Um drink no Inferno part. 1
Fomos surpreendidos por vários aviões caças, rasgando os céus de Chernobyl numa velocidade impressionante.
Provavelmente aquele era o primeiro sinal de que algo grande estava acontecendo, para ser mais específico, a notícia da minha morte havia se espalhado mais rápido do que eu poderia imaginar.
- O que esses cretinos estão aprontando? - Perguntou Travis
- Eu não sei, mas seja lá o que for, estamos preparados!
No meio do caminho, Judy reclamou estar com muita sede devido ao forte calor, confesso que também me sentia desidratado, principalmente depois do que eu vi naquele banheiro.
Resolvi guardar aquela "visão" para mim, talvez eu contaria mais tarde ao Gabriel sobre isso, pois eu temia que nenhum deles fosse acreditar na minha história e achassem que seriam coisas da minha cabeça.
Resolvemos parar no primeiro bar no meio da estrada deserta, uma espelunca para ser exato.
Nunca tinha visto um lugar tão derrubado como aquele, janelas quebradas, os letreiros sobre o telhado, pendurados por arames. Mosquitos na porta e um forte cheiro de cachaça vindo do estabelecimento.
O pior de tudo é que haviam alguns veículos estacionados em frente ao bar, com certeza eram mercenários da região.
Antes que a gente entrasse eu disse:
- Esperem! Vistam isso, menos você Judy.
- Pra que essas toucas ninja Ryan? - Indagou Gabriel
- Para não sermos reconhecidos, afinal de contas, estamos mortos agora.
- Tem razão, bem pensado. Mas como conseguiu isso?
- Nas coisas daqueles vermes que matamos na floresta.
Quando estacionei a moto ao lado de uma camionete, eu desci do veículo, encapuzado e falei:
- Aconteça o que acontecer, vocês se controlem e não revelem nossas identidades ou estaremos mortos... De verdade!
- Pode deixar capitão. - Disse Travis
- Estou falando sério pessoal!
- Nós entendemos Ryan. Não é mesmo Judy? - Comentou o Arcanjo
- Sim, fica tranquilo tio Ryan.
Entramos no local com jeito de bandidos, menos o tenente, pois o comportamento natural dele já era suspeito.
Para um boteco de quinta categoria, até que tinha alguns clientes, nos sentamos em frente ao balcão, onde logo veio um cara super bizarro nos atender.
O homem era magricela, de camiseta regata, tatuagens de demônios nos braços e sua língua cortada ao meio feito serpente, além das olheiras de zumbi.
- O que vão beber rapaziada?
- Três cervejas e um suco de morango pra criança. - Afirmei
O barman olhou para nós quatro com um sorriso estranho, mostrando seus dentes podres, onde entregou as bebidas e disse:
- Vocês ficaram sabendo o que aconteceu?
- Não, o que?! - Perguntei como se não soubesse
- O Ryan Smith finalmente morreu junto com seus amigos!
- Jason o matou?
- Não! O avião dele caiu na montanha e explodiu aos pedaços, o senhor Jason nem precisou ir atrás dele hehehe!
- Droga! Perdemos a recompensa de 1 bilhão de dólares! - Falou o militar
- Nem me fale, eu também estava de olho nessa grana. - O estranho homem pegou uma faca do bolso e alisando a lâmina com os dedos em nossa frente, continuou - Eu ia ter o prazer de rasgar a garganta daquele idiota, ver ele sangrar feito um porco, até ele implorar pra morrer!
Olhei bem para o rosto dele com uma vontade enorme de socar a sua cara, mas eu tinha que me conter, ou nosso disfarce seria descoberto.
- Por que vocês o odeiam tanto assim?
Ele olhou pra mim, incrédulo pela pergunta e quase gritando, falou:
- Ele matou a mulher do melhor amigo aqui em nossas terras, covardemente! Uma pessoa que faz isso merece ir pro inferno e ser queimado por toda eternidade!
Eu fiquei perplexo como Jason conseguiu fazer a minha caveira para as pessoas, naquele momento eu era visto como o vilão e ele o mocinho da história.
Porém, eu não podia defender a minha imagem ou seria visto como um inimigo mortal dos mercenários.
Olhei ao redor e percebi que haviam vários deles sentados as mesas, armados até os dentes.
Era preciso muita coragem entrar em um covil como aquele.
- A propósito, meu nome é Steven, e qual o nome dessa garotinha guerreira? - Perguntou o barman
- Suzy, o nome dela é Suzy! - Falou Gabriel tentando disfarçar
- Ela não é muito pequena para ser uma mercenária?
- Não se engane com sua aparência, essa criança é barra pesada. - Concluiu Travis que ao pegar sua metralhadora, entregou nas mãos da Judy - Mostre a esse cidadão o que você pode fazer pirralha
O militar aproveitou a oportunidade para me provocar, pois sabia que eu era contra isso e o pior era que eu devia concordar com aquela loucura, meu coração acelerava só de ver uma arma daquele calibre nas mãos de uma criança.
Judy obviamente adorou a idéia e apontando aleatoriamente para o bar, eu intervi e disse:
- Se for atirar, dispare pela janela pelo menos!
- Tem razão. - disse ela
Sem equilíbrio algum, ela atirou em direção ao teto, quebrando uma lâmpada, onde os estilhaços caíram sobre os ombros de um dos bandidos.
O homem jogava baralho na mesa e ao perceber a sua jaqueta de couro suja de vidro, ele se levantou lentamente, olhou para trás, lançando um olhar fulminante para a menina.
Ele caminhou até nós e disse:
- Foi você que fez isso sua fedelha?!
- Sim... Desculpa moço... - Falou Judy devolvendo a arma ao tenente, quase chorando de medo
- Isso não vai ficar assim, eu devia...
Antes que eu reagisse, o militar se levantou primeiro e encarando o mercenário nos olhos, falou com firmeza:
- Você devia voltar pra sua mesa e fingir que nada disso aconteceu, ou serei obrigado a arrancar o seu coração pela boca!
- Quem você pensa que é?!
- Sou o pai dela, algum problema?!
O criminoso olhou para nós quatro e disse:
- Que isso não aconteça denovo!
Ao retornar para seu lugar, Gabriel cumprimentou o tenente:
- É isso aí paizão!
- Eu precisava fazer alguma coisa, já que a pirralha usou minha arma!
- Grande idéia! - Ironizei a atitude de Travis
O barman olhava aquilo tudo sem entender nada, até que ele riu feito um louco e disse:
- Gostei de vocês, são os mercenários mais estranhos que eu já vi!
- Obrigado, eu acho! - Agradeceu o Arcanjo
- Gostariam de ver algo bem interessante?? - Perguntou ele em voz baixa como se fosse um segredo
- Sim, eu quero! - Disse Judy na mesma hora
- Me acompanhem até os fundos do bar...
Seguimos aquele louco até o final do corredor, mas antes de abrir a última porta, ele pegou uma caixa de madeira velha cheio de carne estragada, onde moscas rondavam o alimento.
O cheiro era terrível, onde ele disse:
- Quando os restos de carne vão se acumulando, eu vou guardando nessa caixa. Agora vocês não imaginam pra onde vai tudo isso
- Tenho até medo de saber. - Comentou Gabriel
- E deve ter mesmo. - Disse o barman com um sorriso diabólico
Steven abriu a porta e do outro lado do bar havia um pequeno penhasco, onde lá embaixo se encontrava um enorme milharal
- Olhem e apreciem! - Disse ele jogando as carnes do alto
Assim que aquela carniça caiu sobre a terra, misturado com o sangue escuro e fétido, percebi um estranho movimento na plantação.
O barulho de algo se aproximando era cada vez maior, onde era possível averiguar que se tratava de algo grande.
O som daquela coisa era muito familiar, eu só não conseguia lembrar onde já tinha ouvido aquilo.
O barman olhava esse ser chegando com um sorriso cruel, como se adorasse assistir a cena.
Minha surpresa se confirmou ao surgir um imenso Hospedeiro nojento.
Aquele maldito inseto gigante criado por Lúcifer, estava novamente diante dos meus olhos e desta vez durante o dia, revelando detalhadamente a sua aparência monstruosa.
Suas garras afiadas cortavam a carne apodrecida e devorava em questão de minutos, em suas patas haviam pêlos como as de um caranguejo.
Ele não tinha asas, mas era capaz de de dar saltos enormes com suas patas traseiras, parecido com um gafanhoto.
O mais assustador nessa criatura é que ele não possuía olhos, no entanto suas mandíbulas eram capazes de abrir quase 1 metro de largura, assim facilitava engolir suas presas.
Observando aquela aberração no alto do penhasco, eu fiquei pensando como foi que consegui escapar com vida de dois daqueles monstros no meio do matagal, realmente foi muita sorte ou ajuda de Deus.
Judy escondeu- se atrás de mim, assustada com medo da criatura, mas o maníaco disse:
- Não se preocupem, ele está acostumado a ser alimentado por mim, então não vai nos atacar.
- Por que você cria essa coisa? - Perguntou o militar
- Ele é o meu bichinho de estimação, tenha mais respeito por ele!
Nessa hora eu pude perceber o quanto Steven era louco. Resolvi não confronta-lo pois podia parecer suspeito, além de acreditar que pessoas assim não tem cura na minha opinião, o único remédio que ele precisava era uma bala de fuzil no meio da testa.
Porém ao olhar melhor lá embaixo, notei também que ao lado da criatura, haviam ossadas humanas espalhadas ao redor de algumas pedras.
Olhei para o barman que já me observava com aquele sorriso estranho, e disse:
- Sinistro não é mesmo?
Nem questionei sobre a origem dos ossos, pois se tratando de um psicopata como Steven, qualquer coisa era possível.
Gabriel parecia passar mal ao ver o Hospedeiro devorando aquela carne podre cheio de moscas.
O barman percebendo a reação negativa do Arcanjo, se aproximou dele e falou:
- Você parece tenso rapaz, por que não vai relaxar com a Mia?
- Quem é essa?!
Ele explicou que Mia era uma prostituta do seu bar, que fazia programas com mercenários e viajantes da estrada.
- Não obrigado, não me interesso por esse tipo de mulher.
- Você vai gostar dela cara!
Retornamos ao local, perplexos com o que a gente tinha visto, mas eu tentei disfarçar o máximo possível para não dar bandeira.
Travis no entanto parecia se sentir em casa no meio daquele covil de malfeitores.
O militar chamou Steven de canto, onde confidenciou algo em seu ouvido e lhe passou uma nota de 100 dólares discretamente pelo balcão.
O barman sorriu e saiu novamente para o interior do estabelecimento, onde perguntei a ele:
- O que você está aprontando Travis?
- Nada cara, relaxa.
- Eu vi você passando uma grana para aquele lunático, qual é o seu problema?!
Travis olhou para Gabriel que conversava com Judy do outro lado do balcão, e me disse:
- Pedi para que ele trouxesse essa tal de Mia para nosso amigo Arcanjo.
- Você não devia ter feito isso.
- Vai me dizer que não gostaria de ver a reação dele ao ser seduzido por uma garota? Ele ainda nem conhece o sexo.
- Não cabe a nós decidir por ele, cada um tem a sua hora!
- Só vamos dar um empurrãozinho cara, o que poderia dar errado?
Ao dizer isso, Steven voltou acompanhado de uma bela mulher, corpo escultural, seios fartos e um rosto angelical.
Ela seria perfeita se não fosse por um problema, ou melhor, dois.
Mia era uma prostituta de duas cabeças num corpo só.
Aquilo era extremamente bizarro pra mim.
- Que porra é aquela?! - Comentou o tenente
- Estamos em Chernobyl. - Afirmei a ele - Melhor você disfarçar o espanto ou estaremos ferrados
A jovem mutante nos cumprimentou e foi logo se aproximando de Gabriel com segundas intenções, sentando ao seu lado e cruzando as pernas.
Travis parecia querer rir da situação, se divertindo com o constrangimento do amigo.
Ela tentava agarrá-lo, enquanto ele desviava dos seus braços.
Por um instante senti pena dele ao ser exposto em uma cena tão ridícula como aquela, até que me levantei e disse:
- Vamos dar o fora daqui.
- Onde vocês pensam que vão?! - Perguntou Steven
- Ir embora, por que?
- Hoje vocês estão com sorte, afinal daqui a pouco teremos a visita do senhor Jason em meu bar!
- O que?!
- É melhor se sentarem, pois seria um crime sem perdão não esperar por ele!
Aquela notícia caiu feito uma bomba, logo mais eu estaria cara a cara com Jason Backer, meu maior rival...
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