Capítulo 3- Perigo Investigador

"De que merda esse pirralho está falando? Serio... você já fez diversas perguntas, mas de nada adiantou, comece talvez por como diabos ele ressuscitou? Como ele mexeu os cacos de vidro com a mente?"

28/11/2013, Glastonbury

As pessoas nascem e morrem. Passam toda sua vida em busca de algo ou alguém, para no final, descansarem, abandonando todos e qualquer coisa viva neste mundo. O mistério que abrange nas mentes de um indivíduo que o faz pensar durante toda a sua vida, o maior dos mistérios, como será depois da minha morte? Para onde irei? Me sentirei vivo ainda? Consciente? Seria um abandono? Em que simplesmente adormeceria dentre o escuro, e deixaria de existir? Ou uma passagem para outra realidade em que todos aqueles que já se foram habitam em harmonia pela eternidade? Um ciclo repentino de milhares de vidas que acabam com um mistério, o mistério da morte. Ainda, e por muito tempo, será um mistério sem respostas, que apenas com o abandono puro, se descobrirá a mais inalcançável verdade. Seja talvez, um lugar a resposta? Uma pessoa? O que seria a resposta?

Para todos os habitantes de Grinvield, era sua própria cidade, sua pacata e abandonada cidade. E o grande mistério da exatidão da vida, seria o aguardo prolongado, em que durante seu rendimento, a dúvida não seria eminente, mas sim, oculta. A morte inexistente, faria com que todos ali se aprisionassem em mágoas tempestuosas, aguardando seu destino.

No caso de Gorven Pugy, seu destino não passava de uma ilusão, visto que até muito tempo não tivera relação alguma com Grinvield, e com sua imaturidade de escolhas, acabou por se envolver em algo sem volta.

Gorven estava deitado em uma cama feita de palha, esperando o sinal. Um dos homens de capuz se aproximou e sentou ao lado.

—Consegui saber os próximos trabalhos de cada um!

—Como?

—Não interessa! Quer saber o seu?

—Sim! —Tudo que Gorven falava vinha com uma voz triste e cabisbaixa.

O homem tirou um papel extenso do bolso e dobrou-o dividindo em quatro partes.

"Vendado 8, Gorven Pugy, encontrar a criança fugitiva" Boa sorte!

—Mas, justo pra mim?

—Como disse, boa sorte! —Ele se levantou e foi em direção a outra pessoa.

"Encontrar a criança fugitiva? Por que eu? Sou um novato ainda!" Gorven repetia em sua mente, se perguntando se aquilo era mesmo necessário para ele, e se o risco que estava disposto a enfrentar, não afetaria sua família.

De cima das árvores, veio o sinal, estava na hora de agir. Em segundos, todos os homens de capuz preto se levantaram e correram todos em uma única direção.

Gorven descobrira o ritual em que estava, aproximadamente há 5 meses antes de começar a participar. Até então não sabia da existência de Grinvield, mesmo sendo uma cidade vizinha à que morava. "Você irá se surpreender! Não acreditei quando vi!" Foi o que o amigo de Gorven o disse, para o convencer a participar do ritual, 2 semanas depois se matou.

"Não se preocupe Gorven, chegou minha vez, sou um olho de vidro agora! Espero por você! Abra o portal!"

Desde então, Gorven nunca desistira de continuar. Estudou cada fase do ritual, cada decreto antigo e abandonado da cidade.

—Chegamos! —Um dos homens, que parecia ser o líder que os conduzia, parou, e levantou a mão direita. —Coloquem as vendas, vamos entrar!

Todos colocaram, mas Gorven hesitou.

—Comecem!

Os homens cortaram seus pulsos, e sumiram. Todos desapareceram em um breve momento, menos Gorven.

Ele ficou paralisado, se apoiando em uma das árvores. Abandonado e confuso.

Sozinho.

Morwood Hotel

—Eu estou morto!

—Morto? Mas como...

Eric foi interrompido por mais uma batida na porta. "Eric estão todos esperando, venha, rápido!"

—Não deixe me levarem!

—Ok... fique aqui, e não faça nenhum barulho, entendido?

O garoto fez sinal afirmativo.

—Ótimo! —Eric, confuso, saiu do quarto e trancou a porta pelo lado de fora, quando desceu as escadas, 4 policiais o esperavam na recepção, juntamente com Thomas, Esther, Luna e o trabalhador.

—Pois não? Em que posso ajudá-los senhores? —Ele manteve a calma, tentando esquecer o que o garoto havia falado, mas falhava, "Como... como morto?".

—Foi feita um pedido de busca recorrente a essa propriedade! Precisamos realizar uma varredura!

—Qual seria o objetivo? — Disse Eric coçando a cabeça, "Não seja a criança, não seja a criança".

—Estamos em busca de um corpo! Seis crianças foram assassinadas na noite passada, já encontramos cinco delas. E como medida de segurança, estamos procurando em toda cidade. A propriedade do senhor é de fato enorme! É de grandes chances o assassino ter escondido o corpo aqui! Duas a três horas, tudo que precisamos.

—Ok... fiquem à vontade para procurarem! Garanto aos senhores que não encontrarão nada! —Eric disfarçava os movimentos da perna, tentando esconder o nervosismo.

Logo após, todos os policiais começaram a se espalhar, divididos em grupos de 3 a 4.

Esther puxou o braço inquieto do irmão e sussurrou em seus ouvidos:

—Onde ele está?

—Me siga!

Eric se despediu dos policiais e subiu as escadas até o quarto em que Liv estava.

Ele abriu a porta, esperou Esther entrar, e rapidamente a trancou.

—Eu sabia... sabia! Te avisei o tempo inteiro porra, ele estava morto! —Disse Esther debatendo contra o irmão.

—Calma! Precisamos pensar em alguma coisa! A polícia está lá em baixo a procura dele! —Eric se virou para o garoto e agachou. —Pode nos explicar melhor agora? Por favor...

—O que querem saber?

—O que aconteceu antes de te encontrarmos?

—Só me lembro de um grupo batendo em mim, e nas outras crianças, eles eram assustadores, estavam vestidos com uma roupa grande, e seus olhos eram vendados. —Liv parecia estar criando uma confiança em Eric.

—Certo... antes de tudo, preciso saber... onde estão seus pais? Onde você mora?

—Meus pais morreram, não os conheci! — Ele abaixou a cabeça e cruzou os braços. —Moro com minha vó, nas fazendas de Grinvield.

—Na área rural... você mora bem longe!

O garoto ficou calado.

—Vamos te levar para sua vó tudo bem? Assim que...

—Não! Eu não posso voltar! É meu dever estar aqui!

Esther, que durante o diálogo estava parada em um canto, correu em direção à Eric.

—De que merda esse pirralho está falando? Sério... você já fez diversas perguntas, mas de nada adiantou, comece talvez por como diabos ele ressuscitou? Como ele mexeu os cacos de vidro com a mente?

—Você pode responder isso Liv? —Eric pegou as mãos do garoto, acariciando, e o confortando.

—Eu...

Ele soltou a mão de Eric e começou a chorar.

—Precisamos tirar ele daqui!

—Eu não estou te entendendo Eric, de verdade! —Esther abriu a porta e olhou para o lado de fora. Se assustou ao ver a presença de 2 ou 3 policiais subindo as escadas, não conseguiu confirmar pois voltou a fechar a porta rapidamente. —Puta merda! Estão vindo para cá! Se encontrarem ele, estamos fudi...

—Liv? —Eric levantou a cabeça do garoto, limpou suas lágrimas e com uma voz confortante voltou a falar. —Vou te esconder, assim como pediu, vamos esperar os policiais irem embora, e assim que forem, você irá me explicar tudo, detalhe por detalhe, desse grupo, do que te aconteceu, e como vamos te ajudar, tudo bem? Temos um acordo?

—Sim...

—Muito bem! —Eric abriu um sorriso no rosto e pegou-o no colo. —Eles vão revistar quarto por quarto, teremos que escondê-lo no lado de fora!

—O que eu faço? —Perguntou Esther na esperança de que ele tivesse um plano.

—Eu vou sair primeiro, distrair os policiais, e vou dar um sinal, você sai com ele no colo, e desce pela escada reserva da biblioteca, ela leva direto na porta para o jardim! Encontre um lugar seguro! Não deixe que ninguém o veja!

—Ok, acho que consigo! —Ela pegou o menino no colo, abaixou a cabeça dele em seu ombro, e esperou o sinal.

No andar de baixo Thomas e Luna estavam aflitos. Policiais passavam por eles, de cômodo em cômodo, pareciam cachorros que eram capazes de farejar e sentir qualquer suspeita.

—Você sabe o que aquele menino está fazendo aqui,  novato? —Sussurrou Luna.

Thomas não sabia o que responder, quais palavras usaria para não demonstrar nada.

—Eu... não sei!

—Ah. O gato comeu sua língua? Qual é! Você sabe de alguma coisa, eu consigo ver em seus olhos!

—Não sei de nada! Cheguei na cidade ontem, acho que ele já estava aqui!

A mente de Thomas borbulhava dentre os fatos que estavam ocorrendo nas últimas horas. Um acidente de carro, uma sombra assustadora, um menino misterioso, e agora, 5 corpos de crianças, assassinadas. Era como se desde que pisara naquela cidade, acontecera mais fatos intrigantes em dois dias, do que em toda sua vida. Para alguém que pensava que passaria apenas uma noite na cidade e voltaria para Londres, Thomas estava bem relaxado. Não se entendia, não estava ciente de que ele mesmo teria feito aquelas escolhas. Não pensara no quanto o seu chefe poderá ficar enraivado quando soubesse que não estava trabalhando no que o pediu, não pensara no carro abandonado na beira da estrada, não pensara em nenhum momento ligar para seus amigos e avisar o que tinha acontecido, "De fato, essa cidade me envolveu"

Thomas desde criança foi sempre curioso. Se a mãe saísse com o irmão, precisava saber para onde iriam, como iriam e quando voltariam, ou se não, a porta era barrada. Quando a professora preferia não dizer as notas até o final do bimestre, ele invadia a secretaria, e roubava suas provas, até ter certeza do que queria saber. E agora, adulto, quando alguém morria, era ele o escolhido de descobrir quem assassinou, porquê, quando, e ter todas as provas em mãos. Pela primeira vez em todo seu estágio, abandonou um caso, e o trocou por uma cidade nada atraente.

Decorou em sua mente, "Preciso ligar para meu chefe, avisá-lo, arrumar uma desculpa, encontrar o carro, e ir embora dessa cidade", logo após voltou a conversar com Luna.

—Trabalha aqui a quanto tempo?

—A mais tempo que se possa imaginar! Antes mesmo dessa mansão se tornar um hotel, eu cozinhava todos os dias para a família Morwood. Eram tempos felizes!

—Não responda se for invasivo demais, mas, como os pais deles morreram?

—Bom... é um assunto complicado. O pai tinha problema mental, e a mãe era extremamente cabisbaixa. Não sei da história completa, mas aparentemente, o pai assassinou a mulher, e depois se matou. E o mais bizarro, é que ele usou o próprio vestido da mulher para se enforcar.

—Nossa! Que passado macabro eles possuem!

—Bem vindo a Grinvield! Aqui você vai encontrar histórias como essa. Todas terminam em mortes, e os Morwood's só são uma delas.

Um policial aproximou dos dois e atrapalhou a conversa.

—Preciso que saiam do hotel, estamos evacuando a área, nada grave, apenas para facilitar o processo de busca!

Os dois concordaram e saíram do hotel pela porta principal.

No quarto do segundo andar, Esther continuava esperando pelo sinal. Foi quando Eric finalmente achou uma brecha em que os policiais se distraíssem, ele bateu as palmas, e Esther alertou. O movimento de abrir a porta, correr pelo corredor e sair da vista dos policiais, com o menino no colo, foi rápido. Antes que Eric percebesse, Esther já passara por eles, e se encontrava andando pela parte oeste da mansão.

Ela se atentou em não correr, não fazer barulhos, e não deixar o menino cair, nunca esteve tão focada.

Passou pelo primeiro corredor sem nenhum problema.

No segundo corredor, teve que enfrentar as enormes janelas do segundo andar, que davam para o jardim em que os policiais revistavam cada centímetro, ela andou com as pernas agachadas e passou para o terceiro corredor.

No terceiro e último corredor, já estava aliviada, a escada circular da biblioteca estava a poucos metros à sua frente. Bastava poucos passos para o próximo desafio, mas o alívio foi interrompido. Um policial subia as escadas lentamente, degrau por degrau, se curvando cada vez que chegava mais perto. E em um momento, Ele estava à frente de Esther.

No susto, com um rápido reflexo, ela colocou o menino no chão, deixando ele atrás de seu corpo.

—Posso ajudar senhor?

—Quem é esse garoto? Atrás da senhora?

—Este... bom... este... é o meu filho senhor!

—Seu filho?

O policial parecia desconfiado. Ele começou a dar passos lentos, mas longos, em direção aos dois.

—Como se chama pequeno? —Ele agachou e virou a cabeça para o lado, conseguindo visualizar melhor Liv, que estava se escondendo nas pernas de Esther.

—L..

—Luke! Ele se chama Luke Morwood! Por que a pergunta senhor?

—Não sabia que já tinha um filho Esther! Ainda tão nova!

—Ora senhor policial! Deixe de ser mal educado, que pensamento mais mal apropriado!

—Eu sei quem ele é!

Esther ficou paralisada e calada.

—O que ele está fazendo aqui? Então... você sobreviveu garoto!

—Não... eu não... não sei do que está falando senhor!

—Saia da frente dele, você vem comigo pra delega...

Liv saiu de trás das pernas de Esther, levantou os braços com um movimento veloz, e o policial voou, foi jogado para trás, batendo a cabeça na parede.

Os olhos de Esther arregalaram, e ela começou a tremer.

—Como... como...?

Um suspiro profundo veio de Liv, e logo após, ele caiu no chão, adormecendo.

Esther se ajoelhou e o pegou nos braços.

—Liv? Liv! Acorda! Acorda... por favor!

—Mas que diabos...

O policial começava a levantar. Quando caiu, sua arma soltou de seu uniforme, ele a avistou no chão e se arrastou para pegá-la.

Sem pensar, sem consciência, com o corpo tremendo, com a mente confusa e assustada, sem nenhuma escolha, Esther levantou, correu em direção ao policial e o empurrou na escada.

Ele rolou cada degrau circular, batendo a cabeça em todo o corrimão de metal.

Quando chegou no andar de baixo, começou a sangrar. 

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