Livro 3 - Metal Estrelar. 1 - Vozes na Forja
Öfinnel sofria de uma intensa febre e delírios. Estava quente como em um inferno. Escutava vozes ao seu redor e pouco do que seus olhos viam fazia sentido. Aliás, pensava que depois da morte de sua esposa e de Eliarta, nunca mais, nada faria sentido.
Tudo estava turvo, mas Öfinnel podia escutar aquelas vozes com clareza.
– Mas pai, isto não faz o menor sentido! Eu insisto. Forje sim a espada, mas confie em mim. Eu posso acabar com o falso deus!
– Já disse filho! Nosso papel nesta batalha será outro.
– Mas não veem que estamos eliminando uma das poucas chances de derrotar o inimigo? Confiar tal responsabilidade a um mortal? Ele mesmo reconhece em suas preces: não é trabalho dos homens, é trabalho dos deuses!
– Basta! Não vou me repetir sobre este assunto. Que a espada seja feita. Que o rei dos holmös a empunhe.
Outra voz, mais calma e ponderada, diferente das duas que ali discutiam surgiu.
– Pai, está certo de que a estratégia do sacrifício surtirá efeito?
– Somos deuses meu filho, mas em certos pontos, nem mesmo os deuses podem ter certeza.
– Pai – disse agora uma voz feminina – Eu trouxe seu corpo. Foi depositado em minha casa, assim como o senhor havia previsto. Tenho tanta pena dele.
– Sim filha, ele sofreu muito, mas também nós iremos sofrer. Nesta guerra, não só os mortais realizarão sacrifícios, nós também.
– E quanto à mãe? – perguntou um outro, de voz lenta e arrastada.
– Sua mãe nada tem a ver com essa terra e seus conflitos de sangue. Ela deve voltar à terra do pai celeste e lá cuidar de reparar as feridas desta guerra. Além do mais, não quero que ela seja testemunha dos crimes que seus filhos de Nelfária irão realizar.
O primeiro filho voltou a argumentar.
– Mas por que, Pai? Eu não entendo? Por que deixar que tantas desgraças aconteçam? Sendo que sabemos, que podemos evitar... Por que?
– Filho, nos infernos, você vai compreender tudo isso. Por hora, peço que tenha paciência e confie em mim.
– Mas eu gosto dos homens e até dos elfos...
– Eu entendo filho.
– E nosso irmão caçula, não vai conosco?
– Não. Ele não é forte o bastante. Ficará com sua mãe, na casa do pai celestial. Lá ira aprender. Lá irá crescer. Quanto ao demais, virão comigo. Temos uma importante e dura tarefa pela frente.
– Então é assim? É essa a nossa sina?
Houve silêncio.
– Filho, você irá passar as instruções para Midrakus. Eu falarei com Öfinnel.
***
– Öfinnel Prístimos! Quem te fala é o Deus, teu pai, Forlagon.
– Sim – Öfinnel respondeu com os olhos vidrados no vazio.
– Frente a ti, caberá a mais dura das tarefas. É por tuas próprias mãos que irás por fim a esta guerra. É por tuas próprias mãos que irás eliminar o próprio líder da horda invasora. Tua tarefa será confrontar e derrotar um deus fracassado e verdadeiro demônio: Arcanael.
– E por que deveria fazer isto? Só por que o Senhor está mandando? Acha que manda em mim? Onde o Senhor esteve quando perdi tudo? Por que deixaram tudo isso acontecer conosco?
– São questões incompreensíveis para ti, mortal.
– Eu não quero nem saber! Que se danem os deuses! Que se danem todos!
– Pois saibas tu que ninguém menos que o próprio Arcanael é o culpado por toda desgraça que nos assola a todos. O mortal Merrin, que julgas responsável, nada foi além de um peão em suas mãos.
– E eu o que sou? Nada mais que outro peão, eu diria.
– Não é assim pequenino. A nós também cabe grande sacrifício. Pois nossa tarefa será pior que a tua.
– E o que pode ser pior?
– Escute Öfinnel, pois eu também perdi minha companheira nesta guerra. Por causa de Arcanael, eu e tua deusa mãe, Ectarlissè, jamais estaremos juntos novamente. Pois eu e meus filhos, temos adiante a tarefa de penetrar os domínios infernais. É somente com tal ação, que a terra estará livre de sua influência. É somente assim que haverá chances de derrotar Arcanael e dissolver todos seus reinos infernais.
– Eu escutei as vozes. É sobre isto que falavam? Penetrar nos domínios infernais?
– Sim... E escuta-me. Sobre essas conversas, pouco irás te recordar. Se concordares conosco... Concordares com nosso sacrifício, ao despertar, saberás que apesar de tudo, o teu dever de rei ainda estará presente. O dever para com os súditos. Dever que é semelhante ao nosso. O dever para com nossos devotos. Somos parecidos pequenino. E cada qual de nós irá agir, e cumprir seu destino em nossos planos de existência. Compreendes a nossa situação? A nossa verdade?
– Eu compreendo Senhor... Peço perdão por achar que fomos abandonados.
– Não há o que perdoar. Há o que viver e o que se aprender.
***
Quando o rei acordou, viu um lago de lava e seus fumos ao seu redor. Estava deitado numa rocha e muitos estavam ali. Entre estes, o mago Midrakus.
Öfinnel estava muito confuso.
– Midrakus, você fala com os deuses?
Midrakus do alto de sua incomum estatura o encarou, expressão sempre séria e com seus olhos brancos e sem íris e pupila.
– Sim, sempre.
– E o que lhe disseram?
– Que a guerra chegará ao seu fim. Que você foi o escolhido para empunhar esta espada. A chamei de Espada de Öfinnel.
Instintivamente, o rei esticou a mão direita para alcançá-la. E lá estava, no lugar de seu antebraço decepado, uma grotesca mãozorra de metal. Midrakus tirou a espada do rumo de sua mão.
– Ainda não! A espada é muito poderosa, e, muito perigosa. Antes de empunhá-la, há algumas coisas que deveria saber. Levante-se e venha comigo.
Öfinnel escutou dois anões cochichando entre si. Os dois artífices discutiam sobre a mão postiça.
– Pela cara dele deu para ver que não gostou da mão. – disse o primeiro, com grande cabeleira cinzenta desgrenhada.
– Eu te disse, idiota! Que era grande demais. – retrucou o segundo, cujo narigão tampava a boca.
– Mas grandona é tão legal! E dá um efeito de intimidação...
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