37 - Quando as faíscas voaram entre nós
Eu dei um tapa em minha testa com toda a força que tinha, esperando que tudo aquilo fosse um sonho bizarro. Você acaba de beijar a garota bonita e outro cara aparece, sem mais nem menos, e a pede em casamento... Ops, namoro. Se bem que mais parecia um pedido de casamento, convenhamos. E Summer parecia tão desconfortável quanto eu.
— Eu poderia estar em casa, comendo ursinhos de gelatina e escrevendo, mas não... A vida não colabora! — Passou a mão pelo rosto, parecendo exausta.
— Quer que eu me livre dele? — Perguntei, tentando ser útil de alguma forma.
— Bem que eu queria, mas preciso resolver isso eu mesma. — Suspirou.
— Vai aceitá-lo? — Fiquei com medo da resposta. Ela não respondeu, apenas olhou para baixo e gesticulou para Hayden. Perdi-me em meus pensamentos depressivos. Summer não parecia ser o tipo de garota de ficar com o cara tímido, que tem medo de deixar seus sentimentos aparecerem. Tem medo de dizer que será eternamente dela. E coisas assim. Só que Hayden estava ganhando de mim naquele momento, mesmo que nós dois fossemos tímidos e fechados. Ele dissera o que sentia e eu poderia perdê-la por isso. Do jeito que conheço Summer Young era bem provável que ela aceitasse o pedido, apenas para não deixá-lo magoado. Maldita mania de deixar todos felizes! Acho que temos o mesmo problema. E eu tinha que fazer alguma coisa. Não queria magoar Hayden, mas ao perceber que Summer não sentia nada assim por ele... Bem, eu poderia tentar, certo? Ela poderia escolher. Mesmo que eu não seja o certo, ficarei feliz em saber que tentei. — Sun. — Chamei, determinado a usar a abreviação como meu novo apelido. Afinal, quem melhor no mundo para ser o próprio sol? Ela virou para me olhar, parecendo desconfiada e, ao mesmo tempo, admirada com a forma que a chamei. — Posso dizer uma coisa?
— Fala. — Ela cruzou os braços. Estava nervosa. Não a culpo.
— Bem... — Respirei fundo e meu coração disparou. Coragem, Ethan! Não é como se ela fosse comer meu coração! Ou talvez sim... — Eu... — Gaguejei. — Eu... — Ótimo. — Eu não sou o tipo de garoto que ficará de joelhos, implorando para você ficar comigo. — Opa. Foi mal aí, Hayden. Não que ele estivesse de joelhos, mas ele estava implorando. — Mas... Estou gostando do que está acontecendo entre nós. Muito. — Engoli em seco, com medo de sua reação. — E gostaria de seguir em frente com você, para ver o que acontece.
— É?
— É.
O quarto poderia estar pegando fogo e eu não perceberia. Estava muito tenso.
— E o que espera que eu faça com isso? — Ela me encarou com intensidade.
— Nada...
— É que eu acabei de ser pedida em namoro aqui... E você me diz, nesse momento super oportuno, que gostaria de tentar algo comigo. Então, não sei o que faço. — Suspirou. O sarcasmo era evidente.
— Desculpa.
— Ok.
— Sun...
— Você desce comigo? — Seu humor mudou da água pro vinho.
— Para falar com Hayden? — Ela concordou com a cabeça e eu completei: — Vou.
Amizade é para todas as horas, certo? Até quando a amiga vai dar o fora em um cara.
***
Hayden saiu correndo assim que Summer tentou explicar o motivo para não poderem ficar juntos. Senti pena dele, mas ainda mais pena de Summer pelo jeito que ficou com a reação do amigo. Quis animá-la, por isso fiz algo que fazia em Melbourne: Pulei na piscina do hotel, de roupa e tudo. Summer arregalou os olhos, espantada com minha ação, mas logo estava rindo abertamente e se aproximando da borda. Sorri para ela e nadei para próximo dela. Estava na parte rasa, por isso consegui ficar em pé ao olhá-la.
— Você é maluco, Wildcat. — Ela continuou a rir.
— O quê? — Não entendi o que ela quis dizer.
— É uma frase que Gabriella diz para Troy em High School Musical 3. — Deu de ombros, como se não fosse nada demais. Como ela conseguia lembrar disso?
— O momento é romântico pelo menos? — Arrisquei, sem controlar minha boca.
— Sim. — Sorriu e sentou no chão, tirando seus sapatos e colocando os pés na piscina. Seu shorts permitia que ficasse com água até quase o joelho. Isso me deu uma ideia um tanto quanto diabólica. Agi rapidamente, sem que ela pudesse pensar. Peguei-a no colo e dei uns passos para trás na água, adorando a cara que ela estava fazendo. Hilária. — Ethan!
— O que foi? Precisa se refrescar. Está uma noite quente. — Pisquei. Ela ficou vermelha.
— Não me solta, por favor! — Disse com um fio de voz, enlaçando meu pescoço com seus braços. Com força. Parecia com medo. Não quer molhar a roupa, Summer Young? Dei uma risadinha e ela apertou meu pescoço com mais força.
— Não confia em mim? — Perguntei, começando a andar no raso, ainda com ela em meus braços. Era algo que nunca imaginara fazer, mas que não deixava de ser divertido.
— Não.
— Que feio, Summer. — Ri e olhei fundo em seus olhos. — Não vou te jogar.
— Não? — Ela me olhou com intensidade.
— Não. — Continuei a andar, em círculos.
— Certo. — Ela relaxou um pouco a pressão nos braços, olhando-me por longos segundos. Ela estava mais relaxada até, mostrando que confiava em mim. Não completamente, mas o bastante para me deixar brincar. Parei, sendo hipnotizado pelo brilho de seus olhos.
Estávamos nos encarando agora. Olhos nos olhos. E toda vez que fazemos isso, parece que encontro um novo pedaço da personalidade de Summer. Naquele momento descobri a Summer calma e exaltada ao mesmo tempo, uma combinação bombástica. Ela parecia feliz e eu dizia isso apenas ao olhar em seus olhos. Eu não queria perder aquele momento. Sabia que não seria fácil ter outro momento como aquele, principalmente ao morar em outra cidade. Então aproveitei.
E então entendi algo que sempre me disseram.
Minha pulsação saiu do controle quando ela umedeceu os lábios. Quis fazer o mesmo, mas por um motivo completamente diferente. Poderia morder o lábio se não fosse algo tão estranho naquele momento. Havia uma atmosfera que eu nunca experimentara antes. Havia uma troca de confiança entre nós quase impossível de perceber, de tão natural que parecia. Era como se sempre fizéssemos aquilo. Como se eu sempre a carregasse no colo, protegendo-a do que fosse. E algo voou entre nós. Faíscas, como sempre disseram para mim. E era algo que eu nunca imaginara! Quando as faíscas voaram entre nós, entrei em pânico, temendo quão mergulhado naquele sentimento eu estava ficando. E o pânico me fez quebrar minha promessa interna. Soltei Summer, fazendo-a cair com tudo na água. Apesar da situação, ri do fato. Ela teria que voltar para casa molhada!
Enquanto eu ria, Summer não subia para a superfície. Franzi o cenho, não entendendo o motivo. Talvez ela me puxasse como vingança, não é? Esperei. Nada. Apenas uma movimentação frenética na água. Arregalei os olhos, percebendo tarde os fatos.
Summer Young estava se afogando no raso da piscina.
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