Parte I.II - 31/10/2014

Uma verdade macabra...

Eu não podia acreditar no que ouvia da minha sala. Fiquei tão assustada, que percebi que havia me encolhido no canto, até me dar conta do óbvio. A parede me separava dos vizinhos

-     Você é uma assassina! Eu sabia! Não devia ter confiado em você!? Eu acho que você se corrompeu, você tem prazer em acabar com a vida.

-       Modere o tom e não teste a minha paciência Lucian, você sabe muito bem do que sou capaz.

-       E se você tiver errado de novo? E se não for ela? Não vou mais entrar nesse seu jogo doentio. Quantas já foram mãe? Aceite que não vai conseguir nunca, aceite! Você não percebe? A culpa de toda essa desgraça, é sua!

-     Seu ingrato! Você sabe quantas vezes sujei as mãos de sangue por você?! Está na hora de retribuir! Querendo ou não, você não tem escolha. Até o dia de Finados, é a escolha que faz você. Você sabe disso. Eu garanti que você não tenha escapatória.

-     Não dessa vez, mãe. Nenhuma outra inocente vai pagar pelos seus erros, não pelas minhas mãos! Olhe bem minhas mãos e minha camisa mãe, foi a última vez que me sujei de sangue por sua causa.

-       Lucian, volte aqui!

Ouvi uma porta bater e corri para meu quarto. Girei o trinco e me encolhi debaixo do edredom.

Isso é um pesadelo... Isso é um pesadelo... Isso é um pesadelo...

Acorda Hannah. Acorda. 1, 2, 3 acorda!

Descobri o rosto e fitei o teto. Eu continuava ali. Presa no que só podia ser uma piada de muito mau gosto. Meu corpo não parava de tremer.

A mãe dele matou alguém? Não, eles falaram no plural. Lucian usou a palavra: Quantas.

E quem era a garota inocente? Eu?

Talvez eu devesse chamar mesmo a polícia.

E contar o que Hannah? Um garoto tatuado com olhar de fogo invadiu meu quarto, me agarrou a força, só que eu meio que permiti, e depois ouvi uma confissão dos vizinhos dizendo que matavam as pessoas. Claro, muito verossímil!

Eu também poderia contar a minha mãe, que por sinal, nunca levou tanto tempo no mercado. Mas é óbvio que ela não acreditaria em mim. Nem eu mesma acreditava.

Cobri o rosto com o travesseiro. Respirei fundo duzentas vezes. Eu tinha que acordar. Tinha que acordar. Fechei os olhos e contei até mil, acabei adormecendo.

Um barulho na janela me fez erguer o tronco assustada. Resfoleguei.

Será que foi um pesadelo?

Massageei o rosto e conferi as horas no relógio de pulso: 19:30.

Droga, a Dorothy vai chegar daqui a pouco, ainda não arrumei o quarto e minha mãe não vai  me deixar ir na festa!

Espera um pouco, sete e meia da noite e minha mãe ainda não voltou? E sem me deixar nenhum aviso?

Levantei da cama e suspirei. Tive uma leve sensação de alívio. Aquilo tudo com certeza foi só um pesadelo, nada demais. Me espreguicei e espantei o sono para começar a organizar a bagunça, então olhei de verdade para o cômodo.

Estava completamente arrumado. Não havia um sapato fora do lugar, nenhuma bolsa jogada. Até as prateleiras de livros e a escrivaninha, estavam impecáveis. Meu coração doeu com a força que bateu dentro do peito.

Quem fez isso?

Como resposta a pergunta que não manifestei em voz alta, a porta do meu armário se abriu com um rangido e a primeira coisa que vi, foi a fantasia comprada para a festa de Halloween. O vestido que eu estava louca para usar, de noiva macabra. Peguei o cabide hesitante e estiquei a roupa sobre a cama. Ele estava como antes:

Branco, rendado e rasgado na altura dos joelhos, como se roído por traças. As luvas de cetim envelhecidas também estavam ali, assim como o véu e a grinalda. Subi os olhos pelo vestido analisando centímetro por centímetro até a curva do cabide e me sobressaltei. Aquele item, pendurado sobre o decote, não era meu.

Um colar e um papel colado com durex.

Todos os meus poros se arrepiaram. O sangue deixou meu rosto. Aquilo não foi um pesadelo então.

Peguei o papel e o abri:

"Minha noiva, deve usar pérolas.

A propósito, gostou da arrumação?"

Minha noiva? Percebi que Lucian, era mais perigoso do que eu havia imaginado. Ou, eu lidava com algum tipo não diagnosticado de loucura. Mas de um jeito ou de outro, um sentimento que eu não estava habituada a deixar se apoderar de mim, cresceu absurdamente em meu peito.

Medo.

Louco ou não, perigoso ou não, Lucian invadiu meu quarto duas vezes em um só dia, e pelo visto, planejava ir a mesma festa que eu, talvez estivesse me seguindo há algum tempo. Além disso, esse dia estava todo estranho, todo errado.

Olhos de fogo que mudavam de cor, uma vizinha assassina e ele ainda possuía habilidades fora do normal. Desaparecia quando queria, se movia na velocidade do vento. O pior de tudo, era sua outra habilidade. Lucian tinha o poder de me fazer agir de forma insensata, irracional, bastava tocar em mim, e eu me sentia consumida por seus olhos de fogo.

Eu daria um jeito de me manter o mais distante possível.

Arranhei meus braços frustrada e fui tomar um banho quente para me arrumar para a festa.

Não vou ficar sozinha em casa de jeito nenhum!

Eu precisava conversar com alguém. A Dorothy acreditaria em mim, ela sempre foi fascinada por coisas ocultas, talvez pudesse me ajudar de alguma forma.

Saí do chuveiro, coloquei o vestido de noiva macabra, a meia arrastão preta, o all star vermelho, as luvas, o véu e a grinalda, e esfumacei as pálpebras. Me olhei no espelho e aprovei o visual. Apesar de toda a aura macabra me rondando, consegui ficar animada. A noite de Halloween, era de longe, a minha data preferida. Fitei de novo o colar de pérolas, que deixei jogado na cama. Era lindo, as pérolas pareciam reais. Não sei o que me deu, mas acabei passando o cordão pelo pescoço. Uma espécie de calor, vibrou por debaixo da minha pele.

Dei de ombros. Estava determinada a ignorar coisas estranhas e curtir a festa como uma garota normal.

Peguei meu celular na cabeceira e quando ia ligar para Dorothy para saber se ela estava a caminho, havia uma mensagem recebida:

"A festa não tem a menor graça sem você. Queria muito que pudesse ter vindo."

Safada! Não acredito que ela foi sem mim!

Olhei as horas e minha raiva cresceu. Eu só havia me atrasado quinze minutos!

Caramba que sacanagem. Não acredito que a Dorothy fez isso. Se bem que, ela não teria ido sem me avisar antes. Sinto o cheiro da minha mãe paranoica no meio disso.

Será que ela ligou para a minha amiga e me proibiu de ir?

No mesmo instante, digitei o número da minha mãe e enviei uma mensagem para ela:

"Boa tentativa mãe. Foi por isso que você desapareceu o dia todo, não é? Para que eu não pudesse nem argumentar? Estou indo para a festa, sua tentativa de me impedir, falhou. Quando você resolver aparecer, verá que meu quarto está todo arrumado, como combinamos. Vou dormir na Dorothy.

Bjos"

Passei o batom vermelho, espalhei perfume nos pulsos e no pescoço e saí de casa. O vento gelado me fez estremecer. A fantasia tinha a desvantagem de não me proteger do frio congelante do condado de The Crow.

Desci os degraus da frente de casa e olhei boquiaberta para a mansão gótica dos meus novos vizinhos.

Ninguém podia fazer tudo aquilo tão rápido. Surreal! Cruzei o pátio da minha casa rapidamente e fui atraída como um ímã para a frente da mansão. Eu precisava olhar aquilo de perto.

_____________________________________________________________________________

Olááá, espero que tenham gostado! Caso sim, não esqueça de comentar e de dar estrelinha!

E agora? O que será que a Hannah viu na mansão?

Apenas lembrem-se:

Tomem muito cuidado com seus olhos...

Beijosss

Sigam no instagram: @carineraposoautora

Olhar de Fogo tem página no facebook e também está no Skoob!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top