Explorando o Desconhecido
Após o susto, Gabriel e eu descansamos um pouco na margem do rio agitado. Por sorte, ainda tínhamos a mochila com as nossas coisas. Começamos a caminhar em direção a misteriosa área 51, que Jason se escondia as vezes.
Nossa missão naquele momento ainda era recolher a lágrima de um inocente, mas o objetivo maior era salvar a vida da senhora Beth, o Arcanjo havia pegado muito afeto pela idosa e isso me comovia de algum modo.
No meio do trajeto, ele estava calado com ar de seriedade e mal conversava comigo. Estranhei seu comportamento e para quebrar o gelo, soltei uma piada sem graça:
- Você sabe o que o tomate foi fazer no banco?
- Por favor Ryan, não é a sua cara contar piadas, você não leva jeito pra isso!
- Desculpe amigo! Mas estou preocupado com você, não parece bem!
- Só estou um pouco cansado, faz tempo que não durmo e também fico imaginando que tipo de tortura a pobre senhora Beth está sofrendo pelas mãos daquele bandido do Jason!
- Nós vamos achá-la parceiro, fique tranquilo! Mas eu também me preocupo com uma coisa!
- O que?! - Pergunta ele curioso
- Jonathan morreu mesmo?!
- Ele não pode ter escapado com vida daquela altura e aquela explosão do helicóptero!
- Sim, mas não vimos o corpo dele!
- Melhor não pensarmos sobre isso Ryan! Estamos sozinhos e sem transporte, isso poderia ser o nosso fim!
- Tem razão, vamos pensar positivo! Afinal de contas, se ele tivesse vivo estaria me perseguindo agora pra me matar!
- Verdade, faz sentido! Ah não ser que...
- O que?!
- Ele tenha ficado mais inteligente e apenas nos observa, esperando o momento certo de atacar!
Inexplicavelmente, um calafrio percorreu minha espinha e começamos a olhar ao redor, enquanto andávamos. Aquelas folhagens enormes e rochas sedimentares, poderiam muito bem servir de esconderijo para qualquer predador. Mas resolvi não colocar aquilo na cabeça, não podia andar com medo, até hoje eu penso que se você viver a sua vida com receio das coisas ou das pessoas, você não sobrevive neste mundo, temos que ser forte independente da situação.
Não demorou muito para que a gente encontrasse a entrada do local, onde parecia estar abandonado, parecia um túnel escuro e sem fim. Ninguém em seu juízo perfeito se atreveria a acessar aquela passagem subterrânea, mas como se tratava de um justiceiro disposto a matar Lúcifer e um Arcanjo decaído em busca de redenção, aquilo era fichinha para nós.
Saquei meu fuzil tático e liguei a lanterna da arma, e Gabriel iluminava seu caminho com uma lamparina velha, que pegou da lanchonete.
- Não sabia que você tinha uma lamparina! - Comentei
- A senhora Beth me deu de presente antes de ser sequestrada!
Continuamos caminhando por aquele túnel obscuro, um silêncio terrível se instalava no local, apenas avistamos alguns ratos percorrendo pelo chão árido. Quanto mais avançavamos, mais eu me sentia perdido, como se tivesse sendo engolido pela escuridão.
Inesperadamente ouvimos um grito assustador ecoando pelas paredes, como se tivesse em desespero.
Nos olhamos desconfiados, mas resolvemos progredir com a missão, a vontade era de correr, mas eu não daria esse gosto aos meus inimigos.
- De onde veio esse grito?! - Perguntou Gabriel
- Não faço idéia!
- Talvez seja alguém precisando de ajuda!
- Ou talvez seja um demônio querendo nos devorar vivos!
- Por que você é sempre pessimista Ryan?!
- E por que você é tão ingênuo?!
No momento em que discutiamos dentro do túnel, ouvimos um barulho ensurdecedor, como se fosse uma explosão, ao olhar para trás, vejo que a entrada foi completamente bloqueada por uma pedra imensa, nos deixando trancados no interior da caverna, seja lá quem for, queria que nós ficassemos presos para sempre naquele lugar sombrio.
A escuridão era total por todos os lados, eu só enxergava o que a luz da lanterna me mostrava. Alguns morcegos surgiam em nossa frente querendo nos atacar, mas eu fuzilava na mesma hora, não queria ser infectado por aqueles mini-vampiros.
Enquanto a gente caminhava naquele breu, comentei:
- Como será que está minha família sem mim?
- Tenho certeza que devem estar bem, Keyjah está com eles junto com os outros mestiços!
- Como sinto falta da minha esposa Sherry e minha filha Sara!
- Imagino o que deve estar sentindo, mas não se preocupe amigo, Deus está conosco!
- Ele é tão bom que você foi castigado!
- Por minha imprudência, as vezes pecamos por tomar decisões sem antes consulta-lo, se esquecendo que ele é o nosso único criador!
Resolvi mudar de assunto, já que boa parte sobre isso eu não concordava com ele, pra mim Deus já estava cansado de ser paciente com a humanidade, por isso ele permitia tantas coisas ruins sobre nós.
- Eu vi a Nicole parceiro!
- Onde?! - Perguntou o Arcanjo surpreso
- Dentro daquela igreja macabra, onde Bill enganava aquelas pessoas, inclusive ela!
- Coitada! Mas ela está bem?
- Creio que sim, eu não queria aparecer assim do nada na frente dela, mas teve um momento em que não tive escolha e fui obrigado a entregar os filhos do senhor Jeff para ela, para que Bill não os matasse!
- Ela te reconheceu?!
- Provavelmente, por que ela ficou olhando para trás em minha direção, enquanto corria entre os fiéis!
- A gente nunca esquece um grande amor não é mesmo?! Eu sempre achei que vocês fossem ficar juntos pra sempre!
- Infelizmente nada é para sempre parceiro! Mas os momentos em que tive com Nicole foram inesquecíveis, mas hoje eu posso dizer que a mulher da minha vida é a Sherry!
- Ela também é um encanto de moça, teve sorte de encontrar uma garota mais nova e linda, que realmente gosta de você! - Falou ele meio rindo
- Está me chamando de velho, Gabriel?!
- Velho é uma palavra muito forte, diria que você é um homem de meia idade!
- Você diz essas coisas, por que nunca se apaixonou, no dia que seu coração falar mais alto, você vai saber!
- Isso é coisa de humanos, anjos não se apaixonam, somos perfeitos de natureza! - Brincou ele
O papo era descontraído, até que a paz acabou ao perceber que estávamos caminhando no molhado. Ao iluminar o chão, vejo muita água escorrendo sob nossos pés, como se aquilo fosse um encanamento gigante. A água inundava rapidamente o local e o nível dela subia numa velocidade impressionante. Sem alternativas, nós começamos a correr dentro do túnel, o desespero estava começando a tomar conta de mim.
- De onde está vindo toda essa água?!
- Não sei Gabriel, mas seja lá de onde for, alguém quer nos matar!
- Você acha mesmo Ryan? Obrigado por avisar! - Ironizou ele, mas seu pavor era nítido
No entanto, Gabriel tropeça e deixa a lamparina cair dentro d'água, desaparecendo diante dos nossos olhos. Ele começa a ficar apavorado, mas eu o acalmei e disse:
- Fique tranquilo amigo, vai dar tudo certo, ainda temos a minha lanterna, que nos levará a saída!
- Só espero que esse buraco tenha uma saída!
- Se não tiver, nós fazemos uma! - Afirmei
Eu estava tão nervoso quanto ele, mas ao contrário de Gabriel, eu não demonstrava minhas emoções, pra mim se tinha um objetivo a ser cumprido, eu ia até as últimas consequências... Esse era o meu lema, e até hoje de certa forma ainda é.
O nível da água subia rapidamente, estávamos correndo contra o tempo. Inesperadamente, ouvimos algo mergulhando atrás de nós, como se fosse um peixe enorme. Na mesma hora eu paralisei e Gabriel também ficou parado em silêncio, mas dava para ver em seus olhos o seu pavor. Fiz sinal com o dedo para ele ficar quieto, onde resolvi iluminar toda a área com a minha lanterna. Parecia tudo tranquilo, talvez fosse um bloco de concreto caindo ou um tijolo velho. Mas eu estava enganado, no momento em que começamos a caminhar novamente, ouvi algo arranhando as paredes com muita força, aquilo mexeu com meus nervos de uma tal forma, que não consegui descrever. Por mais que eu iluminasse o local, não encontrava nada, parecia que algo ou alguém queria nos apavorar e confesso que estava conseguindo.
A água já estava batendo na minha cintura, era difícil andar daquele jeito, eu só estava preocupado da lanterna do meu fuzil apagar, se isso acontecesse seria morte na certa.
- Será que vamos morrer aqui?! - perguntou Gabriel assustado
- Claro que não, fique calmo, vai dar tudo certo parceiro!
- Esse túnel parece não ter fim!
- Tenha fé amigo! Não era você que me dava lição de moral sobre acreditar melhor na vida? - Retruquei
- Sim é verdade! Mas confesso que estou começando a sentir como é difícil ser um mortal!
- Bem vindo ao clube! - Afirmei
De repente, uma luz no fim do túnel, literalmente. Eu e Gabriel começamos a rir de felicidade, finalmente a gente ia sair daquele buraco. Nós tentávamos correr, mas os passos eram lentos, devido ao nível dágua.
O Arcanjo andava sorrindo, ele estava mesmo muito feliz com a saída. No entanto, percebi pingos de sangue escorrendo em meus braços, me assustei na hora e disse:
- Veja Gabriel, de onde vem esse sangue?!
- O que está acontecendo Ryan?!
Misteriosamente escutamos um estralo, como se fosse ossos quebrando ao meio. O som vinha de cima, quando resolvemos olhar para o teto, avistamos Jonathan mutante, grudado na parede como se fosse um inseto gigante, com olhos vermelhos enormes e agora possuía asas imensas de morcego, um verdadeiro demônio.
Ao me ver, ele saltou em minha direção, mas eu mirei meu fuzil e disparei nele na mesma hora, fazendo-o despencar sobre as águas.
- Não acredito que ele ainda esteja vivo! - Grita Gabriel
- Não acredito como nós ainda estamos vivos!
- Vamos dar o fora daqui rápido Ryan!
- Estou logo atrás de você!
Enquanto o Arcanjo tentava inutilmente correr em direção a saida, eu o seguia de costas, cobrindo a retaguarda caso aquele monstro aparecesse. Todo cuidado era pouco quando se tratava de Jonathan. Aquele mutante era realmente uma pedra no sapato.
Jason foi muito maléfico e astuto ao mesmo tempo, ao criar uma arma biológica tão eficaz como ele.
De repente a criatura emerge das águas e tentou me atacar, mas eu já estava preparado e fuzilei aquele monstro sem piedade, que acaba caindo novamente, desaparecendo na escuridão.
- Você matou ele?! - pergunta o Arcanjo
- Ainda é cedo pra dizer, mas provavelmente não! Essa coisa não será derrotada facilmente!
Misteriosamente, a água começou a ficar avermelhada, logo percebi que aquilo era sangue, fiquei feliz pois tinha finalmente matado aquele desgraçado. Quando faltava poucos passos para sair daquele covil, o maldito mutante surge em nossa frente com o corpo todo ferido, mas ainda de pé.
Ele estava sangrando muito e seus olhos vermelhos transmitiam um enorme ódio contra mim. Gabriel apontava a espada para ele, mas parecia trêmulo de medo, afinal de contas não era todo dia que você ficava cara a cara com uma criatura com mais de três metros de altura, programado pra te exterminar.
Apontei meu fuzil para ele e disse em voz alta:
- Jonathan nos deixe passar!
- Você ficou louco Ryan?! Essa coisa não vai te ouvir!
- Confie em mim, eu sei o que estou fazendo!
Fui me aproximando aos poucos dele, mas com minha arma apontada, e ele não parava de me olhar, como se fosse seu pior inimigo.
- Peço que saia Jonathan, você não precisa fazer isso! Jason está te manipulando para que você faça tudo o que ele quiser, e sei que lá no fundo você não quer matar ninguém!
O monstro parecia me entender de alguma forma, seu olhar parecia diferente comigo, aos poucos fui baixando minha arma, para que ele percebesse que eu não era uma ameaça, mas sim um amigo. Pela primeira vez na vida, eu estava conseguindo acalmar um mutante, usando apenas o bom senso e as palavras certas.
Tudo isso daria certo, se Gabriel não tivesse surgido de repente e cravado sua espada no peito de Jonathan, atravessando suas costelas. Ele gemeu de dor e golpeou o Arcanjo, arremessando meu amigo contra a parede. Jonathan partiu pra cima dele para devora-lo vivo, mas eu não deixei e disparei contra ele mais uma vez, que abre suas enormes asas e voa para fora do túnel, fugindo das minhas balas.
- O que foi que você fez?! - Perguntei ao Gabriel com a voz alterada
- Eu que te pergunto, você estava prestes a ser morto por aquela aberração Ryan!
- Eu estava convencendo ele a me ouvir, mas você estragou tudo, droga!
- Você está ficando cego como o senhor George! Entenda de uma vez por todas que essas criaturas não tem sentimentos! Jonathan não existe mais, aquilo é só uma experiência!
- Espero que você tenha razão, por que se eu estiver certo, você terá que me pedir desculpas!
- Não queira ter sempre razão Ryan, eu temo por sua vida! Meu dever é te proteger contra o mal!
- Agradeço sua ajuda Gabriel, mas não se preocupe comigo parceiro, eu sei o que estou fazendo!
- Ok, vamos dar o fora daqui, não aguento mais caminhar no meio dessa água suja!
... Assim que nós saímos do túnel, nos deparamos com uma cena assustadora, que mudaria o rumo dessa história...
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