-22-
— O que foi? — Lisa perguntou assim que chegou na sala.
— Você viu meu celular? — procurei por debaixo das almofadas que tinha em seu sofá.
— Serve aquele alí? — ela apontou para a mesa de jantar. Olhei para o celular, logo olhando para a garota. Fechei brutalmente os meus olhos e fui até o aparelho. — Tá avoada, né, princesa Kim!? Precisa de uma massagem?
— Não. Só preciso resolver um trilhão de problemas sobre a minha vida. A Jisoo e a Rosé estão vindo me buscar, iremos sair um pouco pra que eu possa esfriar a cabeça — me surpreendi quando Lisa pousou suas mãos em meus ombros, distribuindo uma maravilhosa massagem, que me fez relaxar todos os meus músculos tensos.
— Vai ser bom você ficar um tempo com as suas amigas. Tome cuidado, ok? Se ficar muito tarde, me ligue que eu vou te buscar. Ah, e não beba álcool, ok? — sorri em vê-la preocupada comigo.
Nunca tive alguém para me dar conselhos reais. O meu pai só dizia para eu sair de casa para tomar um ar e também sempre me lembrava de levar camisinha. Ele achava que eu iria transar com um qualquer. A verdade é que, a única pessoa que eu me senti confortável para me entregar de verdade, foi a Lisa. Nunca quis ter relações sexuais com o Kai.
— Está parecendo a mãe que eu nunca tive...
— Eu posso fazer o papel de mãe, pai, avô, avó, irmã, irmão, tio, tia, primo, prima, amigo, amiga, namorada e esposa também — ela deixou no ar, continuando uma massagem cuidadosa e macia, fazendo-me tombar um pouco a cabeça. — Eu posso ser o que você quiser, Jen, só basta você permitir.
— Eu permito.
— Permite? — assenti. — Você permite que eu seja o quê?
— O que você quiser — virei-me para ela, encontrando seu olhar lindo e brilhoso, causando-me um frio na barriga enquanto encarava até o fundo de seus olhos, procurando pelo o maior segredo que aquela garota esconde.
— Nesse caso... Eu quero ser a mãe dos seus filhos pra sempre.
— Você já vai ser.
— Você não tá entendendo. Eu quero ser a sua esposa. Eu quero te levar pra jantar; quero comprar presentes e colocá-los debaixo da árvore de natal, pra falar pro nosso filho que o Papai Noel veio nos visitar e deixou lembranças para nós. Eu quero fazer cookies e leite quente junto com vocês dois — ela olhou para a minha barriga e olhou para mim enquanto sorria —, pro velhinho gentil comer quando vier aqui, mesmo que esse velhinho seja eu — rimos. — Eu quero passar horas brincando com o nosso bebê e os nossos cachorros. Eu quero chamar ele pra assaltar a geladeira enquanto você estiver dormindo. Eu quero te acordar no meio da noite, por conta do volume da minha voz, pois eu estaria conversando com o nosso bebezinho. Você entende o que eu quero agora? Você entende que eu quero ir em todas as apresentações da escola e gritar pelo o nome dele, enquanto eu choro incondicionalmente? Se for uma menina, o meu amor vai ser o mesmo, sabe por quê? — neguei enquanto derramava lágrimas silenciosas. — Porque, desde que venha com saúde, eu não me importo com o gênero, vou amar do mesmo jeito.
— Lisa... por que faz isso comigo? Por que está me dizendo todas essas coisas bonitas, sendo que...
— Não toque no nome do Kai perto de mim de novo, Jennie. Eu vou ter uma conversar com ele — ela segurou minhas mãos e limpou uma lágrima que escorria no meu rosto.
— Que conversa?
— Não se preocupe com isso — ela ficou em silêncio enquanto olhava para o chão. — Jennie... você gosta de mim?
Fiquei em silêncio, sem saber o que responder. Eu não sei se gosto dela ou não. É tudo tão novo para mim. Não faz muito tempo que estamos nos falando e eu já estou morando na casa dela. Por mais que Lisa não seja tão dura e fria quanto aparenta ser, eu ainda tenho medo dela. Querendo ou não, a garota passa uma ar psicopático. Eu sei que é errado julga-la assim, mas... eu não sei o que ela realmente esconde por trás desta máscara linda que cobre o seu verdadeiro eu.
— E-Eu não s-sei... Desculpa — baixei meu olhar e fechei meus olhos, esperando alguma reação agressiva por sua parte, porém, a garota apenas me abraçou, fazendo-me enterrar meu rosto nas curvas do seu pescoço.
— Não precisa se desculpar. Eu irei te amar mesmo que esse sentimento não seja correspondido — rodeei meus braços pela a sua cintura fina, enquanto ela afagava levemente os meus fios negros. — Você pode ficar despreocupada que eu não vou te forçar a nada, ok?
— Eu te amo...
Eu não me controlei, não era para eu ter dito isso. Merda. Porra. Caralho. Buceta. Ahh! E agora?
— Você me ama mesmo ou apenas está dizendo isso porque eu estou cuidando de você? Por favor, não confunda amar com carinho, Jen. Pense muito bem antes de falar que ama alguém.
Já que a merda já está feita mesmo...
— Eu te amo — olhei para ela. — Eu te amo no sentido de amar, e não no sentido de carinho. Desculpa se eu fiz você pensar errado, mas é que eu tô passando por muita coisa. Tanta coisa que chega a ser difícil de raciocinar. E, eu não quero te machucar e nem me machucar com isso, sabe. Acho que tá muito cedo.
— Tudo no seu tempo, princesa Kim — sua voz grossa, baixa e calma sempre vai me desmontar, não importa o quanto eu tente ignorar. — A propósito, eu também te amo — sorri, enquanto enterrava novamente o meu rosto nas curvas do seu pescoço, inalando o cheiro do seu perfume doce e fraco.
Ficamos ali naquele abraço por um bom tempo, apenas demonstrando o amor e o afeto que uma sente pela outra; sentindo o calor e a energia que os nossos corpos transmitiam quando estávamos juntas. Era como se eu fosse um rio de emoções que estava prestes a transbordar, tentando encontrar o foz que ligava ele e o mar. E... este mar, era a Lisa. Este mar, me fazia esquecer de todos os meus problemas. Este mar, me fazia feliz...
— O interfone tá tocando. Eu preciso atender, princesa Kim — ela disse, despertando-me dos meus pensamentos, fazendo-me agarrar mais ela.
— Não — respondi, com a voz manhosa.
— Ok. Vou ter que te levar junto, então. Sobe no meu pé — nada disse, apenas obedeci ela. Logo ela começou a andar até o interfone, me levando junto com ela, arrancando-me risadas sinceras. — O que andou comendo, princesa Kim? Está muito pesada. Acho que o nosso bebê já está fazendo diferença — sorri contra o seu pescoço.
É tão bom vê-la assim, dizendo 'nosso bebê' ou 'nosso filho'. Isso é tão mágico. É como um verdadeiro sonho. E, eu amava ouvi-la dizer essas coisas lindas e bobas e boiolas e românticas.
— Alô. Ok, pode mandar subir — ela colocou o interfone no gancho novamente, e murmúrio em desaprovação. — Suas amigas chegaram e trouxeram o Jungkook de brinde, tocha olímpica.
Coloquei meus pés no chão e encarei seus olhos, com o meu cenho franzido.
— O que aconteceu com 'princesa Kim'?
— Se eu estiver no seu palácio, e você perdida no meio da floresta Amazônica, eu irei ver um ponto amarelo no meio das árvores e vou saber que você, iluminando mais que qualquer vela do mundo, até mesmo a tocha olímpica — bati em seu ombro e ela gemeu de dor, massageando o lugar.
— Que exagero, Lalisa — a campainha foi tocada e eu fui abrir a porta para as minhas amigas. — Oi, meninas — cumprimentei-as. — Entrem!
— Oi, Ross e Rachel — Lisa cumprimentou as meninas enquanto passava em nossa frente com um copo d'água, indo até o sofá.
— Quê? — perguntamos juntas enquanto íamos até o sofá.
— Lalisa, acho que você confundiu. Ross e Rachel é você e a Jennie. Elas combinam mais com a Adora e Catra — Jungkook se jogou ao lado da Lisa.
— Quê? Como assim Adora e Catra. A Rosé seria a Adora e a Jisoo a Catra?
— Não. Ao contrário. A Rosé é uma grossa, fria e bocuda de quinta categoría igual a Catra, a Jisoo é uma anã ligada nos 220, igual a Adora.
— Faz sentindo. A única diferença é que a Adora é mais alta que a Jisoo.
— Cês tão falando do quê? — perguntei com o cenho franzido.
— Friends e She-Ra — os dois amigos responderam.
— Quem? — as meninas perguntaram juntas.
— Vocês não conhecem She-Ra? — Lisa perguntou e nós negamos.
— Vocês pelo menos conhecem Friends?
— Do Chase Atlantic? — perguntou Jisoo, fazendo Jungkook e Lisa encostarem suas costas com tudo no sofá, tombando a cabeça ao mesmo tempo.
— Na hora de fazer a Jisoo, Deus acabou errando e colocou o que era pra ela ter de altura, na lerdeza — Lisa disse.
— Por isso é tão pequena — Jungkook completou enquanto ria, arrancando risadas da Rosé e da Lisa.
— Vai se foder, Jungkook! — Jisoo tacou uma almofada no garoto.
Rosé riu mais e acabou levando um beliscão de sua namorada.
— Meninas, vamos? — perguntei enquanto segurava a risada, tentando tira-las dali antes que tudo se transformasse em uma guerra.
— Com certeza, Jennie. Ficar perto de pessoas que tem pau, me irrita — Rosé disse enquanto franzia o nariz para Lisa e Jungkook, que fingiram tristeza após ouvir as palavras da minha amiga.
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