3. Janela Aberta
De modo brusco, deixou o dinheiro sobre a mesa, jogou a mochila sobre os ombros e dirigiu-se à saída. Talvez essa ausência fosse a deixa para ele desistir dessa tolice platônica, um aviso de que devia encarar a realidade. Era hora de dirigir-se à rodoviária. No entanto, ao colocar a mão sobre a porta do bar, um pequeno livro de anotações lhe chamou atenção no cantinho do balcão do caixa.
Vince retornou. Movido pelo impulso desesperado ele se apoiou sobre o caixa, em um fingimento de andar desequilibrado de bêbado, sem tempo para autojulgamentos ele deixou se dominar pela ação dos músculos e agarrou o objeto. Ele precisava das informações contidas naquele caderninho de capa preta manchada, como um alcoólatra ansiava por mais uma dose.
O dono, acostumado à falta de equilíbrio de seus clientes, apenas lançou-lhe um olhar desaprovador e acenou para o garçom mais próximo amparar Vince e o carregar até a calçada.
— Valeu, cara — Vince agradeceu com a voz enrolada, em sua atuação de bêbado.
O garçom assentiu sem interesse e retornou para dentro. Na calçada, Vince cobriu a cabeça com o capuz e observou os transeuntes durante alguns segundos. Quando teve a certeza de que ninguém prestava atenção nele, colocou a mão no bolso do casaco e agarrou o caderninho surrupiado do balcão.
A capa manchada indicava que o objeto fora manuseado incontável vezes. Ele puxou com força o ar preenchendo seus pulmões. As informações sonhadas estavam literalmente nas palmas de suas mãos.
Os lábios de Vince se abriram em um sorriso involuntário, quando seus dedos trêmulos avançavam por entre as folhas brancas, rabiscadas com diferentes tipos de letras e cores de caneta. Em tinta preta, lá estava os garranchos desejados. Vince decorou o endereço marcado como Isabela, a cantora. Só então um sentimento de vergonha por seu ato larápio apossou-se dele.
Com olhar furtivo, Vince escondeu com pressa o caderninho no bolso do casaco. As pessoas passaram por ele ocupadas demais para perceber o constrangimento estampado em seu rosto. Observou a fachada do bar, os clientes bebiam e os garçons corriam de uma mesa a outra. A janela próxima ao balcão do caixa estava aberta, era a chance de ele redimir-se. Quando constatou ser seguro esticou o braço para dentro e arremessou o caderninho.
O objeto encontrou o chão. O rosto de Vince contorceu-se em uma careta de frustração por sua péssima mira, ao menos conseguira devolver sem ninguém perceber sua manobra. O dono pensaria que algum desastrado teria derrubado o objeto e esse episódio se finalizaria sem mais complicações.
Vince ajeitou a mochila sobre o ombro ao andar até a esquina e conferir os nomes das ruas, lembrava de ter passado pela rua indicada como da cantora ao dirigir-se à lavanderia mais cedo. Não fazia ideia por que deixava seus pés o carregarem em direção aquele endereço, apenas seguiu adiante. Em pensamento ele saboreava o nome descoberto: Isabela. Era um nome perfeito para algo tão belo.
Seu coração disparou quando avistou a rua repleta de sobrados idênticos, com passos largos alcançou o número vinte como indicava no caderninho preto. O da cantora era um dos sobrados rosados com a tinta da parede descascada ao final da fileira, na esquina de um dos becos sem saída comuns no bairro.
Ele colocou as mãos no bolso ao escorar-se à parede do beco, decidia o próximo movimento. Seu fascínio dizia para ele bater na estreita porta de madeira, porém o último resquício de razão avisava como isso seria terrivelmente mal interpretado.
O que ele fazia ali? Por que sentia tanta necessidade em vê-la? Abaixou a cabeça consciente da situação bizarra de estar parado à frente da porta de alguém com quem nunca trocara qualquer palavra. Retirou o capuz, na esperança disso tornar sua imagem menos ameaçadora, contudo suspirou angustiado ao reconhecer como isso não mudaria o fato dele ter vindo sem ser convidado como se fosse uma espécie de tarado.
Decidido a ir embora, talvez para outra cidade ou apenas em retorno ao telhado familiar, ele olhou uma última vez em despedida para a janela iluminada do segundo andar. Um som fraco encontrou sua audição, vibrando como em um coral que nos hipnotiza pela beleza quase sobrenatural. A melodia era triste de modo a invadir seu coração e quase o fazer chorar.
De olhos fechados, ele se sentou no murinho abaixo da janela iluminada, onde a lixeira era guardada, e se deixou sentir a canção desconhecida ecoada pelo beco pela última vez antes de retomar seu caminho. Aos poucos, como se fosse carregado pelas notas musicais se viu em pé sobre a lixeira. Agarrado ao parapeito da janela percebia-se ridículo e bastante suspeito, no entanto não conseguia, ou será que não queria se afastar?
Isabela, como o caderninho dizia ser seu nome, estava sentada no chão, escorada na cama com o violão sobre as pernas esticadas. Enquanto cantava, lágrimas escorriam de seus olhos fechados. A cena o tocou. Ele queria ser capaz de consolá-la, de conhecê-la e dizer como ela dera um sentido à sua vida destroçada, mas...
— Ei! — Os olhos caramelos se abriram assustados ao focá-lo do lado de fora. — O quê...
Pego em flagrante, como se fosse um tarado, Vince pulou do murinho e correu para longe.
*****
A garota o viu e, agora, o quê vai acontecer? Começou bem tranquila, mas aviso que vai ser uma montanha-russa de acontecimentos e sentimentos. :)
Estão gostando da história? Comentem, votem e indiquem a leitura para seus amigos. Vou ficar grata e isso vai me ajudar muito.
Espero que curtam essa história até o fim. Caso não desejem esperar até todos os capítulos serem postados podem procurar o e-book na Amazon (super baratinho).
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