UNIDOS PELO DESTINO

“Querido Diário, este é meu último dia nesta escola. Sendo sincero, não vou sentir pesar algum. Principalmente do idiota que me deu B- no semestre passado... Contudo, sentirei falta dos meus poucos amigos; de ser o mais inteligente da classe; e de apreciar aqueles olhos azuis...”

Howard deixa de escrever em seu diário de capa preta quando percebe um de seus colegas de quarto e melhor amigo despertando na cama que range à sua esquerda. Sentado no acolchoado no meio do cômodo, o adolescente de 18 anos apanha seu celular envolvido ao edredom.

— Três horas para o começo da primeira aula do último dia... — cochicha a si mesmo.

— Já te falei pra parar com esta mania de... — a fala de Mandy é cessada pelo seu bocejar prolongado — cronometrar as coisas.

— Eu só sou organizado...

— E como explica nosso aposento luxuoso? — Brian toma a palavra, despertando o sorriso mínimo dos três presentes em um das dezenas de cômodos no campus da High School no Oregon, EUA.

“Estas pessoas são duas das três melhores coisas que já aconteceram na minha vida... A despedida será inevitável e difícil, e encontrar algo que substitua o que amamos é simplesmente impossível.”

Geralmente, os institutos de ensino separam os dormitórios masculino e feminino, todavia aquele democratiza cada escolha. Os alunos devem ficar onde se sentem bem acolhidos. Alguns dormem ali e outros optam pelo aconchego do próprio lar.

Mandy Morrissette é uma das poucas garotas a dividir o quarto com rapazes. É ela a primeira a levantar, abandonando a cama à direita de Howard Williams. Deixa também aquele recinto, o qual se apresenta em escuridão por causa das cortinas fechadas, para ingressar no banheiro na porta da direita. A respeito dela..., bem, pele em tom marrom, olhos cinza e uma personalidade depreciativa que ela esconde de qualquer um senão os presentes no cômodo.

Brian Lewis move seu corpo com dificuldade, talvez por causa da sonolência. Assim que encontra a posição adequada, põe-se a orar em voz baixa. O moço da cama central se pergunta, assim como em todos os outros dias no mesmo horário, como alguém pode mostrar fé tendo a vida de seu amigo... Ele é o motivo de boa parte das gargalhadas do trio, possui uma palidez acentuada, olhos verdes, cabelo platinado e um humor que camufla sua dor.

Após alguns minutos, a senhorita sai pela abertura do banheiro, pronta para mais um dia de vida.

— Pode ir primeiro, Bri. — Desfazendo a costumeira rotina, o Williams indica a passagem por onde a Mandy havia saído. Sem demora, seu amigo ingressa ali.

— Está generoso hoje só porque é o último dia? — indaga aquela que organiza seus pertences em bolsas, afinal, amanhã não acordará entre as paredes cobertas por pôsteres aleatórios.

— Generoso por deixá-lo usar o banheiro primeiro? — inquire erguendo a sobrancelha, a qual se esconde no assanhado cabelo preto que alcança seu ombro. — Tamanha generosidade poderia ser comparada a mesma mostrada por nossa sina...

— Devia arrumar suas coisas em vez de ficar filosofando lamúrias sobre o desastre que é nossa vida.

O jovem decide acatar a sugestão, até porque os outros alunos também já haviam despertado, e com eles veio o barulho de adolescentes enérgicos pelos corredores, significando que, a partir deste momento, ele não conseguirá ouvir nem seus próprios pensamentos.

Assim que Brian deixa o banheiro, Howard adentra ali com alguns objetos pessoais e a esperança de encontrar algum ânimo no espelho. Pensa que deveria estar entusiasmado, sendo seu último dia ali, no entanto qual a garantia de um futuro melhor? No espelho, depara-se com olheiras tão escuras quanto suas íris.

Apressa-se em banhar o corpo magro e busca uma forma de deixar seu cabelo no mínimo apresentável. Usa um pouco de maquiagem para esconder as marcas sombrias e veste peças pretas de uma roupagem despojada.

Considerando-se prontos e com seus pertences organizados, os três amigos se colocam em um triângulo imaginário em frente à porta de saída. Cada um apresenta um copo na mão.

— Saúde — pronunciam em uníssono e brindam. É a cena icônica e irônica que se repete todos os dias de suas vidas. A ironia jaz na palavra usada, uma vez que saúde é o que menos esbanjam.

O Lewis experimenta um adocicado suco de frutas que carrega consigo junto com alguns doces para onde quer que vá. Hipoglicemia: um baixo índice de açúcar no sangue. Ansiedade, nervosismo, palidez, tremores, tontura, fadiga, uma fome excessiva e alguns desmaios são com o que ele convive. Sem mencionar seu corpo... Bem, nas palavras dele: “Um corpo com excesso de gostosura”.

No copo de Mandy há apenas água potável, a qual ela bebe após colocar dois comprimidos na boca. Um para o tratamento do câncer e outro destinado a arrefecer sua depressão. Dizem que o câncer de mama na adolescência é tão raro quanto ganhar sozinha na loteria, desta maneira, ela se considera uma azarada ganhadora. Alguns meses depois do diagnóstico, acostumou-se com o turbante florido que cobre sua cabeça sem cabelo algum.

“Entre os milhares de motivos que nós três temos para maldizer nossa sina, há um que nos faz agradecê-la: Obrigado por ter nos unido.”

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