16 - Veja como tudo se resolveu
Eu não tinha a menor ideia do que ia acontecer, talvez por isso tenha me emocionado tanto. Summer ficou ao meu lado no palco e pegou o livro da minha mão, dando um sorriso ainda mais açucarado do que o anterior.
— Ethan é um semideus, crianças. — Foi a primeira coisa que ela disse, extremamente entusiasmada. Franzi o cenho, não entendendo a referência de primeira. — Lembram de Percy Jackson? Então, Ethan é um parente distante dele. Qual será seu parente no grupo dos deuses? — As crianças começaram a gritar diversos nomes de deuses, mas o que prevaleceu foi Poseidon. — Viram? Finalmente encontramos nossa pessoa especial. O que acham disso? — Em resposta, as crianças bateram palma e deram gritos de incentivo. Eu fiquei sem reação, mas por dentro estava mais do que agradecido pelo que estava acontecendo. Pela primeira vez uma pessoa não me julgara por saber meu maior segredo. Tive que dar um sorriso tímido com aquilo. As crianças sorriam ao olhar para Summer e me olharam sem qualquer traço de julgamento. — Vou dar uma pequena pausa, para vocês conversarem sobre isso, depois volto com a leitura. Tudo bem? — Por incrível que pareça, as crianças concordaram imediatamente. Summer segurou meu ombro e me encaminhou para um canto da livraria, afastado de tudo e todos. — Você está bem?
Fiz que sim com a cabeça, pensando no que acabara de acontecer. A relação de Summer com aquelas crianças me fazia pensar em algo que eu já pensara anteriormente, mas com uma diferença. Amor. Aquela mesma pergunta de sempre, nunca esquecida por mim e provavelmente já mencionada aqui. Mas o que diabos é o amor? Aquela história mela a cueca chamada de "Romeu e Julieta"? Os triângulos amorosos recorrentes em filmes hollywoodianos? O que acontece entre Percy Jackson e Annabeth Chase? Bem, certamente a relação entre Summer e as crianças estava começando a se encaixar nisso. Provavelmente era a forma mais pura de amor. Amar alguém sem esperar nada em troca. O que será que significa isso? Acho que se o que Summer sente por essas crianças não é amor, o amor não existe. Ou, pelo menos, não da forma que deveria existir. Então deve ser amor.
— Você não me contou que trabalhava com crianças também. — Comentei, sem ter muito mais o que falar.
— Eu não te contei muita coisa, Ethan Pearce. — Disse e eu concordei, pensando em seu pai. Ainda não conseguira decidir se a música era só poesia para Summer, ou se tudo nela acontecera. Lembrei também que não sabia qual seu curso na faculdade, ou porque o nome de seu canal era o que era. Summer era uma verdadeira caixa de surpresas, mas, pela primeira vez, eu não estava com medo do que poderia haver dentro. — E você me escondeu uma coisa e tanto, então acho que estamos quites.
— Quase. — Suspirei, pensando que não foi o momento certo para alguém descobrir meu segredo. Sorri em seguida, pensando que pelo menos fora descoberto pela pessoa certa. — Obrigado.
— Por que está me agradecendo? — Ela me olhou com curiosidade.
— Porque você não me julgou pela Dislexia.
— Eu nunca te julgaria, ainda mais porque acho admirável que tenha aceitado ler para o público, mesmo que eu tenha percebido que estava apavorado. — Sorriu e eu fiquei envergonhado. Ela não tinha a menor ideia do quanto estava certa. — Além disso, sempre quis conhecer um semideus. — Brincou, deixando o clima extremamente leve. Era como se tudo que pesara dentro de mim por anos tivesse se tornado uma folha leve de bordo canadense, voando sem rumo e embelezando o ar. Summer Young definitivamente não é uma garota comum. — E eu admiro Adam Young demais, então mesmo que eu tivesse nascido com algum tipo de preconceito, ele morreria ao saber a história de Adam.
— O que quer dizer com isso? — Cruzei os braços, tentando adivinhar qual era a limitação de Adam. Talvez fosse a mesma que a minha e isso o engradecesse. Será que meu diferencial me engrandece?
— Adam acredita ter Síndrome de Asperger, apesar de nunca ter sido diagnosticado de fato. — Respondeu com calma. — Ele tem dificuldade de se comunicar com as pessoas, e muitas de suas músicas apresentam mais interpretações do que você pode imaginar. Também apresenta insônia, que o possibilitou escrever boa parte de suas músicas. O vocabulário dele apenas me faz enxergá-lo como um gênio.
— O que é Síndrome de Asperger? — Perguntei, preocupado por não saber nada sobre o assunto.
— Eu não sou especialista, mas posso dizer que está na "categoria" do autismo. — Summer fez aspas com as mãos, indicando que não sabia nomear a condição. — Pelo que pesquisei, e pelo que digo sempre às pessoas, a síndrome é caracterizada por dificuldades significativas na interação social e comunicação não-verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Também há médicos que dizem que ela está relacionada com a linguagem atípica dos portadores, como se o vocabulário do Adam viesse por causa da síndrome. Ninguém sabe a causa. Os portadores também são mais propensos a terem problemas para dormir, como insônia.
— Então ele parece mesmo ter essa síndrome. — Comentei, analisando tudo que ela me dissera.
— Sim. Pense que ele é um dos artistas mais brilhantes da face da Terra e sua condição não o impediu de fazer nada. Acho até que isso o engrandece, assim como acontece com você, Ethan. — Ela deu um sorriso e, sem aviso, deu-me um beijo rápido na bochecha. — Você é incrível, Ethan Pearce, não deixe ninguém dizer o contrário!
Eu não soube como reagir, mas não foi preciso. Ela logo se afastou e voltou a subir no palco, dessa vez lendo sem hesitar para os jovens diante dela. Fiquei olhando-a de onde estava, esperando que pudéssemos conversar mais quando o evento acabasse. Meu coração estava acelerado por tudo que acontecera, mas eu me sentia bem pela reação de Summer, principalmente pelo que ela me dissera. Talvez ela estivesse certa.
— Sou incrível. — Disse a mim mesmo, bem baixinho. No momento seguinte fui surpreendido por uma mãozinha sobre a minha, o que quase me fez dar um salto de susto. Imediatamente pensei em Summer, mas a mão sobre a minha era menor do que a dela e ela estava ainda sobre o palco. Olhei para baixo e vi uma garotinha ao meu lado. Levei um baita de um susto, mas o motivo não era muito comum. Ela era bem pequenina, com cabelos longos, cacheados e castanhos. Eu podia ver um tom levemente avermelhado neles, porém, isso não era o mais assustador. Suas bochechas estavam rosadas e o sorriso em seus lábios demonstrava timidez.
— Você é filho de Poseidon? — Perguntou, olhando-me intensamente. Ia rir de sua pergunta, mas a cor em seus olhos me impediu. Foi então que percebi porque me espantara tanto. Os olhos dela eram cor de âmbar e seus dentes — os que não tinham caído — eram levemente tortos. Apesar de ser criança, havia algo nela que me assustava profundamente. Ela era a cópia exata de Summer Young! O que isso significava?
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