Capítulo 9- Entre Corredores
"Temos que ir embora Esther"
"Onde está o livro" Repetia em sua mente enquanto revirava suas coisas no quarto do hotel.
Gorven Pugy estava mais aflito do que nunca.
Tinha perdido o livro do ritual, e sabia que, se não o encontrasse rapidamente, o traria graves consequências.
Depois de procurar por todo o refeitório, se encontrava em seu quarto, tirando tudo das gavetas. Supôs por um momento na hipótese de o menino ter pegado o livro, mas seria impossível visto que não teria esbarrado com ele no refeitório depois que o seguiu.
Enquanto apalpava as roupas, sentiu uma vibração em um dos bolsos. Tirou de dentro, era o seu celular tocando.
—Alô?
—Gorven? Filho?
—Mãe! Estou ocupado agora, pode ligar mais...
—Sua irmã desapareceu.
—O que?
—Ela sumiu filho! Você precisa voltar, precisamos encontrar ela.
—A Kate ou a Lucy?
—A Lucy. Estou muito preocupada, volte por favor.
—Puta merda. Mas como assim sumiu?
—Ela estava aqui em uma noite... e no dia seguinte... sumiu...
Gorven escutou sua mãe começar a chorar.
—Calma, você vai encontrar ela.
—Nós vamos.
—Não mãe, não posso voltar.
—Filho... é sua irmã! Ela é apenas uma criança, imagina o medo que está...
—Liga para a polícia... desculpa tenho que desligar, vou te ligar mais tarde.
Gorven desligou a ligação antes mesmo que a mãe pudesse responder.
A família Pugy era constituída de 5 integrantes. Sendo eles Gorven, sua mãe, sua irmã mais velha Kate, sua irmã mais nova Lucy, e seu pai ausente. Depois de entrar para o ritual de Grinvield, se afastou aos poucos de todos, permitindo dedicar ao máximo de seu tempo às suas missões. Durante muito tempo, imaginava sua vida como uma linha sem fim, que viveria eternamente ao lado da família, cuidando da loja de flores, até morrer, mas depois que conheceu os mistérios da cidade vizinha, mudou suas escolhas drasticamente.
Estava finalmente perto de poder alcançar a verdade do ritual. Sabendo que conseguiria, acreditando que o fim estava próximo, esqueceu o fato de sua irmã de 10 anos ter desaparecido, e continuou procurando o livro.
Quando terminou de procurar em todos os lugares possíveis do quarto decidiu voltar ao refeitório do hotel.
Estava vazio, sem nenhum hóspede, apenas a cozinheira Luna terminando de arrumar as mesas. Gorven se aproximou dela.
—Licença.
—Pois não?
—Pôr a caso você viu um livro perdido aqui?
Luna ficou quieta.
—Moça?
—Eu... não vi nada garoto.
—Tem certeza? Eu pensei que poderia ter...
—NÃO VI NADA! —Luna empurrou Gorven e correu até à cozinha.
Quando chegou, rapidamente escorou na bancada e tremendo pegou o celular. Com os dedos trêmulos discou o número de Tyler.
—Atende...
Passou alguns minutos, e a ligação caiu.
"Onde você está Tyler", pensou guardando o celular.
Glastonbury
"Até o fim.
Esteja preparado.
Até o fim.
Seja capaz.
Até o fim.
Não esteja indisponível.
Quando o fim chegar, esteja pronto."
Com um profundo suspiro, Esther acordou.
Com as mãos agarrando o pescoço, após senti-lo sufocado, abriu os olhos, e sentiu seu corpo relaxando, desparalisando aos poucos.
Quando olhou para trás, viu Thomas ainda adormecido com o corpo paralisado. Na sua frente, onde supostamente Tyler estaria, um vazio amedrontador consumia o cômodo, Tyler tinha sumido dali.
Esther, com passos curtos, começou a andar em direção ao cômodo da frente, que estava totalmente escuro. Mesmo antes de dar poucos passos, se assustou com o grito de Thomas acordando. Correu até ele.
—Thomas! —Esther o acolheu.
—O que aconteceu?
—Aquele vendado nos fez adormecer.
—Mas que... como?
—Você acha que eu sei?
—Onde está aquele garoto?
—Tyler? Também não sei, acabei de acordar.
—A gente tem que sair daqui logo.
—Vamos tentar encontrar o Eric ou o Liv.
Após um momento encarando um ao outro, os dois continuaram andando pela casa, dessa vez se atentando aos perigos que ela poderia os proporcionar.
Até que chegaram à um corredor estreito.
—O que essas pinturas significam? —Thomas passava as mãos nas paredes velhas enquanto andava.
Nas paredes, pinturas apagadas, incompletas, seguiam uma sequência de desenhos repetidos.
Após Thomas fazer a pergunta de novo, houve um silêncio. Logo após, Esther colocou a mão na parede.
—Eu... já vi esses desenhos. —Esther focava nas pinturas.
—Onde?
—Nos meus sonhos, ou melhor, nas minhas...
—Alucinações.
—Sim. A maioria, quando não estava em um escuro, nos lugares fechados, esses desenhos estavam em árvores, paredes.
—Você tem as alucinações a quanto tempo?
—Desde quando meus pais morreram, quando era ainda criança. Na primeira noite, eu comecei a ter sessões de sonambulismo.
—Eu sinto muito.
—Mas por que diabos esses desenhos são os mesmos. Eu não... durante toda a minha vida eu vi esses desenhos nas alucinações.
—Essa casa me dá arrepios.
—E se esse lugar, esses eventos, os homens vendados, as crianças, até mesmo o Liv, tenham ligação às minhas alucinações e meu sonambulismo?
Thomas ficou calado.
Continuaram andando com as mãos arrastando as paredes, com a poeira dominando suas peles.
Quando chegaram ao final do corredor, depararam com uma suposta cozinha destruída. Era de tamanho grande. O piso e as paredes empoeirados estavam repletos de musgos e era possível notar pedaços de madeiras quebradas de um antigo armário.
Do outro lado da parede alguém começou a gritar.
—Escutou isso? —Esther pegou a mão de Thomas, com medo.
—Sim. —Soltou a mão de Esther e andou até à parede.
—Cuidado.
Os gritos retornaram.
Thomas colocou o ouvido na parede, e estendeu os braços.
Os gritos do outro lado pareciam estar perto. Eram gritos de desespero, gritos agudos.
—Quem está aí? —Thomas gritou.
De repente, sem mesmo perceber, Thomas começou a ser engolido pela parede, parte por parte.
—Mas... o que... NÃO!
—Puta merda...
Esther correu até Thomas e agarrou seu braço.
—ME PUXA! —Thomas gritou.
—Eu... estou tentando...
Em um piscar de olhos, os dois sentiram seus corpos serem atraídos para o outro lado, e em questão de segundos, estavam em outro cômodo.
—Que porra foi essa.
—Eu não...
—SOCORRO. —Thomas batia na parede com força.
—Não adianta gritar, lembra que aquele cara ainda está aqui.
—Temos que sair logo. —Thomas sentou no chão.
Estavam em um cômodo escuro, fechado, de paredes e piso preto.
Depois de um breve silencio, Esther sentou ao lado dele.
—O que eles querem? —Esther apoiou na parede.
—Os homens vendados?
—Sim. Eles... são como o Liv. Pelo menos esse que nos paralisou.
—Não sei. Mas é bizarro. Mataram 5 crianças, e cortaram seus olhos. Isso pra mim é...
Thomas foi interrompido por um estrondo, que, ocasionou em uma abertura de uma das paredes.
—Mas que...
Rapidamente os dois se levantaram e ficaram diante a parede que quebrava aos poucos. Quando terminou de quebrar, depararam com uma biblioteca.
Passo por passo, entraram na biblioteca.
Ela era grande, também de paredes e pisos escuros. Era composta de corredores de grandes estantes, e atrás, uma grande mesa redonda de madeira firme circulada por cadeiras.
—Que lugar é esse...?
Esther suspirou, e lentamente, andou até o final da biblioteca.
—Não faz sentido, esses livros são antigos, de décadas passadas. —Thomas disse em um tom de voz elevada, enquanto passava as mãos nos diversos livros.
—Thomas. —Esther paralisou.
Ele andou até ela, e a viu de olhos arregalados olhando para uma pintura.
—Isso é...
—O hotel, minha casa, é o hotel.
Na frente deles, em uma parede preta, estava pintada a mansão Morwood, em tinta branca.
Antes mesmo que pudessem analisar, escutaram passos distantes.
Rapidamente se esconderam atrás de uma das estantes.
—Como anda sua missão? —Uma voz grave acompanhada de passos amedrontadores, aproximava adentrando na biblioteca.
—Tudo certo. Já conseguimos 3 crianças. —Outro homem também de voz grave entrou na biblioteca.
Por se um lugar fechado, qualquer fala ou barulho, era possível de escutar em grande tom.
Os dois homens atravessaram a biblioteca, e sentaram junto a mesa.
—E a sua, como anda?
—Não tão bem. De fato, o evento no velório foi positivo, mas não tivemos os resultados necessários.
—Soube da expedição que ficou presa do outro lado?
—Sim. Um deles era meu amigo, espero que consigam voltar logo.
—Esteja preparado. Seremos os próximos depois deles.
Esther e Thomas começaram a caminhar rumo à saída. Lentamente, se atentavam em não fazer quaisquer barulhos. Passaram por uma estante, e aliviaram, faltava poucos metros. Passaram por outra, e Esther conseguiu avistá-los conversando na mesa, à cima deles a pintura de sua casa continuava a encarando. Quando chegaram a última estante, se encontraram logo a frente da parede quebrada, antes de seguir Thomas, Esther pegou um dos grandes livros, e saiu da biblioteca.
No cômodo preto, a parede que levava a cozinha que até então estava fechada, formou um grande arco aberto, os dois o atravessaram, e logo após correram passando pelo corredor estreito. Quando chegaram a um lugar vazio, pararam e caíram no chão.
—Você ouviu o mesmo que eu né? —Thomas perguntou, aliviando a respiração ofegante.
—Por que a minha casa... por que?
—Ei. —Thomas aproximou dela e pegou sua mão, sentindo-a tremendo sussurrou em seus ouvidos. —Vamos sair daqui, e vamos descobrir o que esses caras estão escondendo, não se preocupe.
Esther abriu um sorriso.
—Peguei esse livro. —Ela pegou o livro pesado que estava no chão e mostrou a Thomas.
—"Grinvield, 1940" bom, podemos descobrir algo vindo dessas páginas. — Thomas afirmou lendo o título.
—Ora ora ora. —Uma voz veio da escuridão.
Com rapidez os dois levantaram em um só pulo.
Quando a figura se revelou, os dois começaram a tremer de novo.
—Nos encontramos novamente! —O homem riu. —Por onde estavam? Gostaram da casa?
Era o mesmo homem vandado que tinha os paralisado.
—O que você quer? —Thomas indagou com raiva nos olhos.
—O que eu quero? Bom, neste momento matar vocês seria a resposta.
—Por que minha casa está desenhada na parede...? —Esther começou a chorar.
—Então vocês foram até a biblioteca! Nada mal.
—POR QUE?
—Esther, calma. —Thomas segurou sua mão.
—Isso nós conversamos depois. —O homem tirou uma arma do bolso e estendeu para Esther. —Vocês chegaram longe! —Moveu o dedo ao gatilho e o pressionou.
Um estrondo enorme paralisou a casa.
A arma disparou.
Seu corpo estava imóvel, e seus olhos fechados, era como se Esther tivesse aceitado a morte. Depois de breves segundos, desacreditada de não sentir nada e nenhuma dor, com os olhos ainda fechados pensou "Eu...morri?"
Quando sentiu leve, abriu os olhos, e levou um susto ao se deparar com a bala parada em sua frente, flutuando no ar, que depois, caiu.
Logo após sentiu seu corpo sendo empurrado para o lado, e de trás dela, o menino, Liv, correu e estendeu os braços, fazendo o homem armado voar para trás, acertando uma das janelas seladas e a abrindo. Depois, o menino caiu no chão.
—Liv! —Esther pegou-o nos braços.
Thomas estava boquiaberto, assustado, olhando para a janela quebrada. Agachou e pegou o livro.
—Esther! —Do cômodo de trás, Eric vinha mancando.
—Onde... onde vocês estavam?
—Procurando vocês!
—Estava com medo. —Liv sussurrou para Esther.
—Você salvou minha vida, e enfrentou aquele homem, você é um menino corajoso, ter medo nessas situações é normal. Mas agora vamos sair daqui tudo bem? —Esther pegou o menino no colo e levantou.
Todos começaram a correr em direção a janela.
Enquanto Eric saía, Esther parou.
—Espera, o Tyler. Ele continua aqui.
—Tyler? —Eric perguntou pisando na grama da floresta.
—Do hotel, o Tyler Krost, ele tá aqui, ele seguiu a gente. E se estiver precisando de ajuda?
—Temos que ir embora Esther.
—Você não entendeu, ele está preso aqui, precisamos salvar ele se não...
—Temos que ir embora Esther!
—Eu não vou deixá-lo aqui pra morrer, você não sabe dos perigos que esse filhas da puta podem fazer com ele eu não...
—Sai, nós voltamos depois. Mas agora, vamos embora.
—Por que você sempre pensa em si próprio? Por que você nunca pensa no lado dos outros. Ele pode estar sofrendo Eric.
—TEMOS QUE IR EMBORA! —Eric empurrou a irmã para fora, e ela caiu na grama ainda com Liv no colo.
—Qual o seu problema?
—Vamos, rápido.
Forçando a perna, Esther levantou.
—Vai... se...
—Esther!
—Fuder!
De repente sentiram uma brisa fria em torno a neblina.
Quando olharam para a casa presenciaram um incidente inesperado. Ela começava a desaparecer vagarosamente, sendo levada pela brisa.
Em segundos, a enorme casa velha, desapareceu.
—Mas o que? Como? —Thomas perguntou tentando disfarçar o enorme medo.
—Vamos embora, rápido. —Eric começou a correr pelo caminho que tinham atravessado.
Foi ignorado pelo choque em que se encontravam.
—Eu disse vamos!
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