01/11/2014 - 22:30h

Uma cena de terror...

 

Chegamos ao riacho e tirei o tênis all star. A grama úmida pinicou meus pés cansados. Escutei o som tranquilizante do rio e encarei a fraca correnteza. Sem nenhuma pausa para refletir sobre o que fazia, mergulhei.

A água gelada me deu um abraço refrescante e lavou parte do terror daquela noite maldita. Esfreguei os olhos, joguei o cabelo para trás e vi Lucian me encarando com seus círculos de fogo vermelho. Sem hesitar, ele pulou atrás de mim.

-        Está melhor, Hannah?

-        Vou ficar assim que encontrar minha mãe. Vamos?

Me virei e sua mão quente mesmo naquela água congelante segurou meu cotovelo.

-        Espera, eu preciso te contar sobre Acássia antes de partirmos. Fique calma. Dukian está vigiando.

-        Me peça qualquer coisa, Lucian, menos isso. Como pode esperar calma de alguém que passou por essas coisas?!

Tentei me soltar mas Lucian aumentou o aperto e colou o corpo no meu.

-        Então não se acalme, mas me escute!

Pisquei ao ver Lucian exaltado pela primeira vez.

-        Desculpa, Hannah. Isso é importante. Preciso que confie em mim e me escute.

Assenti.

-        Antes de qualquer coisa, banana. – Ele abriu o sorriso de garoto que acabou de aprontar. – Preciso fazer uma coisa. Estou sonhando com isso a noite inteira.

Aqueles lábios grossos tocaram os meus e nos segundos seguintes em que sua boca se moveu com a minha, esqueci de tudo o que havia acontecido. Éramos somente eu e ele. Enterrei os dedos na sua nuca e pela primeira vez naquela noite, acreditei que estava protegida dentro de seu abraço. Seu peito nu e quente em contraste com a água gelada fez o mundo rodopiar. Com Lucian unido a mim, me senti como se flutuasse. Seus braços fortes me apertaram e sua língua acariciou meu lábio. Puxei os cabelos dele, Lucian afastou nossa boca e sorriu:

-        Muito melhor do que eu imaginava.

Demorei para responder porque estava intoxicada. Quando voltei a raciocinar, Lucian me oferecia sua mão do lado de fora do riacho.

-        Vem, Hannah.

Aceitei e fui içada da água. Uma brisa congelante fez meu corpo estremecer. Lucian passou os braços em volta de mim.

-        Senta, aqui. Nós temos algum tempo e preciso que me ouça, Hannah.

-        Lucian, diga logo. Não vou aguentar essa tortura de ficar esperando.

Me deixei cair na grama, ele sentou do meu lado.

-        Não se assuste com o que vou te dizer agora, ok?

-        Acho difícil, depois de tudo o que vi hoje. – Enrolei o cabelo no pulso e o torci para tirar o excesso da água.

-        Espero que sim. – Ele suspirou e olhou sério para o horizonte.

-        Fale, Lucian. Não vou me assustar.

-        Vou contar de uma vez, Hannah. Antes que eu mude de ideia. – Lucian passou a mão pelos cabelos molhados. - A primeira coisa que você precisa saber, é que todas as integrantes do coven, estão mortas. E foi sua mãe, a responsável por isso.

-        Que??? Minha mãe jamais faria isso! Não minta pra mim, Lucian!

Meu peito subiu e desceu rapidamente. Eu não havia sido criada por uma assassina. Não! E como eu poderia enxergá-las, se estavam todas mortas?

-        Vai escutar, ou prefere continuar me acusando?

Seu olhar de fogo, faiscava mágoa.

-        Desculpa, Lucian. Mas você tem noção do quanto isso é estranho?

-        Eu entendo sua reação Hannah. Mas não é uma questão de quem é inocente ou culpado aqui. Essa noite, é uma questão de quem vive e de quem deve continuar morto, entendeu?

-        Não.

-        Se elas conseguirem erguer o Fantasma Profano, ele trará todo o Coven de volta. Incluindo, minha mãe, Acássia. A viúva negra, amante do príncipe do submundo. O Fantasma Profano, é um necromante.

-        Mas o que eu tenho a ver com isso, Lucian? Por que elas pegaram minha mãe? Eu não acredito que ela possa ser uma assassina. E como eu posso ver pessoas mortas? Isso é surreal!

-        Esqueceu da conversa que ouviu quando voltou ao passado? Sua mãe fazia parte do Coven. Quando ela entrou no círculo, Acássia profetizou que ela traria a Genuína e nunca mais a deixou em paz. Ao ponto de forçar seu próprio noivo, Hugo, a se casar com sua mãe, somente para garantir que ela procriasse. O que Acássia não esperava, era que Hugo se apaixonasse por Cordélia. E como Genuína, Hannah, ver os mortos é só mais um dos seus dons.

O embrulho que senti no estômago me obrigou a me encolher. O metal frio da chave em meu sutiã trouxe a constatação que eu relutava para aceitar. Eu estive mesmo no passado e ouvi a conversa de meus pais. Aquilo era mesmo verdade e não havia motivo para Lucian inventar aquilo tudo. Cobri os ouvidos e enterrei o rosto no vestido de noiva molhado. Inspirei e expirei umas dez vezes para afastar a crise de pânico. A mão quente e confortadora de Lucian em meus ombros, trouxe lágrimas aos meus olhos:

-        Eu não posso aceitar que cresci vivendo uma mentira, Lucian.

-        Desculpa, banana. Mas eu precisava contar isso a você.

-        Supondo que eu acredite em toda essa história louca. Qual é a explicação para a minha mãe estar viva desde 1815?

-        Depois que seus pais fugiram, Acássia conseguiu descobrir onde você estava escondida. Mas sua mãe agiu mais rápido. Com o ritual do sangue, ela prendeu as integrantes do Coven no sótão da mansão e as incendiou. Mas antes de morrer, Acássia a amaldiçoou com vida eterna, para que mesmo depois de morta, pudesse continuar sua busca pela Genuína.

-        E meu pai?

-        Ele vendeu a alma para se tornar imortal, e até onde eu sei, encontra com sua mãe as escondidas por todos esses anos. Dia após dia em busca de uma maneira de se libertar, ou de se livrar para sempre de minha mãe.

-        Mas e quanto a mim? Por que eu? Por que eu sou a Genuína?

-        Não posso afirmar, Hannah. Só sei que você é a única capaz de enviar os espíritos do Coven eternamente para o submundo e de erguer o Fantasma Profano. Se elas pegarem você Hannah... – Ele parou de falar alguns segundos e meu sangue congelou em expectativa - Não se preocupe, não vou deixar que cheguem perto.

Lucian segurou minha mão com a expressão torturada. Engoli em seco.

-        O que elas farão, Lucian?

-        Esqueça isso. Vamos. Está na hora.

Ele fez menção de se levantar e eu o segurei.

-        Você já disse quase tudo Lucian, agora termine a história.

Observei suas sobrancelhas grossas unidas enquanto ele olhava fixamente para o chão. Sua fala saiu entredentes:

-        Seus olhos Hannah. É isso o que elas vão tentar pegar.

Levantei com a vista turva e a cabeça girando. Limpei as mãos sujas de terra no vestido. As palavras se repetiam dolorosamente.

Elas querem meus olhos. Meus. Olhos.

Lucian entrelaçou os dedos nos meus e andamos por algum tempo em silêncio.

Não precisei perguntar aonde íamos. O som grave de algo que me lembrava um tambor chegou aos meus ouvidos. O aroma de queimado e alguma erva que eu não soube definir impregnava a clareira.

Mas o pior de tudo, foi observar aquela cena. Testemunhar aquele ato de horror.

Se Lucian não tivesse coberto minha boca, o Coven inteiro teria escutado o berro que eu soltei.

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Olááá, se gostaram não esqueçam de votar e comentar! =)   Beijos e até amanhã!

Não se esqueçam:  

NA PARTE III, TUDO TERMINA. E A HORA SE APROXIMA...

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