Eu já assistira filmes em 3D no cinema, assim como IMAX. Adorava IMAX, mesmo que às vezes o som me desnorteasse, simplesmente por dar mais realidade ao filme. E, ainda assim, foi como se eu nunca tivesse assistido a um filme no cinema antes. Por quê? Summer deixava tudo inovador. Juro! Quer ver como estou certo? Para começar, os óculos 3D ficavam um pouco grandes em seu rosto, diferente do que acontecera com todas as outras pessoas que passaram por mim. Eu ri bastante do fato, principalmente porque os óculos se deslocavam bastante por seu rosto. Summer também riu do fato, o que deixou a situação ainda mais leve. A risada de Summer é contagiosa! Imagino que ninguém consegue não rir quando ela dá uma gargalhada daquelas. Os problemas começaram quando Summer recordou de um detalhe de extrema importância: Não tinha conseguido cadeiras uma do lado da outra, então comprara com um intervalo entre elas.

— Podemos sentar um do lado do outro e pedir para o outro casal sentar em uma das nossas cadeiras. — Sugeri, sentando no lugar que nos pertencia. Depois me arrependi de ter nos incluído no "casal".

— Por que está assumindo que é um casal? — Perguntou Summer, sentando ao meu lado, no lugar que não nos pertencia.

— Porque eu assumo que compraram assim para escolher na hora se querem sentar na ponta ou mais para o meio da fileira. — Dei de ombros. Eu estava na ponta esquerda da fileira (se você nos olhasse de costas, veria assim) e Summer estava sentada à minha direita, parecendo apreensiva por sentar no lugar errado. — Calma Summer, não vai acontecer nada! — Achei graça de sua aversão a fazer coisas que considera erradas. — Posso dizer que você é minha irmã e que queremos sentar um do lado do outro.

— Não faz muito sentido para mim. Entendo que quando há um lugar entre outros dois temos um solteiro no cinema. É o que vejo, pelo menos. — Summer esfregou uma mão na outra.

— Vai ver que é um casal.

— E o que diremos para eles?

— Que somos irmãos?

— Ah, claro! — Ela balançou a cabeça, claramente tentando não rir. — Porque minha pele é branca como a sua. — Colocou sua mão corada ao lado da minha. A pele dela me lembra caramelo. O engraçado é que sempre gostei de garotas com pele mais escura e cabelo escuro. E vamos fingir que eu não pensei nisso! — Porque meu olho é igual ao seu! — Olhei para seus olhos e percebi que eu errara sobre a cor deles. Eram bem escuros até. Castanho escuro? Será que era a luminosidade? Será que o olho dela muda de cor dependendo de seu humor? Não parece mais âmbar. Ou talvez sim, já que âmbar é uma cor entre o castanho e o amarelo. Bem, talvez meu olho seja bem mais escuro que o dela, apenas isso.

— Vou dizer que somos noivos então. — Soltei sem querer. Opa! Summer ficou bem vermelhinha de vergonha.

— Claro. Porque eu não tenho cara de criança!

— Eu tenho cara de homem feito.

— Uhum.

— É verdade!

— Sei.

— Vai colar! É só fingirmos que nos amamos.

— Não dá para fingir isso!

— Não? Os atores conseguem.

— Eles representam, não fingem que amam.

— Sei.

— É verdade, Ethan!

— Eu não disse nada!

— Engraçadinho!

— É só darmos aqueles beijos de filme. — Mas. Que. Diabos. Ethan?

— Não, obrigada. — Ela corou.

— Não gosta de beijos?

— Não sei.

— Como não sabe?

— Não sei.

— Como assim?

— Eu nunca beijei, okay? — Ela cruzou os braços e eu arregalei os olhos, pensando em minhas 4 ex-namoradas. Bem, não era o momento certo para dizer que todas, ao terminarmos, disseram que eu beijo mal. Não mesmo. Nem há relevância. — Estou aguardando o momento perfeito.

— Entendo. — Ou quase, mas vamos fingir que sim.

— Licença. — Uma terceira voz nos interrompeu. Olhei para o homem alto que estava ao nosso lado. — Você está sentada no meu lugar, mocinha.

— Bem, é que... — Summer travou e eu não estava muito diferente.

— Ah. — A mulher que acompanhava o homem deu um sorriso brilhante. — Eles estão juntos, querido! — E ela puxou seu par para sentar ao lado de Summer. Agora tudo estava certo novamente.

— Viu? Era um casal! — Falei para Summer, fazendo-a mostrar a língua. Sorri.

E depois, durante o filme, eu tive que rir de como ela desviava de todos os efeitos 3D, como se estivesse vivendo o filme. Diferente!

— Isso é muito patético, não acha? — Summer sussurrou para mim, com as bochechas rosadas. Adorável... Não, esquece essa palavra.

— Um pouquinho. — Falei um pouco mais alto do que pretendida. — Você desviou de algumas naves.

— Quieto! — Murmurou ela, colocando o indicador em meus lábios. Estremeci e me afastei. — Desculpe. — Colocou as mãos em seu colo e voltou a prestar atenção ao filme. Ela estava se sentindo desconfortável, pelo que tudo indicava. Ótimo! Parabéns, Ethan!

Ela sorriu ao ver o capitão Kirk, o qual percebi em seguida que era o tal Chris Pine. Bonitão o ator, e bom em sua atuação. O cara perfeito. O cabelo mais brilhoso que o meu, bom de papo(o personagem, talvez o cara em si não o fosse), um humor melhor que o meu... Não que isso importe. Não importa! Ele só é o ator favorito de Summer. Nada demais. E o filme foi passando. Acabei prestando mais atenção do que imaginara inicialmente. O roteiro era muito interessante e repleto de detalhes aos quais você precisa se atentar. Gostaria de poder dizer que é esse filme é melhor que os outros, mas não tenho como afirmar nada. Não assisti aos anteriores. Os personagens interagem muito bem, tanto entre si quanto com os elementos do enredo. É realmente impressionante!

Com o canto do olho vi Summer estremecer. O filme parecia estar já perto do fim, mas não tínhamos trocado uma palavra sequer desde minha ação rude. Summer olhou para mim, eu olhei para ela. Deu um sorriso tímido e então disse:

— Eu posso deitar no seu ombro? — E eu travei. Por que ela estava pedindo isso? Eu acabara de ficar estranho com um toque simples em meu lábio e ela estava forçando a barra, pedindo para deitar em mim. Como assim, Summer Young? — Está frio aqui. — Abaixou o rosto, sem jeito.

Não sei como consegui fazer minha boca mexer para formular uma resposta, nem sei porque respondi tão rapidamente, mas a garota logo soube qual minha posição sobre a situação.

— Pode.

Pode? Ethan Pearce só pode estar louco! Por que eu disse que pode? Por quê? Por quê? Eu só posso estar louco! Maluco! Sem um parafuso! Nunca deixei uma pessoa sequer deitar em meu ombro. Nem Rebeca! Ninguém! Absolutamente ninguém! E, mesmo assim, Summer Young estava movimentando sua cabeça para deitar em meu ombro tenso. E o que fiz em seguida foi ainda mais absurdo. Coloquei meu braço direito envolta do ombro da garota. Por quê? Por que eu fiz isso? Eu acho que só fiz isso com Becky umas duas vezes. Então, em nome de tudo que é mais estranho, por que eu estava fazendo isso com Summer? E por que eu acariciei seu braço? Por que eu estava me preocupando com o bem estar dela? Por que estava tentando fazê-la perder o frio? Por que eu estava sendo tão diferente com Summer Young em tão pouco tempo de convivência? Só pode ser o ar de Vancouver!

— Também está com frio? — Ela perguntou quando eu estremeci. Por que eu estremeci? Não sei ao certo.

— Sim. — Disse, um pouco alto demais, o que a fez rir. Aconcheguei-me mais nela para fazer o suposto frio passar. Continuamos a assistir o filme, mas eu não conseguia mais prestar atenção. Eu estava fazendo carinho em uma garota quase que completamente desconhecida e não entendia o motivo para tal ação. E eu não me sentia tão estranho quanto imaginava que me sentiria. Estava até que gostando.

Então, em uma determinada cena eu tomei um baita de um susto e apertei Summer com força. Eu devo ter dado um salto e tanto, pois senti meu traseiro quase sair da poltrona. Olhei para Summer e ela me olhou, confusa. Continuei olhando para seus olhos. São tão bonitos! Ela deu um sorriso tímido que assumi ser para me reconfortar. Não consegui desviar os olhos. Ela piscou, também sem deixar de me olhar. Ela é tão linda! E fica tão iluminada quando sorri! Senti um frio enorme na barriga, ainda sem conseguir me obrigar a não olhá-la mais. Era como se estivéssemos hipnotizados. Senti a respiração dela descompassar e aconteceu a mesma coisa com a minha. Agora sim eu não sabia mais o que estava acontecendo. Os olhos dela brilharam e senti meu pulso acelerar. Não sei quanto tempo ficamos nisso, nem entendo porque ficamos assim. Apenas senti algo estranho percorrer todo o meu corpo e virei bem meu rosto, aproximando-me aos poucos de Summer. O rosto dela continuou no meu ombro. O sorriso sumiu quando ela percebeu a aproximação. O que está fazendo, Ethan? Não consegui dar atenção à metade do meu cérebro que me dizia isso, pois a outra metade agia por impulso. Aproximei-me mais e mais, minha pulsação completamente fora de controle e o frio na barriga igual ao de quando estou em uma montanha-russa. Senti sua respiração quente em meu rosto e, em um impulso, encostei nossos lábios. Fechei os olhos e creio que ela tenha feito o mesmo. E, naquele momento, eu esqueci tudo que me impedia de fazer o que fosse e simplesmente beijei Summer Young.