2 - A queda de Umm
Agradecer ou amaldiçoar os deuses? Num momento difícil como aquele sua alma estava dividida. Em parte, estava agradecido pela benção da visão que teve há duas luas. Agora sua família, trinetos, mulheres e crianças de toda a cidade partiam nas rotas de fuga. Não seriam vítimas do atroz ataque das hordas abissais. Sua outra metade era consumida pela raiva e ansiava por confrontar os malditos invasores.
Quem são eles? Será que isto é coisa do renegado?
A imagem de Merrin dos vëtmos e seus gananciosos seguidores veio a sua mente. Öfinnel balançou a cabeça. Duvidava que eles pudessem estar por trás do surgimento de hordas demoníacas.
A noite chegou mais cedo, pois o céu foi coberto por nuvens escuras formadas por centenas de milhares de criaturas aladas cercando a bela cidade de Umm, seus vistosos templos e esplendorosos jardins.
São tantos!
O ataque aéreo massivo caiu sobre a cidade inutilizando as táticas defensivas convencionais. Combates já ocorriam em toda a parte. A melhor tática que restou foi dispor arqueiros e feiticeiros nas janelas de templos e casas, forçando os demônios a passar por pequenos espaços. No interior das construções os guerreiros estavam preparados para confrontar as bestas aladas.
Do alto do palácio Öfinnel observou sua cidade sendo coberta por pontos escuros, como um enxame de insetos ao redor de carniça. Conselheiros vieram pedir que ele buscasse abrigo no interior do palácio. Os portões que davam para as sacadas foram selados e reforçados. E quando os demônios chegaram ao palácio, houve grande agitação.
- Rei Öfinnel! Protejam o rei! - um dos homens gritou.
Em resposta o monarca adiantou-se para disparar junto aos arqueiros. Ele não queria ser protegido e deixou isso claro apenas com a forma de olhar para seus súditos. Afinal, era tão capaz de lutar e se defender quanto qualquer soldado.
Os vitrais nas paredes laterais do grande salão foram quebrados pelas criaturas. Mais de cem arqueiros dispararam flechas. Demônios eram abatidos como insetos, mas penetravam sem cessar e alguns deles, mesmo cravados com uma dúzia de flechas conseguiam voar um pouco até se espatifarem por cima dos defensores. A aparência dos demônios era horrenda. Tinham pele rugosa e escura da qual brotavam espinhos. Olhos malignos, alguns amarelos, outros vermelhos. Dentes pontiagudos e bocas com mandíbulas que se abriam como de algumas serpentes. Rostos assimétricos e, em alguns casos, pelo grosso e escuro sobre todo corpo. Eram como humanos degenerados, alguns magros, outros de constituição robusta. Não formavam um conjunto harmonioso, pelo contrário, cada criatura parecia possuir uma característica particular especialmente horrorosa e por vezes nojenta. Um deles, que perseguiu a comitiva do rei até travar combate próximo, possuía membranas que cresciam abaixo do queixo, inchando um papo avermelhado como o de alguns sapos dos pântanos.
O rei carregava um arco e cerca de sessenta flechas em duas aljavas. Mas não tardou até que ficasse sem nenhuma, suando e ofegando. Feiticeiros lançavam raios e bolas de fogo e um incêndio logo tomou conta do salão. Ainda com poucas baixas, tiveram que recuar e para outras áreas adjacentes. Abateram mais que trezentos deles, mas surgiam mais e mais de diversos pontos e brechas. Alguns demônios muito forte e maiores, quebravam as pedras e paredes ao redor das janelas alargando as entradas. Os homens precisaram se dividir para escapar. Com o rei restaram cerca de trinta guerreiros e alguns feiticeiros.
Barricadas e mais homens posicionados nos corredores e outros cômodos descarregavam flechas e mais flechas sobre os demônios. Após segurar suas posições, recuavam.
Deuses! Vamos todos perecer hoje?
- Ataquem, homens! Cairemos lutando até o fim! - sua voz já estava rouca após dar comandos semelhantes durante aquela batalha sem esperanças.
A despeito da fúria do embate, finalmente foram encurralados. Não dava mais para ficar no interior do palácio. Saíram para verificar a situação no lado de fora. Templos e casas estavam cobertos de demônios alados, como um prato que repousou coberto de mel ficaria coberto de formigas. Umm estava em chamas. Estavamos perdendo a batalha. Não havia reforços e só restava sucumbir. A cidade fundada pelo rei chegava ao seu fim. Ao seu lado, guardas foram içados por demônios alados de médio porte. Muitos de seus súditos eram arrastados para fora das casas ainda com vida e carregados pelos demônios. Apesar dos muitos mortos no calor da batalha, a grande maioria dos defensores, feridos ou não, estava sendo capturada pelos demônios.
Nos querem com vida. Mas para que?
Garras grandes, escamosas e fortes como patas de harpias tomaram o rei pelos ombros causando dores lancinantes. Seu grito era um misto de raiva e lamento. Foi erguido do chão sentindo o vento ao redor de seu corpo.
Maldito!
O rei trincou os dentes no esforço para pegar uma faca que tinha na cinta, mas viu-se cada vez mais no alto.
Se eu cair...
Foi levado para um dos grande pátios de Umm, no nível inferior onde centenas de seus homens eram depositados.
- Olhem! O rei! É o rei!
Antes de tocar o solo novamente, sentiu o bafo quente e mal cheiroso da besta na sua nuca e foi ferroado por dentes venenosos. Tropeçou tomado por intenso mal estar e vertigem causados pelo veneno. Alguns homens, em condição melhor o socorreram. Sua visão escureceu e por fim desmaiou.
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