18 - O que é arte?
— Lola? — Summer franziu o cenho ao ouvir-me mencionar a garotinha. Parecia surpresa. — Lola não faz parte desse grupo.
— Como assim? — Pisquei, não pensando muito bem no que ela queria dizer.
— Não tem como Lola ter vindo aqui, Ethan. É impossível! — Ela cruzou os braços. — Você viu meus vídeos, não é? E por isso está fazendo essa brincadeira comigo. Não é?
— Como assim? — Repeti a pergunta.
— Ethan, Lola mora em um orfanato perto das montanhas. Como veio parar aqui sozinha? — Ela revirou os olhos. — Não brinca com isso não, pois assim fico preocupada. Lola é importante para mim.
— Como uma filha? — Arrisquei, apenas para tirar umas das perguntas que tinha em mente. Summer deu de ombros. — Ela estava na livraria, Summer.
— Então por que eu não a vi? — Arqueou as sobrancelhas, parecendo me desafiar. Por que ela me desafia tanto?
— Talvez ela tenha vindo aqui só para me enlouquecer. — Murmurei, esperando que Summer levasse a frase na brincadeira. Ela pareceu não entender. — Não é possível que não tenha visto a semelhança entre vocês duas.
— Semelhança? Lola é bem tristonha. — Summer virou os olhos para qualquer outro ponto da rua. Tínhamos saído da livraria pois ela tinha algo a me mostrar. Foi o que disse, pelo menos. Mas agora ela não parecia animada como antes. Talvez a animação ainda estivesse presa em algum canto de sua mente, dando espaço para o desconforto brilhar. Sua bochecha estava vermelha, mas não parecia ser por vergonha. Summer estava escondendo alguma coisa, mas naquele momento eu não percebi a relação entre as bochechas e a omissão. Ainda assim, aquela cena foi importante para que eu percebesse depois como diferenciar uma mentira de uma verdade, só que essa técnica só podia ser aplicada a Summer. Sabe por que Summer mente ou omite coisas? Porque tem medo das consequências, ou do que eu possa pensar.
— Semelhança física, Summer. Não se faça de burra, porque isso é o que você menos é. — Comentei, tentando não perder a paciência. O que ela estava tentando esconder? — Lola parece ser seu clone exato.
— Isso é só uma coincidência estranha. — Deu de ombros, fazendo-me subir um lance de escadas bem largas. — Existem sete pessoas no mundo parecidas com você, caso não saiba... Ou talvez você seja a sétima, não lembro ao certo. — Colocou a mão no queixo, em uma posição tipicamente pensativa. Devia estar pensando no numeral correto. — Acho que não importa muito. Apenas pense que há pessoas parecidas com a gente ao redor do mundo.
— Mas não idêntica! — Protestei, tentando deixar bem claro que qualquer desculpa dela não me faria mudar de opinião. Tinha algo de muito estranho acontecendo. Eu sabia dessa história de pessoas semelhantes a você no mundo, mas nunca ouvi falar de clones que não tenham o mesmo sangue. Quero dizer, há muita semelhança entre pessoas da mesma família, mas não entre pessoas sem relação nenhuma. Não, quero dizer... Deus, isso é confuso! Há semelhanças se pensarmos nas pessoas parecidas, mas não há clones! Não há pessoas idênticas! Pelo menos não deveria. Não sendo de famílias diferentes. — Seus pais não tiveram outra filha juntos? — Perguntei, esperançoso.
— Não que eu saiba.
— Então há uma esperança.
— O que?
— Ela pode ser sua irmã!
— Você ouviu o que eu disse?
— Sim.
— Então por que está dizendo isso?
— Justamente por ter ouvido o que falou.
— Como assim?
— Faz sentido.
— Eu disse que não sei de uma irmã e por isso você assumiu que eu posso ter uma?
— Justamente! — Sorri, triunfante. Finalmente ela me entendera.
— Você não está pensando claramente.
— Nem você, pelo visto.
— É mesmo? — Ela cruzou os braços, parando em frente a uma construção. Não dei muita atenção naquele momento, pois tinha uma discussão para ganhar.
— Sim. Lola pode ser sua irmãzinha perdida. Sua mãe pode ter tido ela antes de morrer.
— E o que te faz acreditar que minha mãe está morta? — Ela virou o rosto e ficou me encarando. Não parecia muito orgulhosa.
— A falta de menção.
— Eu nunca a mencionei?
— Não.
— Talvez seja porque eu não falo muito de minha vida para estranhos.
— Justo.
— E você ainda é um estranho para mim.
— Estamos na mesma situação então.
— Ótimo.
— Ótimo.
— Ótimo!
— Ótimo!
— Que entonação! — Ela riu.
— Foi você quem começou! — Ri com ela, por um momento esquecendo o que estávamos discutindo. — Então sua mãe está viva?
— Graças a Deus. — A resposta me fez perceber que isso era uma afirmação. A mãe dela estava viva então e eu cometera o terceiro erro do mês. Parabéns, Pearce. — Acha que seu amigo foi sincero ao dizer que não quer nos acompanhar?
— Sim. — Respondi, pensando que ele até preferia que eu estivesse a sós com Summer. Talvez fosse tudo uma estratégia. — E não muda de assunto!
— Mudando de assunto? Eu? Não estou mudando! — Ela fez cara de inocente e olhou para o lado. Segui seu olhar em um impulso e acabei vendo algo que acabaria de vez com minha concentração. A Galeria de Arte de Vancouver. Era o que eu lia na fachada, pelo menos. Uma galeria de arte! Ela só podia estar me testando! — Acha que é um lugar legal?
— Parece ser, com um nome desses. — Virei para o lado contrário da construção e vi vários degraus. Eu subira tudo aquilo sem perceber? — Era isso que queria me mostrar?
— Bem, sim. Mas se achar bom ver só isso, podemos sair agora mesmo e eu mostro o interior para o próximo pintor que aparecer na minha vida...
— Não! — A interrompi. — Se seu plano era esse, vamos em frente. — Disse com entusiasmo, esquecendo completamente sobre o que falávamos anteriormente. Grande erro!
— Então vamos! — Ela me indicou a entrada, claramente querendo dizer que eu deveria entrar primeiro. Sabe aquela história de "primeiro as damas"? De ser cavalheiro? Ser um exemplar homem da sociedade? Então, esquece tudo isso. Eu me sentia muito bem em ser o primeiro a ver aquelas cadeiras de rodinha na entrada. Summer passou por mim com uma risada e tratou de pedir dois ingressos para entrar. Eu não conseguia pensar muito em pegar minha carteira, tirar uma nota qualquer e colocar sobre o balcão. Eu só pensava em entrar logo. Mas consegui pagar o meu ingresso. Pagaria o de Summer também se ela permitisse, mas quem disse que permitiu?! Peguei todos os folhetos que vi na minha frente, pronto para descobrir mais sobre a arte daquele lugar. Ouvi Summer rir bem ao meu lado. — Você fica bem animado com folhetos, não é mesmo? — Brincou ao encarar meu sorriso idiota. Eu não parei de sorrir.
— Adoro lugares que têm obras de arte.
— Então gosta de bibliotecas, não é? — Ela ficou séria de repente.
— O que? — Comecei a adentrar a galeria, já correndo para o primeiro texto na parede que vi. Parei diante do texto em branco na parede cinza e me concentrei para conseguir ler o que estava escrito. Fiquei perdido nas palavras por alguns segundos, achando todas as informações sobre a obra muito interessantes.
— Você entortou a boca. — Summer comentou.
— O que? Eu não entorto a boca! — Protestei, voltando minha atenção à garota. Ela estava dando um sorriso de canto de boca.
— Você estava pensando em algo especial? — Perguntou, fazendo-me não entender muito bem qual a relação disso com sua frase anterior.
— Eu estava apenas concentrado, lendo. — Respondi, achando aquilo a coisa mais normal do mundo. Por que ela estava tão preocupada com o que eu pensava.
— Então você entorta a boca quando está concentrado. — Concluiu.
— Eu não entorto a boca!
— Ok. — Ela obviamente desistiu de discutir comigo. Talvez tivesse assumido que estava certa.
— O que você disse antes de eu ler isso? — Perguntei, recordando-me de que a voz dela fora usada enquanto eu corria.
— Nada não. — Suspirou, adentrando a sala mais próxima. Segui seus passos de perto. — Por favor, diga que isso não tem relação nenhuma com o extintor de incêndio na sala ao lado. — Falou ao ver a primeira junção de objetos do cotidiano que poderiam não ter relação nenhuma.
— Tinha um extintor de incêndio na sala ao lado? — Não recordava de ter visto algo assim.
— Na parede, atrás de um vidro, como deve ser de acordo com algumas normas de segurança. — Ela fez cara de "dã". — Eu fiz uma piada, se não percebeu.
— E que tipo de piada foi essa?
— Eu disse que espero que isso que estamos vendo agora não seja inútil aos olhos da arte, como aquele extintor. — Explicou.
— O extintor é útil sim, aos olhos da arte. Ele impede que as obras aqui virem cinzas!
— Nossa, que engraçado. — Summer foi irônica, fazendo-me rir. Ela então pegou na minha mão, fazendo meu coração acelerar e minha boca não saber mais abrir para protestar. Summer claramente tinha algo a me mostrar e eu logo entendi o motivo. Em uma parede branca lia-se Picasso bem grande, com uma mistura de várias cores quentes. Lembrei então do que lera em um dos folhetos que vira sobre o balcão. Picasso: O artista e suas musas era o nome da exposição. Suspeito, certo? Na parede também estava escrito o nome da exposição, não deixando dúvidas do que eu estava prestes a ver. Logo encontrei um texto enorme e comecei a ler, sendo seguido por Summer. Ela terminou a leitura rapidamente e logo a ouvi comentar.
— Será que a mulher desse desenho é a amada dele? — Perguntou Summer, tirando minha atenção da leitura. Olhei para o que ela apontava e dei de ombros. Era um desenho preto e branco, apenas com traços.
— Talvez. Temos que ler as informações para entender.
— Eu não consigo ler quanto tem tanta coisa assim ao redor. Gosto de tirar minhas próprias conclusões sobre as artes.
— Jura?
— Sim. — Ela me olhou por alguns instantes. — Por que acha isso tão estranho?
— Porque eu achava que leitoras como você adorassem ler a história de tudo.
— Eu gosto, mas gosto mais de interpretar arte.
— Então pode analisar as obras e interpretar enquanto eu leio as informações, com calma.
— Pode ser.
E nos separamos na pequena sala. Se você está se perguntando se estávamos sozinhos naquela sala... Bem, não. Eu apenas não dera a menor importância para eles. Continuei analisando as obras e lendo suas informações. Tudo por ali envolvia mesmo as musas de Picasso, contando um pouco da história de cada uma e relacionando com as obras, da forma que eu sempre achei que deveria ser feito. Era muito interessante, ainda mais porque eu pude perceber que Picasso conseguia fazer traços diferentes e obras diferentes, como eu percebia em mim mesmo. Haviam informações sobre movimentos artísticos (que Summer disse serem movimentos literários), como sempre há, mas o mais interessante mesmo eram os traços que ele fez das mulheres. Alguns eram bem simples, outros difíceis de interpretar. Mas é claro que no meio de tudo aquilo eu encontraria uma obra bem típica de Picasso. Até me perguntei se o Guernica diante de mim era o verdadeiro ou não. Provavelmente não.
Quando eu vi um desenho com os olhos de uma mulher completamente desalinhados, senti-me um ótimo desenhista. Se Picasso faz o mesmo que eu e é reconhecido, posso ser algum dia. Em uma das mulheres eu vi, em seu busto, uma abóbora feliz, por isso tive que chamar Summer. Ela não estava muito distante e riu da revelação, mas logo em seguida nos separamos novamente, cada um usando seu modo de analisar as pinturas. Fiquei analisando algumas fotos também, ficando espantado com a qualidade delas. Alguns traços de Picasso me deixaram com profunda inveja, mas também causaram outro sentimento indesejado. Eu consegui me ver naqueles traços. Quero dizer, não me vi como aquelas mulheres. Longe disso. Eu me vi como o pintor por outro motivo. Os desenhos dele de várias mulheres me fizeram lembrar os desenhos que eu tinha em um mesa, no quarto do hotel. Rebeca e Summer. Uma era a minha musa de fato, a outra estava se tornando uma verdadeira incógnita em minha vida. Balancei a cabeça para esquecer os dois desenhos.
Fiquei tentando decidir se duas formas em uma das pinturas eram ou não seios. Pisquei algumas vezes para tentar decidir se estava vendo certo ou não. Também esperava que o que eu via pudesse mudar. Não. Definitivamente eram seios. Em uma eu vi duas crianças bem deformadas e sorri, imaginando que minha realidade era tão deturpada quanto a de Picasso. Em outra vi duas mulheres, que na verdade eram uma só (sabe, uma de cada vez, dependendo de como você olha). Outra eu não entendi absolutamente nada e fiquei criando teorias do que poderia ser. E foi assim por mais um monte de outras obras, porque eu comecei a ficar com dor de cabeça e tive que parar de ler. Vi uma baleia branca com vários quadrados e retângulos. Uma mulher deitada, lendo... Sim, essa me fez pensar em Summer, mas vamos fingir que não. Até porque eu deveria ter pensado em Rebeca. Eu estava apenas complicando minha situação!
Vi o que parecia ser a evolução de um desenho, porque em um a mulher estava com o cabelo mais curto do que no outro. Vi outra Summer lendo... Opa. Mulher. Outra mulher. Outra mulher deformada. Outra... mulher? É, eu estava cercado por muitas pinturas e desenhos de mulher. Algumas pareciam até ser uma tentativa de fazer uma mulher sensual, mas os traços não permitiam isso. Picasso tinha muitas musas, ao que tudo indicava. E enquanto eu pensava nisso Summer me chamou a atenção.
— Muito legal, não acha?
— Muito.
— Ele desenhava bem as musas.
— E coloca "musas" nisso. — Ri, achando graça do plural na vida de Picasso.
— Já parou para pensar que tudo isso aqui pode ser mentira e ele tinha apenas uma musa, mas a fazia de formas diferentes?
— É meio paranóico esse seu pensamento.
— Mas pode ser plausível. — Argumentou.
— Vai nessa! — Balancei a cabeça, achando seu pensamento um pouco absurdo. Mas quem sou eu para julgar?
— Pensa bem... — Ela colocou a mão no queixo e arregalou os olhos. — Você tem algumas musas, certo?
— O que? — Como ela sabia?
— Estou tentando criar uma teoria, então fica mais fácil se você responder.
— Certo.
— Então?
— Então o que?
— Dai-me esperança, senhor, porque paciência eu já não tenho mais! — Disse ao bater na própria testa. Toda sua disposição corporal indicava que eu era um verdadeiro panaca. Panaca. Está aí um xingamento bom. Pelo menos seu corpo não queria dizer que eu era um otário. Ou quase, já que são sinônimos. Mas estou mais para panaca mesmo. — Você tem algumas musas, certo? — A entonação indicava profunda impaciência. Tomara que alguém dê esperança para ela então, já que esgotei sua limitada paciência.
— Uhum. — É melhor não falar.
— Rebeca é uma delas? — Perguntou e eu quase disse "Como conhece Rebeca", mas lembrei de toda a situação e apenas fiquei calado.
— Talvez.
— Você está sendo muito vago, Ethan. — Ela deu uma risadinha. — Acho que alguém está tentando esconder uma musa, pois o fato de tê-la como inspiração é visto como constrangedor. Estou certa?
Ela não fazia a menor ideia do quanto estava certa e errada ao mesmo tempo.
— Talvez.
— Talvez.
— Vai me imitar? — Enruguei minha testa, olhando-a.
— Talvez.
— Para!
— Talvez.
— Summer!
— Viu como é irritante? — Ela cruzou os braços e eu dei graças a Deus por ter desistido de me irritar.
— Vi sim. O que quer que eu faça?
— Quero que tente me responder com mais de uma palavra.
— Ok.
— Ethan! — Repreendeu-me.
— Sinto muito.
— Melhor. — Suspirou. — Você já desenhou Rebeca?
— Sim. — Respondi a contragosto.
— Quantas vezes?
— Algumas vezes. — Apenas 48 vezes, mas quem estava contando?
— E você mostra isso ao mundo?
— De jeito nenhum!
— Por que não?
— Porque eles descobririam o que eu sinto por ela e... Ah. — Entendi então o que ela estava querendo dizer.
— Viu? — Sorriu triunfante. — Eu estou querendo dizer que vejo o mesmo sentimento vindo de Picasso em várias dessas obras, então, ou ele sentia o mesmo por todas, ou ele demonstrou seu sentimento em várias representações da mesma mulher, para não deixar muito evidente qual era sua musa de fato.
— E as pessoas criaram a história que vemos aqui?
— Isso. — Começou a andar em direção à saída. — Mas essa é apenas uma teoria louca.
— Plausível. — Comentei com o intuito de fazê-la rir pela imitação fajuta.
— Posso te fazer outra pergunta?
— Claro.
— Você é virgem?
— O que? — Eu falei isso muito alto, pois estava completamente apavorado pela pergunta. É extremamente bizarro uma garota te perguntar isso, ainda mais quando vocês não são amigos. Só que eu já falei coisas piores para ela.
— Você tem o jeito de uma pessoa do signo de virgem.
— Ah! — Suspirei de alívio. — Nasci dia nove de setembro.
— Acertei! Você é mais novo que eu então!
— Eu tenho 18 anos. Você não?
— Tenho 19 anos. Nasci no dia 25 de Dezembro. Sou capricorniana. — Sorriu e eu engasguei com minha própria saliva. O mesmo dia do aniversário da Rebeca, só que alguns anos mais velha. Eu mesmo sou mais velho que Rebeca.
— Eu vou fazer 19 anos ainda e você já vai entrar em sua segunda década.
— Algo assim. — Riu com gosto.
— Você nasceu em um dia ruim.
— Eu sei. Ninguém lembra. — Deu de ombros. — Depois de 16 anos você se acostuma.
— E nos três anos restantes?
— Você pensa que a família lembra.
— E isso é reconfortante?
— Muito!
— Que bom. — Sorri, sem saber muito bem o que falar. Nós mudamos muito de assunto.
— Posso te fazer outra pergunta? — Vi-a morder o lábio ao dizer isso. O que ela estava aprontando?
— Manda. — Coloquei toda minha armadura emocional para aguentar a bomba que eu achava que estava por vir.
— O que é arte?
— Essa é uma pergunta um pouco vaga.
— Então consegue responder com facilidade.
— Nem tanto. — Olhei ao meu redor, percebendo que não estava prestando atenção às outras obras ao meu redor. Estava mais preocupado em conversar com Summer, outra coisa muito estranha para mim. Geralmente não converso muito com estranhos, apenas se temos um gosto em comum. Eu e Summer não parecemos ter muitas coisas em comum, mas isso não nos torna opostos. Longe disso. — É para responder objetivamente ou com o que eu acho?
— Seu ponto de vista.
— Promete não me matar se eu errar?
— Não há resposta errada aqui. Apenas tenho algo para discutir.
— Certeza?
— Vá em frente! — Incentivou.
— Bem, acho que arte é toda a manifestação de sentimentos ou alguma manifestação social.
— Toda?
— Toda. Por quê? — Achei estranho que ela tenha se atentado tanto a uma única palavra.
— Então você esteve em dois lugares com obras de arte hoje, certo?
— O que quer dizer com isso? — Eu estava confuso.
— Pense comigo. — Ela colocou a mão no meu ombro e gesticulou com a outra para falar. Fiquei com vergonha de pedir para ela se afastar de mim, então apenas deixei. — A pintura é uma forma de arte, certo?
— Sim.
— E os desenhos sem pintura.
— Sim.
— E as esculturas, certo?
— Certo.
— E as fotografias, certo?
— Sim, mas você está tentando chegar em que ponto com tudo isso?
— Calma, vou explicar quando juntar todos os pedaços.
— Então continue. — Eu estava curioso. Eu sempre estou curioso. Eu sou curioso!
— Quando você está na seção de entretenimento em um site, por exemplo, todas essas coisas aparecem, certo?
— Sim.
— E os livros, certo?
— Certo também. — Fiz uma careta que demonstrava como não estava conseguindo entender a linha de raciocínio.
— Pinturas, desenhos, esculturas e fotografias são manifestações sociais e sentimentais, certo?
— Uhum.
— Portanto, podem ser intituladas de arte.
— Sim.
— Se você abrir a seção de arte desse mesmo site, encontrará tudo isso em arte?
— Claro que sim! São manifestações artísticas perfeitas!
— Certo. — Summer me olhou, parecendo pensativa. Parecia que seu pensamento estava muito bem encaminhado e entrelaçado ao que estávamos dizendo. Só esperava a conclusão. — Livros são manifestações de pensamento, sentimento e apresentam várias coisas relacionadas ao âmbito social, certo?
— Sim.
— E você disse que arte é mais ou menos o que eu acabei de falar, certo?
— Certo.
— E disse que livros são entretenimento.
— Claro.
— Livros são manifestações artísticas?
— Sim, claro. — Balancei a cabeça, deixando claro quão óbvio isso era.
— Então porque diversas seções de arte em sites não apresentam "livro" como categoria? Por que "livro" está apenas em entretenimento? Por que as pessoas falam "arte" para tudo o que dissemos e não para "livros"? Literatura não é arte?
— Sim, é arte.
— Então por que uma parte grande da sociedade não enxerga assim? — Summer perguntou com seriedade. Ela estava mais do que certa em seu pensamento. E eu não soube como responder a isso, porque ela tinha completa razão, ainda mais devido ao que tínhamos acabado de discutir. Era algo que eu nunca pensara, mas que não pararia de matutar em minha cabeça durante os dias que se seguissem. Coloquei uma mão de cada lado da cabeça, movimentando-as em um movimento que representava a explosão iminente de meu cérebro. Até fiz um som de explosão para deixar tudo mais intenso. — Viu? Todo meu pensamento tinha um fundamento.
— É um pouco assustador pensar em como estive errado minha vida toda em usar arte só para o que falou primeiro. — Suspirei, imaginando que Summer sempre se sentiu deslocada por ter pensamentos assim.
— Agora pense um pouco Ethan. — Disse, afastando-se. — O que nossa sociedade enxerga como arte, de verdade?
Eu não soube como responder e duvido que ela estivesse esperando mesmo uma resposta, mas isso não deixou a minha cabeça. Pelo menos não até aquele dia acabar. E a pergunta ficou se repetindo em minha cabeça, incontáveis vezes. O que nossa sociedade enxerga como arte?
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