BÔNUS: Ponto de vista da Summer

— O que está fazendo aqui sozinho? — Perguntei a Ethan, sentando ao seu lado e balançando as pernas, exatamente como ele estava fazendo. Queria conversar sobre a música que cantara com Sean, mas não achava certo ser completamente direta. Além disso, ele parecia triste e era meu trabalho animá-lo antes de tudo. Ethan fica péssimo sem um sorriso no rosto, assim como a noite fica péssima sem estrelas. Há uma semelhança entre os dois, na verdade. O cabelo de Ethan é tão escuro quanto a noite, mas acho que sua personalidade é o que mais me faz compará-lo com a noite. Acho que o fato de eu preferir a noite nada tem a ver com a situação.

— Pensando na vida. — Respondeu, ainda parecendo cabisbaixo. Precisava de seu sorriso sem dentes!

— Posso pensar na vida com você? — Perguntei, esperando que ele quisesse minha companhia tanto quanto eu queria a dele. Ele olhou para meus olhos e eu pude encarar a íris que tanto me encantava. Os olhos de Ethan tem algo de especial que ninguém parece notar. Na verdade, o olho esquerdo tem. Na íris do olho esquerdo, bem abaixo da pupila, há um triângulo perfeito em um tom mais claro do que o resto do olho. É encantador! Não consigo parar de olhar para essa diferença gritante em Ethan.

— Por que quer ficar ao lado de uma pessoa tão sem graça como eu? — Ele parecia brincar, mas já o conhecia bem o suficiente para saber que pensa realmente isso. É uma pena, pois é um dos caras mais divertidos e diferentes que já conheci.

— Porque eu gosto de ficar ao lado de pessoas que não se levam tão a sério. — Tentei brincar, apesar de estar sendo sincera. E ao mesmo tempo brincalhona, já que não gosto muito quando ele se acha menos do que realmente é. Queria que ele pudesse ver o que vejo. — Eu queria conversar com você sobre uma coisa séria.

— Sobre a música? — Perguntou, claramente adivinhado meus pensamentos. Ele é a única pessoa que consegue adivinhar tão fácil o que penso ou sinto. Isso diz muito sobre o motivo para eu o admirar tanto.

— Como sabe? — Usei meu tom de surpresa, pois mesmo sabendo de sua capacidade de me interpretar, coisas assim ainda me surpreendiam.

— Foi um palpite. — Não pareceu dar muita importância ao fato de me ler como um livro aberto.

— Você devia jogar na loteria então, porque é ótimo com palpites. — Dei meu sorriso habitual, esperando que ele não estivesse enjoado de meus dentes tortos.

— Gosto de pensar que os bons palpites dependem dos dois lados.

— Como assim?

— Só consegui adivinhar porque você perguntou.

— Eu sou um fator importante? — Meu coração deu um salto quando pensei nisso, principalmente porque ele parecia estar me dando um cantada. Será que sente algo semelhante ao que sinto por ele?

— Importantíssimo. 

— Bom saber que me considera tanto. — Sorri novamente, como a boba apaixonada que sou. — Eu também te considero bastante.

— Jura?

— Uhum.

— De que forma? — Cruzou os braços. Senti minhas bochechas esquentarem, indicando o quão vermelha elas estavam.

— Eu nunca levei ninguém ao museu só para estimular a imaginação da outra pessoa. — Olhei para minhas próprias mãos. — Nunca deixei um estranho assistir a um dos meus filmes favoritos comigo. — Corei ainda mais ao lembrar do maravilhoso e único beijo que Ethan me dera. Não reclamaria se ele repetisse naquele momento. — Nunca sentei no chão para comer sanduíche de presunto com estranho. Nunca me sentei na mesa de restaurante de um estranho. Nunca me preocupei em ir atrás de uma pessoa que pouco conheço, só para saber se está bem. Nunca saí tanto com alguém que conheço tão pouco. Nunca tive tanta vontade de ser tão sincera com alguém que mal conheço. — Umedeci os lábios e voltei a olhar para os olhos mais lindos que já vira. — Então é, eu acho que te considero um pouquinho.

— Nossa! — Foi só o que ele disse, deixando-me desconfortável.

— Desculpe, falei demais. — Tentei me levantar, mortificada pela vergonha.

— Não! — Colocou a mão em meu joelho, obrigando-me a ficar sentada ao seu lado. — Você me confunde às vezes, sabia? — Soltou, fazendo meu estômago se revirar. Aquela frase poderia ter saído da minha boca.

— Você também me confunde, senhor Mistério. — Dei uma risada sem intensidade. Estava um pouco desconfortável ainda.

— Eu sou misterioso? E você com toda sua história sobre seu pai?

— Você nunca me falou sobre seus pais! — Defendi-me.

— Não mesmo.

— E por quê?

— Porque não há muito a dizer, apenas que eles me prendem demais.

— Eles ficaram na Austrália?

— Sim.

— E ficaram felizes com sua escolha de faculdade?

— Não muito.

— É uma pena. Eu teria muito orgulho de ter um artista na família. — Soltei sem querer, deixando claro que ainda o queria em minha vida por bastante tempo. Desejei que ele não tivesse entendido a indireta. Ou que não sentisse o contrário do que eu sentia. Ou que não entendesse logo de cara como estava se tornando importante para mim.

— Você também é uma artista, pelo que Frankie me contou.

— Só escrevo uma palavra ou duas. Não sou boa como o amor da sua vida. — Dei de ombros, dessa vez agindo da mesma forma que ele agia com seus desenhos. Ela era melhor do que eu em todos os aspetos.

— O amor da minha vida ainda não foi decidido. — Disse. — Depende de algumas respostas.

— Poético. — Fui sarcástica ao pensar em como Rebeca era superior a mim.

— Queria que fosse algo mais concreto.

— E o que te impede?

— Outro cara. — Disse. Acho que se referiu a Sean.

— Aposto que você é muito melhor do que ele. — Sorri, mesmo que não quisesse o incentivar a ficar com Rebeca. Não depois do que ouvira Frankie dizer para ela. A conversa dos dois fora vital para me fazer agir como estava agindo. Eu estava positiva, apesar das possibilidades infinitas de um desastre.

— A música foi para mim?

— Sim. — Minhas bochechas esquentaram novamente com a realidade.

— Por quê?

— Porque eu sinto que há muito mais em você do que imagina. — Olhei-o com o canto do olho e desviei o olhar quando o vi me olhar também. — E porque eu queria que você entendesse um pouco sobre mim.

— Você também mostra pouco de si, não é?

— A vida faz isso com a gente. — Dei de ombros, olhando para um ponto fixo na platéia. As pessoas que estiveram lá momentos antes odiariam minha conversa com Ethan. Achariam enrolada demais.

— E quem te faz ficar tão reprimida assim, Summer Young?

— Pergunto o mesmo a você, Ethan Pearce.

— Acho que um pouco de tudo.

— Minha resposta é idêntica.

— Queria que não fosse.

— Idem.

— Acho que você me confunde mais do que eu achava ser possível. 

— Isso porque você não sabe o que sua aparição em minha vida está fazendo com a minha cabeça! — Levantei rapidamente, profundamente envergonhada pelo rumo que a conversa tomara. Ele se levantou logo em seguida, ficando de frente para mim. — Podemos mudar de assunto?

— Você gosta de fugir do perigo, não é? — Deu um passo à frente, desestabilizando-me. Afastei-me, quase tropeçando em meus próprios pés. Ele pareceu perceber como me tirava da sanidade. E parecia tão afetado pela proximidade quanto eu. Havia uma esperança! — Tudo bem. — Suspirou. — O que aconteceu no camarim?

— Não posso contar. Terá que ver no vídeo. — Dei um sorriso triunfante. Terá que ver meus vídeos!

— Certo. — Bufou. — O que aconteceu antes do show?

— Eu conversei um pouco com Sean sobre entonação e ouvi um pouco da conversa dos outros.

— Que feio, Summer.

— Mas teve algo que me deixou profundamente confusa. — Tive coragem de dizer.

— Mais do que eu?

— Envolve você. — Mordi o lábio como sempre faço quando estou curiosa ou nervosa.

— O que é?

— Não sei se devo dizer.

— Não pode simplesmente dizer algo assim e ficar calada em seguida.

— Por que não?

— Porque sou curioso!

Fiquei quieta por alguns momentos, formulando o que falaria. É muito mais difícil conversar com a voz. Prefiro escrever!

— Ethan?

— Sim?

— O que eu ouvi me deixou querendo saber se há um fundo de verdade em tudo, ou se são apenas especulações. — Disse, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— E você acha que eu posso te responder isso? — Cruzou os braços.

— Sim.

— Fala então.

— Promete não ficar bravo? — Respirei fundo. Era hora da verdade!

— Prometo. 

— Frankie disse para Rebeca que você está apaixonado por mim. — Encolhi os ombros, com medo do que poderia vir em seguida. A reação dele não foi como esperado.

— O que? — Arregalou os olhos e gritou um palavrão de cinco letras. O palavrão machucou quase tanto quanto o que veio depois. — Mas eu estava prestes a dizer para ela que a amo! Ia comprar uma aliança para tentar algo! Por que você deixou ele dizer isso? — Meu coração se partiu em mil pedacinhos enquanto eu encolhia ainda mais os ombros e me afastava do garoto.

— Especulações. — Resmunguei, resolvendo que estava na hora de desencantar de Ethan Pearce, mesmo que isso doesse. E doeria. Essa era a única certeza que eu tinha.

— Summer? — Ouvi a voz de Frankie em algum ponto atrás de mim e me virei. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e ele pareceu perceber. — O que foi?

— Ethan. — Foi o que consegui responder. Ele me abraçou bem forte, mesmo que eu não tivesse pedido. E foi reconfortante. Era algo que Hayden nunca fizera, nem nuca faria. Ele é contra toques, na maior parte do tempo. E contra sentimentos. Por isso confio tão pouco nele. Mas, por algum motivo, senti que deveria confiar em Frankie. Contei sobre o que acabara de acontecer e ele me abraçou ainda mais.

Apesar de eu estar falando de seu melhor amigo, Frankie se envolveu o bastante em minha situação para dizer:

— Ele é o maior dos babacas!

E ele tinha toda a razão.

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