Os Coopers
- O que você disse?!
- Eles estão aqui, tio Ryan! Eu os vi!
Aquela notícia me pegou de surpresa, jamais imaginei que os pais biológicos de Judy estivessem morando em Chernobyl.
Me levantei espreguiçando e ainda sem acreditar no que ela me dizia, pra mim era só uma fantasia da sua cabeça.
- Você deve ter visto alguém parecido, princesa. Você mesma já falou que não se lembrava deles.
- Eram eles sim, eu tenho certeza! Assim que vi minha mãe regando o jardim, meu coração confirmou!
- Ok, vamos até lá investigar essa história.
Coloquei minha arma na cintura e saímos silenciosamente da cabana, todos ainda dormiam profundamente.
Ao pisar os pés lá fora, notei uma grande neblina na floresta, deixando as folhagens úmidas, porém pouco frio.
Judy caminhava apressadamente toda feliz, onde eu a seguia pelas trilhas.
- Vai com calma mocinha! Não vá se perder!
Ela apenas olhou pra mim e sorriu, dando saltos de felicidade, segurando sua boneca quebrada.
Em menos de dez minutos andando, senti um forte cheiro de rosas e o ambiente ficando mais agradável.
Avistei uma linda casa no meio da floresta e uma bela mulher de cabelos louros, cuidando das flores, exatamente como Judy descreveu.
- Mamãe! - Gritou a menina
A mulher olhou em nossa direção assustada, e ao ver a criança, começou a chorar de alegria.
- Judy, meu anjinho!
Ambas correram e se abraçaram fortemente, era possível sentir a emoção entre mãe e filha.
As duas não paravam de chorar entre soluços e beijos.
Me aproximei delas discretamente, onde avistei melhor o local.
O jardim era lindo, tendo uma varanda em frente, com duas cadeiras de balanço e as janelas de madeira rústica.
Um pé de girassol enfeitava a entrada, sobre um tapete feito de tricô, realmente um lugar ótimo para se morar.
- Mamãe, esse é o tio Ryan, foi ele que me achou.
A jovem mulher me cumprimentou com um abraço apertado e falou:
- Obrigada senhor Ryan por trazer a minha pequena de volta pra casa!
- Me chame apenas de Ryan. Qual o seu nome?
- Cindy Cooper. Meu marido foi até ali buscar algumas frutas, mas já volta. Entre, e tome um chá conosco!
- Obrigado, vou aceitar.
Ao entrar na pequena sala, senti uma paz interior muito grande, aquela família era abençoada.
Cindy era uma moça nova e bem cuidada, deu pra perceber de onde herdou a beleza da Judy.
Enquanto ela preparava o chá, surgiu o seu esposo, um homem calvo, todo sorridente, segurando uma cesta repleta de morangos.
Assim que ele viu a criança, largou as frutas na mesma hora e abraçou Judy de joelhos, onde suas lágrimas escorriam por seu rosto.
- Minha filha! Que bom que você voltou, eu estava morrendo de saudades!
- Eu também papai! Achei que nunca mais fosse te ver!
Quando me viu sentado no sofá, ele estranhou minha presença e perguntou:
- Quem é você? O que está fazendo aqui?!
- Calma meu amor. Esse é o Ryan, que resgatou nossa filha! - Afirmou Cindy trazendo as xícaras de chá
O homem de olhos azuis, assim como a menina, me pediu desculpas, alegando que não recebiam visitas há muito tempo.
O homem se apresentou como Johnny Cooper, ele disse que trabalhava como caçador e carpinteiro.
Desde que Judy havia desaparecido, a vida daquela família nunca mais foi a mesma.
- Venha, vamos conversar um pouco na varanda enquanto minha esposa troca a bebê.
- Que bebê?
- Minha outra filha, a pequena Sabrina. Irmãzinha da Judy.
- Incrível! Eu não sabia disso.
Ele sorriu e caminhamos até o local, onde sentamos nas cadeiras de balanço.
Ao olhar aquela paisagem, nem parecia que nós estávamos em Chernobyl.
Aproveitei a ocasião e contei tudo ao pai dela sobre o que aconteceu, onde Johnny ficou abismado e comentou:
- Estou perplexo Ryan! Nunca pensei que existisse um ser tão cruel como esse Jason Backer!
- Melhor vocês fugirem dele, aqui é muito perigoso.
- Não, obrigado. Aqui é o nosso lar, ainda mais agora que Judy voltou, não pretendo ir embora tão cedo.
- Pense na segurança da sua família!
- Não se preocupe caro Ryan, confie em mim. Ninguém irá nos machucar.
A minha vontade era de socar a cara dele, mas me contive em respeito a criança.
Como ele poderia estar tranquilo em um mundo violento como este?! Cadê o bom senso em proteger suas filhas?! Realmente eu estava confuso, mas resolvi concordar com sua maneira de pensar e aproveitar a hospitalidade.
Cindy surgiu logo em seguida, segurando a criança no colo, ela era a cara da irmã.
Assim que me viu, a menina de olhos claros sorriu, era a coisa mais linda que eu já tinha visto.
- Por que não traz seus amigos para tomar um café conosco? - Sugeriu a mulher
- Ótima idéia mamãe! - Concordou Judy contente
- Eu não sei se devo!
- Claro que deve, vocês foram uma família para a minha garotinha. Seria uma honra conhecer a todos. - Afirmou Johnny
- Tudo bem então, vou chamá-los agora mesmo!
Me levantei da cadeira e desci as escadas, que dava acesso ao gramado.
Caminhando de volta para a cabana, avistei eles ao longe, onde Judy me acenava com a mão, me dando tchau.
Me presenteando com aquele sorriso encantador que só ela tinha.
Misteriosamente senti meu coração apertar, como se aquele momento fosse uma despedida e não um até logo.
Meus olhos se encheram de lágrimas e disfarcei para que não percebessem minha tristeza.
Quando retornei para os meus amigos, eles estavam todos em frente ao local, preocupados com meu sumiço repentino.
Assim que Travis me avistou, disse em voz alta:
- Onde você estava, Ryan?! Cadê a Judy?!
- Nós estávamos preocupados, procuramos vocês em toda parte! - Exclamou Gabriel aflito
Me aproximei deles com uma certa emoção e falei que a criança estava bem, mas encontrou seus pais verdadeiros.
Após contar o que houve, Samantha e o Arcanjo pareciam felizes com a notícia, menos o tenente.
- Como você tem certeza que eles eram realmente os pais dela?!
- A própria Judy reconheceu, e ela é o espelho do pai.
- Eu não acredito que você deixou a menina sozinha nas mãos de estranhos!
- Já te disse que é a família dela! Não há o que questionar, Travis!
- Engraçado como eles reaparecem do nada e pegam a Judy de volta, como se nada tivesse acontecido. Depois de tudo o que passamos, ela estaria melhor com a gente!
- A escolha é dela, tenente! Você tem que respeitar a decisão da garota. Se você a ama de verdade, vai entender que o lugar dela é com eles.
Samantha abraçou o militar, que já estava quase chorando, onde ela disse olhando em seus olhos:
- Vamos lá ver ela amor. Eu sei o quanto Judy é especial pra você.
- Eu amo aquela pirralha. Mas eu vou sim, preciso conhecer essas pessoas e ver se estão cuidando bem dela!
- Vamos nessa papai! - Brincou Gabriel
Arrumamos nossas coisas e resolvemos voltar para a casa dos Coopers.
Eu estava feliz com o forte sentimento que Travis aderiu a criança, ele certamente seria um pai exemplar.
No entanto, eles ainda eram novos, poderia ter mais filhos no futuro, quem sabe adotar, mas claro que ninguém substituiria Judy.
Aquela garotinha de olhos azuis, que entrou em nossas vidas era mais do que especial. Com ela ao nosso lado, aprendi a ser mais forte, a enfrentar os meus medos e acima de tudo há ter esperança em um mundo dominado pelo mal.
Jamais irei esquecer daquele anjinho, na verdade todo mundo enxergava Judy como filha, chegando a derreter os corações mais duros com seu carinho e o mais puro amor.
Porém, o que parecia ser um contos de fadas, acabou se tornando um grande pesadelo.
Ao chegarmos no local, me deparei com uma casa abandonada, em ruínas na verdade.
O jardim já não existia, no lugar eram arbustos secos, cheios de espinhos.
A varanda tinha as grades enferrujadas, descascadas pelo tempo.
Sem entender o que estava acontecendo, entramos na casa vazia, e não havia ninguém, além de plantas e insetos.
- Que palhaçada é essa?! - Indagou o tenente irritado
- Isso não tem graça, Ryan! - Disse Samantha levemente assustada
- Não é possível... - Falei enquanto verificava todos os cômodos
Gabriel percebendo o meu desespero, se aproximou de mim e disse:
- Tenha calma amigo. Respira e me conte o que está havendo.
- Eu não faço idéia! Há poucos minutos atrás tudo aqui era diferente, a família Cooper...
Neste momento Travis interrompe nossa conversa e falou ao me empurrar contra a parede:
- Me diz o que você fez com a minha filha!
- Ela não é a sua filha, seu imbecil!
- Acho muito suspeito um homem trazer uma criança para uma casa abandonada como esta e depois alegar que desapareceu.
- O que você quer dizer com isso?!
- Eu sabia que cedo ou tarde essa sua obsessão em querer matar o Diabo, ia acabar mexendo com sua cabeça!
- Eu jamais faria nenhum mal para aquela menina, considero Judy como se fosse minha própria filha! Vocês tem que acreditar em mim! - Falei encarando o Arcanjo - Gabriel, você está do meu lado né?!
Ele simplesmente ignorou meu pavor e disse ao lado do militar:
- Desculpe Ryan! Mas concordo com o tenente, que essa loucura em querer matar Lúcifer, está acabando com seu juízo.
- Como pode dizer isso?! Você é meu amigo, PORRA! Quantas coisas passamos juntos?!
Neste momento, Travis saca sua arma, onde aproveitei e peguei também a minha. Nós dois estávamos armados e apontando um para o outro.
Gabriel e Samantha ficaram assustados e pediam para que todos se acalmassem.
Porém, o militar não estava disposto a acreditar em mim, onde duvidava de cada palavra minha.
- Você estuprou e matou a pobre menina! Diga onde ela está enterrada seu doente!
- Agora entendo por que Judy era mais apegada a mim do que a você!
- Do que você está falando?!
- Você é louco! Não tem noção do perigo e quis ensinar uma criança de dez anos a atirar com um fuzil!
- Pelo menos comigo ela teria um pouco de diversão, e eu a protegeria com todas as minhas forças, coisa que você não fez!
- Eu deveria ter te matado quando tive a chance, Travis!
- Vá em frente, grande Ryan Smith! Mostre a todos quem você realmente é!
Quando a situação começou a se agravar, Samantha rouba a espada do Arcanjo e aponta para o pescoço do marido.
Ele ficou sem reação e perguntou:
- O que você está fazendo, amor?
- Abaixa essa arma, Ryan está dizendo a verdade!
- Como tem tanta certeza, Sam?!
- Por que eu encontrei isto no outro quarto...
A jovem africana nos mostrou um velho porta-retrato, com uma fotografia antiga, quase rasgando.
Na foto estavam Judy e sua família em frente a casa, todos sorrindo felizes, com a bebê no colo da mãe.
Logo abaixo deles, tinha uma frase escrita a mão pelo pai:
Que o amor da nossa família ultrapasse as barreiras do tempo.
J.C 14 de Abril de 1986
Imediatamente, o tenente largou a sua arma e ficou encarando a imagem de Judy, sem acreditar no que estava acontecendo.
Na verdade todo mundo estava espantado com aquilo. Nem mesmo eu poderia imaginar que aquela menina era um espírito querendo voltar pra casa.
Travis se ajoelhou segurando a foto, e começou a chorar de tristeza, onde Samantha o abraçava consolando o namorado.
- Agora você acredita em mim, né?! - Perguntei aborrecido ao militar
- Dê um tempo pra ele Ryan, por favor. - Pediu a garota aflita
Ao guardar minha arma na cintura, percebi que Gabriel estava meio afastado de nós e com ar de preocupação.
Me aproximei dele e comentei, tocando em seu ombro:
- Ainda acha que não estou com o juízo perfeito?
- Me perdoe Ryan. Eu duvidei da sua capacidade em distinguir a fantasia da realidade.
- Tudo bem parceiro, mas confesso que estou assustado com tudo isso.
- Todos nós estamos, mas tenho medo do futuro.
- Por que?
- Essa sua missão em derrotar Lúcifer pode custar sua vida! Não sente receio do que pode acontecer?
- Meu maior medo é continuar como as coisas estão. O mundo sem amor, sem esperanças. Lúcifer precisa ser destruído o quanto antes!
- Sua coragem ás vezes me assusta!
- Agora vamos ao que interessa!
- O que?!
- Vingança!
Naquela mesma hora, reuni todos eles e combinamos qual seria o primeiro passo. A primeira tarefa já estava confirmada...
Ricky terá que morrer!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top