Não ousem Entrar

Foi difícil engolir a decisão de Gabriel, se não fosse por ele e a pequena Judy, eu já tinha matado aquele verme do tenente Travis. Mesmo assim resolvi ouvir o que ele tinha a dizer, apesar de já ter lido o seu relatório sobre a Área 51 e as atrocidades que fizeram com o pobre Jonathan.

- Eu quero aniquilar Jason Backer, assim como vocês!
- Por que deveríamos acreditar em você?! - Perguntei rispidamente
- Por que ele assassinou meus homens, com aquele experimento maldito!
- Mas vocês não pensaram nisso quando decidiram torturar aquele jovem rapaz inocente e sua família! - Retrucou Gabriel aborrecido
- Eu sinto muito ok? A gente recebia ordens direta do senhor Jason e eu realmente acreditava que ele estava fazendo um bem maior para a humanidade, por isso pensávamos que esses sacrifícios seriam a cura de muitas doenças neste mundo!
- O único doente aqui é ele! Vocês eram loucos em obedecer um lunático como aquele! - Afirmei dando um soco sobre a mesa de metal, assustando até a criança, onde na mesma hora me arrependi do meu ato, eu tinha que controlar minhas emoções.
- Agora eu sei de toda a verdade e vou carregar essa culpa o resto da minha vida! Mas não posso permitir que a morte dos meus soldados fiquem impunes, deixe-me acompanha-los nessa missão por favor!
- Você sabe o que pretendo fazer, além de me vingar do Jason? - Perguntei ao Tenente cruzando os braços e encarando o militar
- Não faço ideia Ryan!
- Eu vou me encarregar de matar Lúcifer com minhas próprias mãos e irei até o inferno se for preciso!

Na mesma hora, ele começou a rir sem acreditar na minha história e quando percebeu que eu e Gabriel estávamos sérios, ele parou e disse recuperando o fôlego:

- Vocês... Falam sério?!
- No começo também achei uma loucura, mas quando Ryan coloca algo na cabeça, não tem quem tire! - Comentou Gabriel
- Eu pensava que Jason era louco, mas você supera senhor Ryan!
- Chegou a hora de dar um fim naquele demônio, muitas pessoas já foram arrebatadas, eu que não vou ficar aqui vendo ele acabar com o que sobrou do nosso mundo!
- A propósito, agora que temos a lágrima de um inocente, temos que ir em busca do próximo ingrediente! - Disse Gabriel
- Vamos fazer um bolo? - Perguntou Judy com ar de felicidade
- Não criança, vamos criar as Balas do papai do céu, para matar o tio Lu! - Tentou explicar o Arcanjo de forma amigável pra ela, mas achei desnecessário e ridículo da parte dele, onde até Travis revirou os olhos.
- Mas me diga, qual o próximo passo?
- Precisamos do penúltimo material, uma Pólvora pura!
- Pólvora pura?! - perguntou o tenente
- Sim! Uma pólvora tão pura, que somente poderia ser fornecido pela mãe natureza, ou forte o bastante para exterminar uma civilização inteira!
- Eu conheço um lugar assim! - Falei de imediato
- Onde?! - pergunta os dois
- Chernobyl!

Gabriel olhou assustado para mim, pois ele sabia que foi lá que causou tudo isso, onde eu acabei matando Mary, minha melhor amiga e mulher do meu maior rival, Jason Backer. Apesar de doloroso, eu não me importava em ter que retornar naquele inferno, já havia passado por coisas piores, se fosse para o bem de todos, estava pronto até às últimas consequências.

- Eu não sei se é uma boa idéia Ryan! - Comentou o Arcanjo
- Você quer ou não fazer as Balas de Deus? - Perguntei
- Claro que eu quero! Mas já não sei se o preço vale a pena pagar!
- Estou disposto a dar minha vida por isso, ainda resta duvidas Gabriel?!

O Arcanjo ficou olhando pra mim, como se quisesse perguntar se eu sabia o que estava fazendo, mas depois de ouvir minha declaração, ele disse:

- Tudo bem, estou de acordo! Mas como iremos?

Nessa hora, o tenente Travis mostrou uma foto de um local abandonado em seu celular e disse:

- Com isso aqui!
- O que é isso? - perguntou Gabriel
- O aeroporto da base militar, onde fica meu avião, foi por isso que resolvi ajudar vocês!
- Como assim? - Perguntei curioso com a história dele
- Assim que Jason fugiu, eu consegui escapar do laboratório e tentei seguir ele, mas antes que chegasse na minha aeronave, fui perseguido por uma tribo de canibais famintos por carne humana, correram atrás de mim pela floresta, até que eu consegui me esconder no interior de uma gruta escura, até ouvir suas vozes ao longe e disparos de armas de fogo. Foi a partir desse momento que decidi me arriscar sendo amigo de vocês, não imaginei que vocês iam me acolher, mas agora vejo que são verdadeiros heróis!

- Que pena que eles não te comeram vivo! - Comentei ironizando a situação
- Não fale assim Ryan! - Falou Gabriel tentando bancar o bom moço
- Tem razão, eles teriam uma indigestão! - Retruquei
- Já chega! - Falou o Arcanjo aborrecido com o clima hostil entre nós

Eu me afastei um pouco, ficando de costas para eles, fingindo mexer na minha arma, mas o tenente se aproximou de mim e disse:

- Sei que você me odeia Ryan, e tem toda a razão! Infelizmente não posso voltar no tempo e corrigir o que eu fiz!
- Isso é verdade! Por causa de pessoas como você e Jason, aquele jovem perdeu sua vida precocemente!

O militar colocou a mão em meu ombro e desabafou, quase chorando:

- Só te peço uma chance de estar em sua equipe! Gostaria muito de lutar ao seu lado e do Gabriel, vocês são a luz deste mundo! Prometo ser fiel e leal, juntos derrotaremos o maldito Jason e seus capangas!
- Vou te dar um único voto de confiança, não me decepcione, ou vou esquecer tudo o que me disse e irei explodir os seus miolos com a minha 12!
- Não se preocupe Ryan, você tem a minha palavra de homem!

Damos um forte aperto de mão, encarando um ao outro, como dois guerreiros distintos. Eu olhava bem nos olhos dele com a intenção de intimida-lo, pois quando alguém mente, normalmente reconheço pelo olhar e Travis por nenhum momento desviou a visão de mim, ainda não o conhecia bem, mas eu tinha que admitir, que ele era tão corajoso quanto eu.

- Que bom que todos agora entraram em um acordo! Vamos pegar logo esse avião e dar o fora daqui! - Falou o Arcanjo
- Este é o problema! - Disse o tenente preocupado - Não tem outro caminho a não ser se passar pela tribo de canibais, e a única forma de chegar no aeroporto é ir andando!
- Você só pode estar brincando! - Comentei
- Tava fácil demais! - Disse Gabriel com um certo desânimo
- Mas eu sei que se nos unirmos, podemos passar por eles sem dificuldades! - Afirmou Travis
- Não se esqueçam que a pequena Judy está conosco! - Lembrou Gabriel
- Essa criança vai atrair os olhares dos nativos, o cuidado deve ser redobrado! - Alertou o militar

Imediatamente, começamos a carregar fortemente nossas armas, por sorte haviam várias munições dos soldados mortos no laboratório e isso garantiria nossa jornada por mais algum tempo.
Judy curiosa, tentava pegar a submetralhadora do tenente, mas ele dizia a ela que não podia tocar, onde ela quase chorou de manhosa e Gabriel a acalmava, aquilo era cômico de certa forma e por um instante lembrei da minha família.

Após os preparativos, começamos a caminhar em direção ao aeroporto abandonado, minha mochila estava mais pesada do que nunca, Judy devorava um pacote de salgadinhos que eu ainda tinha. No momento era a nossa única fonte de alimento, mas resolvemos dar a ela, não podíamos comprometer a vida daquela alma inocente. Apesar da fome, ainda era possível resistir por mais algumas horas.
Mesmo com os desafios e tantos problemas aparecendo, a minha esperança era cada vez maior em fazer as Balas de Deus e dar um fim em Lúcifer, para finalmente rever minha família, pois a saudade que eu sentia por minha mulher e minha filha Sara, estava ficando cada vez mais forte.

No entanto, algo chamou nossa atenção no meio da estrada de terra. Avistamos ao longe, alguém de pé, com o rosto coberto por um capuz, usando um vestimento da era medieval, e nas costas armado com uma espada enorme e reluzente, era duas vezes maior que a de Gabriel.

Ao chegarmos mais perto, saquei minha 9mm da cintura e apontando disse:

- Quem é você?! O que está fazendo aqui?!

O ser olhou pra mim e vi que era um homem, um pouco barbudo e com um olhar penetrante e perturbador, confesso que só de vê-lo meu espírito congelou.

- Pergunte a si mesmo Ryan Smith! O que veio fazer aqui?
- Quem faz as perguntas aqui sou eu! Qual seu nome?! Ou eu vou atirar!
- Você não vai atirar e não importa o meu nome!
- Como tem certeza que não irei atirar em você?!
- Por que eu sei, simplesmente sei! Vim apenas te dar um aviso caro mortal!
- Que aviso?! - Perguntei curioso
- Não ousem entrar nessa área dos nativos, se passarem por essa linha, estarão amaldiçoados!
- Eu não tenho medo de nenhum canibal e muito menos de você!
- Sei que por dentro está tremendo de medo e pavor, mas não se preocupe, no final você morre senhor Ryan!
- Como disse?!

Aquela afirmação causou um impacto sobre mim, aquele estranho ser praticamente profetizou minha vida e declarou na frente de todos que no fim eu ia morrer. Na mesma hora engatilhei minha pistola automática e disse:

- Saia da frente agora, ou eu juro que vou explodir a sua cara!
- Não jure aquilo que você não pode prometer Ryan! Você tem feito promessas as pessoas ao seu redor e não vai conseguir cumprir nem metade do que diz!
- Eu vou matar Lúcifer!
- Isso é uma piada?! Acha mesmo que um homem comum como você é capaz de derrotar o senhor das trevas?!
- Farei o impossível para que isso aconteça! - Afirmei com raiva
- Não seja ingênuo Ryan, este é o meu último conselho, retorne para sua família e viva o resto dos seus dias medíocres!
- Jamais! Eu tenho uma missão para cumprir e não vou descansar enquanto Lúcifer não for morto!
- O que te leva a acreditar que você consegue fazer isso?
- O amor por minha família e os meus amigos e principalmente o amor de Deus!
- Acham mesmo que poderão ser salvos?! O mundo já acabou faz tempo, os que ainda tinham esperança foram arrebatados!
- Eu vou lutar até o fim e não importa o que você diga, meus amigos estão comigo!

O ser misterioso olhou bem para eles e com um pequeno sorriso, ele começou a se afastar, mas antes de desaparecer entre as árvores, ele disse:

- Tenha cuidado senhor Ryan, nem todos ao seu redor são quem você pensa ser!
- O que quer dizer com isso?! Por que não me fala seu nome?!
- Com o tempo você verá, boa sorte nessa encruzilhada com os canibais, pois ela será a última! Meu nome é Darak, talvez algum dia vocês ouvirão falar de mim...

Ele sumiu inexplicavelmente no meio das sombras das árvores, sem ao menos saber de onde ele veio e como sabia tanto sobre mim.

- Quem será esse louco? - Perguntou Travis
- Eu não sei, mas ele me revelou coisas importantes! - Falei isso me referindo ao próprio tenente do exército, Darak podia ser um total desconhecido, mas o que ele me disse era verdade naquele instante, Travis poderia ser muito bem um traidor e eu ficaria de olho nele até o fim da missão.

Entretanto o que mais me preocupou foi o fato de Gabriel ficar calado e suava frio, isso foi logo após a aparição daquele estranho homem, sem rodeios eu perguntei:

- O que está acontecendo com você parceiro? Ficou mudo depois de ver aquele cara! Você o conhece?
- Claro que não Ryan! Mas a energia dele era muito poderosa, eu fiquei sem reação ao olhar nos olhos dele! Sinto que ele não faz parte deste mundo!
- Confesso que o jeito dele me deu medo, dificilmente sinto algo assim! Mas isso não pode ser motivo pra gente desistir, vão precisar muito mais do que isso para nos deter!
- Tem razão! - Respondeu Gabriel com um sorriso amarelo

... A partir daquele momento entramos com a cara e a coragem na área dos nativos, e a primeira coisa que eu vi, foi o primeiro sinal de que algo ia dar errado...

Spoiler: Para quem ficou em dúvida, gostaria de revelar que Darak será um dos meus personagens que irei tratar futuramente em outro livro, só posso dizer que ele não surgirá mais em Obscuro Final; Consumados... 😁😎❤️

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