Weiss quanto ao assunto. Depois dessa conversa, uma idéia louca fixou-se em sua mente: existiam sim bruxos humanos ajudando os bestiais em sua campanha e Weiss era um deles.
O fato era que as crenças e desconfianças de Archibald não passaram desapercebidas por seus companheiros e superiores. Comentava-se que o rapaz estava ficando perturbado, talvez louco. Uma alternativa para minimizar o problema foi proposta por Weiss e acatada por todos: Archibald seria transferido para uma das enfermarias na retaguarda das forças de Lacoresh, no território de MontGrey. O rapaz foi então enviado a um lugar onde seus superiores imaginavam que não teria muito tempo para pensar bobagens, concentrando-se mais no trabalho. E assim foi, no início. Lentamente, porém, voltou a pensar no assunto, ao escutar estórias de soldados caídos. Uma vez, cuidou de um soldado que fora comandado por Kyle; ele confirmou a história de que seu superior havia cavalgado em direção a Xilos, pouco antes de sua queda, e nunca mais fora visto. A essa altura, Archibald já havia aceitado a morte de seu amigo e possivelmente de Kiorina, Noran e Mishtra. De todos, acreditava que talvez Gorum pudesse estar vivo. Prosseguiu rezando, convicto de que sua vida era ser um monge Naomir, ajudar os necessitados e acreditar nos deuses, ainda que eles trouxessem tanta miséria.
Numa outra ocasião, ficou sabendo das fortalezas que os bestiais estavam erguendo e dos muitos soldados e camponeses capturados que trabalhavam como escravos nesses locais. Isso reacendeu uma chama da esperança de que talvez algum de seus amigos pudesse estar vivo, mas sua expectativa com relação a todas as outras coisas eram cada vez menores. Muitas vezes, passava dias realizando seu trabalho sem pensar em nada, até escutar alguma notícia ou estória que estimulasse sua razão. Uma delas foi a da esquadra que ficara pronta para sair do porto de Lacoresh. Era um movimento em que se depositava muita esperança. Não sabia detalhes da estratégia, mas se dizia que haveria um ataque a Grey por terra e por mar, a fim de iniciar uma reversão na situação da guerra. Os homens do acampamento onde ficava a enfermaria em que trabalhava pareciam motivados.
Além de tratar pessoas, Archibald trabalhava com certa freqüência numa enfermaria para cavalos. Aquele era um dia quente de verão. Bem cedo, já fazia calor suficiente para tornar o uso das vestes de monge Naomir desconfortáveis. O céu, limpo, mostrava que o calor ainda aumentaria. Ele estava próximo aos estábulos improvisados, nos quais alguns cavalos recebiam tratamento. Observou um cavaleiro que puxava seu cavalo pelas rédeas e achou se tratar do cavaleiro que chamavam pelo nome de Kandel. Seu cavalo mancava e parecia ter sinais de sangramento; o homem também estava machucado, com o braço direito ensangüentado, enfaixado e amparado por uma tipóia.
– Cavaleiro Kandel, posso lhe ser útil? – indagou Archibald, percebendo que havia algo de incomum.
– Nos conhecemos? – disse Kandel, franzindo as grossas sobrancelhas.
– Sou Archibald DeReifos, da ordem Naomir. – disse o monge, estendendo a mão.
– Pelo visto, você me conhece.
– O senhor é um notável. – disse Archibald, sorrindo.
O cavaleiro pareceu não achar muita graça e nada respondeu.
– Bem, e então? Como posso ajudá-lo?
– Meu cavalo não está muito bem, eu o trouxe para que dessem uma olhada. Preciso dele em cinco dias.
– Muito bem... E quanto a seu braço? – disse Archibald, estendendo a mão para o braço do cavaleiro e tocando-o.
Kandel o retraiu e gritou, irritado:
– Não toque em mim sem a minha permissão!
Aquela atitude surpreendeu o jovem monge, que, observando a face contorcida do cavaleiro, disse:
– Cavaleiro Kandel, parece-me que aconteceu alguma coisa com você. Eu posso ajudá-lo, se me permitir.
O cavaleiro parecia realmente transtornado. Percebendo isso, Archibald sugeriu, olhando ao redor:
– É melhor entrarmos, para termos uma conversa privativa.
Kandel percebeu que sua atitude havia chamado a atenção de dois soldados que estavam ali perto e concordou com o monge. Entrando na grande tenda, Archibald pediu aos dois rapazes que estavam cuidando dos animais que os deixassem a sós um pouco. Notou que Kandel estava muito nervoso e suava. Imaginou que ele estava procurando se conter e, ao ter o braço tocado, perdeu o controle. Ainda assim, pegou o cavaleiro pelo braço e o conduziu até um banco de madeira improvisado e sem acabamento. Kandel se sentou, tremendo. Fixou o olhar no vazio.
Archibald desenrolou lentamente a faixa e engoliu seco, assustado, quando viu o braço do cavaleiro. Havia feridas horríveis e fétidas. Eram mordidas.
– O senhor foi atacado por alguma fera?
O cavaleiro parecia tomado por um horror ausente. Olhava para o vazio e tremia. Archibald cobriu o braço novamente, pegou o cavaleiro pelos ombros e, sacudindo-o, insistiu:
– O senhor foi atacado por alguma fera?
Kandel fixou um olhar insano nos olhos de Archibald e disse, num tom trêmulo:
– Demônios... marionetes mortas...
– Marionetes?
– Sim... Vieram no meu sono, meus homens, os homens sob meu comando que pereceram... eles diziam que vinham me buscar...
Archibald escutava atentamente.
– Eles voltaram de seus túmulos, vieram nos buscar... Estamos perdidos!
– Acalme-se, vou cuidar de você... – ao dizer isso, o monge Naomir invocou os poderes do sagrado ofício e operou sobre o pobre cavaleiro delirante. Depois o ajudou a deitar-se no chão; logo cavaleiro adormeceu.
Mais tarde, na enfermaria, outro cavaleiro perguntou se Kandel estaria bem antes de cinco dias. Archibald quis saber o que aconteceria em cinco dias e obteve a resposta de que haveria uma marcha em direção a Grey, uma retomada.
Naquela noite, Kandel despertou. Os ferimentos em seu braço haviam sido fechados com a ajuda dos poderes sagrados canalizados através do monge Naomir. Mesmo assim, ainda estavam cobertos por um curativo úmido. Viu-se deitado numa enorme tenda mal iluminada, com outros homens feridos deitados em camas improvisadas ao seu redor. O cheiro no local era de morte.
– Onde está o monge? Onde está o monge? – sussurrava Kandel, ainda se sentindo fraco e zonzo.
Um dos enfermeiros atendeu a seu chamado e foi buscar Archibald em sua tenda. Ele estava muito cansado. Aproximou-se da maca de Kandel segurando uma lanterna a óleo, pendurou-a ao lado, numa estaca de madeira com um gancho. Outros feridos ao redor gemiam e pediam ajuda: era a repetitiva música da enfermaria. Em meio a pequenos gemidos e à penumbra, conversaram.
– Está se sentindo melhor? – disse o monge, sentando-se ao lado da maca em um dos bancos improvisados.
– Sim, obrigado. – disse Kandel, com a voz enfraquecida.
Archibald tocou a testa do cavaleiro e constatou que a febre havia diminuído.
– Agora que está mais calmo, quer me contar o que aconteceu com você e seu cavalo?
– Como ele está?
– Nada sério, algumas feridas leves... mordidas.
Kandel olhou para o outro lado, como se se lembrasse de alguma coisa, e perguntou:
– Como é ser um monge Naomir?
Archibald surpreendeu-se e demorou um pouco a responder.
– Bem, é uma vida de muitos sacrifícios. – Archibald não se sentiu à vontade para falar mais, pois estava confuso sobre a própria condição.
– Há incerteza em sua fala, meu caro.
– Como assim?
– Eu sei, já foi assim comigo... Sabe, estudei para ser um sacerdote da Real Santa Igreja...
– É mesmo? E o que houve?
– Cheguei a ser sacerdote, mas desisti. Descobri que havia nascido para lutar, não para pregar... – disse, penosamente.
– Entendo.
– Ser um monge não é o que você esperava, é?
– Eu não esperava muito, nunca tive muita opção... E você?
– O quê?
– Está satisfeito como cavaleiro?
Kandel mordeu os lábios e não respondeu. Após algum tempo, perguntou:
– Como é mesmo seu nome, caro monge?
– Archibald DeReifos. Acho que já nos apresentamos...
– Agora me lembro... minha cabeça não está muito boa.
– Percebi...
– Você era o garoto que morava com Gorum e Blackwing anos atrás!
– Sim, sou eu mesmo. Naquele tempo, também ouvia falar de você, o jovem cavaleiro que capturou uma quadrilha de ladrões assassinos.
– Não fui só eu... havia outros.
– Ouvi dizer que Kyle morreu, é verdade? – disse Archibald, com dificuldade.
– Kyle Blackwing? Talvez...
– Você acha que ele poderia estar vivo?
– É possível, apesar de as chances serem muito pequenas. Afinal, seu corpo nunca foi encontrado... Lembro-me bem da última vez que o vi, cavalgando na neve até desaparecer. Na realidade, fui a última pessoa que falou com ele...
– Verdade? Sobre o que conversaram?
– Ele queria ir a Xilos, procurar os amigos... Eu estava em posição de comando e não queria deixá-lo ir. Era um rapaz brilhante, muito astuto e corajoso. Também um bom comandante, muito importante para o moral da tropa. Se não tivesse permitido que ele fosse...
Houve silêncio; até mesmo os gemidos cessaram um pouco. Kandel retomou a fala, virando a cabeça de lado.
– Mas havia uma grande determinação nele. Seria impossível impedi-lo.
Os olhos de Archibald se encheram de lágrimas pelas lembranças que lhe vinham ao ouvir sobre o amigo.
– Quanto a Gorum, sei que ainda resiste no cerco a Grey. Poucas vezes conseguimos trocar algumas mensagens curtas com o pessoal de lá. Ele próprio tomou a liderança da organização da defesa e, até recentemente, parece que vinha sendo bem sucedido. No entanto, os suprimentos estocados devem estar acabando. É chegada a hora de agirmos.
Com isso, Kandel se sentou na cama.
– Você parece um pouco melhor... – comentou Archibald.
– E estou!
– E seu braço?
– Talvez seja melhor conversarmos lá fora... – disse Kandel, olhando para os lados.
Archibald pegou a lanterna que trouxe. Caminharam para a saída da barraca. Passaram por dezenas de homens feridos, muitos deles sem braços ou pernas esperavam receber alta para voltar para casa. Ao sair da barraca, respiraram aliviados. Apesar de não haver ar puro fora, era melhor que na enfermaria. O céu estava completamente estrelado e quatro das nove luas estavam altas. Atrás deles, não muito longe, os contornos altos do planalto de Or e da floresta de Shind podiam ser avistados. Estavam em um dos pontos mais recuados do antigo território de MontGrey, quase nas fronteiras do ducado de Kamanesh.
O restante do acampamento parecia calmo. Até onde a vista chegava, viam-se tochas. Era um acampamento grande, com mais de dois mil homens. Não era muito tarde e havia ainda alguma movimentação ao redor das barracas das cortesãs, onde era possível ver pequenas filas de soldados que esperavam sua vez de se aquecer no colo das meretrizes. Perto dos estábulos, pegaram duas cadeiras de madeira crua e se sentaram.
– Você não acreditaria no que vi! – disse o cavaleiro, alarmado.
– Diga. Restaram poucas coisas para acreditar.
– Ontem à noite, saí em patrulha. Distraí-me um pouco, pensando em batalhas e companheiros perdidos. Quando percebi, estava duas ou três vezes mais distante da minha área de patrulha. Mesmo assim, as coisas estavam calmas. De qualquer forma, qualquer cavalgada à noite torna-se perigosa, com os bestiais por perto. Poderia ser facilmente surpreendido por um grupo deles.
– E por que foi sozinho? – estranhou Archibald.
– Não sei... o certo seria sair acompanhado, mas ultimamente tenho estado muito perturbado. Não vinha dormindo bem e freqüentemente saía pela noite procurando algo...
– Encontrou o que procurava?
– Sim, algo que preferia não ter encontrado, caro Archibald... – disse Kandel, num tom grave, e prosseguiu: – Avistei uma luz ao longe, uma pequena tocha. Tomei o cuidado de apagar minha lanterna e aproximei-me cautelosamente. Era um pouco ao norte daqui mesmo. A região, como você deve saber, é composta por vários pequenos morros, que ficam mais altos à medida que se caminha para o norte. Consegui uma boa posição no topo de um morro para observar. Havia uma longa fila de homens, muitos mesmo, talvez duzentos, que andavam. Estavam acorrentados uns aos outros. Amarrei meu cavalo numa árvore e decidi aproximar-me sorrateiramente a pé. Observei-os então mais de perto. Percebi que havia homens e mulheres. A luz das luas ontem estava um pouco mais forte que hoje, pois oito delas pairavam no céu. Eles pareciam muito cansados e praticamente se arrastavam para andar. Concluí que eram escravos dos bestiais e percebi o perigo que eu corria. Deixei de lado a atenção nos homens e mulheres e comecei a procurar bestiais, desesperadamente. Não avistei nenhum. Quem então estaria conduzindo aqueles escravos? Minha atenção voltou-se para a figura que estava à frente da fila, com uma tocha. Apesar da distância, parecia ser um humano encapuzado. Segui-os, procurando me aproximar do cabeça da fila. Com isso, afastei-me cada vez mais do meu cavalo. Só quando estava bem perto, percebi que, na ponta, além do homem que carregava a tocha, havia outros, muito estranhos, que, apesar de terem contornos humanos, caminhavam de forma artificial, como as marionetes dos artistas de rua. Vi uma cena terrível: o braço de um dos homens caiu de seu corpo, como o fruto de uma árvore. Ele parou, abaixou-se, pegou o braço do chão e o colocou de volta em seu corpo. Não me contive e deixei escapar um suspiro de horror. Gelei ao ver que todos pararam juntos, sem exceção. O homem que levava a tocha virou-se em minha direção; de dentro de seu capuz, de onde deveriam estar seus olhos, dois pontos vermelhos brilharam. Fiquei paralisado pela visão. A manga de seu manto levantou-se em minha direção e os homem-marionetes puseram-se a correr para o meu lado, uma dúzia deles. Não pensei duas vezes e corri para onde estava meu cavalo. Olhei para trás e percebi que era mais rápido que eles, mesmo de armadura. Movido pelo desespero, soltei minha mochila e os braços de minha armadura, pois precisava perder peso e correr, era minha única chance. No entanto, meu cavalo estava longe e morro acima. Muito cansado, percebi que, apesar de lentos, eles pareciam não se cansar; estavam me alcançando, seria o meu fim. Cheguei ao cavalo, quase sem fôlego, e desembainhei minha espada para cortar a corda que o amarrava, pois não haveria tempo para desfazer o nó. Quando me preparava para cortá-la, o primeiro deles me alcançou, se jogando em cima de mim. Procurei me desviar e acertei um golpe em seu tronco, que pareceu não o ferir. A coisa se agarrou às minhas pernas e, para soltar-me, separei seu braço do corpo. Andei para trás em horror e caí. O braço da coisa ainda segurava minha perna. Logo veio outra criatura por cima de mim e agarrou-me o braço da espada. Pude vê-la de perto: era como um homem apodrecido; em sua face, havia uma gosma horrível. Antes que mordesse meu braço, escutei-o dizer a palavra carne. a criatura começou a comer meu braço e eu gritei de dor. Encolhi minha perna e apoiei a sola do pé no abdome da criatura, tirando seu equilíbrio e arremessando-o por sobre minha cabeça. Aterrorizado, deixei minha espada de lado e retirei uma faca para cortar a corda. Meu cavalo já estava rodeado por outras criaturas e pinoteava freneticamente para livra-se delas, de uma das quais ele separou a cabeça do corpo com um coice. Assim que o libertei, corri para sua lateral e, chutando uma das criaturas do meu caminho, consegui montar nele. Fugimos. Depois do susto, vi meu braço sangrando muito e fiz um curativo. Já era manhã quando cheguei. Bem depois...
– Tem razão... É difícil de acreditar...
O cavaleiro, repentinamente, tomado por uma estranha fúria, pegou Archibald pela gola e disse, sacudindo-o:
– É verdade, maldito! É verdade!
– Acalme-se, cavaleiro! – ordenou Archibald.
Kandel percebeu sua loucura e sentou-se novamente.
– Eu acredito em você. – afirmou Archibald, seriamente.
– Sabe o que é mais estranho?
– O quê?
– Pensando sobre isso, fiquei com a clara impressão de que os homens e mulheres acorrentados, apesar de andarem, estavam mortos.
Archibald sentiu um calafrio em suas costas; percebeu que o mesmo se passou com Kandel.
– Há alguma coisa muito sinistra acontecendo, cavaleiro Kandel, e eu lhe digo: vou descobrir o que é!
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