SUPER MANDY

— Talvez isto seja apenas uma reação. — Mandy tenta acalmar a senhorita que começa a tremer por inteira.

— Me ajudem, por favor! — clama Loretta, seu corpo se contorce de jeito anormal.

— Afastem-se dela! — Victor adverte assim que joga as escadas pela janela aberta.

Tarde demais. Antes que todos tomem distância da ruiva, ela acaba mordendo a mão que lhe foi estirada em ajuda. Apesar da dor, a Morrissette recua para trás, pressionando a palma sangrenta, aproximando-se de seus amigos.

Quando a diretora do jornal finalmente ergue sua visão na direção do quarteto, suas íris se mostram em um intenso azul. Dentre à cólera de seu semblante, é perceptível a desorientação em que se encontra. Como se experimentasse uma nova droga. Ou está apenas escolhendo quem será a primeira vítima ao transitar seu desejo entre as opções.

Os quatro adolescentes não conseguem formular os próximos passos. Sentem que serão pegos se correrem; entretanto, se ficarem, serão comidos. Os Zumbis talvez desejem, mais do que nunca, ser invisíveis como eram antes.

— Tudo vai ficar bem, Loretta. — Mandy baixa as mãos indicando a calma que quer transmitir. Mesmo desesperada, sorri com esforço.

— Corram, seus imbecis! — O líder dos Einsteins quebra a falsa quietação, passando sua primeira perna através da janela.

A ação requisita a atenção de todos, por mais que o trio não consiga deixar de se atentar a ameaça que rosna. Com isso, a primeira vítima parece ser finalmente escolhida. Leta dispara como uma fera na direção do Professor Desempregado, sem apresentar nenhuma intenção de frear.

“Se a notícia é boa ou má, não importa, uma vez que ela é sem fundamento. E comprovar suas teorias pode ter um preço tão alto quanto o segundo andar.”

Ninguém da República dos Zumbis consegue compreender o momento antes que algum desastre aconteça. Loretta se lança sobre Victor, e os dois perdem o equilíbrio necessário, caindo para fora através da janela aberta.

Os rapazes correm assim que recuperam o propósito. Dividem o espaço da pequena abertura na intenção de descobrir qual o desfecho do ataque súbito. Somente morte. O líder dos Einsteins jaz sem vida no chão do estacionamento, e, ao seu lado, a diretora apresenta o mesmo destino terrível.

— Gente... — A voz chorosa de Mandy requisita o olhar de seus amigos, os quais constatam a mão ensanguentada da moça assustada. — Eu acho que isto não é bom.

Os globos oculares esbugalhados não disfarçam um pouco sequer do temor que sentem ao entender, agora, o significado daquela mordida. Antes seria só mais uma cicatriz, neste instante, porém, creem que ela logo se tornará mais uma zublye.

— S-se sairmos daqui agora, ainda podemos encontrar a cura pra isso tudo. — Brian Lewis declara sem conseguir mirar algo que não seja a ferida, a qual é pressionada pela senhorita.

— Não somos cientistas, Bri — contrapõe a mais velha, estancando o sangramento com a própria mão. Seu argumento silencia o grupo pensativo por um curto momento. — Até os verdadeiros médicos encontrarem uma cura, já vou ter...

— Não fala. — Howard intervém, fixando suas íris pretas nas cinza da moça com vestido curto e rodado. — Só precisamos saber onde o Josh encontrou aqueles malditos cupcakes e talvez achemos a resposta.

— Gente... Tá tudo bem. — Ao dizer isto, uma lágrima carrega consigo uma parte da maquiagem no rosto da Morrissette. — Se isso for mesmo o começo de um apocalipse, então eu tenho mais pena dos que vão ter que resolver essa merda toda.

Forçam um sorriso em meio ao choro que mostra ainda mais presença quando deixam de segurá-lo. Em um impulso sincronizado, os Zumbis se abraçam como se nunca mais fossem fazer isso. Talvez não o farão. A força do entrelaço aumenta na mesma medida que a saudade daquilo que ainda possuem: um aos outros.

“Uma das primeiras perguntas que nos surgem quando estamos em situações ruins é: em que momento tudo começou a dar errado? Quando as coisas começaram desandar? Posso dizer que sei a resposta para tal questão desde sempre...”

— Vocês precisam ir. — Mandy os desperta de suas próprias mentes depreciativas, entretanto não ousam desfazer o abraço.

— Não está pensando que vamos te deixar aqui sozinha, não é? — indaga, com desaprovação, o jovem de olhos verdes.

— Vocês não podem ficar comigo, e eu... Eu não posso mais ir com vocês. — O choro da moça se transforma em total desespero.

Cada integrante daquele gesto de afeto já havia, em algum período de sua vida trágica, aceitado a morte. Morrer já foi considerado uma escapatória plausível do sofrimento. No entanto, a cada instante desta noite, aparentam desejar ainda mais continuar vivos. Sobreviver como Zumbi é muito ruim, todavia existir como um zublye lhes parece muito pior.

Caminhares acelerados e rosnados distantes se aproximam, anunciando isto através do barulho que ecoa pelo corredor fora daquele cômodo trancado. O tempo cronometrado se esgota mais rápido do que o esperado.

— Vão, antes que sejam atacados também. — Ela desfaz o entrelaço de seus braços, nos quais ainda jazem amarrados os saltos pretos. Então se afasta. — Obrigada por cada momento em que estiveram juntos comigo, foram os melhores de minha vida.

— Obrigado por ser a responsável do nosso grupo — agradece o moço com hipoglicemia.

— Obrigado por ter me salvado naquele dia. — O jovem Williams faz menção ao seu quase-suicídio.

“Eu gostaria de poder fazer o mesmo por você, Super Mandy.”

— Mand... — A fala de Brian é interrompida por batidas fortes na porta de entrada. Os zublyes.

— Precisamos ir agora. — Howard puxa seu amigo pelo braço até a janela aberta. Ali, observam mais uma vez a amiga que sorri dentre às lágrimas imparáveis.

— Se encontrarem o meu pai, digam a ele que o amo. — Despede-se acenando. Seu gesto é copiado pelos dois que finalmente cruzam a janela e procuram forças para descer as escadas enquanto euforia, raiva, medo, cansaço e lembranças os preenchem...

•••

Até seus dezesseis anos, a jovem Morrissette era como qualquer outra garota, cheia de ambições e vitalidade para realizá-las. Um de seus maiores sonhos era se tornar líder de torcida quando estivesse no ensino médio, assim como sua mãe, um dia, foi.

No entanto, certos meses após ela salvar o pequeno Williams na ponte, e próximo ao dia em que finalmente poderia realizar sua ideia, a senhorita recebeu a pior notícia de sua vida. Depois de algumas semanas em que se sentia desconfortável consigo mesma, ao procurar ajuda especializada, descobriu ser portadora do câncer de mama.

“Por que eu?” Foi o que se questionou. “Por que justo comigo?” Desde então, aquele momento foi considerado por ela como o início do desandar de sua vida, quando tudo começou a dar errado.

Mandy entendia exatamente pelo que teria de passar e como seria sua vida dali em diante. Precisou de poucos dias em reflexão e lamúria para decidir o que faria.

Em uma bela tarde, aproximou-se da janela de seu apartamento; décimo terceiro andar. Recordou-se de seu novo melhor amigo, Howard Williams, então lhe enviou uma mensagem: “Me desculpa por desistir. Só quero que saiba que foi um imenso prazer ter te conhecido.” Em seguida, enfrentou a janela alta como se essa fosse saída de sua aflição...

Naquele mesmo dia, quando o senhor Chris Morrissette chegou em casa, encontrou sua filha chorando no sofá da sala. Não demorou em acolhê-la em seus braços musculosos. A senhorita nunca havia tido o pai tão presente em sua vida como naqueles últimos dias.

“Me desculpa! Me desculpa por não ser forte como você!” Ela choramingou aos prantos. “Eu quase tentei contra minha própria vida, mas não consegui nem me matar, eu fui uma covarde!”

O homem alto de pele mais pigmentada que a da moça, só então, afastou sua filha um pouco de seu abraço aconchegante, pois desejava falar olhando diretamente em seus olhos cinza. “Desistir da morte não te faz uma covarde, porém te faz muito corajosa, por não desistir da vida. Pois viver é muito mais difícil que morrer.”

Tal ensinamento seguiu a menina durante os tratamentos do câncer, durante o treinamento marcial que ela deu início com seu pai, e durante aquele ano em que não se sentiu disposta para estudar. Doze meses depois, finalmente ingressou no ensino médio e agradeceu ao destino por ter Howard como colega de quarto e também Brian Lewis. Sendo eles os únicos que pareciam entendê-la de verdade naquela escola.

Isso foi o que revelou aos outros Zumbis, em uma das conversas sobre suas vidas trágicas, a forte e bela Mandy Morrissette...

•••

Relembrando os momentos com sua inestimável amiga, e refletindo sobre a frase de Chris, o Williams desce a escada de corda junto do amigo logo abaixo, apressado. O rapaz de cabelo platinado parece sussurrar uma oração, talvez pela alma da que deixaram para trás. Lágrimas constantes empecilham a decida do segundo andar, cegando os olhos marejados.

“Querido Diário, desistir não é mais uma opção. Pela Mandy!”

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