TEORIAS DE UM EINSTEIN

As luzes brancas oscilam no teto sem cessar, afligindo ainda mais os três jovens espantados, os quais não conseguem entender quem se aproxima rapidamente.

— Corram! — Quem exclama aterrorizado é o rapaz alto com óculos vacilantes, Victor, que não se atreve a desacelerar sua velocidade. — Eles estão vindo!

— Mais zumbis... — pronuncia o moço de cabelo platinado entre seus colegas. Encaram, com os olhos indecisos, o fato de que a noite está apenas começando.

— Estão vindo por aqui também! — Mandy grita ao adolescente ainda longe, o qual é seguido por rosnados já conhecidos. Não podem regressar, pois não seria surpresa se Josh Gray estivesse logo atrás deles. Encurralados.

— Venham! — Finalmente constatam que Howard havia se afastado alguns metros e abrido uma das portas daquele corredor. Ele chama os três, convocando com uma mão enquanto mantém a outra na maçaneta, pronta para fechar a entrada. — Rápido!

Victor não custa em se aproximar, sendo o último a adentrar o cômodo que logo é fechado pelo mais novo do grupo amedrontado. Uma sala de aula se apresenta no campo de visão deles.

— Me ajudem aqui. — Antes que a adrenalina se refreie, constatam a senhorita de pele marrom erguendo uma mesa e levando-a em direção a porta. Seguindo sua deixa, empilham com rapidez e silêncio algumas mesas e cadeiras como uma barreira na entrada fechada.

— Vocês estão bem? — Howard indaga em voz baixa, próximo dos objetos amontoados. Enquanto a Morrissette ajeita seu curto vestido preto, Brian busca uma cadeira para sentar-se.

— Silêncio... — sussurra o líder da República dos Einsteins, pousando um dedo à frente dos lábios. Uma correria polui sonoramente o corredor fora dali, passos apressados misturados com rosnados assustadores e gritos exasperados.

O rapaz ruivo de óculos, então, indica o fundo da sala. É para lá que os quatro se direcionam com passos leves e receosos. As luzes ainda piscam semelhantes as que piscavam na festança de poucos instantes antes, entretanto, repentinamente, a claridade se dissipa e não retorna mais.

Todos usam seus celulares em proveito de iluminar parcialmente o ambiente escuro, e só então aparentam respirar outra vez, no entanto de forma desacertada.

— Sabe o que aconteceu? — Sentando-se finalmente, o jovem Lewis questiona ao mais alto. — O que está acontecendo...

— Minha ignorância diz que é algum efeito colateral do uso de drogas, porém minha experiência sabe que são... zumbis. — Victor teoriza com dramaticidade, tomando uma cadeira para si.

— Obrigada, Sherlock Holmes, mas gostaríamos de saber o que causou tudo isso. — A situação muda o humor de Mandy, a qual se atenta aos passos ainda ecoando fora da sala. Ela anda de um lado a outro, sem conseguir romper a repetição.

— É... e-eu não sei... — Respira fundo, talvez seja traumatizante buscar na memória uma explicação plausível enquanto a senhorita o pressiona com o olhar. — A festa estava seguindo normalmente. Normal para um aglomerado de adolescentes agitados. Até que alguns deles começaram a passar mal e pouco tempo depois perderam a razão, atacando, como zumbis, quem estivesse em sua frente.

“Stephan Golding... Talvez eu esteja em uma situação pior que a sua, porém, por favor, permaneça seguro. Um namorado vampiro não seria tão ruim, mas um zumbi...”

— Não lembra o que pode ter causado isso? — A moça insiste em ter respostas enquanto o moço pálido meche em seu telefone com as mãos trêmulas. — O que ocorreu no salão antes disso?

Neste momento, Howard, que jaz sentado, abandona seu silêncio pensativo para responder em uníssono com o Professor Desempregado:

— Não foi algo que ocorreu no salão. — Após afirmarem com certeza, entreolham-se, tomando a atenção dos outros dois.

— Josh não estava lá quando se tornou um...

— Um momento, o Josh Gray? — Victor interrompe a explicação do Williams de maquiagem borrada e cabelo preto bagunçado. Somente com a confirmação necessária, o rapaz torna a discorrer: — Talvez eu tenha uma teoria do que causou tudo isso...

— Devíamos estar procurando uma maneira de sair daqui ao invés de darmos uma de The Walking Dead misturado com Elite. — Brian reivindica o foco da conversa. Seus olhos verdes aparentam ainda mais vívidos em contraste com o breu da sala e a claridade da tela do celular. — Não iria ligar para minha mãe vir nos buscar, obviamente, então já tentei chamar a polícia, mas não tem sinal aqui.

— Como assim? — Com a pergunta da moça, todos averiguam seus aparelhos e logo constatam a ausência de sinal. Impossível se comunicar com o mundo fora da escola. — Estamos ferrados.

— Ainda não — contrapõe o nerd de óculos. — Quando tudo começou, muitos alunos correram em direção à saída da escola, então boa parte dos zumbis já devem estar lá fora. Uma hora ou outra eles terão que sair daqui para se alimentar, então também teremos a chance de sair.

— E então, em vez de lidar com um prédio cheio de mortos-vivos, só teremos que lidar com uma cidade inteira lotada deles. — Howard comenta com ironia e certa raiva. — Einstein estaria orgulhoso de você...

— Escuta aqui! — Victor levanta subitamente, direcionando o dedo indicador de modo ameaçador, todavia não dá continuidade a sua ideia de repreensão.

Mandy se fixa à frente dele de tal forma que perece ter o dobro do seu tamanho, mesmo sendo menor que o Professor Desempregado. A senhorita agarra à mão do jovem e abaixa a mesma sem muita dificuldade. O susto se dissipa gradativamente no semblante do estudante.

— Lembre-me de agradecer ao seu pai por ter escolhido ser lutador e te ensinar — murmura o Williams à amiga que sorri sem graça ao ajeitar sua longa peruca.

— Se tudo tiver começado aqui, então a solução pra terminar também deve estar aqui. — Brian Lewis declara em motivação, mirando seu olhar esperançoso em cada um dos três que o contemplam com surpresa. — Precisamos acabar com essa ameaça antes que ela atinja um número maior.

— Achei que seu plano fosse fugir ao invés de combater os zumbis — comenta em deboche o líder dos Einsteins, regressando à cadeira onde, antes, estava sentado.

— Hoje eu encarei a minha própria morte, e não foi nada legal. — O jovem de cabelo platinado direciona os olhos até a tela de seu celular ligado. Nada de sinal. Então torna sua visão convicta àquele que lhe importuna. — Depois disso, percebi que prefiro sobreviver, então foquei só nisso. Mas agora entendo que não adianta estar vivo se quem eu amo não estiver junto comigo. Não posso deixar que eles cheguem até minha mãe.

“Se isto fosse um livro e não um diário, seria difícil escolher entre qual dos meus amigos teria o papel de protagonista... A força da Mandy ou o coração do Bri?”

Posteriormente aos instantes em que todos permanecem em silêncio, ponderando a situação, ouvindo rosnados angustiantes e gritos distantes, além da respiração do quarteto, Victor finalmente toma a atenção:

— Desculpa ter de informar, porém não podemos fazer nada além de fugir — relata, com pesar, sua infeliz certeza. — Pelo que teorizo, tudo que está ocorrendo agora não teve início neste colégio, então a solução também não será encontrada aqui.

— Como sabe? — questiona a moça confusa.

— Notaram os olhos do Josh? — interroga mantendo suspense.

— Olhos azuis... — Howard murmura as duas palavras que lhe fazem recordar outra vez de seu amante.

— O que isso tem a ver? — A Morrissette insiste.

— Qual a única coisa que se lembram de ter visto na festa com a mesma cor azul? — conclui na espera que saibam a resposta.

— Os bolinhos — pronunciam os três Zumbis em uníssono. Seus semblantes expressam tanto pavor quanto no instante em que encararam a morte.

“Lembro que as vestes dos irmãos Golding também eram azuis. Todavia, entre roupas caras e cupcakes suspeitos, acho que a comida me parece mais mortal.”

— Exato. Josh Gray realmente deve ter adicionado algo a mais neles... — Com o comentário incerto do rapaz alto, o trio se entreolha, perdendo o controle da respiração. — Não é mais possível perguntar a ele o que foi e nem como remediar. O que podemos fazer é sair desta escola e procurar a origem desses bolinhos malditos. Isso se quisermos resolver algo...

Só neste momento, Victor constata que suas presunções não têm a atenção merecida, pois seus ouvintes permanecem catatônicos, buscando refúgio nos olhares uns dos outros. Então os requere:

— O que deu em vocês agora?! — A exclamação do ruivo furta a cena.

— Nós, meio que... — Brian transita a visão do Einstein aos seus amigos, buscando confirmação para a declaração. Eles assentem, e o jovem torna a sua fala: — Nós três comemos dos bolinhos azuis...

— O quê? Como assim? — O Professor Desempregado se ergue rapidamente e nem percebe seu corpo se afastando deles de modo automático. A garota pede silêncio, porém o jovem apenas dá continuidade, voltando-se ao mais novo. — Eu falei a você que o Gray havia colocado algo neles...

— Você também disse que isso era apenas um boato — retruca ao levantar. Tenta chegar mais perto na intenção de apaziguar. — Não achei que o Josh tinha uma receita para o apocalipse.

— Não se aproxima! — A ordem de Victor fuzila o trio como se fossem zumbis na mira de soldados apavorados. O moço se torna uma recordação viva de todas as vezes que alguém tomou distância deles. Sempre dizem já estarem acostumados, contudo isso ainda é uma mentira. Recusam-se a acreditar que são como uma praga, todavia tal pensamento parece mudar a cada vez que afastam alguma pessoa. — Fiquem longe de mim.

— Se fossemos nos transformar em zumbis, isso já teria acontecido. — Mandy pondera com raiva e esperança em suas palavras. — Então, ou sua teoria dos bolinhos está errada, ou o fato de termos vomitado pouco depois de comer eles anulou o efeito do... seja-lá-o-que-aquele-imbecil-utilizou.

— Vocês três vomitaram? — Acalma seus ânimos ao regressar para mais teorias.

— Sim — sanciona o Williams.

“Há males que vêm para o bem. Passar mal pode ser o motivo de ainda estarmos vivos, mesmo assim não podemos dizer que estamos bem, presos numa escola cheia de zumbis.”

Retornam aos seus lugares de antes. Victor se mostra pensativo, uma solução não demorará em lhe surgir na mente, pelo menos é o esperado. A Morrissette não se concentra em nada além dos sons exteriores àquela sala, gritos, rosnados, batidas e coisas sendo quebradas. Brian não desiste de achar sinal em seu celular, então levanta e cochicha pedidos ao seu Deus enquanto anda por ali.

Howard não consegue raciocinar direito, por isso resolve abrir o bloco de notas em seu aparelho. É o que faz quando seu querido diário não está por perto. “Escrever pode te ajudar a espairecer as ideias” foi o que a psicóloga aconselhou uma vez. Desde então, ele anota momentos de sua vida em constância.

— E agora? — Os olhos verdes de Lewis miram cada um dos outros quando indaga. Aparenta estar convencido de que não virá ajuda de fora da escola. Deverão resolver a situação, sozinhos. A atenção se mistura com a tensão. — O que faremos?

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