01/11/2014 - 19:00

Uma chance? 

O que eu faço agora? Como retorno para Dukian e Lucian na casa do Sacerdote Lefrève?

Corri de volta para o quarto. Eu precisava encontrar aquela chave. Se os mantos negros que se aproximavam na rua, fossem mesmo as mulheres do Coven, eu não teria escapatória.

Espera...

Girei a maçaneta e parei na soleira da porta.

Talvez seja isso.

Um brilho clareou meus pensamentos.

É isso Hannah! Você voltou ao passado para impedir que elas encontrem a chave capaz de abrir o túmulo! Não pode haver outra explicação!

Tranquei a porta, entrei no quarto e tentei recordar com detalhes da vez em que estive ali, horas atrás na mansão, quando as bruxas invadiram a minha mente. Lembrei do momento em que derrubei o espelho, a chave caiu e???

Interrompi o raciocínio ao ouvir dezenas de batidas na porta do quarto. Vasculhei pelos cantos o mais rápido que pude. Nada! Não estava em lugar algum!

Arranhei os braços, cocei a cabeça e de repente vi um objeto reluzir com uma espécie de brilho dourado, aos pés da cabeceira ao lado da cama.

A chave!

Eu tinha segundos para pegá-la antes delas entrarem, ou acabaria aprisionada em um tempo onde nada, nem ninguém parecia existir além de mim, daquela casa e da mansão gótica ao lado. Já que até meus pais haviam partido.

Joguei o corpo sobre a cama e rolei até cair no chão. Elas entraram. Duas pessoas com o rosto coberto pelo manto negro me seguraram perto da cabeceira.

Uma delas, tentou prender minhas pernas. Chutei o ar diversas vezes até acertar alguma coisa. Senti outras mãos me agarrarem. Um toque frio em minha pele. Elas estavam por todos os cantos.

-        - Me larguem! Me soltem!

-        - Dê-nos o que é nosso Hannah. Onde está a chave?

Um manto negro se aproximou e cravou as unhas na maçã do meu rosto.

-        - Entregue Hannah, ou esteja pronta para sofrer.

A voz da mulher me fez estremecer. Meu peito batia como um tambor. Doía. Respirei ruidosamente. Não havia ninguém ali para me ajudar. Não adiantaria gritar. E a chave não estava comigo. Na agitação, talvez eu a tivesse empurrado sem querer para debaixo do móvel. Remexi o pescoço na tentativa de encontrar o objeto, mesmo com todos os pares de mãos que me imobilizavam. Funcionou. Parei de me mover para que elas não suspeitassem. Senti a chave no topo da minha cabeça. Provavelmente no pé da cabeceira. Desci as pálpebras e pensei no par de círculos de fogo vermelhos.

Lucian, não sei se você está bem, ou se pode fazer isso, mas por favor, me tira daqui!

Uma mão gelada apertou meu pescoço. O ar começou a falhar para chegar aos pulmões mas não ousei abrir os olhos. Eu sabia que o fim se aproximava.

Engasguei. Tossi. O mundo girou em um misto de cores escuras. Tossi de novo.

-        - Hannah! Acorda Hannah!

Mãos quentes sacudiam levemente meus ombros. O borrão de cores se uniu e uma forma familiar e irresistível ganhou vida a minha frente.

-       - Lucian! – Enlacei o pescoço dele e o calor de sua pele espalhou uma sensação abrasadora por mim.

-        - Ah, banana. Que susto você me deu!

-        - Você ficou assustado? E eu Lucian? Pensei que tivéssemos perdido você!

-        - Estou aqui graças a você, Hannah. Você manifestou mais uma potência da Genuína.

-       -  Qual? – O soltei para encará-lo.

-        Descendum. O poder de enviar os espíritos poluídos, de volta ao seu lugar no submundo.

Assenti. Aquilo não fazia o menor sentido e com a quantidade de coisas acontecendo essa noite, concluí que talvez eu não tivesse muito tempo para entender.

-        Quanto tempo eu fiquei lá?

-        Estamos desde a meia noite tentando trazer você de volta. São sete horas da noite, do Dia de Todos os Santos. O Halloween acabou.

Cobri a boca. Para mim, pareceram minutos.

Será que agora eu teria que enfrentar a parte dois do ritual? Da desesperança?

Pensei em perguntar, mas perdi a coragem. Se Lucian não foi possuído pelo Fantasma Profano, talvez o Coven não conseguisse concluir o ritual.

Todo o recinto de pedras, parecia chamuscado, como se tivesse acontecido uma explosão ali.

Subi os olhos e encontrei Dukian nos observando de braços cruzados. Sustentava uma expressão séria.

Olhei o meu vestido de noiva e notei que a barra estava queimada. Dukian havia se livrado das asas da fantasia de corvo ou anjo negro, não sei de que exatamente ele havia se fantasiado.

-        Hannah, você está bem?

Anui e me levantei. Pulei para trás quando o padre apareceu por trás de uma passagem ao lado da lareira.

Ele está vivo?

Não Hannah, ele é uma estátua que se move.

A estátua trajando uma batina de padre falou:

-        Seja bem vinda de volta, jovem. Então você é mesmo a Genuína. Nunca vi ninguém conseguir voltar.

-        É o que dizem. Mesmo que eu não faça a menor ideia do que significa isso.

-        Posso te explicar, mas em outra hora. Agora, infelizmente não temos tempo.

-        O senhor está bem? Quando chegamos, parecia que...

-        Eu havia deixado essa vida para uma melhor?

Meneei um sim.

-        Eu estava fingindo, não era a visita de vocês que eu aguardava. Era a do Coven, e eu continuo esperando. Elas devem estar próximas, precisamos sair daqui, mas antes, preciso que me diga tudo o que viu.

Dukian e Lucian que nos escutavam atentos, se aproximaram. Lucian passou os braços por meu ombro, automaticamente apoiei a cabeça em seu peito nu. Aquele corpo definido e as tatuagens tribais já começavam a nublar meu raciocínio como de costume. Dukian nos olhou por um segundo, depois se distanciou com os ombros curvados. Sentou na mesa e apoiou a testa nas mãos. Fiquei mal por vê-lo desolado daquele jeito e tive vontade de perguntar a razão, mas voltei a atenção para o padre. Eu faria o que fosse possível para encerrar de uma vez aquela história. Contei ao padre tudo o que escutei da conversa de meus pais e dos mantos negros atrás de mim para pegar a chave.

-        Sobre a chave, jovem Hannah. Diz pra mim que você conseguiu trazê-la.

Meus lábios tremeram. Balbuciei algumas palavras indecifráveis e encarei meu par de tênis all star.

-        Hannah, não é culpa sua se não trouxe. Você não tinha como saber disso. – Lucian me consolou.

-        Então foi por esse motivo que elas ainda não vieram aqui, a chave continua na casa da jovem Hannah. Não temos outra saída. – O Sacerdote apontou autoritariamente para Dukian e Lucian - Precisamos nos separar. Dukian e Lucian, vocês ficam aqui e distraem o Coven caso elas apareçam. Hannah, minha jovem, você vem comigo até a sua casa. Precisamos recolher a chave antes delas.

-        Não. Eu vou com a Hannah, Lefrève. Você fica aqui com meu irmão. – Lucian apertou meu ombro.

-        Não há tempo para discussões jovem Lucian. Ambos sabemos que Hannah estará a salvo comigo.

-        Espera um pouco. O Coven está indo para minha casa? Minha mãe está lá! Ela pode estar em perigo!

Andei rápido até a escada, ouvi os passos deles me seguindo.

Como eles podiam ficar ali, com toda aquela calma, como se escolhessem o que comeriam no jantar, enquanto minha mãe corria risco de vida?!

Um par de olhos de fogo amarelo bloqueou o caminho quando subi o terceiro degrau.

- Fique calma, Hannah. Você não pode se enfiar sozinha no meio da floresta.

- Deixa eu passar, Dukian. Não estou mais para brincadeira.

- Nós já vamos Hannah – Dukian falou com a voz doce e depois se dirigiu a Lucian e Lefrève parados atrás de mim - Eu acompanho a Hannah até em casa Lefrève. Você e Lucian podem ficar aqui.

- Eu não estou nem aí para quem vai comigo! Me deixem sair daqui! Será que vocês não entendem o perigo que minha mãe está passando?!

Não sei porque, mas o olhar que Dukian me dirigiu, trouxe o pânico rapidamente. Como se tivessem acabado de me jogar um balde de água gelada. Fitei Lucian e o Sacerdote Lefrève por sobre os ombros e ambos desviaram o olhar. O silêncio pesou o ar. Aquele sentimento na expressão deles, parecia pena, e essa constatação me deixou desesperada.

-        O que vocês estão escondendo de mim? Onde está minha mãe?

-        Os rapazes vão continuar insistindo na discussão de quem será o guardião de Hannah, ou me deixarão acompanhar a jovem até sua casa? Se não sairmos agora, tudo o que fizeram hoje, terá sido em vão. Espero que compreendam o que esse atraso pode trazer.

-        Já que ninguém vai me responder o que está escondendo, me deixem sair daqui! Eu vou com o Lefrève, eu escolho!

Dukian finalmente me deixou passar. Lucian me olhou desapontado, mas empurrei o sentimento de culpa para longe. Imaginar o que poderia estar acontecendo à minha mãe naquele instante, me deixava com vontade de gritar.

Subi as escadas com o Sacerdote no meu encalço. Respirei o ar fresco da floresta e soltei um murmúrio de alívio.

-        Segure com força, jovem. Talvez você sinta um pouco de enjoo. – disse Lefrève ao me estender a mão.

Não compreendi muito bem, mas fiz o que ele pediu. No tempo de um segundo, estávamos em meu quarto. Meu estômago se contorceu dolorosamente e senti a boca salivar. Precisei respirar fundo alguns segundos até a náusea me deixar pensar normalmente.

-        Como o senhor fez isso?

-        Encontre a chave, minha jovem. Não temos tempo para explicações.

Assenti, mas primeiro procuraria por minha mãe. O sacerdote parecia obstinado enquanto me observava. Acariciava a cruz em seu pescoço e me encarava em expectativa.

Contornei a cama de solteiro e fui até a porta. Apurei os ouvidos. O silêncio sepulcral fez meus poros se eriçarem.

-        Mãe? – chamei fracamente ao mesmo tempo em que girava a maçaneta. Escutei passos ressoarem no piso. – Mãe, você está aí?

-        A chave, Hannah. Dê-me o que é meu.

A mão de Lefrève segurou meu pulso.

Ele começou a gritar feito um louco e eu percebi que não havia para onde correr. Era uma armadilha.

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Oláá, maratona Olhar de Fogo! Uhull! rsrs

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Amanhã tem mais!

beijosss

E TOMEM CUIDADO,  A PARTE II CHEGOU - DESESPERANÇA

 

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